Thursday, December 29, 2011

Invista em Livros (2)

Düsseldorf (um dia de molho...)

A gripe nao me deixou trabalhar hoje. Vou ali tomar um Ibuprofen e já volto...

Voltei. Pude ver "Rastros de Ódio" com John Wayne no papel do herói que sai em busca de vinganca e da menina raptada pelo Cherokees, a Debbie.

O assunto aqui sao os livros. Sempre eles. Na última passada pela terrinha voltei carregado novamente. Tinha prometido nao comprar/surrupiar mais nada, mas nao teve jeito. Vamos as minhas recomendacoes para 2012. Pelo menos é o que tentarei ler.

A primeira lista está aqui. Dela comecei o nr. 7. Cartas a Theo - Van Gogh, li "1984", que faz parte do nr. 12. The Complete Novels - George Orwell, o 22. About a Boy - Nick Hornby está na minha cabeceira, mas nada de comecar e, por último 23. Lolita - Vladimir Nabokov, também iniciado, porém nao terminado.



Preciso acabar com o que inicio. Tem uma garrafa de Johnnie ali pela metade olhando pra mim.

1. Ligeiramente Fora de Foco - Robert Capa. O consagrado fotógrafo de guerra, que adorava ostras blue point com vinho Montrachet, também deixou sua marca na literatura nessa autobiografia.

2.  O Aleph . Jorge Luis Borges. Me interessei pelo autor argentino após ler um conto do Torero numa dessas revistas de bordo. Era sobre a cidade de Santos, onde Torero nasceu e cresceu, e seus pontos turísticos. Torero usou um conto do Borges, onde ele encontra a si mesmo num banco de praca, pra falar sobre a cidade que tanto ama. O Aleph é o ponto de partida para se explorar a obra magnífica de Borges, o argentino, nao o atacante do Santos.

3. O Amor é um Cao dos Diabos - Charles Bukowski. O velho safado apronta mais uma. Comprei na Paulista numa das várias bancas vendendo muita coisa da colecao de bolso LM&P. Baratos e acessíveis ao povo sedento por literatura.

4. Era dos Extremos - Eric Hobsbawn. Antigo sonho de consumo, subtraí-lo-o das prateleiras de Janemamae que nada percebeu. Agora tenho comigo a colecao "Eras" que comeca com as "Revolucoes", passando pelo "Capital", depois "Impérios" e terminando nos "Extremos". Tenho dele sua autobiografia, Tempos Interessantes.

5. Carlos Gracie Biografia - Reila Gracie. Veio na mala após insistência e argumentos convincentes do Rato, meu irmao faixa preta de jiu-jitsu.

6. Murder on the Orient Express - Agatha Christie. Esse também tava meio perdido lá em casa, sentindo frio. Resolvi acolhe-lo.

7. O Goleiro de Deus em Preto e Branco - Joao Leite. Autobiografia do maior e melhor goleiro da História do Galo, o Joao de Deus. Recebi o livro de suas próprias e gigantes maos com dedicatória e tudo mais. E uma camisa do Atlético com o 13 atrás autografada por ele e pelo Batista, zagueirao que fazia dupla com o Luisinho no final dos áureos anos 80. Timaco era aquele, pena que nao ganhou nada importante.

Além desses, outros livros alimentaram a listinha de desejos:

- O Mal ronda a Terra -  Tony Judt. Recomendado pelo Humorista-mor, só pode ser coisa boa.

- Franca e Adjacências - Amaury Temporal. Janemamae se encantou com os textos desse chef que nas férias aluga uma casa em regioes da Franca e faz dali seu QG para pesquisar ingredientes e prepará-los ao longo dos dias. Uma cozinha bem equipada e grande é o único pré-requisito que a residência deve ter.

Boa leitura a todos e um ótimo 2012.

Tuesday, December 27, 2011

Radio Truta

Hilden (a idéia era planejar 2012... )

Chickenfoot, com Joe Satriani.

Radio Truta

Hilden (nao conhecia essa voz)

A surpreendente Lana Del Rey foi a melhor coisa que apareceu na cena musical em 2011, dizem alguns. Pra mim foi o álbum do Foo Fighters. Uma pancada na cabeca desse mundinho cada vez mais imbecil e menos rebelde.

Mas a garotinha tem seu valor no meio de tanta mesmice.

Neue Impressoes - Crônicas do cotidiano (1)

Hilden (Woyton é bom)

E no apagar das luzes de 2012 o Truta conseguiu mais um reforco de peso. Após anos de negociacoes complicadas, idas e vindas, promessas, dívidas e desencontros finalmente e orgulhosamente anunciamos o mais novo colunista do blog: Marcelo Theo.

O mineiro de Beagá, engenheiro de plantas de biogás, poeta, músico, escritor, pai de duas maravilhas e marido de uma companheira "pro que der e vier" aceitou as luvas contratuais e a conta nas Cayman como parte do pagamento pelas pérolas mensais que ele despejará neste espaco de agora em diante.

O Truta nao tem muita regra, mas a idéia é soltar uma crônica por mês. Já temos material pra abastecer o blog até Maio de 2017. Até lá, discutiremos novamente as bases contratuais.


A primeira de todas, cronologicamente falando também, foi feita no aeroporto de Confins aguardando o cilindro voador que o traria pra gelada Alemanha. O mês e o ano?! Julho de 2006.
A primeira parte das "Crônicas de um Casamento" está aí embaixo, agora para uma audiência interplanetária e muito exigente. Se gostarem, Theo ganha o Nobel na certa.

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Crônicas de um Casamento - Parte 1
Marcelo Theo

(Baseado nos Relatos do Casamento de um Primo... todas as identidades foram preservadas)

Bem, aqui estou eu, enlatado na sala de embarque do aeroporto de Confins, rememorando o como um moleque livre e risonho tornou-se um homem casado.

Homem casado? Bem, foi mais ou menos assim...

Não casar, para começar a conversa, é muito mais fácil e cômodo. Enxergar defeitos e fazê-los do tamanho de um trem, ou de um avião, é um exercício rápido e tranqüilo.

Pois bem, me encontrava assim, em posição absolutamente favorável comigo mesmo... e de poder, com todas as justificativas necessárias para fugir da forca. Sujeito rebelde, alma cigana com sangue nômade, cheio de exigências e em busca da mulher perfeita, como um bom virginiano. Ser solteiro é mais simples que ser casado: planos para um, nada de telefonemas dizendo onde, quando ou porquê, enfim, muito mais livre para ficar até mais tarde em um bar jogando conversa fora. Não desejava ser solteiro, quero dizer, não que não ligasse para toda a liberdade do “ser solteiro”, mas gostaria de gozar de tal, casado. Afinal de contas, sempre em busca da mulher perfeita. Essa idéia de perfeição na companheira se dissolveu com o tempo. Surgiram outras barreiras e questionamentos, afinal a mente é uma grande e maquiavélica competência que nos dá e nos tira a todo instante. Nos deixa desnudos sem a menor compaixão ou zelo. Casar deve significar tanta coisa que deveríamos encontrar outra palavra para diminuir questionamentos e batalhas internas qual essa, travada e descrita por minha pluma.

Casar, no sentido de ter mesma morada, mesma casa, nunca me trouxe nenhum frio na espinha. No sentido de assinar um papel, declarando assim minhas intenções, era forte demais para ser levado a sério. Casar, como entrar em um templo ou igreja e estar diante de um padre ou pastor, repetindo sim e jurando amor eterno, cercado de um terno apertado, olhares fitantes, luxo, pompas e concreto? Com toda a fineza cabível: nem morto, me traria calafrios. A mesma cerimônia pisando flores e ervas, todos de pés descalços, cantos e danças, o cheiro da erva no ar, a brisa nos cabelos, sorrisos leves, roupas claras e uma benção de amor a Deus, a si próprio e ao outro, tranqüilamente.

Voltamos, pois, à situação de conforto e domínio que me encontrava: desculpas armadas, apontadas, fogo. Como criaríamos os filhos? Quais os valores? E a busca interior e espiritual? (Questão central e condição si ne qva no). Questionamentos justos, talvez, até cabíveis, porém revelava algo por trás do véu: o medo. Medo de viver e atar-me toda a vida à mesma mulher. Escolher aos vinte e sete anos e não poder fazê-lo aos trinta ou aos sessenta. Isso para um homem pode, às vezes, ser terrivelmente difícil. Para um macho, por natureza e na natureza, a função instintiva é “espermatizar” o máximo possível. Comportamento esse, vivido por nós seres humanos masculinos, na adolescência e, em muitos casos, levado e idolatrado até à fase adulta. Racionalmente falando, o medo era bobo e infantil, e as causas deveriam ser superadas. No emocional, o sentimento era real e genuíno, principalmente porque estaria disposto a manter-me na apavorante condição de monogâmico. Pensar que em quarenta anos sorriria de mim mesmo ou que fosse eterno enquanto durasse me animava e dava força.

Assim foi como transferi toda a responsabilidade da união no simples fato do desabroche de minha camélia. Do jeito dela, “camaleoa” e feroz, antes este do que aquele, rugiu e deu sinais de vida, trocou de pele em duas semanas. Estava claro que aquela criatura era mutante e esquisita, assim como eu. Faço minhas as palavras de Caetano: “de perto, ninguém é normal”.

Quão rápido a subida do sol no horizonte, a situação se inverteu e eu me vi com a espada no pescoço: ou enforcar-me ou morrer degolado. Calei-me e escutei o turbilhão de silêncio dentro de mim.

Haveria uma partida a um destino longínquo, uma estadia longa, existia um medo, real. Seja feita a vossa vontade, e o mergulho na fé, no escuro, no desconhecido. Sem dizer “nem que sim, nem que não”, tramei o ardiloso plano.

Dei logo a saber a meu pai, minha mãe, também a meus irmãos, que me disseram estar eu louco. Nenhuma novidade. Minhas atitudes e modus vivendis não pertencem mesmo ao mundo dos “normais”. Apesar de tudo, me apoiaram na doidice. Passo na casa de minha sogra, a quem levo, sem saber de nada, ao cartório.

Havia pedido um sinal a Deus pela escolha do dia do casório e preferi uma quinta-feira, quarenta dias após aquela data. Não obstante, eis que vem um sinal das “sogras-mães”. Sexta-feira, dia 30 de junho, e não há como brigar com duas mulheres de fala aguda. Estava escrito, ou elas escreveram.

O primeiro percalço nos cruza o caminho. Na procuração assinada pela dama para que sua mãe a representasse perante o juiz constava um erro em um dos nomes, o que quase pôs tudo a perder. Deveria, novamente, eu, fazer com que a noiva assinasse a procuração sem ler. Havia já gastado o trunfo da pressa, quando ela assinara sete papéis desinteressadamente; um deles, a dita cuja. Digamos que os “normais” não me deixaram desistir da loucura, o porquê, ninguém explica. Talvez porque todos precisamos de um “bode escapatório” (mistura de bode expiatório e válvula de escape) para as loucuras de nosso cotidiano. O certo é que em um telefonema acertamos um rápido encontro na hora de seu almoço para novas firmas. A desculpa era que havia um erro no número de sua identidade. E não é que havia mesmo?

A rapidez da operação era imprescindível para que houvesse menos tempo para uma leitura detalhada. A primeira ela leu, alegando surpresa em não havê-lo feito anteriormente. A folha subseqüente continha uma palavra proibida aos olhos inocentes da dama: casada. Os óculos não fitaram a dita cuja e a pena deslizou suavemente por todas as outras procurações. O diferente desenho da última, por possuir mais linhas escritas, atraíram sua atenção e ela, portanto, começou a ler enquanto assinava. Rapidamente, com o papel já assinado e enquanto a leitura ainda não avançara às linhas intermediárias, privei-lhe o documento do viso, não lhe permitindo o término da leitura, causando-lhe um certo curioso espanto. Perguntou-me o que estava escrito, demandou e me fez vãs ameaças emocionais. Barganhei um tempo e lhe prometi que em três dias teria uma boa surpresa. Fui feliz na proposta, pois ela consentiu. Dois dias depois, em um domingo, preparei nosso novo apartamento.

Minha tia havia se mudado e com grande desprendimento e gentileza nos ofertou a morada sem ônus. Melhor que isso, só dois disso. Comuniquei a decisão de antecipar a surpresa a meus pais e minha sogra, de outra forma, manter a situação no ar poderia tornar-se insustentável. Apenas um dia após a mudança de minha tia, apresento à namorada nosso novo ninho. A surpresa foi grandíssima e o assunto dos papéis não foi mais questionado. Havia ganhado tempo. O que viria depois disso?!

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Aguarde cenas dos próximos capítulos.

Thursday, December 22, 2011

Miséria pouca

Augsburg (os plugs de panela ainda nao foram aprovados…)

Nem me lembro quando foi a última vez que comprei um CD. Queria o novo do AC/DC, mas copiei de alguém. Depois, o novo do Foo Fighters me interessou muito. Antes de pensar em comprar recebi do Leopoldo Magnífico uma cópia via WeTransfer. O mesmo aconteceu quando soube do álbum mais recente do Radiohead, Kings of the Limbs. Leopoldo atacou novamente, mas ainda nao tive tempo de ouvir.

Outro dia o Albert, conde de Epernay, me mostrou um relancamento do Exile on Main Street dos Stones, para muitos, eu inclusive, o melhor da banda, originalmente lancado em 1972. Só que agora incluiram 10 faixas até entao inéditas e guardadas a sete chaves que foram gravadas na mesma época do álbum. É como se alguém tivesse enterrado dez dos melhores Bordeaux ou Borgognes há 40 anos e agora abrisse as garrafas dando a todos a chance de prová-las. A música Plundered my Souls é das melhores que a banda já fez.

Antigamente, os CDs vinham com letras das músicas, estórias de bastidores, nomes dos produtores, curiosidades, etc. Agora levamos somente um frio álbum duplo, que em LP seria triplo, nomes das músicas, duracao e autores, copyright pra tudo que é lado e só. Custava incluir ao menos as letras das cancoes “novas”?!

Pelo menos minha volta da Bavária pra Düsseldorf será muito bem embalada. Com frio e neve entao, melhor ainda.

106 melhores Street Art Photos de 2011

Augsburg (veja Exit Through the Gift Shop hoje ainda)

Arte bem humorada, saudável e com poder de mudar as cidades e a estressante Vida dos cidadaos.

http://www.streetartutopia.com/?p=5982#more-5982


Weihnachtsmarkt

Augsburg (a Riegele é boa)

Quem seriam os ilustres cidadaos de Augsburg?! Sei apenas de Bertold Brecht, mas nao me pergunte qual peca teatral famosa ele escreveu. Talvez algo sobre O Tannenbaum passada nos mercados de Natal.

O hotel fica ao lado de um cemitério. A fina camada de neve cobre os sepulcros como um manto protetor. O muro é baixo e sem arame farpado, ao contrário dos jazigos brasileiros. O da Consolacao é assim, eu vi. Até os mortos aqui tem mais seguranca?! Será que Brecht tá enterrado ali?! Ficarei sem saber. O frio nao me deixa consumar a visita.

As cidades alemas ficam lotadas nessa época. Acho que só trabalham até as duas da tarde. Depois disso, as ruas ficam cheias. Salsichoes no paozinho com mostarda, steaks com cebola, crepes doces e salgadas, reibekuchen – fritura feita com massa de batata – leberkäse, kasseler, sauerkrauft. Em todas as cidades vemos esse menu com mínimas variacoes. A culinária alema nao é muito rica, só em calorias, mas tudo parece combinar perfeitamente com cerveja e, no inverno, Glühwein. Um vinho mais fraco servido bem quente em canequinhas bonitas que dao vontade de levar pra casa. É parecido com nosso quentao das festas juninas. Só que eu bebo sempre com amaretto, rum, calvados, conhaque ou algo do tipo pra reforcar. Mais que um enjoa.

O mercado da cidade é uma festa de cores e nacionalidades. Itália, Grécia, Espanha, Portugal, Franca, Turquia. Todos presentes e competindo entre si. Provei um salami originale, mas o celular tocou antes que eu fosse persuadido pelo feirante. Dois casais se esbaldavam com tábuas de frios e bebidas finas. Fecharia às 18 Uhr em ponto. Vi vinhos, ervas e chás, queijos de todos os tipos. Deu vontade de ficar até sábado só pra ver o movimento. Sair sem nada no estômago em direcao a um mercado desses é alegria garantida. Festa de sabores, cheiros e dinheiro trocando de maos. A economia precisa girar. A Europa nao está em crise?! As ruas lotadas desmentem tudo. As sacolas cheias também. Pelo menos a Alemanha está do lado forte do muro, mas até quando?!

A variedade de souvenirs impressiona mais do que a comida. Porcelanas, madeira, plástico, vidro, aco e latao. Qualquer motivo natalino é feito com esses materiais. Sempre dou uma olhada, mas nao compro nada. Depois de comer uma Hirschenwurst mit Senf (com mostarda), perambulei mais um pouco até topar com uma loja de vinhos. Havia também charutos finos e um monte de cachimbos. Comecarei a fumá-los quando completar 40 anos. Tem um certo charme, o ato de fumar. Nao fossem os problemas de saúde que causam seria um fumante inveterado. Acho chique e nao ligo se é politicamente correto. Tenho orgulho de ser incorreto, nesse caso.

A loja de vinhos surpreendeu. Vi um Chateau Palmer, alguns Borgonha de respeito, um Don Perignon de 1993, alguns Lafite Rothschild e até um Pichon-Longueville Contesse de Lalande. Nao comprei nada, apenas apreciei. Tava com preguica de carregar sacolas. Perde-se um pouco de liberdade nos movimentos
quando se adquire algo.

Passando pelas guloseimas e tortas do Café Eber, tradicional Konditorei da cidade, decidi subir até o salao principal. A vista para praca do mercado era mais do que convidativa. Vi o garcom servir a felizarda senhora uma torta de morango com Sahne - o chantilly alemao, mas muito melhor e menos gorduroso. Pedi o mesmo com uma jarra de chocolate quente pra acompanhar. Fiquei lendo minhas loucuras anotadas no moleskine. Doideras que anoto desde o dia 02/03/2008, me informa a primeira página. Coloco data em tudo, como se alguém fosse algum dia fazer uma cronologia da minha Vida baseado nessas anotacoes. Metas impossíveis, tarefas que nunca farei, shows que jamais assistirei por que os artistas já morreram – Amy Winehouse, por exemplo. Mas muita coisa está riscada, feita, executada. Missao cumprida. Outras tantas ainda estao pendentes, mas por pouco tempo. Paguei a conta, dei 70 cents de gorjeta, peguei o recibo e me mandei.

No frio da volta peguei a Maximilianstraße, a principal da cidade. As lojas sao modernas e conhecidas, localizadas nos prédios mais antigos. É sempre assim em toda Alemanha, país padronizado e às vezes irritantemente organizado. Talvez em grande parte da Europa também. Sao tantas lojas iguais: zara, mango, h&m, deichmann, görtz, timberland, adidas, tchibo, tommy hilfiger, dm, etc. Nem sei exatamente o que vendem. Ou sei e fico querendo esquecer. A elas, junte as lojas das operadoras de celular, alguns bancos, correio, farmácias e supermercados. Restaurantes e lanchonetes vendendo kebab, pizza, salsichao ou batata frita - com maionese e cebolinha, por favor - e tem-se uma cidade alema. Uma ou outra lojinha tradicional sobreviveu. Essas sao as melhores e mais caras. Ah, tem sempre uma joalheria ou loja de relógios nesse furdúncio também.

Simpática essa Augsburg. Com uma Riegele, a cerveja local desde 1884, melhor ainda. Como teria sido a descricao do Bertoldo algumas décadas atrás?!

Wednesday, December 14, 2011

Fala Turista no Truta

Düsseldorf (hoje: SEIS anos de casado com a mininete que eu amo!)

Com o alcance mundial desse blog e a exposicao fotográfica "O Presente pelo Mundo" deste que vos bloga, sucesso em nove países na Europa e agora exclusivamente no Brasil, chamamos a atencao da mídia interplanetária.

O site Fala Turista me procurou com uma proposta interessante e irrecusável. Eles vao publicar um texto meu sobre, por exemplo, uma viagem que fiz a Borgonha, e eu publicarei um texto deles sobre, neste caso, a culinária de Fortaleza, Floripa e Rio.

Trato feito, segue abaixo a versao enviada pela intrépida Verônica Fassoni, espécie de faz tudo do Fala Turista. Agora só falta eu enviar o meu relato regado a pinot noir e chardonnay pra ela.

Em breve teremos o Truta no Fala Turista.


CULINÁRIA DO RIO DE JANEIRO, FLORIANÓPOLIS E FORTALEZA

Se é verdade que o peixe morre pela boca, o cardume que quiser permanecer vivo, por assim dizer, deve passar bem longe da cozinha do Rio de Janeiro, Florianópolis e Fortaleza – três cidades que abrigam variados estilos de cozinha para deliciar turistas de norte a sul do país. Só por cada uma das cidades citadas já estar em regiões diferentes uma das outras já dá para sentir que diversidade, aqui, é o que não falta. Mas só quem vai para cada um desses destinos é que sabe o quanto é literalmente gostoso viajar pelo Brasil.

Quem espera viver praticamente uma aventura culinária tem objetivo certeiro em Fortaleza, onde a cozinha parece ter vida própria – assim como sua linguagem, com nomes de iguarias super diferentes e nada pronunciáveis nas outras cozinhas do país. Como não poderia deixar de ser, a comida lá é tipicamente nordestina. O fato de estar à beira-mar não faz com que Fortaleza seja uma cidade onde as iguarias são necessariamente à base de peixe, com vários pratos feitos com carne de porco (sarapatel), paçoca (carne de sol frita com farina) e buchada de carneiro, além de mocotó. Há também churrasco de carneiro e o preparo de peixes não fica de fora, com as moquecas e iguarias que levam caranguejo. Ao escolher pratos de porco, principalmente, peça referências. Se uma aventura gastronômica não for seu forte, peça sem medo um “baião de dois”: prato de arroz com feijão que geralmente vem com carne de sol. E procure hoteis em Fortaleza assim que der vontade de ir: como a cidade é um dos destinos mais procurados do turista no Brasil, às vezes fica difícil encontrar uma data para hospedagem.

Em Floripa, o peixe é mais requisitado, principalmente a tainha – ingrediente de prato que quase pode responder também como personagem folclórico do estado. Lá, o pirão de água de linguiça e o caldo de feijão dominam as especialidades ao lado da própria tainha, seja frita ou ensopada. Fritada de ostra, casquinha de siri e banana frita também fazem parte do típico menu catarinense. No seu hotel Florianópolis peça dicas dos melhores restaurantes para degustação de um bom peixe – sem se esquecer, claro, da famosa tainha.

Já para a capital fluminense, qualquer hotel Rio de Janeiro pode te indicar um bom local para comer a iguaria dos praianos: a velha e boa feijoada. Lá também é servido uma espécie de frango assado chamado Galeto e o feijão preto domina a cozinha do carioca. Além disso, camarão e bacalhau também aparecem para fazer jus ao dia-a-dia de uma cidade de litoral. Nos dias mais frios, peça um caldo verde. E durante o dia, um peixinho nas famosas praias cariocas com uma boa água de coco são sempre ótima pedida para turistas de qualquer parte do Brasil e do mundo.

Curtir essas delícias pelo Brasil é uma aventura e tanto! Você não pode deixar nada relacionado a essa viagem para última hora. Compre suas passagens com antecedência e garanta bons descontos e acesso o site da FalaTurista e faça a reserva do seu hotel favorito. Boa Viagem (e bom apetite)!

Thursday, December 08, 2011

O dia que nunca termina

Beagá (54 felizardos ontem a noite)

Escrevi esse texto dia 26/11, um dia após chegar em terras tupiniquins, mas tinha esquecido de postar. Agora vai.

Viajar pra casa é uma epopéia de quase 24 horas. A casa, na verdade, é aqui na Alemanha, mas a origem é o Brasil. Entre o despertar às 5 da matina até deitar na antiga cama, após percorrer uns 15 mil kilometros cruzando meio continente europeu, um oceano e metade do Brasil, muita coisa acontece.

O taxista alemao, um senhor que mal conseguia colocar as pesadas malas na perua Mercedes, iniciou a série de relacionamentos fulgazes do dia. Ela já cochilava rumo ao aeroporto quando os primeiros claroes anunciavam a nova data.

Descemos no Terminal 1, letra B de Brasil, e empurramos o carrinho até o guichê (nao sei escrever de acordo com a Nova Ortografia da Língua Portuguesa, portanto, perdoem os hífens e acentos a mais, ou a menos). De longe, vi que o funcionário da companhia aérea nao era alemao. Poderia ser brasileiro, espanhol, português. Era gaúcho, tchê. Gente boa, fez vista grossa com um possível excesso de pesos. Após ouvir de onde viemos cobrou o favor em alguns paes de queijo, se e quando voltássemos. Disse ser o gaúcho louco. Fazia dupla com um paulista de Campinas. Estavam bem arrumados.

No Free Shop a caixa alema, a funcionária, nao a máquina registradora, disse nao saber o limite de garrafas para o Brasil. Meti três litros de Killepitch e uma vodka do bisao na mala, mais os xampus dEla e nos mandamos com atraso para o portao de embarque. Lá, o gaúcho cobrou mais um pedágio verbal em paes de queijo dizendo que se nao fosse por ele o aviao já teria saído. Sei.

Vôo vazio em aviao pequeno, de 2x2 lugares, servico decente, o silêncio habitual dos alemaes e a falacao característica dos latinos, espanhóis, portugueses, brazucas. Após furarmos a fina camada de nuvens que cobria a cidade, eis que o Astro Rei nos diz bom dia e boa viagem. Ela dormia a sono solto. Eu lia “Vinho e Guerra” com o objetivo de terminá-lo na viagem.

Já no belo aeroporto de Barajas, andamos em esteiras, descemos escadas rolantes, pegamos o trenzinho, subimos novamente, mais esteiras, e por fim chegamos ao U60 com destino ao Rio de Janeiro. No caminho, uma mulher com a bunda de fora seguia o mesmo caminho na nossa frente. Cena inimaginável em terras prussianas. Ela, de enxaqueca, pediu coca-cola. Comprei um bocadillo pra acompanhar e ali ficamos. O volume de passageiros era estranhamente pequeno.

No A340 de poltronas velhas que voltavam à posicao original sozinhas e sem telinha individual pra assistir filmes, nos acomodamos. Ela, já cochilante, se preparava para longa “noite”. Segui firme no objetivo de dar cabo ao livro, mas agora regado a um honesto Shiraz espanhol. A decolagem sempre me dá frio na espinha. Depois fico tranquilo.

Almocamos uma carne sem gosto com purê. O vinho salvava tudo. De repente “Tea, tee, chá” com sotaque madrilenho. Uma comédia. Tentei assistir “Super 8” no monitor estilo loja de conveniência instalado no centro do corredor. Som péssimo, toda hora alguém entrando na sua frente. Filme totalmente desnecessário. O trailer já é uma perda de tempo. Explosoes inimagináveis, personagens indestrutíveis, o menino bom ignorado pela bonitinha no comeco acaba salvando-a no final. Hollywood parece ter um “template” pra roteiros desse tipo. Mudam uma variável aqui outra ali, mas a essência é sempre a mesma. Vazia, rasa, nao passa mensagem nenhuma. Entretenimento de quinta. Dizem que é bom por que nao precisa pensar. Pensamento mais medíocre impossível. Voltei ao livro e pedi a garrafinha de numeral 3.

Num Galeao incrivelmente civilizado e organizado, comecamos a ter os primeiros choques do retorno. A mente “germânica” em contato com a zona brasileira. Reparo no piso do aeroporto, nas esteiras de qualidade inferior, nos carrinhos de bagagem idem. A altura que as pessoas falam salta aos olhos. Alemao cochicha, sussurra, pra nao incomodar os demais. Brasileiro toca pandeiro quando conversa. Peguei as malas enquanto Ela comprava Kit Kat no Free Shop. Passamos pela alfândega presenciando duas freiras espanholas perguntando em inglês perfeito onde era o Terminal 1. O funcionário da PF, em portunhol macarrônico, tentava responder. É assim que vao receber os turistas durante a Copa?!

No piso superior, após uma higiene básicao, dei uma de alemao e critiquei o pao de queijo da lanchonete carioca. Falei que era de Minas, pra ela nao me levar a mal, mas aquele nao tinha um bom aspecto. Comprei guaranás e salgadinhos pra matar a vontade inicial de sempre. Fiquei com remorso das palavras que saíram como flechas contra a massa tradicional mineira e resolvi amenizar. Pedi um pao de queijo com cafezinho. Pilao, bem tirado, preto feito a asa da graúna. A acucar, branquinha e refinada. Nao aquela mascavo, marrom e de difícil mistura vista nos Flughafen da Vida. Delícia. Relaxei na hora. Nao vou mais reclamar, prometi a mim mesmo. Devolvi os pratos elogiando e fomos fazer hora numa livraria.

A comparacao foi inevitável. Qualquer estacao de trem na Alemanha tem belas e avantajadas livrarias. A do Galeao era uma barraquinha de madeira mequetrefe com algumas das principais revistas nacionais e algumas dezenas de títulos. Pouquíssima coisa, um nada sobre o Brasil. Nem aqueles livros com fotos de carnaval, futebol e natureza havia pra comprar. Saí de maos abanando e impressionado com o tamanho da buzanfa da mulher-andróide na capa da Sexy. O que era aquilo?! A filha do Predador com a Rogéria?! Um monstro espacial.

Na sala de embarque, outro quiosque modesto daquela rede de livrarias que me falha o nome. Até melhor que a mequetrefe anterior, agora com revistas de turismo sobre a Borgonha, a Alemanha encantada dos Irmaos Grimm, Pelé S.A., Debora Secco, revista Piauí, um livro sobre o rei Salomao e Steve Jobs pra tudo que é lado. Aliás, o Brasil e os brasileiros devem tê-lo adotado como guru-mor após tanta idolatria pelos produtos Apple e cultura criada por ele. Brasileiro quer ser cópia fiel de americano, portanto, tudo que lá é criado e consumido aqui acontece o mesmo. A qualidade nao importa muito, só a origem ianque.

No aviao vazio, com 30% da capacidade, voamos pra Confins. Ela, pra variar, cochilava nas alturas. Eu já havia terminado o livro e me preparava pra folhear a revista de bordo da Gol com o Rappa na capa. Um texto do Torero sobre Santos me chamou a atencao. Com Jorge Luis Borges, o famoso escritor argentino dos anos 40, 50 e 60, e o homônimo artilheiro do Brasileiro pelo time local flanando pela cidade-peixe. Uma maneira interessante de escrever um guia turístico.

Pegamos as malas, achamos um taxi grande e rumamos pra casa, finalmente. O relógio mostrava 23:55 quando entramos pela Linha Verde com brisa no rosto e luz amarela na pele. Os carros menores e nao tao velozes, a ótima estrada até chegar no centro, toda iluminada, o senhor dirigindo tranquilo seu ganha pao, placas tantas vezes lidas. Vespasiano, Clínica Serra Verde, Pedro Leopoldo, Cristiano Machado, Antônio Carlos.

O lusco-fusco da noite, um Uno passando com dois rapazes, vidros baixos, som alto, vento da liberdade. Tantas foram as vezes em que fiz o mesmo. Pensei no Guidao e fiz um cálculo mental de quantas vezes teria ido e vindo de Beagá pra Lagoa e vice-versa. Nas férias, nos finais de semana, feriados. Mais de mil vezes, fácil. De Belina, Escort, Parati, Uno, Vectra, Gol, Corsa, Palio, Siena.

Na cidade, taxistas em pé tomando café na esquina. Livres. Sinais sincronizados pela Praca da Estacao. O Othon com poucas luzes acesas e uma recepcao sombria. A Bahia que seguia, desviada pela Afonso Pena. Parque Municipal, Automóvel Clube, Prefeitura. Um táxi fura o sinal. Já passava da meia noite. Algo impensável na Alemanha. Esperam pelo verde mesmo que sozinhos às 4h da matina numa via secundária e chuvosa. Foram criados pra seguir regras e procedimentos, nao para desrespeitá-los. Ordem vs. Desordem. Buracos mil, a sensacao de estar fazendo um rally urbano gracas aos desníveis nas ruas e avenidas mal asfaltadas e acabadas. Na Alemanha, tudo é feito pra durar 50 anos. No mínimo.

A favela beirando o bairro de alto luxo deu o toque final. Descarregamos as malas, Ela sumiu lá pra dentro com os pais enquanto segui pra casa no mesmo táxi. A noite de quinta continuava, invadindo a de sexta. Abri a porta e Janemamae me esperava. Conversamos, abracamos, beijamos. Tomei um banho. Tinha esquecido qual torneira era a quente. Tudo ali, igualzinho. As toalhas, a bagunca do banheiro – que melhorou muito, diga-se – a mesa posta com rosca, biscoito de queijo, um canastra reluzindo, biscoito maria e água e sal. Requeijao. Mas faltava alguma coisa. Aquele cara no sofá, quietinho. Nao tava mais ali. E já era a segunda vez que chego e nao o vejo. Um silêncio ensurdecedor no ar.

Antes de dormir, um “en passant” de Janemamae comecando a me “passar a limpo”. Me deitei às duas e pouco, feliz. Naquela cama de sempre, que foi minha e dele. Nao estava no campo visual, mas no pensamento está sempre presente.

O Brasil é bom. O Brasil é ruim. O Brasil é assim.