Viena (mais um dia e férias)
Escrevi o texto abaixo dia 01.03.2012 e nao sei por que cargas d'água nao publiquei. Um relato sobre nossos primeiros dias em Düsseldorf em Marco de 2006 e comentários simpáticos a uma certa Frau Rouxinol, que o diabo já carregou faz tempo.
E a Frau Rouxinol (eu a chamava assim por que era metida
a cantar árias e óperas nos finais de semana trincando nossas janelas e vasos com seus timbres agudos e insuportáveis) continuava só
reclamando. Falava com ela que essa energia negativa só atraia coisas ruins. Ela dizia que nao
acreditava nisso, só na ciência e no que pudesse ser provado por A + B. Nao deu
outra. Teve o apartamento onde vivia com marido, outro chato de galocha apesar de gênio,
arrombado em plena Viena, talvez a capital mais segura da Europa. Levaram
tudo, menos o feijao no freezer. Quase virei pra ela na manha seguinte e disse:
“Frau Rouxinol, A + B =... se fode”. Hahahaha.
Escrevi o texto abaixo dia 01.03.2012 e nao sei por que cargas d'água nao publiquei. Um relato sobre nossos primeiros dias em Düsseldorf em Marco de 2006 e comentários simpáticos a uma certa Frau Rouxinol, que o diabo já carregou faz tempo.
"Hilden (o implacável
Sr. Tempo ataca novamente)
Foi num vôo da Air Berlin aterrisando as 8h da matina
que nos trouxe para Alemanha. Vindos de Viena, capital austríaca e melhor
cidade do Mundo para se viver, chegamos em Düsseldorf cheios de incertezas. Uma
coisa certamente mudaria imediatamente para melhor: o apartamento maior, mais
confortável e bem localizado.
Na capital austríaca a Gumpendorfer Straße 32, 1060
(6. Bezirk) nos acomodou por dois meses após a lua de mel em Paris no já
distante Dezembro de 2005. Acomodou é modo de dizer. Era o studio que um
artista austríaco amigo meu Leo Schatzl nos emprestou por dois meses. Demos uma geral antes
dele embarcar para o Brasil por quatro meses para que Ela nao estranhasse assim tantas mudancas
ao mesmo tempo. Ela havia chutado o balde, literalmente, no Brasil. Largara a sociedade num
escritório de advocacia, a família feliz e contente, a cidade onde nascera, o
sol e calor brasileiros que tanto amava, o português e qualquer outro apego
emocional. Era um tiro no escuro, mas havia uma estranha certeza no ar. De
ambos os lados. Ela se juntaria ao conhecido, dos melhores amigos da agora
ex-amiga. Após míseros 19 dias juntos curtindo um sonho de verao europeu que com certeza nao duraria
para sempre.
O studio do artista tinha várias prateleiras
recheadas de livros de arte, um Mac antigo, som stereo de ótima qualidade e uma
cama mezzanino, dessas com escadinha pra se chegar em cima. O problema era a
cozinha. Ficava em outro cômodo, do outro lado do corredor do prédio. E dentro
dela uma outra porta te levava ao chuveiro e pia. Em outra porta no corredor do prédio ficava o vaso sanitário.
No início do ano Viena recebe toneladas de neve e um inverno pesado. O
corredor dava para porta de saída e nao tinha aquecimento. A noite, com vontade
de ir ao banheiro, tínhamos que descer da cama alta, vestir um mínimo de roupa
e enfrentar o General Inverno. Fui várias vezes com Ela na alta madrugada “curtir”
essa aventura.
Ele, no caso eu, estudante de Doutorado que detestava
o que fazia. Cheio de sonhos e planos de abracar o Mundo, como sao os
aquarianos, acabou conquistando Ela, seu antigo desejo. Pediu ajuda divina,
colocou velas na Stephansdom, a magnífica catedral austríaca. Prometeu ao seu
deus que tentaria fazê-la feliz de todas as formas. Parece que deu certo. Pelo
menos até agora, passados pouco mais de seis anos.
Foto: Pedro Bresson
Mas a chegada na Alemanha recebeu um golpe negativo logo nas
primeiras horas. Uma brasileira, carioca, colega de trabalho que só conseguira
o posto gracas a mim, jogou um balde de água fria. Morava no nr. 1 e seria
nossa vizinha de porta. Achamos ótimo no início, mas depois mudamos de idéia. A
mulher era um poco de pessimismo. TUDO, simplesmente TUDO estava ruim a sua
volta. Reclamava o tempo todo. Se chovia elar queria o calor do Rio ali, na sua
janela. Se era verao tinha saudades do inverno, dos casacos chiques e do flair
europeu. Quando chegava a estacao fria voltava a reclamar do tempo gasto para se vestir, dos
dias escuros pela manha e completamente negros já ás 5h da tarde. E no outono,
minha estacao preferida, era o caos para ela. Nao era nem frio nem calor. Fim
do verao e prenúncio do inverno. Uma espécie de purgatório para jovem senhora
que vivia com um sinal de menos na testa.
“Ah, o apartamento é muito pequeno. O piso é de
cerâmica e faz um frio desgracado. O aquecedor nao esquenta direito. Temos que
sair do prédio pra lavar a roupa na lavanderia do edifício ao lado. O
Straßenbahn (bonde) faz barulho e incomoda. Tem uns tipos esquisitos morando lá,
alguns fumam e jogam bitucas no jardim. A área comercial ao redor tem de tudo,
mas sinto falta de um correio mais próximo. Os restaurantes sao caros. Vocês
nao vao dar conta de pagar o aluguel. A situacao aqui no instituto é bem
diferente de Vienna.” E continuou desfilando todo seu arsenal negativo
enquanto caminhávamos serelepes e inocentes rumo ao nosso proimeiro almoco na Telekon.
A comida desceu quadrada, claro. Comecei a pensar “onde
foi que amarrei minha égua?!”. Tinha alugado o apê pela internet. Um
amigo morava perto e disse ser ótima a localizacao. As fotos eram boas, o
banheiro era dentro de casa com pia, vaso e chuveiro juntos, coisa rara na
Europa. O piso era desses laminados, nao a cerâmica fria da casa de nossa “amiga”
víbora de sarcófago de faraó, como dizia Nelson Rodrigues.
Nao era nada disso. Chegamos no apê novo e mobiliado
com tudo perfeito e no lugar. Até a roupa de cama estava feita. Era como chegar
num hotel. A cozinha era minúscula, mas quem se importava?! A localizacao era
realmente perfeita. Chegávamos em 20 min a pé no centro da cidade. Metrô e
bonde na porta. Lojas e restaurantes de todos os tipos num raio de três
quarteiroes. Cinco supermercados nos serviam. Barbeiro, correio (que mudou para
mais perto), loteria, lojas de roupa, choperias e o escambau. Tudo ao nosso
alcance.
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