Monday, December 23, 2019

Düsseldorf Anno VI

Viena (mais um dia e férias)

Escrevi o texto abaixo dia 01.03.2012 e nao sei por que cargas d'água nao publiquei. Um relato sobre nossos primeiros dias em Düsseldorf em Marco de 2006 e comentários simpáticos a uma certa Frau Rouxinol, que o diabo já carregou faz tempo.


"Hilden (o implacável Sr. Tempo ataca novamente)

Foi num vôo da Air Berlin aterrisando as 8h da matina que nos trouxe para Alemanha. Vindos de Viena, capital austríaca e melhor cidade do Mundo para se viver, chegamos em Düsseldorf cheios de incertezas. Uma coisa certamente mudaria imediatamente para melhor: o apartamento maior, mais confortável e bem localizado.

Na capital austríaca a Gumpendorfer Straße 32, 1060 (6. Bezirk) nos acomodou por dois meses após a lua de mel em Paris no já distante Dezembro de 2005. Acomodou é modo de dizer. Era o studio que um artista austríaco amigo meu Leo Schatzl nos emprestou por dois meses. Demos uma geral antes dele embarcar para o Brasil por quatro meses para que Ela nao estranhasse assim tantas mudancas ao mesmo tempo. Ela havia chutado o balde, literalmente, no Brasil. Largara a sociedade num escritório de advocacia, a família feliz e contente, a cidade onde nascera, o sol e calor brasileiros que tanto amava, o português e qualquer outro apego emocional. Era um tiro no escuro, mas havia uma estranha certeza no ar. De ambos os lados. Ela se juntaria ao conhecido, dos melhores amigos da agora ex-amiga. Após míseros 19 dias juntos curtindo um sonho de verao europeu que com certeza nao duraria para sempre.

O studio do artista tinha várias prateleiras recheadas de livros de arte, um Mac antigo, som stereo de ótima qualidade e uma cama mezzanino, dessas com escadinha pra se chegar em cima. O problema era a cozinha. Ficava em outro cômodo, do outro lado do corredor do prédio. E dentro dela uma outra porta te levava ao chuveiro e pia. Em outra porta no corredor do prédio ficava o vaso sanitário. No início do ano Viena recebe toneladas de neve e um inverno pesado. O corredor dava para porta de saída e nao tinha aquecimento. A noite, com vontade de ir ao banheiro, tínhamos que descer da cama alta, vestir um mínimo de roupa e enfrentar o General Inverno. Fui várias vezes com Ela na alta madrugada “curtir” essa aventura.

Ele, no caso eu, estudante de Doutorado que detestava o que fazia. Cheio de sonhos e planos de abracar o Mundo, como sao os aquarianos, acabou conquistando Ela, seu antigo desejo. Pediu ajuda divina, colocou velas na Stephansdom, a magnífica catedral austríaca. Prometeu ao seu deus que tentaria fazê-la feliz de todas as formas. Parece que deu certo. Pelo menos até agora, passados pouco mais de seis anos.

 Foto: Pedro Bresson

Mas a chegada na Alemanha recebeu um golpe negativo logo nas primeiras horas. Uma brasileira, carioca, colega de trabalho que só conseguira o posto gracas a mim, jogou um balde de água fria. Morava no nr. 1 e seria nossa vizinha de porta. Achamos ótimo no início, mas depois mudamos de idéia. A mulher era um poco de pessimismo. TUDO, simplesmente TUDO estava ruim a sua volta. Reclamava o tempo todo. Se chovia elar queria o calor do Rio ali, na sua janela. Se era verao tinha saudades do inverno, dos casacos chiques e do flair europeu. Quando chegava a estacao fria voltava a reclamar do tempo gasto para se vestir, dos dias escuros pela manha e completamente negros já ás 5h da tarde. E no outono, minha estacao preferida, era o caos para ela. Nao era nem frio nem calor. Fim do verao e prenúncio do inverno. Uma espécie de purgatório para jovem senhora que vivia com um sinal de menos na testa.

“Ah, o apartamento é muito pequeno. O piso é de cerâmica e faz um frio desgracado. O aquecedor nao esquenta direito. Temos que sair do prédio pra lavar a roupa na lavanderia do edifício ao lado. O Straßenbahn (bonde) faz barulho e incomoda. Tem uns tipos esquisitos morando lá, alguns fumam e jogam bitucas no jardim. A área comercial ao redor tem de tudo, mas sinto falta de um correio mais próximo. Os restaurantes sao caros. Vocês nao vao dar conta de pagar o aluguel. A situacao aqui no instituto é bem diferente de Vienna.” E continuou desfilando todo seu arsenal negativo enquanto caminhávamos serelepes e inocentes rumo ao nosso proimeiro almoco na Telekon.

A comida desceu quadrada, claro. Comecei a pensar “onde foi que amarrei minha égua?!”. Tinha alugado o apê pela internet. Um amigo morava perto e disse ser ótima a localizacao. As fotos eram boas, o banheiro era dentro de casa com pia, vaso e chuveiro juntos, coisa rara na Europa. O piso era desses laminados, nao a cerâmica fria da casa de nossa “amiga” víbora de sarcófago de faraó, como dizia Nelson Rodrigues.

Nao era nada disso. Chegamos no apê novo e mobiliado com tudo perfeito e no lugar. Até a roupa de cama estava feita. Era como chegar num hotel. A cozinha era minúscula, mas quem se importava?! A localizacao era realmente perfeita. Chegávamos em 20 min a pé no centro da cidade. Metrô e bonde na porta. Lojas e restaurantes de todos os tipos num raio de três quarteiroes. Cinco supermercados nos serviam. Barbeiro, correio (que mudou para mais perto), loteria, lojas de roupa, choperias e o escambau. Tudo ao nosso alcance.

E a Frau Rouxinol (eu a chamava assim por que era metida a cantar árias e óperas nos finais de semana trincando nossas janelas e vasos com seus timbres agudos e insuportáveis) continuava só reclamando. Falava com ela que essa energia negativa só atraia coisas ruins. Ela dizia que nao acreditava nisso, só na ciência e no que pudesse ser provado por A + B. Nao deu outra. Teve o apartamento onde vivia com marido, outro chato de galocha apesar de gênio, arrombado em plena Viena, talvez a capital mais segura da Europa. Levaram tudo, menos o feijao no freezer. Quase virei pra ela na manha seguinte e disse: “Frau Rouxinol, A + B =... se fode”. Hahahaha.



Friday, December 20, 2019

Resenha: O Zen e a Arte da Escrita

Viena (a toda velocidade!)

Eu avisei que as resenhas ficariam melhores e mais detalhadas com o passar do tempo.

Essa foi publicada dia 07/02/2018 em plena Mata de Sao Joao no Iberostar da Praia do Forte. Está no Instagram @pedro_livros: https://www.instagram.com/p/Be6NxFHlTdd/

Li dois "Bradburys" na sequência e recomendo muito o autor.



"Ray Bradbury publicou mais de 500 contos, roteiros para cinema e teatro, ensaios, estorias e livros somando sua produção ao longo da Vida. Até roteiro para o filme Moby Dick e toda a área espacial do Epcot Center criada nos anos 80 saiu de sua genial cachola. Ainda bem que Ray é um cara generoso e nos presenteou com esse raro livro de não ficção explicando em detalhes seus métodos de criação. E sentencia logo no inicio: PRAZER, ENTUSIASMO e CURIOSIDADE são essenciais para se tornar um bom escritor.

Seu método basicamente consistia.em Trabalho, Relaxamento e NÃO PENSE!!! Explica que ao escrever sistematicamente todos os dias isso se torna um hábito e depois uma rotina. Um ato mecânico como um ciclista pedalando ou um guitarrista tocando cada vez mais a ponto de não pensar pra executar o movimento. Vira um ato automático como respirar onde o escritor não vai mais pensar ao escrever. Tudo vai fluir naturalmente resultando em textos cada vez melhores.

Leitura essencial pra quem almeja escrever melhor."


O que esse livro fez por mim?! Poderia ter feito muito mais se eu seguisse os conselhos de Ray e criasse o hábito de escrever todos os dias. O comediante Jerry Seinfeld tem um método semelhante. Num calendário de parede mostrando o ano todo ele marca com um X todos os dias em que escreveu. Esses Xs vao se ligando uns aos outros e formando uma espécie de corrente. O conselho do Jerry é "Nunca quebre a corrente". Ele escreve todo santo dia desde 1975!!! Nao é à toa que se tornou um dos comediantes mais famosos e bem pagos do planeta.

Estátuas do Museu Rodin em Paris ganham vida e saem pelo mundo afora

Viena (mais uma semana e, férias!)

"Além dos cronópios e famas, há também as esperanças. As esperanças, sedentárias, deixam-se viajar pelas coisas e pelos homens, e são como as estátuas, que é preciso ir vê-las, porque elas não vêm até nós’." - escreveu Julio Cortázar.

Esse possível roteiro para um livro foi pensado em 09/01/2012 e só agora é revelado ao mundo.



"a estória comeca como um suspense. a polícia é chamada ao jardim do museu rodin pelo diretor dando falta de uma escultura. pensa que foi roubada, mas nao há marcas ou evidências do criminoso. o inspetor pierre mallard, vulgo le fou, nao sabe nem por onde comecar.

em outra parte da cidade, uma pessoa pequena e estranha, meio escura como uma escultura em bronze do sexo masculino, é vista surrupiando uma garrafa de vinho na rue mouffetard. um corre-corre danado e ela se safa escondendo-se no pantheon. vincent aparentava portar uma grande garrafa de vinho passando sorrindo e virando a esquina. ali sua imagem foi capturada para sempre. as cores eram diferentes, mas os tons de cinza quase infinitos. a expressao é inigualável. missao cumprida. ganhei o dia. ao revelar o negativo, o fotógrafo também sorriu. abril um montrachet 1921 e se deliciou com o líquido mágico.

apesar da seguranca reforcada ao redor dos jardins do museu, três dias após o primeiro sumico, outra estátua desaparece. dessa vez, uma mulher "bronzeada" sumiu na cara de todos. a ópera da bastille seria atacada em breve. tinha aroubos de soprano, dancava como uma pluma e queria por que queria fazer parte do corpo de baile do ballet da ópera nacional. alice, quieta como um coelho, dava notícia de tudo.

o inspetor e sua trupe, além do ajudante bruno bock, amante apaixonado da vida e profundo conhecedor de vinhos, pareciam pantolas diante de um caso sem solucao. enquanto bruno convencia o subordinado leopoldo magnific a comprar uma caixa de petrus 2005 num leilao online alemao, lance após lance, a adega de monsier bock ia aumentando gradativamente.

exatos três dias depois, duas pequenas estátuas que fazia parte da porta do inferno evaporaram. pigalle sofreria mais adiante com clientes dos cabarets indignados com os maus tratos das raparigas. cafetoes eram supostamente estapeados por clientes e revidavam vigorosamente. a dupla de estátuas aterrorizava o bairro com uma agilidade impressionante. pareciam fantasmas ou beija-flores velocíssimos e quase imperceptíveis. pablo & claude, escorregadios. melindrosos. malandros auto-confiantes. deslizavam pela cidade que conheciam com a palma da mao.

mallard e bock batiam cabeca e canecas no quartier latin entre uma e outra leffe. ouviram opinioes diversas de gregos, italianos, albaneses, portugueses, troianos e até de brasileiros. cada um tinha uma teoria diferente, mas nada de muito consistente.

ele dizia que a estátua que representava a tentacao também escafedeu. e de repente as escadarias de montmartre, ao lado do funiculá, ganharam uma nova integrante. queria se redimir, acreditar na remissao dos pecados. almejava entrar na sacre coeur e pedir perdao. ou pelo menos agendar uma confisao com o santo mais próximo da porta principal. camille era um incêndio inapagável. fazia o que queria e com quem desse na telha.

monsier mallard pensou em instalar um sistema de alarme usando laser monitorado 24h por dia nos jardins do museu. o diretor raoul kratz, filho de um austero alemao com uma serelepe francesa, estava em tempo de perder o juízo. via seu patrimônio se dilapidando, dia após dia, sem ter o que fazer. pensou em algemar cada estátua numa barra de ferro macica ao pé de cada uma, mas soava ridículo. pensou em apelar para medaille miraculouse, mas achou um abuso ter que apelar para os santos. era amigo pessoal de carla bruni e sarkozy, quem sabe poderiam ajudar.
  

na frente de seis guardas e oito câmeras toulouse se libertou da capa dura de bronze, bateu a poeira, deu um giro no ar caindo no jardim e se mandou pelo portao principal. a turba de oficiais parecia um bando de pinguins bêbados. pegou um ricard fiado e foi subindo as escadarias rumo ao coracao. lá chegando, bateu o olho naquela praca com saudades. a festa do dia ficara retratada para sempre. com impressoes profundas da época.

chegou na frente da imponente casa do senhor quando parou e se virou pra cidade. lembrou-se dos retratos da época. quantas pecas, exposicoes, feiras, festas." 


Se alguém ousar me plagiar e escrever um livro baseado nessa singela sinopse, eu mato!

Acham que sai coisa boa daí?!

Wednesday, December 18, 2019

Keep reading

Viena (janemamae chegou!!!)

Na sessao "Keep reading..." aí do lado direito do blog vc verá os livros abaixo. Pura mentira. Essa lista já mudou completamente. Nao terminei de ler nenhum deles pelos motivos citados agora.



A World Undone / The Story of the Great War 1914 to 1918 - G. J. Meyer
O livro é enorme! E muito cansativo. Muitas informacoes detalhadas de um assunto interessante, mas que neste momento da minha Vida pode esperar. Tantos outros livros me esperam e resolvi largar este após míseras 20 e poucas páginas. 

Brain Rules for Babies - John Medina
Esse assunto é muito interessante e nao sei por que nao terminei de ler. Comecei outro, em português, chamado "O Cérebro da Crianca" escrito por dois psicólogos norte-americanos. Parei na metade pois comecei a ler outros livros. Sou assim mesmo. Ás vezes corro os olhos na minha estante e se algum título me atraí, pego o bendito e comeco a leitura abandonando todo o resto. Tento me policiar para nao comecar a ler 10 livros de uma só vez e terminar apenas 1 ou 2. No momento estou finalizando SEIS livros...

(old) Im Gefängnis / Na Prisao - Egon Schiele
Essa palavra (old) me condena. Já diz que a leitura tá parada faz tempo. Esse é o caso. Um livro halb em português e halb em alemao sobre os 26 dias que o famoso artista austríaco passou na prisao. Essa edicao vem ilustrada com os desenhos que Egon fez no cárcere. Vale a pena terminar. Ou recomecar do início. 

(old) Cartas a Théo - Vincent van Gogh
Acho van Gogh um dos três artistas mais geniais de todos os tempos junto com Picasso e, talvez, Caravaggio. Nao incluo Da Vinci e Michelangelo nessas comparacoes pois sao de outro planeta. Pois bem, essas cartas sao interessantes no início, mas depois ficam cansativas e repetitivas. Desconfio que jamais terminarei este livro.

(old) O Verdadeiro Poder - Vicente Falconi
Esse eu terminei de ler, acho. É o guru das empresas brasileiras, fundador do INDG e criador de um sistema de metas, planos de acao e metodologias bastante usado por muita gente até hoje. Sinceramente, tem coisa muito melhor escrito por gringos e afins.

(old) Lolita - Vladimir Nabokov
O filme, neste caso, é muito melhor. Qualquer versao, a antiga ou a recente com o Jeremy Irons, genial no papel. O livro é chato, cansativo. Talvez ganhe uma nova chance comigo em 2030, hehe.

Resenha: Fahrenheit 451

Viena (ontem foram 1.200km de volante)

Parece que o Truta aprumou de vez e segue num ritmo de postagens razoável. Eu diria até excepcional se considerarmos o que foi feito aqui em 2019.

Em 1966 "Fahrenheit 451" virou filme nas maos de ninguém menos que François Truffaut. Acho que baixei esse filme uma vez no Cine Torrent, mas nao vi. Preciso resolver isso.

Essa Colecao Folha "Grandes Nomes da Literatura" só tem coisa boa. Esse foi o primeiro que li.

Resenha publicada no Instagram @pedro_livros em 09/01/2018: https://www.instagram.com/p/BdtjPRDlFgE/




"Ray Bradbury (1920-2012) publicou essa distopia, o contrário de utopia, em 1953 refletindo as impressões da época prevendo um futuro sombrio e criticando a influência negativa da TV sobre o interesse por ler livros. Guy Montag é um "bombeiro" cuja função é queimar casas e pessoas que insistem em manter pequenas bibliotecas e alimentar um ato subversivo: ler. As salamandras e os sabujos são apenas ferramentas para atingir a temperatura de queima do papel: 451 F.

Metáforas perfeitas e descrições hiberbolicas das cenas sao frequentes. O volume de informação usado pra banalizar a sociedade tem um único objetivo: exterminar as conversas entre os indivíduos.

Mais um clássico imperdível e cada vez mais atual refletindo nosso tempo individualista onde quase todos inclinam o pescoço solitário reverenciando um smartphone."

O que esse livro fez por mim?! Já conhecia o Bradbury por causa do filme, mas nao tinha lido nada dele. É uma história curta e poderosa que me fez perceber a diferenca de grandes escritores para os medianos. Nao há enchecao de linguica. As cenas sao descritas com precisao e dao fluência aos movimentos que criamos na mente. Uma verdadeira Arte.

Thursday, December 12, 2019

Resenha: O Livro de Areia

Viena (janemamae vai chegar!!!)

Finalmente li um livro do Borges. Nao um cabecudo tipo "O Aleph", mas foi um comeco. Aliás, dizem que é sempre melhor comecar pelos livros "menores" dos grandes escritores para se familiarizar com o estilo de escrita do que pegar de cara o clássico do autor. 

Com Gabriel Garcia Marque li primeiro "Memórias de mi putas tristes" antes de "Cem Anos de Solidao" que estou quase acabando. Será provavelmente a próxima resenha no Insta.



Vamos ao textículo que escrevinhei no apagar das luzes de 2017 na Bahia, terra de todos os Santos, sobre essa luxuosa versao da Colecao Folha Literatura Íbero-Americana:

"O célebre escritor, poeta e ensaísta argentino Jorge Luis Borges ficou famoso em todo mundo com seus poemas e contos. Neste "Livro de Areia" a variedade dos temas e a densidade dos contos passeiam por Buenos Aires, pelas sagas da Escandinávia, pela juventude e velhice, realismo e fábulas, guerra, eternidade e até por um tal Congresso. Livro curto, mas profundo e cheio de reflexões atemporais."

Publicado no Instagram @pedro_livros em 26/12/2017 na Bahia: https://www.instagram.com/p/BdLC2R5Fi-m/

O que este livro fez por mim?! Ter a certeza da grandiosidade da literatura latino-americana que nao deve nada à russa, européia, norte-americana e asiática. Temos gigantes aqui também. Júlio Cortázar é outro argentino famoso que ronda meu radar faz tempo, mas ainda nao tive o privilégio de ler.

Wednesday, December 11, 2019

Resenha: They call me Supermensch

Viena (Truta a todo vapor, finalmente)

A autobiografia "They call me Supermensch" do Shep Gordon é um dos melhores livros sobre o showbiz e mundo da música. Nao sei se já foi lancado no Brasil, por isso li a versao em inglês e fiz a resenha no mesmo idioma. Minhas primeiras críticas ainda estao modestas, sucintas, meio acanhadas até. Depois a coisa vai evoluindo e garanto a vocês que melhoram com o passar do tempo. Lá vai:

Publicado no Instagram @pedro_livros em 13/10/2017: https://www.instagram.com/p/BaMmjQGlz-m/

"In 1968 after another frustrating attempt to start a job Shep was driving to L.A. without a place to stay. Called a friend, but no room there. He entered a hotel, checked in, took an acid and was laying on his bed when a girl started screaming outside. He went there to rescue her, but was punched on the nose. She screamed and yelled "Don't you see we are fucking?!" Next day on breakfast the girl recognised him and started to laugh with some friends, but invited him to join the group. She was Janis Joplin and her friends were Jimi Hendrix, Bob Dylan's road manager and other producers. That's how his music producer career starts. He was 20 something.

Shep invented the concept of celebrity chefs generating all praise and crazyness foodies devote to them. He's a friend of Dalai Lama and writes in such a way that you feel like having a drink with him at your favourite pub.

Shep Gordon is the Supermensh!



Acrescento que Shep deve ser um dos caras mais gente fina do mundo. Tem tantas histórias pra contar e participou da vida e do sucesso de tanta gente famosa que se transformou num guru para as celebridades da música, cinema e alta gastronomia. Ele foi um dos inventores dos chefs celebridade, portanto se você gosta do famigerado Jamie Oliver ou é fan do Anthony Bourdain como eu, devemos isso ao Shep.

O que esse livro fez por mim?! Entender que nada acontece por acaso no mundo do entretenimento profissional. Existem muito planejamento e estratégia de marketing, mas às vezes o acaso e um bom golpe de sorte sao essenciais para o sucesso, ou o fracasso, de um artista.

Monday, December 09, 2019

Resenha: Sapiens, uma breve história da humanidade

Viena (indo pra natacao dos fofinhos)

Yuval Noah Harari é um historiador, filósofo, pensador e agora guru nascido em Israel. Estou terminando de ler Homo Deus do mesmo autor. Nao tao interessante como "Sapiens", na verdade bem monótono no meio, mas vou terminar na raca pra fechar a trilogia sobre Passado (Sapiens), Futuro (Homo Deus) e Presente (21 Licoes para o Século 21) do autor. Este último ouvi um audiobook em inglês no aplicativo audible da amazon. Recomendo muito.



"Um livro impossível de ser resumido. Tem que ser lido e tristes são aqueles que não o lerão. Misturando ciência, história, filosofia e economia Harari nos explica por que o Homo Sapiens dominou todas as outras espécies, se espalhou pelo mundo, deixou de ser um caçador-coletor e dominou a agricultura (ou foi dominado por ela) fixando residência, criando propriedades, cidades e impérios.

A criatividade do Sapiens em acreditar em coisas que não existem como o dinheiro, os direitos humanos ou as fronteiras entre as nações nos diferencia das demais espécies e nos fez literalmente os Donos do Mundo. Um exemplo de como a curiosidade do Sapiens movimentou muita gente e teve grande impacto no mundo na época foi a simples pergunta "Qual a distância entre o Sol e a Terra?" A busca pela resposta fez com que a expedição do capitão James Cook iniciasse a conquista e ocupação britânicas da Austrália, Nova Zelândia e tantas outras ilhas ao Sul. Um livro imperdível que merece nota 9,5."

 

O que este livro fez por mim?! Me fez ver a evolucao da espécie humana sobre uma outra perspectiva e contexto históricos. A importância do domínio da agricultura foi essencial para que o Sapiens fixasse residência por longos períodos num determinado local originando assim os primeiros vilarejos que se tornaram cidades e depois impérios.

Publicado no Instagram @pedro_livros em 08/10/2017: https://www.instagram.com/p/BaACCAVFTEP/

Friday, December 06, 2019

Impressoes sobre o Iran

Viena (hoje é sexta-feira!!!)

No já distante dia 25/02/2016 enviei um email a minha querida irma Helena com o seguinte texto: "Dia desses quem sabe postarei no meu combalido e abandonado blog."

Pois aqui está. Foi uma viagem que fiz à antiga Pérsia em 2016 participando de um congresso sobre Siderurgia. Me lembro bem dos posters gigantes com os Aiatolás por todo lado.

"A primeira coisa que pensamos ao ouvir ou ler o nome desse país é em terrorismo, homens-bomba se explodindo em mercados lotados e mulheres de burcas negras andando de cara amarrada. Vem à mente também cientistas iranianos construindo a bomba nuclear escondidos em bunkers perversamente construidos em montanhas inalcancáveis.

Nao tem nada disso. Os iraniamos sao simpáticos, sorridentes, falam bem inglês, tratam os estrangeiros com respeito e tem um orgulho enorme de seu país. Também pudera. História aqui é prato feito pra quem gosta. A Pérsia e os persas existem desde que o mundo é mundo. Desde o tempo do Amém, como diria minha Janemamae.

Persépolis fica aqui, pelo menos as ruínas da cidade, no sul do país. Alexandre, o Grande tacou fogo na cidade pra se vingar de Xerxes por ter incendiado a Acrópole. Alguns dizem que foi acidente, outros que foi proposital. O resultado é o mesmo: Persépolis ardeu em chamas e deixou de ser a capital do Império Aquemênida fundado por Ciro, o Grande em 550 A.C. (obrigado Wikipedia).

Pode-se pensar também em Argo, fuck your self e nos “coitadinhos” americanos sequestrados na embaixada nos anos 1970. Logo os americanos que sempre apoiaram o malévolo Xá Reza Pahlavi. Será por que?! Petróleo, jovem. Dinheiro, poder. Sempre os mesmos agentes das guerras modernas. Até ingleses e russos invadiram o Iran em 1941 tentando se apoderar das reservas valiosas e gigantescas do precioso combustível fossil. Mas sem sucesso.

Com o aiatolá Khomeini e a Revolucao Iraniana de 1979 o país deixa de ser uma ditadura autocrática liberal e cada vez mais ocidentalizada liderada pelo Xá e passa a ser uma república islâmica regida por leis conservadoras do Islamismo e com o controle politico nas maos do clero. Nessa época as relacoes com os EUA azedam de vez, principalmente após o sequestro na Embaixada.

Mas o país tem lá seus atrativos e vantagens. A ausência de empresas americanas faz com que lixos como McDonald’s e suas variacoes nao tenham vez no país. Junky food aqui nao!!! Aliás a comida é muito boa. Uma mescla da culinária turca e egípcia com muitos legumes, ervas, peixes, camaroes, carnes de vaca e cordeiro, e frango. Tudo acompanhados do arroz com alcafrao que é muito famoso por essas bandas. Caviar também, dizem que o melhor do mundo, os russos que me perdoem. Pistache também entra na lista das especiarias ou iguarias locais de sucesso. Gracas aos mulcumanos os porquinhos vivem aqui alegres e felizes sem ser incomodados, a nao ser pelas minorias católicas que sim, existem. Até os judeus sao reconhecidos.

As mulheres sao obrigadas a cobrir a cabeca escondendo os cabelos, considerados de alto poder sedutor pelas regras do Islamismo. No aviao ao iniciar a descida o piloto avisa. A mulherada, mesmo as ocidentais, tem que jogar um pano na cabeca se quiser passar despercebida. Tem uma certa razao de ser já que um balancar de cabelos pode ser arrasador. Mas as burcas nao sao sempre pretas. Muitas encharpes coloridas adornam o cucuruto das iranianas de rostos refinados, batons exagerados e maquiagem pesada nos olhos.

A principal desvantagem deste belo país que nao me permite sequer cogitar na hipótese de um dia vir morar aqui: o álcool é proibido de todas as formas. Cigarro pode, cachaca nao. Por que nao?! Sei lá, vai que Maomé era abstêmio ou já bebeu antes na Vida quando jovem e num desses carnavais Persépolis afora teve uma ressaca tao monumental que resolveu proibir a bagaca?! No mercado negro se consegue algo, mas deve-se conhecer o Al Capone local pra tomar umas. Difícil, arriscado e complicado demais para o meu gusto. A cerva sem álcool é ok, vá lá, mas nao é a mesma coisa.

O calendário do país segue o Sol e as rotacoes da Terra, nao a Lua como o árabe. O ano novo persa comeca no exato momento em que a primavera tem início. Esse ano é dia 22 de Marco, nao à meia noite mas num horário exato que nao sei exatamente qual é. E o ano tem uma defassagem de 700 anos e bordoada em relacao ao nosso. Estamos no ano 1394 e o próximo comeca dia 23 de marco. O ano zero é no momento em que o profeta Maomé declara a criacao do Islamismo.

É facílimo virar milionário no Iran. Basta trocar algumas notas nas casas de câmbio e sair com os bolsos lotados de Rial, todas as notas estampadas com o bom e velho Khomeini. Um €uro vale 40.000 Rials. Para vocês terem idéia a passagem aérea de Tehran até Kish Island, de onde esse modesto blogueiro escrevinha, saiu pela bagatela de 2.699.000 Rial (70 €)!

Kish island é uma tentativa iraniana de repetir Dubai. Há vários shopping centers e hotéis na ilha se aproveitando do fato de ser uma zona de livre comércio e sem impostos. Outros tantos estão em construcao, mas segundo um conhecido local muitos prédios ficam vazios o ano todo e vários elefantes brancos se espalham pela ilha. Uma bolha imobiliária iraniana está em pleno curso.

O aeroporto é razoável, mas só espero nao pegar outro caco velho na volta pra Tehran. A Zagros Airlines, nome das montanhas sagradas ao nordeste do país, nao deixou boa impressao e poderia cuidar melhor de suas aeronaves. Uma catinga de chulé com peido, o famoso chuleido, invadiu meus sentidos me deixando zonzo quando embarquei. Os ônibus da Gontigo que faziam a clássica rota BH-Joaíma eram muito mais confortáveis e bem conservados. E ainda tinha banheiro limpo no fundo, freezer com água gelada de graca e cobertor com travesseirinho. Eu dormia que era uma beleza acompanhado de meu avô e companheiro de viagens, Pedro Ferreira."



Me esqueci de relatar acima que para chegar nessa ilha saí de Viena rumo a Tehran num vôo noturno que chegava às 2h da matina na capital da Pérsia. Dali um motorista me esperava para atravessar a cidade na alta madrugada até o aeroporto doméstico. É como se eu tivesse chegado em Confins e pegasse um táxi até a Pampulha. Me encontrei com nosso agente iraniano e alguns funcionários que pegariam outro vôo até a ilha. A sensacao era de estar numa rodoviária precária. Mas correu tudo bem, apesar do aviao da Zagros ser velho e sujo.

Thursday, December 05, 2019

Resenha: Política para nao ser idiota

Viena (indo pra casa ver meus fofinhos)

Mário Sérgio Cortella é considerado um filósofo Nutella. Talvez um profeta do óbvio. Esse livro leve nos ajuda a cutucar a superfície desse assunto animal e irracional chamada Política que causa tanta polêmica e gera intrigas e cizânias mundo afora, particularmente no Brasil.



"A expressão idiotés, em grego, significa "aquele que só vive a Vida privada, que recusa a política, que diz não à política". Num bate papo informal, como se tivessem numa mesa de bar, Mário Sérgio Cortella e Renato Janine Ribeiro trocam ideias, teorias, opiniões e impressões sobre o ser humano político que existe em todos nós. É uma luz nesse Fla-Flu político onde as preferências pessoais falam mais alto do que o perfil, preparo e história política de cada parlamentar brasileiro.

Uma das perguntas do livro: Corrupção causa impotência? Altamente recomendado pra quem quer sair das discussões rasas e entender a importância da política no dia a dia, não só em época de eleições."

O que esse livro fez por mim?! Nao muita coisa além de perder mais ainda a esperanca na Humanidade como civilizacao. Uma coisa boa foi eu ter parado com as postagens sobre política, geralmente explosivas, no Instagram e facebook. No zapzap a treta continua, mas apenas em alguns grupos onde as pessoas ainda se respeitam. Apesar de hora ou outra um chamar o outro de idiota ou retardado. Faz parte.

Publicado no Instagram em 6 Set 2017: https://www.instagram.com/p/BYtsCQqFetS/

Wednesday, December 04, 2019

Resenha: Sem Causar Mal

Viena (postando do trabalho...)

Decidi trazer pra cá as resenhas dos livros que li recentemente publicadas no Instagram. Quem sabe assim consigo angariar novos seguidores para o Truta.

Comecamos pela primeira resenha do livro "Sem Causar Mal" do neuro cirurgiao inglês Dr. Henry Marsh. A primeira ficou muito curta e sucinta. A partir da segunda a coisa fica mais detalhada e elaborada. Pelo menos é curtinha e fácil de ler.

O link para o Instagram pedro_livros é https://www.instagram.com/p/BYg6kzolggK/



"Não é preciso ser estudante de medicina ou médico pra se comover, se apaixonar, chorar, se surpreender e aprender com os relatos impressionantes do neurocirurgiao inglês Dr. Marsh, ou simplesmente Henry.

De forma nua e crua ele conta que um milagre em cirurgias no cérebro são apenas "pontos fora da curva". Os grandes dilemas entre decidir-se pela cirurgia sabendo dos grandes riscos de morte ou deixar o paciente viver mais alguns meses com qualidade, a sensação indescritível de poder salvar uma Vida, a tragédia e auto comiseração pelos fracassos com mortes ou pacientes sequelados para sempre, o risco e a incerteza nas tomadas de decisão, as críticas ao sistema de saúde inglês e à frieza cada vez mais crescente no trato aos pacientes.

E uma descrição emocionada e honrosa da morte de sua própria mãe, curiosamente atacada por um câncer no figado. Henry desmistifica uma das profissões mais nobres, talvez a mais de todas, de forma comovente e sincera."

O que esse livro fez por mim: ter a plena consciência de que na maioria das vezes estamos nas maos de médicos altamente qualificados para executar suas atividades. Somos passivos e só nos resta rezar pra nao cair nas maos de gente incompetente e mal intencionada. E contar sempre com a Sorte.