Düsseldorf (IKEA cansa...)
Antes de falar sobre Formula 1, vamos dar continuidade à série iniciada aqui. Outro dia vi numa revista da TAM, se nao me engano, um fotógrafo que fez exposicao de fotos das bocas de lobo clicadas pelo Mundo. O safado roubou minha idéia.
Fomos a Bologna na volta duma viagem para Parma. Ela com seu sapatinha vermelho, uma graca, fora convidada pela associacao dos jovens advogados para o evento. Visitas guiadas às fazendas de producao do famoso prociutto crudo di Parma, degustacao dos mesmos acompanhado do Parmiggiano da regiao de Emilia-Romana, jantares, etc. Acho que havia algumas palestras na programacao, mas ninguém percebeu. Me lembro de um show de jazz num hotel famoso por lá.
Fato é que eu estava a trabalho no Brasil. Chegaria sábado de manha em Düsseldorf e a tarde pularia num cilindro voador pra Milano. De lá alugaria um carrinho, dei sorte e peguei uma Alfa MiTo e nos encontrariamos em Parma. Tudo certo, pra variar, e bora desbravar a cidade. Linda e charmosa, melhor que o esperado. No fim da tarde vi um monte de carros antigos passando no cacete pelas ruelas da cidade. Perguntei e me disseram que era uma etapa da Mille Miglia, uma das corridas mais tradicionais da Itália e do Mundo. Os apaixonados por corridas e carros antigos sabem bem o que representa a Miglia. Senhores vestindo capacetes de couro com óculos de natacao típico dos pilotos de antigamente rasgavam a cidade sorrindo como criancas no Natal após abrir o presente. Sinceramente, fiquei com inveja. E das ruins, queria ser um deles. Um dia, quem sabe!
Parma tem um centro bem conservado apinhado de restaurantes, pessoas sentadas ao ar livre nas áreas piétonne sempre características das cidades européias e aquele burburinho de cidade italiana com pessoas falando alto, seja no restaurante ou no celular, sorrisos aqui e ali, amigos se encontrando, turistas felizes por participarem da festa, criancas, muitas criancas. Impressionante como italiano fala ao telefone. Sao apaixonados pelo aparelho. Acho que morreriam se o chip desse pau ou o ficassem "fora de área". Acabo de me lembrar que provamos carne de cavalo. Na verdade, carne crua do equino. Bem temperada, dentro de um paozinho, mandei ver no paninni a la horse. Nao tem nada de mais, parece uma carne moída crua de boa qualidade, mas é esquisito. Como o sanduba era imenso, larguei metade no imundo balcao. Pelo menos a torta de alcachovra e queijos tava fabulosa.
Havia um advogado mais velho na turma, de uns 45 anos, filhinho de papai até hoje. Um débil mental completo. Tinha cara de doido, usava um óculos gigante, nao falava coisa com coisa, entrava no táxi italiano e falava em francês com o motorista. Imaginem a figura. Depois de um jantar com danca, grapa e tudo, resolvemos esticar pra boate. E o demente liderando a trupe. Entramos no táxi e a cena acima aconteceu. Na gandaia, arrumamos mesa e ele pede champagne com faíscas pra aparecer. Fiquei no meu whisky, só observando. É desses caras que nao tem amigos, faz de tudo pra comprar uma companhia e acha que amizades sólidas acontecem da noite para o dia.
Fizemos como manda o Leao da Montanha e nos mandamos pela esquerda. No estacionamento, um casal de italianos se dirigia ao carro. A idéia era pegar um táxi pro hotel, mas nenhum parava. Típico da Itália. Na cara de pau pedimos carona ao casal que disse sim imediatamente. Descobrimos que haviam ido ao Brasil, amavam os brasileiros, samba, caipirinha, Pato, Ronaldinho, etc. Simpáticos os dois, e bem chumbados. Mas ele dirigia sem culpa alguma.
No dia seguinte o plano era bater perna pela cidade e sair na hora do almoco pra Bologna. Sem olhar o mapa, achei que ficava entre Parma e Milano. Entramos na Autoestrada e mandei a botina no carrinho esperto. MiTo é o nome dele, Milano Torino. Nas ruelas de Bologna foi difícil achar vaga, mas como diz meu amigo Darcy que tem uma agência de turismo em Roma, na Itália nao existem vagas e sim interpretacoes de espacos vazios. Se você acha que ali cabe o seu carro, aquele lugar automaticamente se transforma numa vaga. Darcy com seu Cinquecento 1967 nunca teve problemas de interpretacao.
Bem, queriamos comer um spaguetti a bolognesa, o legítimo. Acontece que na Itália, na maioria das cidades, depois das 2 e meia da tarde os restaurantes fecham e só reabrem para o jantar às 7h. Cumprem isso à risca, por incrível que pareca. Existe ordem no país, pelo menos na mesa. Pouco antes das 3h, no restaurante indicado pela irma do Nico via telefone, babando nos pratos vermelhos das mocas sentadas no alpendre, perguntamos ao maitrê se a cozinha tava aberta. "Chiuso." COMO ASSIM?! Estamos na Itália my friend, os restaurantes nao fecham nunca. Engano nosso. Ficamos babando e sem o spaguetti. O jeito foi apelar pra uns paninnis e suco num café da esquina.
Na volta, percebi o erro de trajeto. Bologna fica a sudoeste de Parma enquanto que Milano ao norte. Sentei a bota mais uma vez já que corríamos o risco de perder o vôo de volta pra Düsseldorf. Devolvi o carro na Avis à 300 km/h e corri pro terminal. Pra alívio mútuo, tava atrasado.
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