Hilden (Woyton é bom)
E no apagar das luzes de 2012 o Truta conseguiu mais um reforco de peso. Após anos de negociacoes complicadas, idas e vindas, promessas, dívidas e desencontros finalmente e orgulhosamente anunciamos o mais novo colunista do blog: Marcelo Theo.
O mineiro de Beagá, engenheiro de plantas de biogás, poeta, músico, escritor, pai de duas maravilhas e marido de uma companheira "pro que der e vier" aceitou as luvas contratuais e a conta nas Cayman como parte do pagamento pelas pérolas mensais que ele despejará neste espaco de agora em diante.
O Truta nao tem muita regra, mas a idéia é soltar uma crônica por mês. Já temos material pra abastecer o blog até Maio de 2017. Até lá, discutiremos novamente as bases contratuais.
A primeira de todas, cronologicamente falando também, foi feita no aeroporto de Confins aguardando o cilindro voador que o traria pra gelada Alemanha. O mês e o ano?! Julho de 2006.
A primeira parte das "Crônicas de um Casamento" está aí embaixo, agora para uma audiência interplanetária e muito exigente. Se gostarem, Theo ganha o Nobel na certa.
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Crônicas de um Casamento - Parte 1
Marcelo Theo
(Baseado nos Relatos do Casamento de um Primo... todas as identidades foram preservadas)
Bem, aqui estou eu, enlatado na sala de embarque do aeroporto de Confins, rememorando o como um moleque livre e risonho tornou-se um homem casado.
Homem casado? Bem, foi mais ou menos assim...
Não casar, para começar a conversa, é muito mais fácil e cômodo. Enxergar defeitos e fazê-los do tamanho de um trem, ou de um avião, é um exercício rápido e tranqüilo.
Pois bem, me encontrava assim, em posição absolutamente favorável comigo mesmo... e de poder, com todas as justificativas necessárias para fugir da forca. Sujeito rebelde, alma cigana com sangue nômade, cheio de exigências e em busca da mulher perfeita, como um bom virginiano. Ser solteiro é mais simples que ser casado: planos para um, nada de telefonemas dizendo onde, quando ou porquê, enfim, muito mais livre para ficar até mais tarde em um bar jogando conversa fora. Não desejava ser solteiro, quero dizer, não que não ligasse para toda a liberdade do “ser solteiro”, mas gostaria de gozar de tal, casado. Afinal de contas, sempre em busca da mulher perfeita. Essa idéia de perfeição na companheira se dissolveu com o tempo. Surgiram outras barreiras e questionamentos, afinal a mente é uma grande e maquiavélica competência que nos dá e nos tira a todo instante. Nos deixa desnudos sem a menor compaixão ou zelo. Casar deve significar tanta coisa que deveríamos encontrar outra palavra para diminuir questionamentos e batalhas internas qual essa, travada e descrita por minha pluma.
Casar, no sentido de ter mesma morada, mesma casa, nunca me trouxe nenhum frio na espinha. No sentido de assinar um papel, declarando assim minhas intenções, era forte demais para ser levado a sério. Casar, como entrar em um templo ou igreja e estar diante de um padre ou pastor, repetindo sim e jurando amor eterno, cercado de um terno apertado, olhares fitantes, luxo, pompas e concreto? Com toda a fineza cabível: nem morto, me traria calafrios. A mesma cerimônia pisando flores e ervas, todos de pés descalços, cantos e danças, o cheiro da erva no ar, a brisa nos cabelos, sorrisos leves, roupas claras e uma benção de amor a Deus, a si próprio e ao outro, tranqüilamente.
Voltamos, pois, à situação de conforto e domínio que me encontrava: desculpas armadas, apontadas, fogo. Como criaríamos os filhos? Quais os valores? E a busca interior e espiritual? (Questão central e condição si ne qva no). Questionamentos justos, talvez, até cabíveis, porém revelava algo por trás do véu: o medo. Medo de viver e atar-me toda a vida à mesma mulher. Escolher aos vinte e sete anos e não poder fazê-lo aos trinta ou aos sessenta. Isso para um homem pode, às vezes, ser terrivelmente difícil. Para um macho, por natureza e na natureza, a função instintiva é “espermatizar” o máximo possível. Comportamento esse, vivido por nós seres humanos masculinos, na adolescência e, em muitos casos, levado e idolatrado até à fase adulta. Racionalmente falando, o medo era bobo e infantil, e as causas deveriam ser superadas. No emocional, o sentimento era real e genuíno, principalmente porque estaria disposto a manter-me na apavorante condição de monogâmico. Pensar que em quarenta anos sorriria de mim mesmo ou que fosse eterno enquanto durasse me animava e dava força.
Assim foi como transferi toda a responsabilidade da união no simples fato do desabroche de minha camélia. Do jeito dela, “camaleoa” e feroz, antes este do que aquele, rugiu e deu sinais de vida, trocou de pele em duas semanas. Estava claro que aquela criatura era mutante e esquisita, assim como eu. Faço minhas as palavras de Caetano: “de perto, ninguém é normal”.
Quão rápido a subida do sol no horizonte, a situação se inverteu e eu me vi com a espada no pescoço: ou enforcar-me ou morrer degolado. Calei-me e escutei o turbilhão de silêncio dentro de mim.
Haveria uma partida a um destino longínquo, uma estadia longa, existia um medo, real. Seja feita a vossa vontade, e o mergulho na fé, no escuro, no desconhecido. Sem dizer “nem que sim, nem que não”, tramei o ardiloso plano.
Dei logo a saber a meu pai, minha mãe, também a meus irmãos, que me disseram estar eu louco. Nenhuma novidade. Minhas atitudes e modus vivendis não pertencem mesmo ao mundo dos “normais”. Apesar de tudo, me apoiaram na doidice. Passo na casa de minha sogra, a quem levo, sem saber de nada, ao cartório.
Havia pedido um sinal a Deus pela escolha do dia do casório e preferi uma quinta-feira, quarenta dias após aquela data. Não obstante, eis que vem um sinal das “sogras-mães”. Sexta-feira, dia 30 de junho, e não há como brigar com duas mulheres de fala aguda. Estava escrito, ou elas escreveram.
O primeiro percalço nos cruza o caminho. Na procuração assinada pela dama para que sua mãe a representasse perante o juiz constava um erro em um dos nomes, o que quase pôs tudo a perder. Deveria, novamente, eu, fazer com que a noiva assinasse a procuração sem ler. Havia já gastado o trunfo da pressa, quando ela assinara sete papéis desinteressadamente; um deles, a dita cuja. Digamos que os “normais” não me deixaram desistir da loucura, o porquê, ninguém explica. Talvez porque todos precisamos de um “bode escapatório” (mistura de bode expiatório e válvula de escape) para as loucuras de nosso cotidiano. O certo é que em um telefonema acertamos um rápido encontro na hora de seu almoço para novas firmas. A desculpa era que havia um erro no número de sua identidade. E não é que havia mesmo?
A rapidez da operação era imprescindível para que houvesse menos tempo para uma leitura detalhada. A primeira ela leu, alegando surpresa em não havê-lo feito anteriormente. A folha subseqüente continha uma palavra proibida aos olhos inocentes da dama: casada. Os óculos não fitaram a dita cuja e a pena deslizou suavemente por todas as outras procurações. O diferente desenho da última, por possuir mais linhas escritas, atraíram sua atenção e ela, portanto, começou a ler enquanto assinava. Rapidamente, com o papel já assinado e enquanto a leitura ainda não avançara às linhas intermediárias, privei-lhe o documento do viso, não lhe permitindo o término da leitura, causando-lhe um certo curioso espanto. Perguntou-me o que estava escrito, demandou e me fez vãs ameaças emocionais. Barganhei um tempo e lhe prometi que em três dias teria uma boa surpresa. Fui feliz na proposta, pois ela consentiu. Dois dias depois, em um domingo, preparei nosso novo apartamento.
Minha tia havia se mudado e com grande desprendimento e gentileza nos ofertou a morada sem ônus. Melhor que isso, só dois disso. Comuniquei a decisão de antecipar a surpresa a meus pais e minha sogra, de outra forma, manter a situação no ar poderia tornar-se insustentável. Apenas um dia após a mudança de minha tia, apresento à namorada nosso novo ninho. A surpresa foi grandíssima e o assunto dos papéis não foi mais questionado. Havia ganhado tempo. O que viria depois disso?!
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Aguarde cenas dos próximos capítulos.
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