Monday, March 16, 2020

Outras linhas sobre o Coronavirus

Neufeld an der Leitha (a bendita casinha é a salvacao da lavoura!)

Dizem que nos momentos de crise é quando o ser humano se revela. Na Austrália os supermercados estao abrindo mais cedo só para os mais velhos comprarem suas necessidades antes de todo mundo evitando o contato com muita gente. Em UK uma turma se organizou pra fazer compras a quem nao pode ou está impossibilitado. Na Itália a cantoria e as brincadeiras nas sacadas dos edifícios está aliviando a Vida de todos por lá. Sem falar no aviao de especialistas enviado pela China ajudando no combate ao vírus.

E no Brasil?! Bem, em Pindorama o presidente pateta decumpriu recomendacoes de ficar isolado após a viagem aos EUA e saiu ontem abracando e beijando o gado que ainda o apoia. Diz o Estadao que em 58 minutos ele cumprimentou 272 pessoas. Ainda soltou essa: "Quando você proíbe futebol e outras coisas, parte para uma histeria. Proibir isso ou aquilo não vai conter a expansão. Devemos tomar providências, pode se tornar uma questão bastante grave, a do vírus. Mas a economia tem que funcionar porque não podemos ter uma onda de desemprego.” (CNN Brasil)." Belíssimo exemplo. Mais preocupado com a economia do que a saúde da populacao.

Sinceramente, nao sei até quando vai a paciência dos donos do poder no Brasil. Esse sujeito vai terminar sozinho, abracado ao Moro esbravejando contra tudo e todos até espumar e morrer afogado em sua própria saliva.



Mas o que dizer de um país onde os trend topics do Twitter hoje eram sobre o paredao no Big Brother enquanto o mundo inteiro fala do Coronavirus?!

Recebi um email do Uber hoje, em alemao. Esses caras vao quebrar. Quem teria coragem de pegar um Uber com esse vírus aí?! E qual sujeito sairia catando passageiros pela cidade sendo exposto a um risco desnecessário? Sem demanda nao tem oferta e vice-versa. Aqui jaz um modelo de negócios que vinha revolucionando o mundo. Até encontrarem a vacina, a bendita. Dizem que 35 estao sendo testadas e Israel tá na frente. Dizem...

A Uniao Européia decidiu fechar hoje as fronteiras. Alemanha já tinha cerrado tudo do lado oeste, já que o leste estava fechado faz alguns dias. A Áustria já nao recebia trens nem avioes da Itália e na semana passada restringiu a vários outros países. Na sexta quatro russos colegas de trabalho vieram a Viena pra uma reuniao com meu chefe, aquele citado no último post sempre de bem com a Vida e eternamente bem humorado, alheio a tudo isso. Perguntei a ele se tinha feito compras. Me contou que aproveitou a espera no aeroporto pra comprar macarrao. "Só isso?!" perguntei. Ele disse que "sim, só isso." Detalhe: ele tem quatro filhos e o mais novo é um bebê que vai fazer 1 ano.


A partir de hoje, tudo aconteceu hoje, estamos em casa. A recomendacao é sair o mínimo possível. Escolas já estavam fechadas desde a semana passada, mas agora os Kindergarten também. Supermercados, drogarias, farmácias, postos de gasolina, correio, vendas de cigarro e algumas reparticoes públicas funcionam normalmente. Espacos públicos fechados, inclusive parquinhos. Só pode sair de casa quem for trabalhar, e nao puder fazer home office, ou pra fazer compras essenciais, ou ajudar quem precisa. Grupos de 4 pessoas ou mais vistos juntos em espacos públicos serao multados. Quem abrir seu negócio durante a proibicao leva uma paulada de 30.000 EUR no lombo.

Na teoria é uma prisao involuntária, mas na prática nao é bem assim. Se você sair pra correr sozinho ou com sua esposa, por exemplo, sem problemas. Pode passear com a família na natureza, desde que mantenha uma distância de seguranca dos outros. Levar o cachorro pra dar uma volta e fazer suas obrigacoes também é permitido.

Temos uma casa pertinho de um lago a meia hora de Viena. Viemos pra cá na sexta trazendo o essencial. Ontem voltei lá e peguei mais um monte de coisas "essenciais" e fiquei pensando na situacao. Parecia uma fuga ou preparacao pra guerra. Como se fugissemos de um furacao. tsunami ou enchente prestes a acontecer na cidade. Tudo isso com tempo e calma, sem stress pra sair de lá e chegar aqui. Sossegado.

Pensei nos judeus durante a 2a Guerra sendo retirados de casa à forca, enfiados num trem e deportados só com a roupa do corpo. Isso em si já é uma violência e trauma que nao consigo imaginar. Chegando nos campos de concentracao alguns já iam direto pra câmara de gás enquanto os mais fortes e saudáveis iam trabalhar, mas viveriam uma Vida miserável até o fim de seus dias. A morte era um alívio. Estou terminando de ler "Man Searching for a Meaning" do Viktor Frankl, um austríaco que sobreviveu a Auschwitz. Ele era psicólogo e vivia ali na pele a degradacao física e psicológica de cada prisioneiro sabendo a fundo o que cada um vivenciava. Uma aula de sobrevivência e viver o presente.

Hoje sai pra comprar mais coisas "essenciais" sem contar papel higiênico que nao existe mais. Virou artigo de luxo. Uma cagada aqui custa 20 EUR. Em Viena deve ser mais. No supermercado as pessoas se entreolham desconfiadas. Nao olham mais diretamente no olho. Todo mundo é suspeito de um crime. Uma mulher passava a léguas de distância da pessoa mais próxima. Quase saia correndo quando alguém chegava muito perto. Ela mesma me pareceu estranha e portadora do vírus. A compra mais interessante foram sementes de tomate, abobora, basilikum (manjericao), couve e alface, além da terra orgânica. Quem tem uma casinha com terreno ao ar livre tem tudo!!! Os meninos estao adorando mexer na terra. Sem falar que relaxa bastante.

A sábia Mae Natureza parece nos dar uma licao. Resolveu tomar as rédeas da situacao e parar o planeta. Talvez esteja apenas tentando se livrar do seu maior parasita: o homem. Ou pelo menos chacoalhar as estruturas e sistemas existentes mostrando que todo esse individualismo e egoismo, essa busca incessante pela riqueza, felicidade, esbanjacao, tiracao de onda sem fim, e a ganância de um lado e as desigualdades de outro nao podem continuar. Essa economia de morte que exaure os recursos do planeta tem que ser transformada numa economia de Vida. Assim disse John Perkins, ex- assassino econômico a servico dos EUA em seu livro que li recentemente.


A turma toda presa em casa nao terá alternativas. Os casais vao se entender e aprofundar os relacionamentos. Ou entao será uma onda de divórcios em massa. Que assim seja e cada um libere a Vida do outro pra se relacionar com alguém mais interessante ou que encaixe melhor em sua Vida. Pais e maes impacientes vao pirar de vez ou respirar fundo e observar seus filhos. Tentar entender suas demandas. Abracar, dar carinho, beijar, rir das situacoes. Dar banho pode ser uma festa e nao um estorvo. As refeicoes também. As empresas também vao perceber que muita gente consegue ser produtiva trabalhando de casa e podem surgir oportunidades de cortar custos com reunioes e viagens desnecessárias quando a pandemia estiver sob controle.

Ontem eu trouxe o som e todos os livrinhos de músicas clássicas do Gabriel. Agora a pouco ele quis ouvir Schubert. Pulou logo pra faixa 2 "Ave Maria". Nós quatro, eu, Ju, Gabito e Rafael, ficamos dancando ao som dessa música que invade a alma e traz Paz. Sem celular, tv, netflix, nada. Somente nós e a música.



Espero que a maioria das pessoas do mundo facam desse limao uma limonada e saiam revigorados com relacionamentos mais fortes e uma maneira diferente de viver neste planeta único que é a casa de todos nós.

1 comment:

Anonymous said...

Como maior fã do Trutão de todos os tempos posso dizer que esse foi o pior texto até hoje. Tirando a casinha que fiquei curioso, o restante parece copiado e colado do que recebemos no zap.