Wednesday, January 20, 2010

Charlotte + New York

Essen-Burgaltendorf (45’ mit frisch und kalt Luft laufen)

Já era pra eu ter escrito algo sobre a viagem para New York. Peço desculpas aos meus dois leitores, mas a falta de um laptop ou mesmo de um netbook durante a viagem foi a causa principal. Isso será resolvido em breve.

Nossa memória é composta de varias camadas que vão se sobrepondo na medida em que vivemos novas experiências e aventuras. Sejam boas ou ruins. Contar sobre o dia 20 ou 21 de Dezembro de 2009 hoje não é a mesma coisa que escrever a noite, no calor dos acontecimentos. Perdem-se muitos detalhes, mas com a ajuda das varias fotos que tanto tiro, fica mais fácil.

A epopéia da ida agora se resume apenas numa lembrança dos fatos ocorridos como o dia 20 Dez inteiro vivido no aeroporto de Köln junto com cento e poucas pessoas. As crianças brincando o tempo todo, incansáveis, achando a situação maravilhosa, explorando o novo e gigantesco território próximo ao portão D22, assistindo a um providencial DVD que algum pai preparado trouxe na bagagem e esgotando a energia de todos, menos deles mesmos. Ao saber que não voaríamos mais no domingo 20, fomos todos buscar as bagagens nas esteiras pela segunda vez no dia. Lembro-me da loirinha de 6 ou 7 anos observar algo vindo na esteira. Todos cansados, loucos pra pegar o segundo ônibus do dia e ir para o hotel comer algo e tentar descansar, mas a loirinha aguardava algo. Era um pedaço de gelo que se desprendeu de alguma bagagem e vinha solto na esteira. Ela o pegou calmamente, ergueu seu braço com o gelo como se fosse um troféu e, sorrindo, o mostrou aos pais. Deram muito pouca atenção, mas pra ela era talvez o clímax daquele dia interminável. Como a Juju diz, criança é a melhor coisa do Mundo.

21. Dez 2009 - Monday
De volta ao aeroporto, todos ao guichê pra fazer o terceiro check-in em dois dias. Impressionante como algumas pessoas são impacientes, especialmente os alemães. Querem fazer tudo rápido, pensando na produtividade sempre. Correm pra fila, esperam 40’ em pé ate que alguém da Aer Lingus aparece para iniciar as atividades. Enquanto isso, Amoré e eu líamos nossos livros sentados aguardando calmamente.

Embarcamos, o avião finalmente taxiou na pista e... decolamos mais de 24 horas depois. Aplausos na decolagem pela primeira vez na Vida. Já em Dublin, conseguimos embarcar pros States na ultima hora e no vôo do mesmo horário do dia anterior, só que com uma hora e meia de atraso. Que foi fatal, pois ao chegarmos a NYC as 19:30 locais, nosso avião das 18:00 já havia saído, mesmo com um atraso de hora e pouco. Resultado: dormir em NYC. A simpática atendente da USAirways recomendou para que voltássemos no dia seguinte as cinco da matina pra tentar pegar o vôo das 6:30am para Charlotte. La na Carolina do Norte moram os Degulhos, proeminente família anglo-brasileira e motivo de nossa visita. Cinco da matina é o cara..., pensei. Vamos dormir e voltar quando der.



Por sorte, a Caroline, nossa cicerone e anfitriã na capital do Mundo, nos recebeu em seu apartamento no Lower East Side para o pernoite. Me comuniquei com o patriarca dos Degulhos e pedi instruções de como proceder. Newark seria o destino do dia seguinte. De lá saem seis vôos diários pra Charlotte ao contrario dos três que partem do JFK, vulgo Kennedy Airport.

22 Dez 2009 – Tuesday
Antes de seguir para o aeroporto de Newark, resolvemos fazer um reconhecimento da área. Saímos em busca de um café estilo Starbucks.

(Jamais entro nessas porcarias aqui na Europa, mas uma vez estando no país deles, resolvi seguir o American Way. Sempre faço isso nos países em que visito e funciona bem. Ajuda a entender a sociedade e a cultura do lugar).

Andamos um quarteirão e, de repente, tudo escrito em chinês. Olho para o lado e vejo uma chinesa jovem e uma senhora. Andamos mais um pouco e as placas em mandarim aumentam de quantidade, assim como o numero de pessoas. Todos chineses. Não vi um americano sequer. A única indicação de estar em New York eram algumas inscrições em inglês e a placa dos carros. Bem vindo a Chinatown. Uma zona. Lixo espalhado por todos os lados (não só lá, mas em varias partes da cidade também), chineses vendendo de tudo, mas principalmente comida. Verduras, legumes, frutos do mar e coisas estranhas que nunca havia visto. Acho que comem de tudo. Sem preconceito ou racismo, pareciam ratos saindo de vários buracos. Aparecendo e sumindo numa rapidez impressionante.

Fazia sol e um pouco de neve descansava nos cantos das ruas e calcadas. Mais uma quadra e vejo um prédio enorme do HSBC. Depois fiquei sabendo que é a sede do banco em NY. Andando pela Pearl Street sem mapa ou qualquer outra indicação, chegamos numa praça onde fica a City Hall, ou prefeitura. Depois vi no mapa que o centro financeiro estava logo ali, e o local onde ficavam as torres gêmeas, Ground Zero agora, era um pouco mais adiante. Um prédio bonito da Woolworth me chamou a atenção.

Encontramos o bendito Starbucks para o desjejum. Já sentados, começando a comer e beber, reparo num ser sentado num banco com uma bancada virada pra janela da rua. Falava em francês. Vários papéis espalhados na mesa, uma mão no ouvido e o capuz do casaco sobre a cabeça. Estava suja, fumava sem parar e não fazia silencio em momento algum. Não incomodava, mas chamava a atenção.

(Neste exato momento começa a tocar a musica Empire State of Mind, com o Jay-Z e Alicia Keys. É só clicar ai embaixo).



No ultimo dia da viagem, dia 6 Jan 2010, voltamos nessa mesma rua pra comprar um Xbox pro Rato meu irmão na J&R. Recomendação do Sr. Garcia, de quem falarei em breve. Ela não teve paciência para me acompanhar e ficou no mesmo Starbucks bebericando um arábico e sentada ao lado da personagem francesa. Fazia exatamente a mesma coisa, do mesmo jeito, no mesmo horário, provavelmente.

Tenho medo dessas coincidências. Podem significar o fechamento de um ciclo ou dizer que aquela viagem teve um inicio, meio e se aproximava do fim. Fim de ciclo este relacionado com o avião que pegaríamos logo a seguir. Sobre meu medo de avião, já falei aqui. Não passa de bobagens criadas pela nossa mente maluca.



Bem, resumindo essa longa historia, voltamos pra casa passando por baixo da Brooklyn Bridge, pegamos a mala, e depois um taxi ate a Penn Station. De lá partiria o trem para o aeroporto de Newark. Bonita a estação, me surpreendeu. Ali ao lado fica o Madison Square Garden, mas nem reparei nesse dia. O cansaço e stress não permitiram. Já no aeroporto, um dos seis vôos havia saído e outro cancelado. Todos os passageiros seriam distribuídos nos quatro restantes. Nossas pequenas chances só diminuíam. Chegamos a fazer check-in, despachar a mala após pagar absurdos $25, passar pelo controle, chegar na boca do portão e não entrar no cilindro voador. Pegamos a mala de volta (era um standby check-in, muito prazer) e desistimos de voar. Quase cancelamos a ida para Charlotte e o natal com os Degulhos.

Vamos comer?! T.G.I. Friday’s, why not?! Ta na chuva é pra se queimar. Consultei a Amtrak sobre os trens e o próximo sairia dia 25 pela manha. Alugar um carro seria a ultima opção, Dirigir dez horas ate Charlotte também. Após negociar um Mazda 5 por um #6 com GPS, saímos as 5:30pm de Newark rumo a North Carolina. Peguei o caminho errado, pra variar, e perdemos mais uns bons vinte minutos.

Queria levar ate o destino final. Questão de honra. Mas as mulheres, sempre sensatas e ponderadas, dão conselhos precisos nas horas necessitadas. “Amore, por que não dormimos no caminho e continuamos amanha?! Você ta cansado. A gente descansa e amanha viaja de dia vendo a paisagem, pelo menos.” Okay, você venceu.

Vimos o Capitólio de soslaio ao entrar em Washington D.C. (apenas DC nos USA) seguindo as orientações da moca do GPS. Meio anarfa ela. Todas as vezes que a desobedeci, me dei bem. Passamos Richmond e achamos um Best Western na estrada. Esses hotéis/motéis como nos filmes, com os quartos do lado de fora, no estacionamento. Banho quente, cama confortável, A Fantástica Fabrica de Chocolate “Wonka” passando na TV. (Às vezes me assusto com minha memória.) É, ela tinha razão. Mais uma vez.

23 Dez 2009 – Wednesday
O café da manha foi uma aventura de criança. Quanta coisa diferente. A comida americana é um lixo. Como se alimentam tão mal assim?! Não é coincidência o país ter tantas baleias e leitões se arrastando por ai. Consegui fazer uma torrada e achei um Filadélfia, ou Philadelphia. Suco de laranja, ou um xarope com esse sabor, um café terrível e ovos cozidos. Não tinha queijo nem presunto. Ela se virou com um chá, torradas, o ovo e geléias. Ate o iogurte era intragável. Tudo doce demais, grande demais. Exagerados. Reis do desperdício em todas as áreas.

Degulhos devidamente informados e pé na estrada. Como dirigem mal os americanos. O speed limit de 65 ou 70 milhas faz com que a pista da esquerda não seja usada pelos carros mais rápidos, ao contrario da Alemanha. Um saco manter a velocidade num carro sem piloto automático, mas a paisagem era interessante. Enormes caminhões, camionetes e SUVs colossais dominavam a cena. Carros normais eram menos da metade. Por que será que eles são os maiores poluidores do Planeta?!

Comportamento irritante no inicio, mas depois fui ultrapassando pela direita sem o menor peso na consciência. O carro com placa do Arizona era econômico e a gasolina baratíssima. Quatro vezes mais barata que na Europa. Conseqüência direta na economia dos dois blocos econômicos.



Após duas paradas, compra arrependida dos doces chocolates Hershey’s, biscoitos e água, chegamos a Charlotte. O numero 10312 era o destino final. A matriarca dos Degulhos nos recebeu pronta e alegremente. Nossos aposentos já estavam preparados fazia dois dias. Ansiosos com nossa chegada celebramos com cervejas, conversa boa, um strogonoff delicioso e risadas na mesma proporção. Gastamos três horas para conhecer a residência toda. Impressionante o bom gosto e a decoração. Um estilo de Vida bem diferente do europeu, com suas vantagens e desvantagens. Como tudo na Vida. Gostei muito e fiquei feliz por ter cumprido a missão. A odisséia chegava ao fim três dias e meio depois.

A noite fizemos um passeio pela cidade, ao centro e arredores. Paramos pra exercitar o Capitalismo consumindo e contribuindo para o PIB americano. Em proporção inversa, nosso dinheiro de plástico ganhava Vida própria e começava a implacável dominação. Nunca entrem numa loja chamada Marshalls. Ou entrem sempre que quiserem comprar roupas mais baratas que qualquer outlet. Impressionante. E era só o começo da viagem.

Já em casa, banho e cama.

1 comment:

Anonymous said...

Gostei muito do relato, o Nunca, Jamais irá Slow foi citado somente uma única vez.

Quem seria os outros 2 leitores do blog ?

Ass. Kroc and Never Die