Friday, December 06, 2019

Impressoes sobre o Iran

Viena (hoje é sexta-feira!!!)

No já distante dia 25/02/2016 enviei um email a minha querida irma Helena com o seguinte texto: "Dia desses quem sabe postarei no meu combalido e abandonado blog."

Pois aqui está. Foi uma viagem que fiz à antiga Pérsia em 2016 participando de um congresso sobre Siderurgia. Me lembro bem dos posters gigantes com os Aiatolás por todo lado.

"A primeira coisa que pensamos ao ouvir ou ler o nome desse país é em terrorismo, homens-bomba se explodindo em mercados lotados e mulheres de burcas negras andando de cara amarrada. Vem à mente também cientistas iranianos construindo a bomba nuclear escondidos em bunkers perversamente construidos em montanhas inalcancáveis.

Nao tem nada disso. Os iraniamos sao simpáticos, sorridentes, falam bem inglês, tratam os estrangeiros com respeito e tem um orgulho enorme de seu país. Também pudera. História aqui é prato feito pra quem gosta. A Pérsia e os persas existem desde que o mundo é mundo. Desde o tempo do Amém, como diria minha Janemamae.

Persépolis fica aqui, pelo menos as ruínas da cidade, no sul do país. Alexandre, o Grande tacou fogo na cidade pra se vingar de Xerxes por ter incendiado a Acrópole. Alguns dizem que foi acidente, outros que foi proposital. O resultado é o mesmo: Persépolis ardeu em chamas e deixou de ser a capital do Império Aquemênida fundado por Ciro, o Grande em 550 A.C. (obrigado Wikipedia).

Pode-se pensar também em Argo, fuck your self e nos “coitadinhos” americanos sequestrados na embaixada nos anos 1970. Logo os americanos que sempre apoiaram o malévolo Xá Reza Pahlavi. Será por que?! Petróleo, jovem. Dinheiro, poder. Sempre os mesmos agentes das guerras modernas. Até ingleses e russos invadiram o Iran em 1941 tentando se apoderar das reservas valiosas e gigantescas do precioso combustível fossil. Mas sem sucesso.

Com o aiatolá Khomeini e a Revolucao Iraniana de 1979 o país deixa de ser uma ditadura autocrática liberal e cada vez mais ocidentalizada liderada pelo Xá e passa a ser uma república islâmica regida por leis conservadoras do Islamismo e com o controle politico nas maos do clero. Nessa época as relacoes com os EUA azedam de vez, principalmente após o sequestro na Embaixada.

Mas o país tem lá seus atrativos e vantagens. A ausência de empresas americanas faz com que lixos como McDonald’s e suas variacoes nao tenham vez no país. Junky food aqui nao!!! Aliás a comida é muito boa. Uma mescla da culinária turca e egípcia com muitos legumes, ervas, peixes, camaroes, carnes de vaca e cordeiro, e frango. Tudo acompanhados do arroz com alcafrao que é muito famoso por essas bandas. Caviar também, dizem que o melhor do mundo, os russos que me perdoem. Pistache também entra na lista das especiarias ou iguarias locais de sucesso. Gracas aos mulcumanos os porquinhos vivem aqui alegres e felizes sem ser incomodados, a nao ser pelas minorias católicas que sim, existem. Até os judeus sao reconhecidos.

As mulheres sao obrigadas a cobrir a cabeca escondendo os cabelos, considerados de alto poder sedutor pelas regras do Islamismo. No aviao ao iniciar a descida o piloto avisa. A mulherada, mesmo as ocidentais, tem que jogar um pano na cabeca se quiser passar despercebida. Tem uma certa razao de ser já que um balancar de cabelos pode ser arrasador. Mas as burcas nao sao sempre pretas. Muitas encharpes coloridas adornam o cucuruto das iranianas de rostos refinados, batons exagerados e maquiagem pesada nos olhos.

A principal desvantagem deste belo país que nao me permite sequer cogitar na hipótese de um dia vir morar aqui: o álcool é proibido de todas as formas. Cigarro pode, cachaca nao. Por que nao?! Sei lá, vai que Maomé era abstêmio ou já bebeu antes na Vida quando jovem e num desses carnavais Persépolis afora teve uma ressaca tao monumental que resolveu proibir a bagaca?! No mercado negro se consegue algo, mas deve-se conhecer o Al Capone local pra tomar umas. Difícil, arriscado e complicado demais para o meu gusto. A cerva sem álcool é ok, vá lá, mas nao é a mesma coisa.

O calendário do país segue o Sol e as rotacoes da Terra, nao a Lua como o árabe. O ano novo persa comeca no exato momento em que a primavera tem início. Esse ano é dia 22 de Marco, nao à meia noite mas num horário exato que nao sei exatamente qual é. E o ano tem uma defassagem de 700 anos e bordoada em relacao ao nosso. Estamos no ano 1394 e o próximo comeca dia 23 de marco. O ano zero é no momento em que o profeta Maomé declara a criacao do Islamismo.

É facílimo virar milionário no Iran. Basta trocar algumas notas nas casas de câmbio e sair com os bolsos lotados de Rial, todas as notas estampadas com o bom e velho Khomeini. Um €uro vale 40.000 Rials. Para vocês terem idéia a passagem aérea de Tehran até Kish Island, de onde esse modesto blogueiro escrevinha, saiu pela bagatela de 2.699.000 Rial (70 €)!

Kish island é uma tentativa iraniana de repetir Dubai. Há vários shopping centers e hotéis na ilha se aproveitando do fato de ser uma zona de livre comércio e sem impostos. Outros tantos estão em construcao, mas segundo um conhecido local muitos prédios ficam vazios o ano todo e vários elefantes brancos se espalham pela ilha. Uma bolha imobiliária iraniana está em pleno curso.

O aeroporto é razoável, mas só espero nao pegar outro caco velho na volta pra Tehran. A Zagros Airlines, nome das montanhas sagradas ao nordeste do país, nao deixou boa impressao e poderia cuidar melhor de suas aeronaves. Uma catinga de chulé com peido, o famoso chuleido, invadiu meus sentidos me deixando zonzo quando embarquei. Os ônibus da Gontigo que faziam a clássica rota BH-Joaíma eram muito mais confortáveis e bem conservados. E ainda tinha banheiro limpo no fundo, freezer com água gelada de graca e cobertor com travesseirinho. Eu dormia que era uma beleza acompanhado de meu avô e companheiro de viagens, Pedro Ferreira."



Me esqueci de relatar acima que para chegar nessa ilha saí de Viena rumo a Tehran num vôo noturno que chegava às 2h da matina na capital da Pérsia. Dali um motorista me esperava para atravessar a cidade na alta madrugada até o aeroporto doméstico. É como se eu tivesse chegado em Confins e pegasse um táxi até a Pampulha. Me encontrei com nosso agente iraniano e alguns funcionários que pegariam outro vôo até a ilha. A sensacao era de estar numa rodoviária precária. Mas correu tudo bem, apesar do aviao da Zagros ser velho e sujo.

1 comment:

helena said...

Escrito em 26.02.2016

Hoswald,

Como sempre sua escrita nos faz viajar pra o Irã!!! Vai escrever bem assim na pqp!!!!!!!!

Lugar inimaginável de se pensar em viajar, mas agora fiquei super curiosa!!! Quem sabe um dia, depois que eu conhecer o mundo todo!!

Você como sempre, dominando o WAR. carimbo no passaporte é o que não falta, cultura na cabeça e nos sentidos, nem se fala!!!

Muuuuito bom!!!! Continue viajando e nos alimentando de cultura!!! Saudade de vc, irmão!!!!!

Te amo!!