Quem seriam os ilustres cidadaos de Augsburg?! Sei apenas de Bertold Brecht, mas nao me pergunte qual peca teatral famosa ele escreveu. Talvez algo sobre O Tannenbaum passada nos mercados de Natal.
O hotel fica ao lado de um cemitério. A fina camada de neve cobre os sepulcros como um manto protetor. O muro é baixo e sem arame farpado, ao contrário dos jazigos brasileiros. O da Consolacao é assim, eu vi. Até os mortos aqui tem mais seguranca?! Será que Brecht tá enterrado ali?! Ficarei sem saber. O frio nao me deixa consumar a visita.
As cidades alemas ficam lotadas nessa época. Acho que só trabalham até as duas da tarde. Depois disso, as ruas ficam cheias. Salsichoes no paozinho com mostarda, steaks com cebola, crepes doces e salgadas, reibekuchen – fritura feita com massa de batata – leberkäse, kasseler, sauerkrauft. Em todas as cidades vemos esse menu com mínimas variacoes. A culinária alema nao é muito rica, só em calorias, mas tudo parece combinar perfeitamente com cerveja e, no inverno, Glühwein. Um vinho mais fraco servido bem quente em canequinhas bonitas que dao vontade de levar pra casa. É parecido com nosso quentao das festas juninas. Só que eu bebo sempre com amaretto, rum, calvados, conhaque ou algo do tipo pra reforcar. Mais que um enjoa.
O mercado da cidade é uma festa de cores e nacionalidades. Itália, Grécia, Espanha, Portugal, Franca, Turquia. Todos presentes e competindo entre si. Provei um salami originale, mas o celular tocou antes que eu fosse persuadido pelo feirante. Dois casais se esbaldavam com tábuas de frios e bebidas finas. Fecharia às 18 Uhr em ponto. Vi vinhos, ervas e chás, queijos de todos os tipos. Deu vontade de ficar até sábado só pra ver o movimento. Sair sem nada no estômago em direcao a um mercado desses é alegria garantida. Festa de sabores, cheiros e dinheiro trocando de maos. A economia precisa girar. A Europa nao está em crise?! As ruas lotadas desmentem tudo. As sacolas cheias também. Pelo menos a Alemanha está do lado forte do muro, mas até quando?!
A variedade de souvenirs impressiona mais do que a comida. Porcelanas, madeira, plástico, vidro, aco e latao. Qualquer motivo natalino é feito com esses materiais. Sempre dou uma olhada, mas nao compro nada. Depois de comer uma Hirschenwurst mit Senf (com mostarda), perambulei mais um pouco até topar com uma loja de vinhos. Havia também charutos finos e um monte de cachimbos. Comecarei a fumá-los quando completar 40 anos. Tem um certo charme, o ato de fumar. Nao fossem os problemas de saúde que causam seria um fumante inveterado. Acho chique e nao ligo se é politicamente correto. Tenho orgulho de ser incorreto, nesse caso.
A loja de vinhos surpreendeu. Vi um Chateau Palmer, alguns Borgonha de respeito, um Don Perignon de 1993, alguns Lafite Rothschild e até um Pichon-Longueville Contesse de Lalande. Nao comprei nada, apenas apreciei. Tava com preguica de carregar sacolas. Perde-se um pouco de liberdade nos movimentos
quando se adquire algo.
Passando pelas guloseimas e tortas do Café Eber, tradicional Konditorei da cidade, decidi subir até o salao principal. A vista para praca do mercado era mais do que convidativa. Vi o garcom servir a felizarda senhora uma torta de morango com Sahne - o chantilly alemao, mas muito melhor e menos gorduroso. Pedi o mesmo com uma jarra de chocolate quente pra acompanhar. Fiquei lendo minhas loucuras anotadas no moleskine. Doideras que anoto desde o dia 02/03/2008, me informa a primeira página. Coloco data em tudo, como se alguém fosse algum dia fazer uma cronologia da minha Vida baseado nessas anotacoes. Metas impossíveis, tarefas que nunca farei, shows que jamais assistirei por que os artistas já morreram – Amy Winehouse, por exemplo. Mas muita coisa está riscada, feita, executada. Missao cumprida. Outras tantas ainda estao pendentes, mas por pouco tempo. Paguei a conta, dei 70 cents de gorjeta, peguei o recibo e me mandei.
No frio da volta peguei a Maximilianstraße, a principal da cidade. As lojas sao modernas e conhecidas, localizadas nos prédios mais antigos. É sempre assim em toda Alemanha, país padronizado e às vezes irritantemente organizado. Talvez em grande parte da Europa também. Sao tantas lojas iguais: zara, mango, h&m, deichmann, görtz, timberland, adidas, tchibo, tommy hilfiger, dm, etc. Nem sei exatamente o que vendem. Ou sei e fico querendo esquecer. A elas, junte as lojas das operadoras de celular, alguns bancos, correio, farmácias e supermercados. Restaurantes e lanchonetes vendendo kebab, pizza, salsichao ou batata frita - com maionese e cebolinha, por favor - e tem-se uma cidade alema. Uma ou outra lojinha tradicional sobreviveu. Essas sao as melhores e mais caras. Ah, tem sempre uma joalheria ou loja de relógios nesse furdúncio também.
Simpática essa Augsburg. Com uma Riegele, a cerveja local desde 1884, melhor ainda. Como teria sido a descricao do Bertoldo algumas décadas atrás?!
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