Thursday, January 20, 2011

Ciúmes

Düsseldorf (tudo comecou com um rascunho)

Texto polêmico abaixo, escrito em Outubro de 2008 e nao finalizado. Rascunhado na Ruhr Universität Bochum antes de subir no comboio. Acho que o escritor temia represálias em casa ou reacoes completamente adversas do esperado. Por isso hesitou em publicá-lo.

Mas agora vai, do jeito que está. Sem choro nem vela. Garanto que se um dia essa idéia vingasse o Mundo nao teria mais guerras... ou acabaria o estoque de camisinhas.


10/10/2008
Bochum (indo pra casa)

Imaginem o Mundo sem o ciúmes. Ciúmes de todos os tipos. Entre casais, entre irmaos, entre colegas de trabalho, entre amigos.

O casamento tradicional nao existiria mais, ou sofreria sérios abalos. O homem tá feliz e tranquilo com a esposa, mas um belo dia, voltando do trabalho, pára no bar pra um choppinho com os amigos. Lá conhecem uma turma de meninas. Uma delas se interessa por ele. Saem juntos depois e consumam o ato. Chega em casa à 1h da matina com a mulher na sala vendo TV. Dá um pulo no pescoco dele, cheia de saudades e preocupacoes. Segue o questionário. Ele dá o relato completo, sem omitir uma linha sequer. Ela pergunta se foi bom, como ela é, o que faz, onde mora, a idade, que roupa usava, etc.. Ele toma um banho enquanto ela aguarda ansiosa na cama pra fazer mais uma saraivada de perguntas. Depois da ducha com um sorriso estampado no rosto, enxuga-se e vai organizando os detalhes para saciar a mulher e enriquecer o relato. E dormem rindo com as comparacoes inevitáveis, mas sempre tentando achar o lado bom da história.

Da mesma forma, num belo dia, essa mesma mulher, que é bela e charmosa por sinal, resolve acompanhar o chefe no almoco. Conversa vai, vinho desce, sobremesa também, resolvem esticar pro motel. Entram às 14h, saem às 17h. Leves, felizes e sorridentes. Ela chega em casa antes dele e prepara um lindo jantar. As criancas logo chegarao, com a velha e boa energia interminável. O marido entra e tira os sapatos. Abre o colarinho depois de tirar a gravata e é recebido com um sorriso enorme da amada. Ela comeca a contar. Ele já abre uma cerveja e vai seguindo atento. Pergunta o que ele fez de diferente ou de melhor. Ela conta, mas também reconhece as qualidades do marido. A intimidade entre eles é infinitamente maior, evidentemente. Mas o elemento-surpresa, a novidade, o território novo e inexplorado tornam tudo interessante. Fora da rotina o Tempo passa mais devagar. Tem-se mais estórias e histórias pra contar.

E assim seguem eles. Experimentando, trocando idéias, sugerindo, concordando e discordando também um do outro. Até que se cansam e resolvem usar o aprendizado entre si. A relacao melhora de uma hora pra outra, como namorados de um mês. Vivem um ciclo de felicidade e satisfacao como nunca experimentados antes. Até que essa curva comeca a descer. A insatisfacao aparece novamente e surge a necessidade de novas experiências, aventuras e personagens.

E como seria a ausência de ciúmes entre amigos?! Os ciclos de amizade seria intermináveis. Onde comeca um terminaria o outro e vice-versa. Será que aquelas confissoes exclusivas, e conselhos na mesma proporcao, existiriam com tanta frequência?! Duvido muito. As trocas de experiências seriam maiores, imagino eu. Da mesma maneira ocorrida com o casal, amigos iriam compartilhar...

Num mundo sem ciúmes, nao existe culpa.

1 comment:

Anonymous said...

Simplesmente péssimo.

Mas assim que é bom.