Sunday, August 03, 2014

Mr. B.

Meerbusch (amanha é preto na folhinha)

Crônica escrita 11 dias atrás no Egito.

Kairo (sol azul, 38° C todo dia)

Negociar com egípcios nao é fácil. Esqueca aquelas barganhas nos mercados onde o vendedor poe o preco dez vezes mais alto. Depois comeca a reduzir até fechar pela metade ganhando 50%, pelo menos.

Sao duros na queda. Fazem cara feia. Gritam e batem na mesa. No instante seguinte falam manso e oferecem café, chá ou limonada com menta. Aliás, melhor que a nossa brasileira limonada “suica”. Pegam o preco ofertado e diminuem 30%. No mínimo. Movê-los dali é como empurrar um bloco da pirâmide de Quéops… sozinho!

Primeiro entra-se numa sala de reunioes com o comprador e o gerente, dois bedéis que nada decidem e ficam te perturbando. Tentam perceber onde você pode abaixar o preco ou se demonstra alguma inseguranca em relacao a determinado item. Tentam te guiar indicando o que deve ser dito ao presidente da empresa que aqui chamarei de Mr. B., um senhor de quase 70 anos comandante-em-chefe de uma das mais importantes siderúrgicas do país.

Contei 24 pecas entre canetas, lapis e lapiseiras em sua mesa. Todas destampadas, prontas para o uso. Um sistema de papeizinhos com informacoes vitais ora grampeados a outros, ora fechados com durex circula entre as hábeis maos gordas de Mr. B. e ao entra e sai de emissários circulando pela sala. Recintos estes com as persianas sempre abaixadas para se perder a nocao do tempo. Após ser chamados, saímos da sala de reunioes e nos sentamos nas poltronas em frente a Ele. Entre um telefonema e outro conversamos sobre os assuntos. Saímos e voltamos umas cinco vezes com reunioes paralelas acontecendo.

Mas sao bem humorados. E o fato de ser eu um brasileirinho contra esse mundao todo ajuda muito. Fizeram questao de relembrar os 7x1 contra a Alemanha umas três vezes durante a “reuniao” que comecou às 11h e terminou às 19h. Sem almoco. Estamos no Ramadan, lembra?! Te enrabam sem vaselina fazendo você se sentir que está fechando o melhor negócio do mundo. Com muito jeito, brasileiro, e habilidade consegue-se minimizar o prejuízo. É necessário dar tempo ao tempo e nao acelerar as acoes. Nao adianta tentar controlar a situacao. O cliente a tem sobre controle o tempo todo. Ele dá a última sugestao de preco e tem a palavra final. Mesmo quando ocorrem divergências mínimas, como por exemplo com o número 23, dá-se um jeito de arredondar para baixo e evitar a supersticao.

Ainda nao sei se fiz um bom negócio e nem se continuarei no mesmo emprego, mas que foi divertido isso foi. E Mr. B disse ter gostado de mim. E eu dele!

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