Meerbusch (amanha é preto na folhinha)
Crônica escrita 11 dias atrás no Egito.
Kairo (sol azul, 38° C todo dia)
Negociar
com egípcios nao é fácil. Esqueca aquelas barganhas nos mercados onde o
vendedor poe o preco dez vezes mais alto. Depois comeca a reduzir até
fechar pela metade ganhando 50%, pelo menos.
Sao duros na queda. Fazem cara feia. Gritam e batem na mesa. No
instante seguinte falam manso e oferecem café, chá ou limonada com
menta. Aliás, melhor que a nossa brasileira limonada “suica”. Pegam o
preco ofertado e diminuem 30%. No mínimo. Movê-los dali é como empurrar
um bloco da pirâmide de Quéops… sozinho!
Primeiro
entra-se numa sala de reunioes com o comprador e o gerente, dois bedéis
que nada decidem e ficam te perturbando. Tentam perceber onde você pode
abaixar o preco ou se demonstra alguma inseguranca em relacao a determinado item.
Tentam te guiar indicando o que deve ser dito ao presidente da empresa que
aqui chamarei de Mr. B., um senhor de quase 70 anos comandante-em-chefe
de uma das mais importantes siderúrgicas do país.
Contei
24 pecas entre canetas, lapis e lapiseiras em sua mesa. Todas
destampadas, prontas para o uso. Um sistema de papeizinhos com
informacoes vitais ora grampeados a outros, ora fechados com durex
circula entre as hábeis maos gordas de Mr. B. e ao entra e sai de emissários circulando pela
sala. Recintos estes com as persianas sempre abaixadas para se perder a
nocao do tempo. Após ser chamados, saímos da sala de reunioes e nos sentamos nas poltronas em frente a Ele. Entre um telefonema e outro conversamos sobre os assuntos. Saímos e voltamos umas cinco vezes com reunioes paralelas acontecendo.
Mas
sao bem humorados. E o fato de ser eu um brasileirinho contra esse mundao todo ajuda muito. Fizeram
questao de relembrar os 7x1 contra a Alemanha umas três vezes durante a
“reuniao” que comecou às 11h e terminou às 19h. Sem almoco. Estamos no
Ramadan, lembra?! Te enrabam sem vaselina fazendo você se sentir que está
fechando o melhor negócio do mundo. Com muito jeito, brasileiro, e
habilidade consegue-se minimizar o prejuízo. É necessário dar tempo ao
tempo e nao acelerar as acoes. Nao adianta tentar controlar a situacao. O
cliente a tem sobre controle o tempo todo. Ele dá a última sugestao de
preco e tem a palavra final. Mesmo quando ocorrem divergências mínimas,
como por exemplo com o número 23, dá-se um jeito de arredondar para
baixo e evitar a supersticao.
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