Sunday, August 03, 2014

Tutankhamon e Companhia

Meerbusch (estou lendo Istanbul de Orhan Pamuk)

Assim como os dois relatos abaixo esse também foi digitado in loco, 11 days ago.

Kairo (o rei menino)

O Museo Nacional do Cairo, ou Museu Egípcio, é uma jóia rara muito bem guardada. Os tesouros ali sao incontáveis e incalculáveis. Tudo amontoado no primeiro edifício do Mundo planejado e construído para ser um museu. É necessária a habilidade de um Sherlock para encontrar a descricao das pecas. O conteúdo caberia facilmente num complexo pelo menos três vezes maior que o atual. As obras do novo Museu Egípcio estão em andamento, mas sabe-se lá quando ficará pronto.

Recusei a estimada oferta de um guia para me mostrar o essencial em duas horas e fui direto ver Tutankhamon. Me arrependi depois. O rei menino tem uma ala especial muito bem guardada nao só por cameras como também astutos vigias. Fiquei ali admirando a mascara mortuária com o abutre e a cobra no alto simbolizando a protecao dos deuses do Alto e Baixo Egito, respectivamente. O Segundo e o terceiro sarcófago também estão ali expostos. O primeiro ficou lá perto de Luxor no Vale dos Reis onde a tumba KV62 foi encontrada em 1922 praticamente intocada por um arqueólogo ingles naquela que é considerada até hoje a maior descoberta de todos os tempos. Ó faraó mais famoso de todos foi mumificado e colocado em três sarcófagos, um dentro do outro. A mascara mortuária protegia seu rosto e uma espécie de armadura em joías cuidava do resto. Mais sobre o Rei Menino aqui.

Outro ponto alto do museu é o Salao das Múmias. Ambiente com temperature e umidade controlada para guardar os corpos mumificados de pessoas normais, príncipes e princesas e grandes reis e rainhas como os faraós Ramsés II, III, IV e V. O terceiro é o mais famoso e deu origem àquela série de cinco livros escrita por Christian Jacq. Agora tenho que ler a saga de qualquer jeito. Outra ala mostra animais embalsamados. Sim, muitos deles eram considerados sagrados e acreditava-se que seus espíritos sairiam e entrariam nos corpos das pessoas enterradas com eles. Tinha cachorro, bezerro e até crocodilos com filhotes embalsamados!

O Vale dos Reis fica no Alto Egito, lá embaixo (olhando o mapa) ou lá em cima em relacao ao curso do Nilo, perto de Luxor, antigamente chamada de Tebas. Dizem que um cruzeiro entre Luxor e o Cairo é das viagens mais inesquecíveis de uma Vida.

Quem sabe um dia farei com Ela e Gabriel à tiracolo.

Mr. B.

Meerbusch (amanha é preto na folhinha)

Crônica escrita 11 dias atrás no Egito.

Kairo (sol azul, 38° C todo dia)

Negociar com egípcios nao é fácil. Esqueca aquelas barganhas nos mercados onde o vendedor poe o preco dez vezes mais alto. Depois comeca a reduzir até fechar pela metade ganhando 50%, pelo menos.

Sao duros na queda. Fazem cara feia. Gritam e batem na mesa. No instante seguinte falam manso e oferecem café, chá ou limonada com menta. Aliás, melhor que a nossa brasileira limonada “suica”. Pegam o preco ofertado e diminuem 30%. No mínimo. Movê-los dali é como empurrar um bloco da pirâmide de Quéops… sozinho!

Primeiro entra-se numa sala de reunioes com o comprador e o gerente, dois bedéis que nada decidem e ficam te perturbando. Tentam perceber onde você pode abaixar o preco ou se demonstra alguma inseguranca em relacao a determinado item. Tentam te guiar indicando o que deve ser dito ao presidente da empresa que aqui chamarei de Mr. B., um senhor de quase 70 anos comandante-em-chefe de uma das mais importantes siderúrgicas do país.

Contei 24 pecas entre canetas, lapis e lapiseiras em sua mesa. Todas destampadas, prontas para o uso. Um sistema de papeizinhos com informacoes vitais ora grampeados a outros, ora fechados com durex circula entre as hábeis maos gordas de Mr. B. e ao entra e sai de emissários circulando pela sala. Recintos estes com as persianas sempre abaixadas para se perder a nocao do tempo. Após ser chamados, saímos da sala de reunioes e nos sentamos nas poltronas em frente a Ele. Entre um telefonema e outro conversamos sobre os assuntos. Saímos e voltamos umas cinco vezes com reunioes paralelas acontecendo.

Mas sao bem humorados. E o fato de ser eu um brasileirinho contra esse mundao todo ajuda muito. Fizeram questao de relembrar os 7x1 contra a Alemanha umas três vezes durante a “reuniao” que comecou às 11h e terminou às 19h. Sem almoco. Estamos no Ramadan, lembra?! Te enrabam sem vaselina fazendo você se sentir que está fechando o melhor negócio do mundo. Com muito jeito, brasileiro, e habilidade consegue-se minimizar o prejuízo. É necessário dar tempo ao tempo e nao acelerar as acoes. Nao adianta tentar controlar a situacao. O cliente a tem sobre controle o tempo todo. Ele dá a última sugestao de preco e tem a palavra final. Mesmo quando ocorrem divergências mínimas, como por exemplo com o número 23, dá-se um jeito de arredondar para baixo e evitar a supersticao.

Ainda nao sei se fiz um bom negócio e nem se continuarei no mesmo emprego, mas que foi divertido isso foi. E Mr. B disse ter gostado de mim. E eu dele!

Caos e Banquetes no Ramadan

Meerbusch (Ela dorme com Ele no colo)

As impressoes abaixo foram escritas 11 dias atrás lá mesmo no Cairo, no calor de 42° C.

Kairo (com K em alemao)

Um dia ainda irei dirigir no Cairo. Deve ser melhor do que pilotar a Mercedes do Rosberg. Ou a Yamaha de Il Dottore Rossi. Já falei sobre isso aqui: os egípcios sao os melhores motoristas do planeta. Disparado! Numa avenida de quatro pistas andam pelo menos seis carros lado a lado. Os pedestres atravessam aquele tsunami de viaturas na maior desenvoltura e tranquilidade. Vi um casal de maos dadas em meio aos carros ali passeando, como se tivessem no ar condicionado de um shopping.

Fico imaginando um alemao numa situacao dessas. Parado e impotente sem uma luz vermelha ou verde sequer para acionar o algoritmo interno que dará o comando „andar“ para suas pernas branquelas de bermudas com meias pretas e sapatos idem. Ficaria ali por três geracoes de um lado da avenida sem saber o que fazer. A nao ser que um solidário filho de Ramsés resolvesse ajudá-lo pegando-o pelo braco e rompendo o mar de lata, vidro e borracha a dentro até chegar do outro lado.

E as buzinas?! Sem elas o transito ficaria mais caótico do que já é. Servem pra tudo: anunciar a chegada, alertar, chega pra lá, sai da frente, anda logo lerdeza, cuidado, se nao pular fora te atropelo. Por aí vai. Sem elas os motoristas ficariam zonzos e desnorteados, por incrível que pareca. Um simples buzinar leva a crer que o da frente andará mais rápido, ou melhor ainda, desaparecerá.

Presenciei tudo isso a bordo do “taxi” do Magdy, um senhor egípcio nascido e criado no Cairo (cairano ou cairense?). Me pegou na saída do Museu Nacional do Cairo após me impressionar com Tutankhamon e companhia. Disse se chamar Cristiano por causa do português Ronaldo. Pedi para me levar ao famoso bazar da cidade, o Khan El-Khalili, um mercado aberto que se extende por 2.000 ruas formando um labirinto de cores, sabores, gostos e tradições. Perguntei quanto custaria e ele respondeu “as you wish” com um sorriso. Depois me convenceu habilmente a extender a corrida até o meu hotel depois da visita no bazar. Disse que ficaria me esperando no horário marcado. Contou-me que após as 7h da noite seria impossível achar um taxi por causa do Ramadan.

Quando o sol se poe os mulcumanos do mundo inteiro correm para os restaurantes ou mesas de suas casas para comer celebrando o fim de mais um dia em jejum. O Ramadan equivale a nossa quaresma e serve para renovar os votos a Allah. Mas quando o sol se poe a turma deita o cabelo no que vier pela frente comendo muito mais do que normalmente comeria. Nessa época os cozinheiros mulcumanos se esmeram fazendo receitas exclusivas para aplacar o sacrifício divino e saciar a fome de lob afonso dos devotos.

O Ramadan na verdade comemora o envio do anjo Gabriel (Jibril), ora vejam só, por Allah até o profeta Mohammad para transmitir-lhe os primeiros versos do Alcorao. Isso ocorre durante o 9° mês do calendário lunar islâmico todos os anos. Doacoes e caridade batem recordes nesses dias. É uma época de Perdao e Amor. E de muitas calorias!

Mas voltando ao El-Khalili. Lá sempre tem um nativo à espreita de um viajante desavisado. Ficam ali, feito águias a observar a massa humana indo e vindo. Se reconhecem um idioma familiar é tiro e queda. Armam a arapuca e partem pra cima. Quando você percebe já está seguindo o maluco pelos becos mais imundos mercado afora. Mohammed Hola – o “sobrenome” veio da sua habilidade em falar castelhano – me fisgou e mostrou onde comprar tempero barato, prata e ouro, pagou um café turco numa pocilga imunda, mas a única aberta e vendendo bebidas durante o periodo do Ramadan, e prometeu um giro na parte antiga do bazaar na próxima vez que eu voltar. De fato comprovou que os precos das especiarias podem variar absurdamente. Paguei 1 €/grama no alcafrao in natura no comparsa por ele indicado. Depois fomos a uma loja onde os guias brasileiros levam os trouxas. Era cinco vezes mais caro! Acho que tava tudo armado com este outro vendedor, mas a encenacao foi bem feita.

Chegamos a uma fábrica de jóias em prata e ouro. Ele fez de tudo para me convencer a comprar um pingente para o Gabriel. De fato essa era mesmo minha intencao, mas fingi desinteresse só pra testar suas habilidades. Mohammed pesava a jóia e fazia calculos do preco em libra egípcia e depois em dólar. Adicionava um pingente e pesava novamente repetindo os calculos. Deu a idéia de cortar o cordao para o pescoso encurtando-o para uma crianca fazendo uma pulserinha com a sobra. E pesa de novo, adiciona uma argolinha, diz que na rua é mais caro e isso e aquilo. Metralhava argumentos e gestos como um artista da fina arte de negociar. Sao mestres em criar a demanda e o desejo onde nao existe nada. Potencializam ao máximo a necessidade do cliente adquirir o produto e quando percebem que a isca foi mordida e nao tem mais volta se dao por satisfeitos. Ele ganhou a comissao da loja, nao sem antes abrir uma refresco pra mim “por conta da casa” e mostrar a diferenca de 0.65g em ouro que o dono da loja deixara passar.

Me levou novamente até a praca onde Magdy me esperava no taxi e pediu para que eu pagasse pelos seus servicos antes de chegar até o taxi. Depois percebi que ele queria apenas ganhar tempo durante o trajeto pra reclamar do valor. Nao importava o que eu oferecesse, ele sempre reclamaria que era injusto e pouco querendo mais. Disse ter criancas e precisar ir ao Alto Egito após o Ramadan com a mulher, crista, e o filho.

No final dei mais 5 € e nem assim ele ficou totalmente feliz. Sao uns artistas da venda e negociacao esses egípcios.

Sunday, May 11, 2014

Gabriel

Meerbusch (gosto do quentinho da mamae)
Ainda nao sei falar, ler ou escrever. Mal consigo enxergar, mas escuto tudo. Aqui é escuro e sinto minhas maozinhas. Às vezes pego meus pezinhos e mordo um dedao. Me enrolo todo com essa cordinha engracada que deve ser muito importante. Se nao fosse, nao estaria aqui.
 
O escuro fica claro de vez em quando. Na verdade, vermelho. Sinto ondas de calor quando alguma coisa encosta na minha casinha. Esse calorzinho se mexe de um lado para o outro. Fica parado ali, no alto. Dou uns chutinhos pra avisar que estou aqui e ele muda de lugar. Depois some.
 
Meus ouvidos ainda nao estao totalmente desenvolvidos, mas sei bem quando uma onda sonora me satisfaz. Tem uma música complexa, com vários sons ao mesmo tempo, que sempre me acalma. Acho que é Mozart. Ainda saberei a diferenca entre ele Beethoven e Bach, mas por enquanto ele é suficiente.
 
Outro tipo de onda me faz feliz. É aquela dos meninos de Liverpool. Comeco a me mexer com os ombros de um lado para o outro quando escuto. Ouvi tantas vezes minha mamae falar o nome que nao esqueco mais. Beatles! Outro dia ficamos parados algum tempo diante de uma luz forte. As ondas sonoras eram as mesmas de outros dias. Escutei a palavra Antology algumas vezes. Pelo visto eles sao bons no que fazem.
 
Através dessa cordinha engracada consigo saber se é de manha, hora do almoco, lanche da tarde ou noite. Meu ritmo de dormidas já está bem estabelecido. Me desperto às 7:30 da manha ouvindo que sou um lindo fofinho. Logo após um gostoso banho e várias ondas de calor na minha casinha recebo meu precioso alimento pela cordinha. Minha mamae ficava sentada durante algumas horas. Às vezes falava, outras ficava em silêncio, concentrada. A cordinha me chamava e via mais comida.
 
Se o gosto é salgado - já sei a diferenca pra doce, mas nao conheco amargo ou azedo - é por que chegou a hora do almoco. Mamae se deita pra descansar depois dessa hora. Aproveito pra tirar um cochilo também. Ela volta a falar bastante, depois fica quieta de novo. Chega o leitinho da tarde e um pouco mais tarde a temperatura sobe na minha casinha. Escuto um som engracado. Parece água, mas é muita. As ondinhas de calor voltam a aparecer trazendo uma sensacao relaxante. Mamae se deita novamente e pouco tempo depois fica tudo preto e silencioso. Antes disso, a voz grave do papai vem me dar boa noite. Mamae canta um pouco dizendo que me ama e dorme. Fico esperando alguma coisa acontecer, mas pego rapidinho no sono. Depois comeca tudo de novo.
 
Quando a voz é aguda, sei que vem de cima. Mamae traz um carinho que me faz sorrir e protege. Sempre me acalmo com essa voz. De vez em quando as ondas sonoras sao graves, muitas vezes em volume mais alto. É o papai! Ele é engracado e mexe comigo toda vez. Disse que sou um gordinho vindo pra alegrar ainda mais a Vida deles.
 
Fui programado pra ficar nessa casinha por 40 semanas, mas querem que eu saia antes. Me disseram pra sair no dia 13 de Maio e cumprirei à risca o programado. Como sou um bitelinho pontual, já peso 3,7 kilos, vou poupar minha mamae do sofrimento e stress de um parto normal. Semana que vem um cara de branco vai me tirar daqui. Vou sair e respirar, agarrar o corpo da mamae e ganhar um beijo do papai. Depois é só alegria!
 
Alguns dias depois vao me levar pra casa. Vou estranhar o tamanho da minha nova casinha. A quantidade de estimulos, a temperatura, a comida, que agora virá pela boca, o tanto de curiosos me olhando, a claridade do dia e a escuridao da noite. Mas tenho certeza que as ondas sonoras manterao o bom nível, assim como a comida.
 
Como sei de todo o carinho e amor que me espera, e da seguranca de ser cuidado pela mamae e por papai, fico tranquilo.
 
Estou quase chegando. Sejam pacientes. Falta só mais um pouquinho.
 
Chutinhos na costela,
Gabriel

Düsseldorf​er Marathon

Meerbusch (um green sempre desce bem!)
 
 
Quando Pheidippides (ou Fidipedes) correu os 233 km de Atenas até Esparta, em dois dias, para pedir ajuda aos atenienses para derrotar os persas, nao sabia que estaria criando uma modalidade esportiva que hoje em dia movimenta a Vida de milhares de pessoas. Os atenienses se negaram a ajudar antes do fim do Festival de Artemis que ocorria na ocasiao. Fidipedes correu de volta os mesmos 233 km trazendo a péssima notícia. Foi entao que os comandantes da capital grega decidiram fazer um ataque surpresa ao acampamento dos persas, localizado a exatos 40 km dali, no vale de Maratona. Com um preparo físico invejável, mesmo após percorrer a distância e sendo minoria, os atenienses venceram a batalha.
 
 
Nos primeiros jogos olímpicos da era moderna, em 1896 na mesma Atenas, Fidipedes foi homenageado com a criacao de uma prova de longa distância com 40 km ganhando o nome de Maratona. Por obra e graca da realeza britânica, quem mais, a distância original foi alterada na Olimpíada de 1908 na Inglaterra. A organizacao da prova aumentou o percurso em 2.195 metros para que a família real pudesse acompanhar a largada da prova sem ter que sair do palácio de Windsor. E assim tudo comecou.
 
 
Sempre dei minhas corridinhas por aí, mas o máximo que havia corrido até entao foram os 18 km da Volta da Lagoa da Pampulha em 2003. Isso foi uma semana depois de voltar dos meus dois primeiros meses pela Europa onde bebi literalmente todos os dias. Acabei terminando a volta esbaforido em quase duas horas. Agora a distância seria mais que o dobro. E a identidade acusava 11 anos a mais, nao só de Vida como também de golo.
 
 
Minha "preparacao" comecou em janeiro deste ano, mas logo foi interrompida. Peguei uma gripe braba e minha mae chegou para as comemoracoes do meu aniversário, 29 de janeiro. Fiquei um mês sem fazer exercício físico. Meu personal trainer à distância e fisioterapeuta do Galo nas horas vagas, Bebeto, ia me passando os treinos semanais com distância e ritmo. Antes disso, pediu que eu fizesse alguns testes para descobrir meu limiar anaeróbico. Entao descoberto, partimos pras esteiras e ruas da Vida.
 
 
Sempre fui um mal aluno e disciplina nao é o meu forte. Nao consegui cumprir um único programa semanal, excecao feita as duas últimas quando a corda estava no pescoco. Fiz ainda pelo menos três viagens que impossibilitaram um avanco mínimo no treinamento, tanto em termos de distância percorrida como em velocidade.
 
 
Duas semanas antes o Bebeto me pede pra chamà-lo no skype. Com o semblante visivelmente preocupado comecou dizendo pra eu correr sem pensar no tempo. Pra ir me divertindo nas ruas até onde pudesse. Que se conseguisse completar a prova seria em mais de cinco horas, talvez seis. Disse que a fadiga muscular seria tao devastadora que impediria meus movimentos mecânicos básicos. Passou as duas últimas semanas de treino, que segui à risca finalmente, dicas de alimentacao na semana antes da prova, na véspera, café da manha e após a bendita. Pediu pra mantê-lo informado e qualquer coisa estaria a disposicao.
 
 
Pois bem, a distância máxima que havia corrido nos treinamentos havia sido 26 km. Nessas duas semanas antes da prova fiz dois tiros longos de 15 km e alguns dias depois outro de 20 km mantendo firmemente o ritmo de 10 km/h. Seria loucura tentar o mesmo na maratona. Bebeto disse pra segurar ao máximo no início e tentar manter entre 9 e 9,5 km/h. Comer tudo que me oferecessem e sempre beber água nos pontos de hidratacao.
 
 
Mal dormi a noite anterior, sábado passado. A expectativa antes da prova e a adrenalina só aumentavam. Fiz tudo direitinho, alimentacao, evitei álcool e carnes no churrasco de despedida do Alfredo e Raissa no dia anterior, dormi cedo e acordei mais cedo ainda pra tomar o desjejum programado. Já estava tudo preparado na véspera: tênis com meias adrede preparadas, short estilo ciclista com o bolso traseiro lotado de gel carboidrato, o número 4914 escolhido a dedo (49 da casa onde moramos e 14 o nosso da sorte) já pregado na camisa da Choke, multinacional fabricante de kimonos para jiu jitsu e artigos esportivos, a roupa seca na sacola da organizacao pra me trocar no final.


Amanheceu e vi as ruas molhadas e frias, nada convidativas. Pelo contrário, seria muito mas fácil voltar a dormir ali no quentinho e escurinho agarrado com Ela e Gabriel pra esquecer aquela maluquice. Perderia a grana da inscricao e pronto. Mas fiz questao de avisar a deus e o mundo no dia anterior via whatsapp sobre o evento. Já era. A maioria duvidou ou comecou a rezar pra eu chegar vivo no final. Uns poucos desejaram sorte e acreditaram em mim. Dois amigos que já correram maratona, Quinho e Nadinho, deram dicas valiosas. A principal veio do Nadinho, futuro CEO da AB Inbev, contando que no KM 30 uns ursos de 300 kg pulam nas costas dos corredores e seríamos obrigados a levá-los até o final.
 
 
Estacionei o carro em Oberkassel já que o centro estaria bloqueado. Peguei o metrô rumo a Tonhalle e no ponto bati papo com um, pra mim, quase profissional. O cara ia correr sua 16a maratona! Comecei a me alongar, 45 min antes da largada, e ele disse que de nada adiantaria a nao ser pra reduzir a tensao. Recomendou me esticar 15 min antes, no máximo. Deixei a sacola da organizacao no Garderobe, passei estrategicamente na casinha pra aliviar o peso e a tensao e fui chegando perto da largada. Nem vi os atletas top, geralmente quenianos. Os caras sao ETs que correm a 21 km/h de média. O vencedor terminou a prova em 2h e 8 min, um absurdo. Acho que nem de bicicleta consigo manter esse ritmo.
 
 
Sozinho e deus precisava de um golo d'água antes de partir. Vi uma garrafa ali pela metade, no canto, esquecida, e nao tive dúvidas. Às 9h em ponto foi dada a largada. A turma do gargarejo veio logo em seguida. A grande maioria corria num ritmo mais rápido que o meu. Deixo todos passar, cordialmente, me lembrando de segurar a onda no início. Afinal, nao estava apostando corrida com ninguém. A nao ser comigo mesmo. Meus objetivos eram: 1° terminar a prova e 2° completar em menos de 5 horas.
 
 
Durante a corrida alguns corredores-personagens se destacam dos demais. Aquele negao patola com um boné e uma Go Pro acoplada nele. Estava de amarelo e preto. Seria torcedor do Borussia Dortmund?! Por que se submetia àquela extenuante prova?! Alguma promessa?! Ou aposta?! Ele pigarreava muito logo no início, antes do KM 10. Até ali foi tudo muito bem e tranquilo. Apenas curticao, reparando nas pessoas e a cidade ao redor. De uma certa forma uma maratona deixa a cidade a sua disposicao. Exclusiva, sem trânsito, para que as ruas sejam percorridas à moda antiga. Tudo parado pra te ver passar. Com o nome escrito abaixo do número colado na camisa tornei-me uma celebridade por algumas horas. "Pedro, weiter, weiter!!!", algo como Pedro, continue, continue. Era o mantra da multidao quando eu passava. Sempre agradecia a todos que me incentivavam. Vez ou outra apareciam umas criancas com as maozinhas levantadas esperando você passar e bater fazendo high five.

 
No KM 14, o primeiro terco da prova, minhas pernas já arriavam. No posto de abastecimento seguinte caminhei e bebi a água com calma. Logo depois, um isotônico. E bananas! Nao sei se somos todos macacos, mas me tornei um chipanzé nessas quase cinco horas. Daniel Alves deve ter sido maratonista antes de jogador de futebol. Passei por baixo da ponte de Oberkassel pensando nao na distância que faltava, mas sim na que já tinha corrido. O negao ariete de amarelo ficara pra trás com sua Go Pro gravando pigarros ofegantes.
 
 
Correr a maratona foi a forma que encontrei de me solidarizar com a gravidez dEla. Como se eu tivesse que sofrer ao longo daqueles 42,2 km parindo no final minhas expectativas, dúvidas e falta de disciplina. E, quem sabe, uma merecida medalha. Mas o verdadeiro motivo era outro. No final vocês saberao.
 
 
Ali no KM 21, metade da prova, coincidentemente ao lado do consultório da ginecologista que tao bem nos atende, pensei: acabou a subida, agora é só descer a montanha! Naquele instante amarraram duas bolas daquelas de guindaste de demolicao em cada tornozelo. Os incentivos continuaram. Nunca ouvi tanta gente gritando Pedro, Pedro, Pedro! A cada caminhada bebendo água e nova arrancada comendo banana as perninhas de sabiá doíam cada vez mais. Cruzei a barreira mágica do KM 26, meu recorde pessoal até entao, e nada senti. Achei que entraria numa nova dimensao, veria anjos com harpas flutuando ao meu redor, mas nada disso ocorreu. No KM 28, com o segundo terco da corrida completo, me animei. Mantinha o lap pace em menos de 7 min por km. Faltava um terco!
 
 
Passei na esquina da casa de Floriano Peixoto e segui firme rumo ao Max Planck. Me lembrei das tantas vezes que ali cheguei pela manha de bike para mais um dia de cientista louco. Durante o doutorado foram várias as vezes em que nao via a luz no fim do túnel e queria jogar tudo pro alto. Mas nao sei por que tenho uma perseveranca nata que nao me deixa desistir de nada. Quase uma teimosia genética. Agradeco sempre a ela por tudo que fiz até hoje. Virei a esquina e avistei o fatídico KM 30. Os famigerados ursos estavam ali, atrás dos postes. Todos vestidos com as cores da BMW. Faziam propaganda de lancamento de um carrinho elétrico. Cada corredor que passava recebia um desses nas costas pesando 600 kg cada. Vamos em frente.
 
 
Vislumbrava o fim da prova. Era voltar pro centro, dar um rolé no Hafen e cruzar a linha de chegada. Os kilômetros demoravam cada vez mais a aparecer. Comecei a sentir dificuldades em respirar. Passando pelo Hofgarten os gritos de PEDRO, PEDRO, PEDRO ficaram ensurdesedores. Com um braco levantado agradecia, com o outro tampava um dos ouvidos evitando a surdez. Rasgamos a Immermannstraße e me lembrei que passaríamos em frente a Mövenpick. Roteiro melhor, impossível. Era como se visitasse todos os lugares que tanto frequentei ao longo desses 8 tantos anos.
 
 
Avistei o KM 35 dessa vez pensando nos sete restantes. Um japinha de azul seguia no meu ritmo. Às vezes mais rápido, outras ficando pra trás bebendo água. Acho que o ultrapassei no final. Já no Hafen o safado do Henrique, que corria a parte final do revezamento - míseros 9,3 km - me viu e gritou "Weiter Pedro, weiter." Xinguei o safado e voltei a me concentrar. Os incentivos da galera eram tao intensos e sinceros que o cansaco sumia e as pernas corriam sozinhas. Achava que teria problemas em me manter concentrado durante tanto tempo, mas tem sempre alguém ao seu lado te lembrando do objetivo final. Vi vários casais de 40, 50 e até 60 anos correndo juntos. Grupos de corrida batendo papo enquanto as pernas trabalhavam. Amigos contando casos e as distâncias passando. Uma festa!
 
 
Quando vi a placa do KM 40 foi como se tivesse vendo Moisés dividindo o mar Vermelho em dois. Ali, justamente naquele ponto, amarraram na minha cintura uma corrente com âncora de navio na ponta. E eu achando que nada mais haveria de acontecer. Serviram coca-cola no final, glicose na veia. Bebi os últimos goles antes da glória ali na Königsalle e segui rumo ao sprint final. Que no meu caso foi no mesmo ritmo capenga de sempre. Às vezes olhava pra trás conferindo pra ver se nao era o último! Hahaha.
 
 
Avistei o rio e vi a linha de chegada. PEDRO, PEDRO, PEDRO!!! Consegui, sobrevivi e venci a desconfianca que tinha de mim mesmo. Sensacao única que fez valer a pena cada passo dado desde a largada. Agora era chegar até a área de descanso e tomar uma bela cerveja. Dizem que é das melhores coisas pra se recuperar após as corridas. Acho que sempre soube disso, só faltava comecar a correr antes de tomar tanto golo.
 
 
Peguei minhas coisas e segui até a Tonhalle com um sorriso débil no rosto. Tomei dois bondes errados até chegar no carro. Achei que nao conseguiria dirigir, mas segui tranquilo pra casa da Rê e Albert. Ela estava lá me esperando, assim como meu amigo com um macarrao a bolonhesa e uma pale ale. Nao ia comer sem antes tomar um banho, dos melhores que já tomei na Vida. A maioria chegou a duvidar de mim. Nao recomendo duvidar de mim. Vocês vao se dar mal na maioria das vezes.
 
 
Querem saber o verdadeiro motivo de correr essa maratona: me despedir de Düsseldorf. Foi a forma que encontrei de homenagear a cidade percorrendo os vários lugares onde frequentei. A cidade parada, a minha disposicao, com muita gente gritando meu nome.
 
 
Vamos voltar pra Viena. Mas isso é uma outra estória.

 

Wednesday, April 30, 2014

Gravidez

Meerbusch (somente 5 posts esse ano... tá fraco)

Gravidez talvez seja a palavra que melhor represente a felicidade plena de uma mulher. Aquele suspiro levantando o nariz, orgulhosa da cria que cresce a olhos vistos no ventre. A mao sempre ali embaixo, já fazendo carícias no rebento. A sensacao de ter o poder supremo para criar uma Vida. E ao mesmo tempo reconhecer que sozinha isso nao seria possível.

Quantas incertezas e dúvidas passam pela cabeca duma mulher durante a gravidez?! Vai ser menino ou menina?! Tem risco de nascer com síndrome de Down?! E se o sangue dele/dela nao for compatível com o meu?! Estou me alimentando corretamente?! Será que ele/ela vai esperar até a marca ou virá antes?! E se nascer prematuro?! Parto normal ou cesariana?! Quando a bolsa estourar, corro pra maternidade ou tomo um banho com calma e me dirijo calmamente ao local?!

Para o pai, honestamente, a ficha só vai cair quando nascer. Podemos no máximo nos solidarizar com a mulher, apalpando e beijando o barrigao, conversando com o feto e agora bebê tentando entender as mudancas hormonais e corporais da amada esposa. Ela é quem sente tudo. Desde o início. A bexiga vai se comprimindo. Os pulmoes também, e às vezes tomam chutes. As costelas sofrem pelo mesmo motivo. Dormir já nao é algo tao prazeiroso como antes.

A curiosidade feminina só aumenta após a descoberta do sexo. Com quem será que ele vai se parecer?! E a personalidade?! Melhor que se pareca comigo, mas tenha o seu jeito. Ele vai ficar grudado em mim até os 5 ou 6 anos, depois só quer saber do pai. As musiquinhas cantadas ao dormir e ao acordar provavelmente serao lembradas por ele nos primeiros meses. Dizem que acalma. O bebê e a alma.

E o parto?! Se eu sentir dor vou pedir logo pra tomar a peridural. Se ele for muito grande vai ter que ser cesaria?! Queria tanto parto normal?! E se o cordao umbilical se enrolar no pescocinho dele?! Os médicos me parecem bons e o hospital é renomado, mesmo assim nada é garantido. Será que ele vai nascer antes da minha mae chegar?! Que dia você acha que ele vem?!

Mesmo com tudo pronto, sempre falta alguma coisa. Nao tem como prever tudo. E por melhor que seja o planejamento do casal, a realidade é diferente. Cada parto é um parto, assim como cada Vida é diferente uma da outra. Resta aos pais apenas pedirem a Deus que dê tudo certo e ele nasca perfeitinho e com muita saúde. O resto é detalhe.

Ter o privilégio de presenciar uma gravidez é das coisas mais belas que um homem pode desejar viver. Vai dar tudo certo, tenho certeza que sim. Mesmo nao tendo.

Thursday, March 27, 2014

O Caos Organizado no Cairo

Cairo (mara, mara, mara, maravilha ê…)
 
Os motoristas egípcios talvez sejam os melhores do mundo. No meio de tanto caos onde a buzina significa “chega pra lá que tô passando” todos se entendem. Entre carros, principalmente Fiats e Ladas antigos, motos, tuk tuks, vans transportando os quase 8 milhoes de habitantes do Cairo, e pessoas nada acontece. Apesar das quase batidas a cada segundo, das finas onde nem um fio de cabelo passaria entre os carros e dos milhares de quase atropelamentos todos se salvam. Verdade que vimos um ou outro acidente nas estradas entre Suez, Sadat City e Alexandria, mas bem menos que o risco proporcionado.

Sinal vermelho significa siga e o verde, pare. Sao meramente figurativos. Os retornos em U no meio das autoestradas impressionam. Em plena pista da esquerda, teoricamente a mais rápida, é uma festa o entra e sai de qualquer coisa com rodas. Vira e mexe vem um na contramao coladinho na mureta. Deve ser proibido carros lentos andarem à direita. Os caminhoes entao sao donos da estrada. A buzina mais uma vez significa “tô chegando” ou “presta atencao que vou passar” ou “nao mude de direcao seu viado, senao vai bater”. E nao batem. E o pedágio?! Todo mundo embola de quatro pistas pra uma de repente. É cobrada somente a volta, mas mesmo assim embola tudo já que a polícia aproveita pra fazer uma blitz nos caminhoes e carros suspeitos. Ou seja, em TODOS.
 
Já sabia da hospitalidade dos egípcios, mas vive-la é outra experiência. Cordiais e atenciosos, preocupam-se realmente com o seu bem estar sem aquela hipocrisia de agradar querendo algo em troca. A comida é parecida com a libanesa, mas as entradas sao mais saborosas. O teatro para se escolher qual peixe sera comido deve fazer parte de algum ritual faraônico. Toda vez tinhamos que nos levantar e ficar assistindo a uma confabulacao em árabe para decidir qual, ou quais, peixes seriam levados a mesa. A quantidade é sempre grande. As carnes também sao boas, kafta, cordeiro ou frango. E o cappuccino do posto bem melhor e mais barato do que na Alemanha.



Nosso agente, uma mistura de Tim Maia pelo tamanho e Marcao Lagoa pela personalidade e bom humor, parece o prefeito da cidade. Onde vai conhece alguém. Cumprimenta com dois, três, até quatro ou cinco beijos no rosto. Se abracam efusivamente e dao gargalhadas falando alto. Mas sempre tem uma gorjetinha aqui e ali pelo menor esforco.
 
Os servicais estão por toda parte. Chega-se ao cúmulo de empregarem um menino pra ficar dentro do banheiro apenas tirando toalhas de papel e entregando a quem acaba de lavar as maos. Nos postos de pedágio dois empregados cuidam da coleta da grana. Um pega o dinheiro do motorista e entrega ao da cabine. Este imprime a notinha e devolve junto com o troco ao primeiro que passa o montante ao motorista. Num posto de gasolinha contei 12 frentistas pra quatro bombas. Mas também, com 95 milhoes de habitantes e uma das densidades demográficas mais alta do mundo (vivem ao longo do Nilo e no seu delta, o resto é deserto) tem que arrumar funcao pra todo aspone.
 
Coca-cola é uma marca onipresente. Talvez mais famosa que Alah ou Jesus Cristo. Qualquer biboca de beira de estrada no meio do nada ostenta o símbolo vermelho e branco como um brasao real. Até nisso a Pepsi leva desvantagem já que o vermelho chama muito mais a atencao do que o azul.
 
A velha guarda da populacao ainda sente saudades do ditador Mubarak. Dizem que a lei e a ordem era respeitada, o país mais seguro e a Vida mais fácil, apesar de tudo. Após a revolucao de Janeiro de 2011 os jovens acham que nao devem mais respeitar nada. Fazem o que querem, confundem protesto com vandalismo e liberdade com democracia. O país vive uma fase de transicao. As eleicoes de 30 de Junho próximo serao importantes para sacramentar o final da ditadura e um novo comeco após a decepcao com a Irmandade Mulcumana. A Muslim Brotherhood abusou do poder e do próprio Islã para se beneficiar e aqueles que os apoiavam. O restante era repelido e combatido com violência. O clamor popular pediu ajuda aos militares que, mesmo a contra gosto, tomou novamente o poder.
 
O candidato praticamente único à Presidência, Sissi, é um ex-militar de carreira. Sua intencao é se descolar dessa imagem e transmitir ao povo que um novo comeco está por vir. Enquanto isso a economia sofre, principalmente o turismo. Quando um país como a Alemanha, os viajantes mais frequentes do planeta, solta um comunicado pedindo aos seus cidadaos que evitem viagens ao Egito o golpe é grande. Desde o aeroporto meio vazio, aos hotéis com ocupacao média, restaurantes com mais mesas do que pratos sujos, museus sem fila e mesmo as piramides com camelos cocando as bolas e guias sofrendo pra convencer alguém a ouvir suas histórias, toda a principal indústria do país sofre. E mesmo que tudo fique calmo após as eleicoes, basta que se matem uma meia dúzia de branquelos turistas europeus para que o alerta turístico vermelho se instale novamente.
 
Mas o dia a dia aqui é diferente. Sao como as notícias de assassinato e violência que já nos acostumamos a ver na tv brasileira toda santa noite. Pinta-se um quadro de terror maior do que a realidade. Sao casos localizados e nao se pode generalizar. Fiz questao de visitar a Praca Tahrir onde a revolucao tomou corpo e derrubou o ditador. Trânsito normal com uma meia dúzia de jovens conversando. Um deles se aproximou e pintou Egito em árabe e a bandeira tricolor do país na minha mao. Um velho me deu uma faixa de amarrar na cabeca e perguntou de onde eu vinha. Quando falei Brasil ele comecou a gritar “Pelé! Pelé! Pelé!” Samba, futebol e carnaval. É a imagem do Brasil para o mundo. E fazemos questao de reforcá-la! Puxou uma bandeira e tiramos a foto. Por um momento me solidarizei com eles e sua causa tao complicada e difícil.
 
Vi umas 50 mesquitas ao longo desses dias. Sempre muito limpas e bem acabadas por fora. Nas estradas estão em toda parte. Deve haver alguma lei dizendo que se construa uma mesquita a cada 50km. Como aqueles telefones de emergência nas auto-estradas modernas. Um Disk Alah para pagar os pecados mais recentes. Preciso ler mais sobre o Islamismo.
 
Por toda a cidade metade dos prédios nao foram concluídos. É alvenaria e concreto com pontas de ferragens nas cabecas dos pilares pra tudo que é lado. E os prédios existentes nao tem reboco ou pintura. Somente um ou outro de moradores mais abonados é melhor acabado. Nem por isso existe violência. O Islã é tao arraigado na Vida espiritual, política, legal, social e pessoal das pessoas que as conduz e dita seu ritmo desde o primeiro instante.
 
O grand finale foram as piramides e a esfínge. Confesso que tinha mais interesse na última do que nas primeiras. De certa forma me decepcionei por que ela nao é tao grande assim, o sol estava quente e queimando a nossa cara impossibilitando boas fotos e soube que o nariz encontra-se num museu inglês e uma orelha no Louvre. Sempre achei que o Obelix havia quebrado o nariz da esfínge. Quase truquei o guia sobre o Louvre, mas resolvi ser diplomático.


As piramides sao grandiosas e impressionantes, claro. Os blocos imensos pesando em media 2,7 toneladas de um total estimado em 2.345.567 pedras, pedrinhas e pedroes foram ali colocadas por uma multidao de 20.000 escravos que trabalhavam por comida e abrigo. Estao ali desde 2.500 AC ou mais. Somos uma poeira de deserto perto delas. Do alto de um “navio do deserto”, vulgo camelo, todo o passeio é mais interessante.
 
Outras seis pequenas piramides adornam o sítio arqueológico. Se as grandes foram construídas para servir de sepultura a Quéops, o pai, Quéfren, o filho, e Mykerinos, o neto, as pequenas foram destinadas para as rainhas. Nunca soube disso. Muito menos que acharam um barco enterrado ao lado da maior delas. Achavam que o faraó, ao ressucitar, pegaria sua jangada, levantaria velas e navegaria Nilo acima rumo a Luxor ou Assuan retornando aos bracos da galera. Esses egípcios eram uns doidos geniais.


 
Na próxima vez visitarei o Museu Egípcio localizado bem perto da Praca Tahrir com os tesouros de Tutankamon, o faraó menino. Depois os souks, os famosos bazares de Khan El-Khalili.
 
Já bradava Napoleao aos seus soldados: “Do alto dessas pirâmides 40 séculos vos contemplam!"

Tuesday, February 18, 2014

Janota

Meerbusch (momentos únicos)

Desde 1973 nao vivíamos momentos tao próximos e exclusivos. Duas semanas só pra mim! Sem a interferência de irma e irmaos. De netinhas sapecas. Da mana saudosa e dos sobrinhos queridos. Da ONG e dos problemas mundanos e cotidianos. Sem ter que dividir com ninguém.

Conversamos de tudo um pouco. Como dois bons amigos botando o papo em dia, passamos as famílias a limpo. Tanto a dela como a do Guidao. Fomos adentrando em detalhes, onde está fulando, por que sicrano se separou, quantos filhos mesmo tem beltrano?!

Entre um chocolate e outro biscoito os kilometros das Autobahnen testemunhavam os relatos. Pausa pra falar da Primeira e Segunda Guerra. E de Napoleao. Dos erros de Hitler e de como um cabo ferido, artista frustrado, biscateiro e reles pintor de paredes conseguiu convencer uma nacao arrasada e com o orgulho em frangalhos a se reerguer e quase dominar o Mundo!

Passamos três já programadas noites em Saarbrücken e sua simpática Altstadt. Até cerveja ela bebeu. Mais de uma vez e gostou. Ah daqui é muito melhor que a de lá. Acho que é por isso que vivo na Alemanha até hoje, sinceramente.

De lambuja cruzamos a Franca flertando com Strassburg. Nao foi dessa vez, uma pena. Rasgamos a Suíca do noroeste ao sudeste, até Lugano. Tomamos um espresso servido por uma simpática carioca que ali vive já fazem 20 anos e aprumamos vela de volta a Germania. Nao sem antes cruzar o Reno de novo, pela quarta ou quinta vez, passando pela Austria e chegando no Bodensee, vulgo lago Constanca. Lindau era nosso destino. Ilhota imperial cravada no leste do lago. Ensolarada e turística, construcoes do século XV e ruínas de termas romanas adornam seu porto. Inesperado, mas comigo é assim mesmo. Até dentro de usina siderúrgica na Bavária ela entrou. De capacete e tudo, dando palpite na producao. Hahaha, brincadeira. Ficou no carro lendo seu livrinho.

Veio curtir o netinho ainda na barriga da nora, Ela. Mas também veio para as celebracoes do meu aniversário de 40 anos. Quer presente maior do que esse?!

Falamos do Lucas e de Guidao. Da venda de Lagoa Santa, post prometido e nao escrito. Da idéia maluca de sair do caxixó, talvez pra ficar perto da mana mas travestido de "facilitar a minha Vida". As incertezas e certezas do momento foram destrinchadas e ponderadas. Viagens já sabidas, detalhadas. Situacoes mal explicadas ou até mesmo esquecidas vieram à tona.

Ainda passamos em Luxemburgo, terra do suposto predileto. Almocamos bem, cordon bleu. Um bife a parmeggiana metido a francês recheado com queijo e presunto e um talharim pra acompanhar. Perdi a chance de beber uma Bofferding por que iria dirigir logo em seguida.


Entre comprinhas aqui, restaurantes ali, uns 3.000 km rodados em duas semanas pudemos reapertar os lacos inquebrantáveis que sempre nos uniram.

Em Amsterdam, Rembrant e Veermer tiveram o privilégio de nos receber no Rijksmuseum recem aberto após 10 anos em reformas. Só na Europa mesmo pra se cruzar tantos países em tao pouco tempo.

Do lado de lá o resto da ninhada reclamava saudades, com razao. Nunca tiveram, e me arrisco a dizer que jamais terao, o privilégio que tive. Exclusividade total de minha amada mae.

Janota, eu te amo!

Sunday, February 02, 2014

QUARENTA

Meerbusch (dos ENTA nao saio mais, mas se sair darei uma festa com 100 horas de duracao)

Escrevi o post no dia 28/01 já deixando-o adrede preparado para postagem no dia seguinte e simplesmente me esqueci. Agora vai, com atraso de 4 dias.

Há seis meses comecei a pensar nisso. Ameacei uma crise. Refleti um pouco e desisti. Crise por que?! Só tenho a agradecer pela Vida privilegiada que tenho. Por ter nascido na maravilhosa família por onde cheguei ao Mundo. Por ter tido o pai que tive e ter a mae que tenho. Pelo exemplo do meu avô Pedro, xará e companheiro. Pela minha irma, irmaos, tios, tias (mas uma é especial), primos e primass. Pela fiel companheira, amiga e amante de todas as horas, Juju, mais conhecida aqui por Ela. Pelos amigos e companheiros de todos os golos, conversas, viagens e gandaias.

O que consegui fazer nessa viagem de 40 anos?! É hora de fechar por alguns dias pra balanco. Vamos aos fatos:

- nasci gordo e sacudido pesando 3.800 Kg na Maternidade Octaviano Neves em Belo Horizonte, como 99% das pessoas que conheco;
- infância de bagunca, sem limites, criativa e solta na casa da Pampulha, Joaíma e outros campos de experimentacao;
- adolescência em Lagoa Santa com os bons companheiros fazendo de tudo, jogando bola e andando de bike 24h por dia, curtindo cada segundo. Joaíma aparece de novo em destaque;
- nesse meio tempo recebia uma educacao jesuíta no Colégio Loyola cercando de santos e ensinamentos católicos, mas rodeado de colegas rebeldes e inteligentes;
- juventude calmamente vivida nas faculdades de Engenharia, viagens com amigos, Lagoa Santa, festas, meninas, rejeicao ao cigarro indo na contramao da maioria, comecando a beber e a tentar entender esse mundo maluco e seus habitantes insanos;
- viagens ao exterior, EUA e depois Nova Zelândia, a primeira e única namorada, sumico dos amigos, libertacao e solteiro de novo, muito trabalho durante o dia e faculdade a noite. Várias aulas gastas nos bares da Vida, incluindo o baixo meretrício, butecos do centro e a Vida como ela é;
- intercâmbio profissional em Berlim, o convite para o Doutorado em Viena, a atracao e o encantamento mágico por Ela, lua de mel em 19 dias, casamento relâmpago e mudanca pra Düsseldorf;
- conhecendo a esposa depois de casar, o namoro morando junto, atritos e delimitacoes de espaco, o caderninho terapia, sofrimento com os materiais e experimentos, Ela fazendo de tudo pra se socializar, a defesa da tese e nova libertacao;
- Vida profissional madura na Alemanha, casa nova, novos hábitos, viagens a rodo, a Europa na palma das maos mesmo que infinita;
- a perda do Pai e melhor amigo, engolindo seco o nó na garganta ao viver o momento mais intenso da minha existência e seguindo em frente, novos desafios no mundo da siderurgia, o sonho da casa própria;
- perpetuando a espécie e embarcando na viagem mais louca de nossas Vidas: Gabriel
- novos desafios e um retorno triunfante!

Mas nada disso teria sido possível sem o ambiente onde nasci e cresci. Um pai trabalhador que saia cedo e voltava tarde. Uma mae que nao deixava barato e funcionava no mesmo ritmo. Avós maternos morando junto, vovô com mais tempo de convivência, companheiro de quarto e viagens. Era um segundo pai, e muitas vezes o primeiro. Educava, dava exemplo, ensinava e nos mostrava os valores corretos da Vida, a sua maneira. Guidao e Janemamae seguiam na busca incansável de nos dar as melhores condicoes possíveis para termos uma educacao sólida e ensinando o que é honestidade, caráter, ética, respeito, amor ao próximo, gentileza e uma boa dose de bom senso para sobreviver numa sociedade em constante mutacao.

Cumpriram com louvor a arte e o desafio de cuidar e educar cinco filhos. Junto com minha irma Helena e meus irmaos Lucas, Marcos e Daniel (vulgo Elaino, Murgas, Negro e Rato) nos formamos ali. Naquele ambiente dinâmico, bem assistido, às vezes baguncado, mas cheio de amor, carinho e vontade de fazer uma família feliz. As ajudas inestimáveis de Silva, que até hoje dá expediente lá em casa duas vezes por semana, dona Norma, os tantos motoristas e Inês Balbina também foram vitais.

O resto é consequência:

Os amigos que fiz, onde estive e com quem, as experiências que vivi, mulheres que conheci, comidas e bebidas saboreadas, experiências, sensacoes, desorientacoes, emocoes, angústias, tristezas, alegrias, euforias, entusiasmos, desilusoes, sonhos, vontades, aspiracoes, determinacoes, ilusoes, pesadelos e contemplacoes. Ritmos lentos e frenéticos, perda de tempo e saltos pulando etapas, o famoso Pedro Estilingue.

Trabalhos e atividades diferentes em países e culturas distintas, o poder de se adaptar facilmente a uma situacao, a arte de conectar pessoas, de respeitar o outro exatamente como ele é, saber ouvir, perceber a beleza das árvores e seus troncos sem galho no inverno que mais se parecem com brônquios pulmonares e suas inúmeras ramificacoes até chegar nos alvéolos. Ajudar quem precisa.

As exposicoes de arte, os filmes que vi, quanta música boa ouvi, saber cozinhar, apreciar um bom vinho e uma conversa de amigo, guardar segredo, dar e receber conselhos, ponderar, saber esperar até que uma situacao se resolva, entender um problema e agir quando necessário, gostar de ler e de escrever, e de fotografia. Ser engracado.

A Vida é um imenso parque de diversoes. Saber dosar dever e prazer, responsabilidades e diversao, certo e errado, a medida certa de bom senso, ter bom humor e rir de si mesmo ajudam bastante a continuar essa viagem sem destino. Sem sobressaltos é impossível. Nao teria muita graca.

Acho que aprendi um pouquinho, mas quero mais. Minha curiosidade só aumenta. Ás vezes fico desesperado só de pensar nos milhores de lugares desse mundao que nao vou conhecer, mas no instante seguinte sou grato por ter visitado, descoberto e vivido tantos países, culturas e pessoas diferentes.

Como disse lá em cima, dos ENTA nao saio mais. Se sair farei uma festa com 100 horas de duracao.

A todos que de alguma forma participaram e fazem parte da minha Vida, muito obrigado!


Sunday, January 05, 2014

Adeus 2013!

Meerbusch (talvez o melhor ano da minha Vida!)

Foram míseros 18 posts em 2013 que nao representam as aventuras desse que vos bloga. Peco desculpas aos meus dois fans pela ausência. Sou um pateta digital.

Ano passado, 2013, foi no mínimo estonteante!

O ano comecou com a família em peso por aqui, na Alemanha. Passamos o reveillon em Paris num apartamento alugado de uma escritora francesa que versa sobre romances históricos.

Em fevereiro e marco um pulo em BH, gracas ao treinamento da empresa que me emprega. Ela foi também, chegou no final, mas aproveitou bastante.

Fomos a Berlin visitar amigos do peito em Abril passando por Quedlingburg, cidadezinha medieval com um casario do século 12 e 13 mais do que bem conservado. E com um cheese cake que clama ser o melhor do mundo.

Semana santa em Kobenhavn, vulgo Copenhagen, com grandes amigos. Ela, carioca. Ele, austríaco com longa passagem por Sampa. Filhos, dois. Lukas e Lena. Dois tesouros. Entre visitas ao museu Louisiana e menu degustacao no noma, sim, o famigerado entao melhor restaurante do mundo, colocamos o papo em dia. Pelo menos tentamos.

Um show do Steven Wilson, ex-atual-Porcupine Tree, em Essen surgiu desse encontro. Rock progressivo da melhor qualidade.

Aí fomos a Roma para nao um e simplesmente dois casamentos. Malandro dá nó em pingo d`água e pra fugir da badalacao do Brasil resolveu casar os dois filhos ali, na cidade eterna. Um deles no Vaticano, mas sem a bencao do Francisco. Sei nao...

Aproveitamos pra conhecer Amalfi e seus recantos. E perigos da ilha de Capri, sempre azzurra. Pompeii pra lá e pizza margherita pra cá, voltamos pra Trastevere, de onde jamais deveríamos ter saido.

O casal de Kobenhavn, Oskar e Alice, junto com os pimpolhos, vieram conhecer Meerbusch. O motivo?! Quadrophenia do The Who na íntegra em Amsterdam. Pra lá fomos, numa van emprestada, e nos divertimos.

No final de semana seguinte, Amsterdam de novo. Frank, o bávaro, e Barbara, a bela, nos chamara para o aniversário dele. Com direito a passeio pelos canais e maresia durante a festa.

Julho seria a final da Libertadores, Galo x Olimpia paraguaio. Quando verei isso de novo?! Foi o argumento usado para convencê-la. Bate e volta, vai sexta e volta sábado da semana seguinte. Maior emocao da história, momento único e antológico, mas torcedor é o ser mais idiota do Universo. Gasta horrores com uma coisa que o ignora. Prometi, e cumpri, ficar 42 dias sem beber após o título. 42 dias, um para cada ano cuja agremiacao idolatrada ficou sem ganhar PORRA NENHUMA!!!

Agosto foi quieto, por incrível que pareca. Curtindo as bikes e piscinas públicas da cidade, e os amigos. Minto. Fomos a Paris encontrar um casal de amigos vindos de BH: MP e Mari, com filho e pai. Picnic em Versailles, promessa abstêmia cumprida e show de danca na Kong.

Em Setembro descobrimos que nossa Vida iria mudar em breve. No mesmo dia do fim da promessa dos 42 dias veio a notícia: Ela estava grávida! Gabriel vem aí, uhuhuhu!

O Val de Loire nos chamou em Outubro. Chambord e Chenonceau foram os protagonistas. Em Tours um restaurante precioso e inesquecível: la petite Couisine! Comida e dona ótimas.

Paris de novo pra encontrar um amigo de infância, Heberth Neicham! Continua o mesmo, mas agora com uma Mulher ao lado.

Novembro foi o mês de desbravar a Asia. Hong Kong com Fredegulho, DanE e pimpolhos com sua mescla de Ocidente e Oriente foi interessante de ver. A infra-estrutura e simpatia da Tailândia foram inesperadas. Mr. Silvaaaaaaaaaaaa virou my name para o gerente do resort praiano. Macacos, escorpioes, cobras, siris, caramujos e lagartos foram companheiros de viagem. O sol e a naturalidade dos tailandeses também. Dias fazendo nada, do quarto pra praia, deste pra piscina e depois restaurante. A maior preocupacao era se a Singha estava gelada ou nao.

Nao satisfeitos, fomos a den Bosch e Breda em Dezembro. Passando pela Westmalle na volta, a trapista. Desnecessário.

Em Dezembro, Marrocos. País fascinante de pessoas hospitaleiras e fanáticas por futebol. Raja e Galo eram as palavras mais faladas na cidade durante os primeiros dias. Mas nada superava o "Chupa maria" dito até pelas mais tradicionais mulcumanas de burka.

Apesar da decepcao com um time que se "preparou" durante 5 meses para o vexame, a viagem continuou. Depois das 5 noites em Marrakesh pegamos um carro e subimos até Fès. Com Haroldoido a tiracolo fomos matando a saudade e relembrando os vários causos.

Em Tangier compramos as malas OXA, a mala do troxa, pra comportar tantas sacolinhas e compras. Cruzamos o Gibraltar rumo a Algeciras. Visitamos o país, enclave britânico em terras espanholas, aproveitando pra comprar bebidas tax free e ver o aeroporto que atrapalha a avenida da cidade-país.

Sevilla e Málaga seriam as próximas paradas. Hombre Gato e família nos receberam maravilhosamente bem em Bormujos, cidade próxima a capital da Andalucia. É mais fria e agradável, me dizia ele.

Na terra de Picasso e Antônio Banderas nos divertimos com Paco e Pipa, pais de Maria. Vai cozinhar bem assim lá na casa del carajo! E os tapas das bodegas e bares?! Impossível comer melhor. Cerva no ponto, garcom amigo e simpático, precos convidativos e amigos de longa data. Pedir mais é sacrilégio.

E assim terminou o ano. Entre tapas e croquetas, besos y abrazos.

2014 será o ano da chegada do Gabriel! Pedir mais é crime.

Saturday, January 04, 2014

Voando há 100 anos

Meerbusch (em casa, finalmente!)

A chamada do Estadao sentencia: "No dia 1º de janeiro de 1914, um voo de 23 minutos que levava a bordo apenas um passageiro marcaria o início de uma revolução no mundo: a criação da avião comercial. Cem anos depois, o setor se transformou em um dos pilares da globalização, com mais de 8 milhões de passageiros por dia."

 Pois é, depois da briga de Santos Dumont e dos irmaos Wright o mundo seguiu em frente e transformou um sonho em atividade altamente lucrativa. Quem lê este artigo vê que os olhos estao voltados pra Chinha, principalmente.

Confesso que o momento da decolagem é sempre tenso pra mim. Mas gracas a Tony Jannus, o piloto, e a Abram Phell, o primeiro passageiro da aviacao comercial, as aeronaves e procedimentos foram melhorando ao longo dos anos.

Costumo dividir minha Vida em ciclos. Ao entrar em um aviao termina-se um ciclo. Independentemente da duracao. Posso ter voado de manha para uma reuniao e retornado a noite, ou seja, menos de um dia. Nao interessa, esse é um ciclo que termina na decolagem e recomeca na aterrisagem de um vôo.

Ao tocar terra firme é como se eu tivesse licenca pra viver um pouco mais. Sei que é exagero e que um acidente de aviao é mais difícil de acontecer do que um de bicicleta, mas é assim que minha mente funciona.