Wednesday, March 23, 2011

Fazendo limpa...

Lisboa (tenho apenas 57 min.)

Se eu postasse tudo que planejasse ou desejasse esse blog seria o mais lido, melhor e maior do Universo. De tempos em tempos preciso fazer limpas, como diz minha mae. Desovar os textos nunca publicados, fotos idem, compartilhar links e estorias com o resto da galaxia e organizar a Vida virtual.

O texto a seguir foi escrito em Paris durante a Pascoa do ano passado, nos dois primeiros dias. Ela tinha se mandado para o Brasil a trabalho me largando sozinho e solitario na gelada Alemanha. Pulei num trem de Dusseldorf pra Koeln (Colonia para os incautos) e de la pra Paris foi outro pulo. Cheguei na casa do Rodrigao, guitarrista de pop/rock, mas principalmente jazz. O cara toca com o Ray Lema e ja se apresentou ate, acreditem, no festival de jazz de Katmandu no Nepal.

Falei pra ele que se vendessem acoes de pessoas eu compraria o maximo que pudesse da "start-up" Semiao Ltda. pra vender quando valessem milhoes num futuro proximo. Como isso (ainda) nao existe, continuo assistindo gigs excelentes toda vez em que a gente se encontra.

O texto nao termina, mas me lembro de quase tudo que aconteceu depois. Nao tenho agora as fotos tiradas nesses dias, mas se reve-las a memoria se refrescara. Mais uma promessa de campanha...

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Paris (Chove la fora e aqui…)

Com os sons do transito parisiense enchendo as ruas molhadas ao fundo, informo que não vi o treino da F1. O cabo do telefone esta desligado, portanto minha curiosidade vai ter que esperar.

Do. 1 April

Voltando as filmagens do micro-curta metragem na quinta, foi uma experiência interessante. Fiquei esperando o Rodrigo num café ao lado da saída do M Alexandre Dumas tomando um Bordeaux e tentando continuar a leitura de Stalingrad. Mais um livro oriundo da biblioteca do Luiz que ele queria de volta, mas vetei. Tenho que ler primeiro, depois devolve.

Passaram de carro, Rodrigo e a “cineasta” Luciane que na verdade é uma baita fotografa da Marie Claire, entre outras, e pulei dentro com mala e tudo. Deixamos minhas coisas na casa da Scheila, cantora brasileira de jazz que não estava por lá. Pegamos o resto da turma, Guillaume e Eva, respectivamente cameraman e assistente de iluminação (a coitada tinha que usar um cinto de utilidades do Batman pesadaço com as baterias do refletor. Ficava quieta o tempo todo, não fala lhufas de inglês e sorria de quando em vez).

O Citröen da Luciene parecia explodir de tanta coisa dentro. E na Franca o carro dela não pode levar cinco pessoas, apenas quatro. Eh daqueles em que o teto abre inteiro e o carrinho vira quase conversível. Apesar do frio, ela abriu a capota e tivemos Paris como cenário de fundo no trajeto Alexandre Dumas, no sudeste, ate o Arc de la Defense, no extremo oeste da cidade. Só esse passeio já valeu minha viagem. Entre uma Coca e outras, regado a batatinhas, fui entendendo melhor a seqüência das filmagens, a historia, a fotografa-moviemaker e batendo papo com o Rodrigo. Os franceses, como sempre, não falavam a língua de Hitchcock.

A historia é de um homem que corre com uma maleta na mão em vários lugares da cidade, sempre a noite. Ele esta ofegando, meio assustado, procurando um lugar escuro e sozinho. Escorrega, quase cai não soltando a maleta de jeito nenhum, e entre um close e outro um suspense mambembe vai sendo criado. Rodamos (me incluo também por que ajudei a carregar a tralha toda e dei algumas dicas nas filmagens) próximo do Arc de la Defense, depois em um túnel perto do Louvre onde fui o motorista e eles filmaram do carro em movimento com o Rodrigo correndo pelo túnel. Dali pra Montmartre onde paramos o carro ao lado do ultimo vinhedo de Paris e em frente ao Le Lapin Agile, um cabaré famosíssimo dos tempos de Lautrec, Picasso, Degas, Matisse e toda a fauna artística que habitava o bairro no inicio do século passado... estranho dizer isso e não pensar nos anos 1800 e sim nos 1900.

Em frente ao Moulin de La Gallette, um restaurante fake de comida duvidosa, vi o verdadeiro chat noir. Ficou me olhando calmamente no escuro da noite. Estava do lado de dentro e parecia aflito. Ficou me estudando e ganhando confiança antes de se movimentar. Andou calmamente pelo muro baixo, debaixo de uma arvore. Olhou pra frente e vi o motivo de sua aflição. Uma gatinha branca o esperava. Pulo pra perto dela e lhe deu uma carinhosa lambida. Estavam assustados, achando que eu fosse fazer algo. Fiquei apenas olhando o Amor felino.

Depois, fiz ate uma participação especial numa cena, ao lado da Sacre Coeur, onde o homem que corre encosta num carro e se agacha ofegante. Olha pra direita e nada. Mas quando olha pra esquerda vê um vulto saindo da calcada pra rua. Esse vulto sou eu, prazer Pedro Vulto! Posso ganhar um Oscar ainda, não menospreze minha fabulosa atuação.

Esbudegados e sem comer, mais de 5h da matina, depois de ter acordado as 6 e meia na Alemanha, trabalhado o dia inteiro e viajado, pegamos minhas coisas na casa da Scheila e fomos pra casa. Rodrigo tava pior, pois ficou correndo na noite fria e teria que pular da cama às 9h no máximo na manha seguinte. Mora perto do M Michel Bizot num apê pequeno, mas com uma vista magnífica do sexto andar. E tem varanda.


Paris (ainda com sono...)

Fr. 2 April

Depois da maratona de filmagens, acordei às 9h da Sexta da Paixão e fiquei observando a correria do Rodrigo. Tinha que viajar mais de uma hora ate o conservatório de musica onde ele estuda pra passar o som e participar de um show de jazz. Depois teria aula. As 5 e meia da tarde chegaria em casa pra organizar as coisas e levar guitarra, ampli e mochila com pedais ate o Cithea Nova na rue Oberkampf, nome de general alemão. Acha que musico não trabalha?! Os caras vivem numa ralação sem fim. São os primeiros a chegar e os últimos a sair. Vivem correndo, a grana geralmente é curta no inicio da carreira, mas quando acertam o rumo, tocam com qualidade e conhecem as pessoas certas, ninguém segura.

Ele se foi e fiquei olhando o AP/quarto/cozinha onde mora. Como já falei antes, a vista vale o investimento. Moro no térreo e sei o que é isso, ou a falta disso. Queria ver as pinturas do Chagall no teto da Opera e pra la fui. Comi um croissant antes de pegar o metro e me arrependi de não ter levado um livro. Vi a autobiografia do Andre Midani “Musica, Ídolos e Poder” dando sopa na estante dele e não peguei. Dia chuvoso e úmido, não tão frio, mas Paris é bom de qualquer jeito não importa a época do ano e temperatura. Paguei entrada de estudante na Opera usando a carteirinha da Uni Bochum e entrei. A suntuosidade impressiona, mais ate do que na Stattsoper em Vienna. Uma escadaria magistral toda em mármore leva ao segundo piso. De lá caminha-se até o Palais Garnier, outra obra-prima revestida em ouro de cima a baixo. Uma professora explicava aos jovens alunos detalhes do salão nobre. Se falasse um mínimo de frances, me sentaria para ouvir também. Dali se alcança uma varanda com vista pra Praça em frente a Opera. Negões faziam piruetas com seus corpos ao som de musica pop. O povo aplaudia, mas $$$ na caixinha deles que eh bom, nada. Turista geralmente é pão duro.

Com Chagall visto, revisto e apreciado, caminhei em direção a Madeleine que não fica distante dali. Vi no mapa que o Olympia, a tradicional casa de shows, ficava no caminho. Vi uma Maison de Thé numa rua à direita e resolvi entrar. Queria comprar um chá pra criança que eu amo, vulgo Ela, que adora chá. Acabei começando a tomar também e recomendo aos preconceituosos. A sala de chá era parte de um hotel. Fui entrando e vi um monte de negões bem vestidos, africanos sem duvida. Parecia a delegação de um país visitando a cidade. A atendente do hotel confirmou que eram de Guine Bissau e ficariam por três dias ali enchendo o lobby e o restaurante. Vieram discutir política com a pátria mãe francesa, que tanto os explorou e os tornou completamente dependentes. Li numa parede que neste hotel, de nome Scribe, foi onde os irmãos Lumiére cobraram ingressos pela primeira vez para a exibição de um filme. Já haviam feito isso antes em outros lugares, mas dessa vez era diferente. Foi assim criada a primeira sala de cinema da Historia.

NÃO ESCREVI MAIS NADA... JUMENTO. AS LAMINAS DA MEMORIA VAO SE SOBREPONDO E SO COM FOTOS SE CONSEGUE LEMBRAR DOS DETALHES, MAS NÃO COM A MESMA RIQUEZA. EH SEMPRE A MESMA HISTORIA... FALTA DE TEMPO, OU DE SABER GERENCIA-LO.

1 comment:

Anonymous said...

Mais uma vez a culpa é do tempo ...

Preciso ver esse filme, onde consigo, manda o link e os minutos em que aparece o vulto.