Raramente Ela escreve. Tem um talento natural, mas insiste em nos deixar na vontade, com água na boca. Solta pitadas, como a Aula de Piano, depois some. Desaparece. Mas quando aparece, batemos palmas.
Hoje, deu o ar da graca, e que graca, novamente. O texto/poesia abaixo é o resultado da exposicao Frontline, em cartaz no NRW Forum, em Düsseldorf, até 8 de Janeiro de 2012.
Campo de Concentracao, Bergen Belsen (1945)
"já nao lembro o nome do fotógrafo,
mas nunca me esquecerei daquele momento que ele captou.
eram montes.
montes sobre montes.
e mais montes.
pele sobre pele.
sapato com sapato.
roupa, cabeca, dentes.
olhos fechados.
terror.
eram bichos.
eram nada.
corpo vazio.
para onde foram as almas?
eram silencio.
eram incredulidade.
monte sobre monte
de crueldade
e falta de esperanca.
cortaram os cabelos.
mataram a dignidade.
deixaram ossos.
peles e ossos,
em montes e montes
de nada.
mas eu vi seu rosto.
em meio áquele nada,
somente o seu.
olhos e boca
preto e branco.
estavam abertos
os dois
abertos.
nunca vou me esquecer.
choque da maldade
impregnada com cheiro do cinza.
seus olhos me olharam
pediram compaixao
o que é isso?
já nao sei
pediram para nao esquecer.
e como esquecer?
olhos aterrorizados
em meio aos montes
e montes
e montes
de corpos vazios
de nada em corpos
que a frieza congelou
e um pequeno clique conseguiu eternizar."
O fotógrafo?! George Rodger, um dos fundadores da Magnum Photos, a mais renomada agência de fotógrafos do Mundo.
1 comment:
Cara JuJu, que espetáculo de poesia!!!
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