Tuesday, April 26, 2011

Quem sofre mais?!

Düsseldorf (por enquanto fico aqui)

Durante as férias na terrinha sempre escuto alguém perguntar "Ah, mas como você consegue morar na Europa. Tanto frio, pessoas idem. Vocês devem sofrer muito."

Viajamos pra Normandia na Páscoa. Nas estradas francesas o limite máximo de velocidade é de 130 km/h. Antes de um trecho perigoso seguido de radar, uma placa dizia:

Este trecho teve 48 acidentes.
Dirija com cuidado.
Diminua a velocidade.

No início achei até grande a quantidade de batidas, mas só na terceira placa é que percebi o "De 2004 a 2010" no alto.

Ao ler a notícia abaixo, publicada hoje na maioria dos pasquins brasileiros, eu me/te pergunto: quem sofre mais?!

Somente nas estradas federais, 175 pessoas morreram e 2.274 ficaram feridas durante o feriadão da Semana Santa, informou a Polícia Rodoviária Federal. Na comparação com o carnaval, houve redução de 18% no número de mortes e de 7% no de feridos. Mas, em relação à Semana Santa de 2010, a média diária de mortes subiu de 28,5 para 31. Foram registrados nada menos que 3.861 acidentes em seis dias. Nas estradas estaduais do Rio, os feridos aumentaram 111 % em relação à Semana Santa de 2010.




E o jornal ainda tem a cara de pau de comparar o Carnaval, feriado de maior duracao, com a Semana Santa e cuspir números totalmente inconclusivos.

Desembolando cadarços

Düsseldorf (Naja é o nome dela)

Os refratários estao acabando comigo..., but Time is on my side, yes it is!

Sunday, April 17, 2011

Ainda os Caes

Düsseldorf (HKM amanha cedinho)

Após o sucesso da homenagem aos caes de Lagoa, publico licoes dadas pelos caes gentilmente enviadas pelo sr. Leozinho Fonseca, possuidor de uma frota de mini-cachorros.

Como a própria imagem diz: "E nós precisamos aprender isto com um animal que dizem ser irracional!"

Clique na imagem para ampliar.

Malaysia 2011 - Corrida maluca

Düsseldorf (strogonoff ou bolognese?!)


Como estava curtindo uma ressaca de várias doses de Mirabelle - licor luxemburguês - sorvidas no Café des Artistes em pleno Grunge, domingo passado nao tive fígado pra escrever sobre a corrida. Assisti sim, com um olho na tela e o outro no copo de Alka Seltzer, ou alcacelso. Assim sendo, segue a resenha com uma semana de atraso.

Sepang assistiu muitas ultrapassagens e batalhas interessantes. Kobayashi x Schumacher, Webber x Massa e depois contra Heidfeld que brigou com Hamilton que por sua vez tentou se defender de Alonso e conseguiu. Mas ambos foram punidos por excesso de agressividade, talvez. Ou por tentarem brigar por uma posicao sem a ajuda da famigerada asa traseira móvel que teimou em nao funcionar na Ferrari do espanhol. Resultado: se tocaram, Alonsito perdeu parte da asa dianteira e foi obrigado a fazer uma parada extra. Lewis gastou demais os pneus e, obrigado a parar também colocando gomas novas, perdeu um pódio que parecia garantido.

A combinacao de pneus que se desgastam rápido + KERS + asa traseira móvel inventada por Ecclestone e FIA mostraram o ar da graca nos presenteando com muita movimentacao na pista e nos boxes. Pra quem reclamava das procissoes de antigamente onde nada acontecia essa corrida foi uma catarse. Mas será que foi tao boa assim?!

Quando um piloto mais rápido se aproxima do mais lento com pneus gastos, este recolhe a barata para um providencial pit stop deixando o veloz oponente a ver navios. Depois a história se repete invertendo os papéis. Mas piloto que sabe gastar menos a borracha e equipe com estrategistas pensantes podem fazer a diferenca ao longo da temporada.

Vettel meteu 2x0 na concorrência com um KERS ainda nao desenvolvido. Imaginem quando tiver tudo funcionando perfeitamente nos touros vermelhos?! Button foi o melhor do resto chegando em 2° e o cara-de-castor Heidfeld, gracas a uma fantástica largada, beliscou o 3° lugar do pódio.

Massa chegou na frente do espanhol, finalmente. E Rubinho abandonou dizendo-se decepcionado com mais uma expectativa mal calculada.



© xpb

Monday, April 11, 2011

Bueiros

Düsseldorf (IKEA cansa...)

Antes de falar sobre Formula 1, vamos dar continuidade à série iniciada aqui. Outro dia vi numa revista da TAM, se nao me engano, um fotógrafo que fez exposicao de fotos das bocas de lobo clicadas pelo Mundo. O safado roubou minha idéia.

Fomos a Bologna na volta duma viagem para Parma. Ela com seu sapatinha vermelho, uma graca, fora convidada pela associacao dos jovens advogados para o evento. Visitas guiadas às fazendas de producao do famoso prociutto crudo di Parma, degustacao dos mesmos acompanhado do Parmiggiano da regiao de Emilia-Romana, jantares, etc. Acho que havia algumas palestras na programacao, mas ninguém percebeu. Me lembro de um show de jazz num hotel famoso por lá.


Fato é que eu estava a trabalho no Brasil. Chegaria sábado de manha em Düsseldorf e a tarde pularia num cilindro voador pra Milano. De lá alugaria um carrinho, dei sorte e peguei uma Alfa MiTo e nos encontrariamos em Parma. Tudo certo, pra variar, e bora desbravar a cidade. Linda e charmosa, melhor que o esperado. No fim da tarde vi um monte de carros antigos passando no cacete pelas ruelas da cidade. Perguntei e me disseram que era uma etapa da Mille Miglia, uma das corridas mais tradicionais da Itália e do Mundo. Os apaixonados por corridas e carros antigos sabem bem o que representa a Miglia. Senhores vestindo capacetes de couro com óculos de natacao típico dos pilotos de antigamente rasgavam a cidade sorrindo como criancas no Natal após abrir o presente. Sinceramente, fiquei com inveja. E das ruins, queria ser um deles. Um dia, quem sabe!

Parma tem um centro bem conservado apinhado de restaurantes, pessoas sentadas ao ar livre nas áreas piétonne sempre características das cidades européias e aquele burburinho de cidade italiana com pessoas falando alto, seja no restaurante ou no celular, sorrisos aqui e ali, amigos se encontrando, turistas felizes por participarem da festa, criancas, muitas criancas. Impressionante como italiano fala ao telefone. Sao apaixonados pelo aparelho. Acho que morreriam se o chip desse pau ou o ficassem "fora de área". Acabo de me lembrar que provamos carne de cavalo. Na verdade, carne crua do equino. Bem temperada, dentro de um paozinho, mandei ver no paninni a la horse. Nao tem nada de mais, parece uma carne moída crua de boa qualidade, mas é esquisito. Como o sanduba era imenso, larguei metade no imundo balcao. Pelo menos a torta de alcachovra e queijos tava fabulosa.

Havia um advogado mais velho na turma, de uns 45 anos, filhinho de papai até hoje. Um débil mental completo. Tinha cara de doido, usava um óculos gigante, nao falava coisa com coisa, entrava no táxi italiano e falava em francês com o motorista. Imaginem a figura. Depois de um jantar com danca, grapa e tudo, resolvemos esticar pra boate. E o demente liderando a trupe. Entramos no táxi e a cena acima aconteceu. Na gandaia, arrumamos mesa e ele pede champagne com faíscas pra aparecer. Fiquei no meu whisky, só observando. É desses caras que nao tem amigos, faz de tudo pra comprar uma companhia e acha que amizades sólidas acontecem da noite para o dia.

Fizemos como manda o Leao da Montanha e nos mandamos pela esquerda. No estacionamento, um casal de italianos se dirigia ao carro. A idéia era pegar um táxi pro hotel, mas nenhum parava. Típico da Itália. Na cara de pau pedimos carona ao casal que disse sim imediatamente. Descobrimos que haviam ido ao Brasil, amavam os brasileiros, samba, caipirinha, Pato, Ronaldinho, etc. Simpáticos os dois, e bem chumbados. Mas ele dirigia sem culpa alguma.

No dia seguinte o plano era bater perna pela cidade e sair na hora do almoco pra Bologna. Sem olhar o mapa, achei que ficava entre Parma e Milano. Entramos na Autoestrada e mandei a botina no carrinho esperto. MiTo é o nome dele, Milano Torino. Nas ruelas de Bologna foi difícil achar vaga, mas como diz meu amigo Darcy que tem uma agência de turismo em Roma, na Itália nao existem vagas e sim interpretacoes de espacos vazios. Se você acha que ali cabe o seu carro, aquele lugar automaticamente se transforma numa vaga. Darcy com seu Cinquecento 1967 nunca teve problemas de interpretacao.

Bem, queriamos comer um spaguetti a bolognesa, o legítimo. Acontece que na Itália, na maioria das cidades, depois das 2 e meia da tarde os restaurantes fecham e só reabrem para o jantar às 7h. Cumprem isso à risca, por incrível que pareca. Existe ordem no país, pelo menos na mesa. Pouco antes das 3h, no restaurante indicado pela irma do Nico via telefone, babando nos pratos vermelhos das mocas sentadas no alpendre, perguntamos ao maitrê se a cozinha tava aberta. "Chiuso." COMO ASSIM?! Estamos na Itália my friend, os restaurantes nao fecham nunca. Engano nosso. Ficamos babando e sem o spaguetti. O jeito foi apelar pra uns paninnis e suco num café da esquina.

Na volta, percebi o erro de trajeto. Bologna fica a sudoeste de Parma enquanto que Milano ao norte. Sentei a bota mais uma vez já que corríamos o risco de perder o vôo de volta pra Düsseldorf. Devolvi o carro na Avis à 300 km/h e corri pro terminal. Pra alívio mútuo, tava atrasado.

Saturday, April 09, 2011

Malaysia 2011 - Qualifying

Grao Ducado de Luxemburgo (Metz logo mais)

Iniciando as transmissoes da Formula 1, falando ao vivo de Luxemburgo ouvindo o sino da igreja ao fundo. Vettel almocou a concorrência com autoridade em Sepang agora hà pouco. Sebastien ficou distante do topo durante todo o treino classificatório, mas na hora H deu o bote e tomou a pole de Hamilton, o segundo.

As McLaren vieram fortes desde o inicio. No Q2 Button fez um tempo inatingivel até mesmo por Lewis, mas acabou decepcionando no final ficando com o 4° lugar. Mark Webber, mais uma vez vencido pelo companheiro de Red Bull, parte em terceiro.

A briga entre as duas equipes promete. Estrategia de corrida, número de trocas de pneu, e principalmente o piloto que menos desgastar a borracha, alem da largada irao definir o vencedor. Button leva vantagem por cuidar melhor do carro levando-o inteiro até o fim, mas nessas horas a agressividade nata de Vettel e Hamilton é que faz a diferenca. Webber vai ficar pra trás, acho eu.

O resto fará figuracao de luxo. Alonso se esguelará pra manter o quinto lugar e se as Renaults apresentarem bom ritmo de corrida a coisa complica para o espanhol. Especialmente se um certo russo resolver partir pra cima. O asturiano parte em 5° ao lado do cara-de-castor Heidfeld. Massa, mais uma vez a trás do companheiro, sai em sétimo com Petrov em 8°. Fechando os dez primeiros, Rosberg e Kobayashi.

Schumacher deveria pedir logo seu FGTS e se mandar. Eliminado no Q2, parte em 11°. Antes a desculpa era que o carro de 2010 tinha sido feito ao gosto do Button. Depois dizia estar fora de forma. Os pneus Bridgestone nao aqueciam o suficiente. E agora?! Rosberg 2x0 Schummy. Os outros cortados foram Buemi, Alguersuari, Di Resta, Barrichello, Pérez e Sutil. As Williams nunca andam bem em Sepang. Buemi se firmando como nr. 1 na Toro Rosso e destaque para Di Resta colocando Sutil no bolso pela segunda vez.

No Q1 Maldonado fez companhia aos cortados de sempre, Lotus, Virgin e as carroças da Hispania.

Esses treinos classificatórios já foram bem mais emocionantes. Assisti pela BBC com comentários de Eddie Jordan e David Couthard. Ronronando no sofá ao meu lado, Ela vira e sentencia: "Nao sei como voce consegue achar graca nessas coisas."

Espero que a corrida seja melhor e meu xará Sao Pedro faca sua parte. Meu palpite é vitória de Vettel seguido por Hamilton e Button.

Friday, April 08, 2011

O Quinto Elemento

Düsseldorf (vai em Paz, amigo)

Coincidências do destino?! Puro acaso?! Falta de sorte ou de cuidado?! Fato é que nunca consegui ter um cachorro que morresse de velho. Como nao acredito em coincidências nem no destino, sou um cara de sorte e os caes lá de casa sempre foram tratados a pao de ló, prefiro pensar no Sr. Acaso como explicacao para mais um que se vai. O quinto elemento.

Primeiro foi a Tiane, mezzo dálmata mezzo Akita, aquela raca perigosa japonesa. Era pequenina, branca com as pintinhas características dos dálmatas, mas com algumas pernas pretas. Parecia estar usando uma calca negra colada ao corpo. Chegou de mansinho, no colo do Rato, como experiência. Ficou quase dez anos entre tantas idas e vindas da Pampulha pra Lagoa Santa até que fixou residência definitivamente na última por gostar da casa e do clima ameno da regiao. Fazia bem ao seu pelo e humor. Ia nos meus pés e do vovô Pedro, no banco da frente na Belina apertada do Guidao. A de número 3, cor champagne. Vovô ás vezes reclamava, mas no fundo gostava da cadelinha. Era espertíssima. Vivia cavando buracos nos taludes de grama. Deveria ser engenheira do metrô de SP tamanhos foram os túneis cavados. Vivia sozinha e feliz nos seus 5.350 metros quadrados até que... resolveu pular a cerca, literalmente. Conheceu Peter, um Weimaraner morador da rua C na casa do Fernando Lana. Ao vê-lo nao teve dúvidas. Forneceu sem dó ali na cerca de arame mesmo para delirio próprio e de seus donos.

A ninhada foi de quatro cachorrinhos, todos pretos. Ficamos com dois e demos a outra metade para Maria Lia, uma veterinária da cidade. Luan era o mais forte e sapeca dos pequenos. Parecia sorrir o tempo todo. Uli era uma bela cadelinha que fico pra fazer companhia ao irmao. Por obra do acaso, Uli foi deixada na clínica da Maria para exames. No dia seguinte recemos a notícia de que havia fugido do canil. Indignados, minha irma Helena, eu, Lucas, Marcos e Daniel, rotulamos Maria Lia de ladra profissional de cadelas e a chamamos várias vezes de filha da puta. Luan ficou e fez um par perfeito com a mae Tiane. Eram unha e carne. O filhote cresceu bem mais que a mae, mas esta nunca perdeu a autoridade. Ele era agressivo às vezes e metia medo em todos. Galopava garbosamente pelo gramado, saltava taludes com maestria, ajudava Tiane a cavar túneis ainda mais profundos, caçava gambás, aves e qualquer outro animal que ousasse atravessar seu campo de visao. A mistura de três raças, metade Dálmata com Akita e o resto Weimaraner o transformara num espécime de rara beleza. Era tao companheiro da mae que numa ocasiao, provocados pelas galinhas do vizinho cujo galinheiro fazia divisa com os fundos do nosso sítio, escalaram a cerca de arame caindo lá dentro prontos pra iniciar o massacre. O único galo foi polpado. Duas galinhas pularam para o nosso terreno e foram resgatadas há tempo. O telefonema do caseiro no dia seguinte sentenciou: "Dotô Guido, foram 18 galinhas garnizé, de raça. E o Sinhô vai ter que pagar." Nao teve jeito mesmo. Prejuízo contabilizado, cerca de seguranca entre o galinheiro e nossa propriedade construída, telas proibindo a escalada dos caes assassinos instaladas do nosso lado e a paz reinou novamente. Mas, por pouco tempo. Meses depois, talvez provocados pelo galo Highlander ou simplesmente atiçados por seus instintos caçadores, Tiane e Luan partiram pra mais uma aventura. Dessa vez nao escalaram a cerca. Fizeram um buraco sob a base de concreto já saindo dentro do terreno inimigo. Como ladroes assantando bancos escavando túneis até debaixo do cofre ou escapando de prisoes. Dessa vez o galo sobrou. Resultado: 1 galo e outras 21 galinhas de raça. Mas dessa vez Guidao argumentou que a provocaçao foi demais. Que as galinhas ficavam saracoteando pelo terreno, olhando maliciosamente, dando tchauzinho pra Tiane, jogando beijos pro Luan. E que o galo ficava pulando e ciscando, fechando a guarda com as asas em punho chamando pra briga. Claro, protegidos do inimigo. Acabou ficando por isso mesmo e o dono resolveu desativar o galinheiro, ou melhor, o Auschwitz galináceo. A implacável leishmaniose pegou os dois, como se fosse uma vingança tardia do mundo das aves. Foram para o sacrifício já que a doença nao tinha cura. Emagreceram muito antes de partir, mas nao teve jeito.

Luna, uma Dálmata puro sangue, surgiu escorregando as patinhas no piso sintecado da rua da Bahia logo em seguida. Leocádio presenteou Helena para que ela esquecesse, ou pelo menos amenizasse o sentimento de perda em dose dupla. Foi cedo pra Lagoa, nao cavou túneis nem matou galinhas, mas adorava a piscina. Quando via alguém dentro ela pulava sozinha, sem ser convidada. Nao soltava muitos pelos e era exímia nadadora. Fazia 100 mts craw em 45:34s no cronômetro. Se nascesse em Waikiki seria surfista do WCT. Fosse em Brisbane seria mergulhadora guia na Grande Barreira de Corais. E se nascesse em Gênova no final do século XV seria a cadela de estimacao de Colombo e teria vindo descobrir a América. Mas a famigerada leishmaniose atacou novamente. Sem choro nem vela, já muito debilitada e magra, Luna caminhou para o cadafalso já sabendo o que lhe aguardava. Deu o último ganido antes do alçapao se abri e partiu.

Angus Young inaugurou a série Dog 'n' Roll lá em casa. Trazido de uma fazenda sendo desmamado e separado brutalmente se seus irmaos, adaptou-se facilmente ao modus operandi do sítio. O Rato queria um labrador e assim foi. De cor marrom chocolate, robusto e pesado, mas ao mesmo tempo rápido e dócil, conquistava a todos com facilidade. Nao metia tanto medo quanto o Luan, mas fazia às vezes de cao de guarda. Conviveu harmoniosamente com a Luna sem importuná-la sexualmente. Há quem desconfiasse de sua sexualidade, mas nunca deu muita bola para seus críticos. Fazia tipo de intelectual com seu olhar cabisbaixo e amigo. Se pusesse um óculos e erguesse as patas dianteiras todos pensariam que uma aula estaria para começar. Como era bom ficar sentado passando os pés em sua barriga peluda e macia. Ele adorava. Mas, adivinhem quem veio buscá-lo?! Ainda na era onde as vacinas nao existiam, ou nosso veterinário Camilo nao as possuia, Dona Leishmaniose passou pra levar mais um. Como num ritual que se repetia de tempos em tempos dessa vez optamos pela guilhotina. Mais rápido e indolor com menos tempo para firulas sentimentais. Na praca principal de Lagoa Santa, após convocacao em massa pelo prefeito Genesco e seus asseclas, Angus foi sacrificado numa nublada e fria tarde de sábado. Enterrado nos fundos do lote, foi fazer companhia aos outros três.

Mas o Led nao. Vacinado contra a fatídica doença ele havia quebrado a escrita. Estava livre pra viver 12, 15, quem sabe 17 anos na melhor das hipóteses. Mas Leonardo Zeppelin de Souza e Silva, seu nome de batismo, sucumbiu hoje às 10: 23 horas de Brasília na Rua D 1730 mantendo uma sina inexplicável até hoje. Apareceu com uns caroços no corpo pouco mais de um mês atrás. Camilo o operou sem nem mesmo saber se era necessário. Descobriu-se ser uma espécie de micose rara e contagiosa só encontrada até hoje nos monges manetas do Nepal. As feridas voltaram, sangue esguichando de seu moribundo corpo, dores insuportáveis o acometeram, fraqueza nas juntas e nos membros, depressao. Havia a possibilidade de se tentar um tratamento, mas sem garantia de sucesso. As condiçoes clínicas dele nao permitiram. O melhor a ser feito, racionalmente falando, era sacrificá-lo. Poderíamos tê-lo mandando para Houston visando um tratamento de alto nível com as melhores técnicas da medicina canina disponíveis, equipamentos de última geracao e drogas reçém desenvolvidas ainda em fase de testes. Mas a embaixada americana na rua México no centro do Rio negou o visto dizendo ser doença contagiosa. Era a última esperança.

Led Zeppelin era um pastor alemao tradicional. Foi comprado por R$ 150 nas maos do Zé Luis, pai de Quinho. Fui pessoalmente entregar o dinheiro e buscá-lo. Era uma bolinha de pelo amarelado e preto. Ficou algumas semanas na rua da Bahia, na área de serviço que virou canil improvisado. Corria pelo sinteco escorregando e patinando com humor. O consumo de leite se elevou, os espaços diminuiram e chegou a hora de levá-lo pra Lagoa Santa. Lá chegando tomou conta facilmente do ambiente. Aguinaldo, o caseiro, era seu par constante. Amigos inseparáveis, o que mais o aproveitou. Rápido e rasteiro, tinha movimentos frios e calculados como um lobo. Nao fazia muito esforço pra correr nem saltar. Comia de tudo, fazia charme pra ganhar carinho, latia com força, mas abaixava as orelhas imediatamente após reconhecer os donos. Deitava no chao pedindo carinho no pescoço, no peito e na barriga. Detestava a piscina, mas tomava banho sem dramas. Tinha seu canto com água raçao, nao haviam galinhas provocantes do outro lado e achava uma imbecilidade ficar perdendo tempo cavando buracos sem fim. Nunca teve curiosidade de conhecer o Japao, ao contrário da Tiane. Leu os clássicos ainda na adolescência: Dickens, Joyce, Proust, Sthendal, Tólstoi, Hemingway, Goethe, Kant . Seu preferido era Schopenhauer. Latia frases filosóficas que ninguém entendia. Comia manga pensando no sentido da Vida. Deitava-se de cao largado no topo de um talude suspirando pessimistamente. Sabia que um dia sua hora iria chegar. Olhou calmamente para o vidro de stricnina já sabendo o que lhe esperava. Seu último desejo foi uma costeleta de cordeiro com molho de menta e um pudim de leite condensado. Camilo o chamou e ele atendeu. Deitou-se no chao, fechou os olhos e pensou: "Será que lá no céu dos cachorros eu vou rever o Guidao?!" Dormiu e flutuou pelas nuvens.

Thursday, April 07, 2011

Bier Cool

Düsseldorf (o famoso Denny)

Antes de falar sobre o Led recomendo o blog Bier Cool de um ex-colega da PUC e agora amigo Denny. Ele sempre esteve conectado à Confraria dos Engos através do Leo Kroc, meu único leitor. Fizemos várias votacoes para decidir se o Denny entrava ou nao para o grupo e nunca chegamos a um resultado. O problema é que sempre chapavamos demais e ninguém conseguia contar os votos.

O único a conseguir tal facanha, a de entrar pra Confraria, atende pelo nome de Cascao, vulgo Homem Lata. E na turma é chamado de PenetrEngo justamente por ter sido o último. Anda meio sumido e cogita-se expulsá-lo duma vez por todas abrindo espaco para outro Engo. Quem sabe o Denny dessa vez.

Bem, o blog dele é sobre cerveja. Comecou com o livro "Larousse das Cervejas" que ele viu na casa dum amigo. A esperta e observadora esposa o presenteou alguns meses depois. Resultado: tá virando expert em cerva, fazendo amigos a rodo e comendo do bom e do melhor.

Como morador da Alemanha fiz a minha parte contando um pouquinho sobre as marcas daqui e da cerveja tipo Alt. As principais marcas de massa sao a Frankenheimer e a Schlössel. Mas as tradicionais Brauereien (cervejarias) da cidade sao quatro: Füchschen (raposinha) com um site doida e colorido, Schumacher (nada a ver com o piloto), Zum Schlüssel (chave) e Ueriger, a mais tradicional e amarga delas.


As comidas servidas nesses lugares sao fabulosas. Nem passe perto se você é vegetariano ou tá fazendo regime. Se você é o Obelix ou tem o mesmo comportamento dele, entre correndo e antes de sentar pegue um copo. Joelho de porco assado ou cozido, Kasseler, vários tipos de carne de porco, Frikadelles (espécie de bolinho de carne moída) e qualquer salsichao acompanhado da fantástica mostarda da cidade é uma maravilha.

Na saída, peca um Killepitsch como digestivo e volte pra casa com um sorriso estampado no rosto que vai durar até a manha seguinte.

Ah, tava esquecendo da rivalidade entre Düsseldorf e Köln (Colônia). A primeira é a capital do estado da Renânia do Norte e Westfália (NRW) e a segunda a maior cidade possuindo uma das maiores catedrais do Mundo, o Kölner Dom. Acontece que os habitantes da Colonia Claudia Ara Agrippinensium, antiga cidadela romana a beira do rio Reno, só bebem a famigerada Kölsch bier. Eu prefiro as Alt, já que a outra é muito aguada. Gosto nao se discute. Mas outro dia ouvi uma piada com essa cerveja, em inglês:

Which is the similarity between Kölsch bier and to make love in a canoe?!
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It's fucking close to the water...