Beagá (você está sempre sorrindo pra mim)
Guimarães Rosa dizia que as pessoas não morrem, ficam encantadas.
Você Guidão, criador de uma Vida encantadora não poderia fugir dessa frase.
Esteve presente desde os primeiros instantes da minha Vida. Ajudou Janemamãe, minha vó Zuzu e o vovô xará Pedro a me criarem. Me deu os primeiros banhos, me ensinou a dar os primeiros passos. Me lembro nitidamente de quando aprendi a andar de bicicleta ali na Santa Rita Durão. Aquela magrela verde que você segurava no banco e de repente me soltou e segui sozinho.
Na Pampulha a bagunça descendo a rampa de velotrol com meus irmãos, as árvores que subi pra te olhar lá de cima e ver seu olhar orgulhoso. Quantas viagens fizemos juntos ou que você me proporcionou fazer. Aquela a Porto Seguro quando vi o mar pela primeira vez lá do alto num fim de tarde na praia ainda selvagem. Uma cena inesquecível. Depois ao Rio onde fui ao Corcovado pela primeira vez. E as tantas viagens a Joaíma pra visitar Tia Vânia e os primos e amigos. Você criou uma cama na tampa sobre o porta-malas do carro pra nos dar mais conforto, lembra?! Tampa essa que virou tendência obrigatória nos carros de hoje.
Guidão, você foi me ensinando ao longo da Vida conceitos importantes como respeito, admiração, Amor, liberdade, humildade, simplicidade, honestidade, sinceridade, solidariedade entre tantas outras "dades". É difícil medir tudo isso. Só saberei o valor de todos estes ensinamentos ao longo da minha Vida inteira. Em cada situação boa ou ruim que enfrentar você estará ao meu lado me mostrando exatamente o que fazer, como agir.
Você que quase virou padre frequentando o seminário no Rio de Janeiro na rua Almirante Alexandrino entre os 9 e 15 anos, mas graças a Deus desistiu da idéia. Entrou no Maracanã num desses encontros da Igreja Católica levando uma imagem santa. Você tinha apenas 9 aninhos. E depois voltou pra BH se matriculando no Estadual Central aproveitando da liberdade imensa e inédita que o colégio te dava. Caiu na gandaia, seu desempenho escolar foi lá embaixo, mas você percebeu que o caminho certo não era esse. Foi de um extremo ao outro, balançou como um pêndulo até se equilibrar no meio. Talvez isso explique um pouco por que meu comportamento varia entre extremos, do silêncio ao exagero, de 8 a 8000. Você também era um exagerado incorrigível.
Equilíbrio talvez seja a palavra que melhor defina sua personalidade. Equilíbrio pra criar CINCO filhos tão bem criados. Equilíbrio para começar, manter e cultivar um relacionamento com uma pessoa de personalidade tão diferente da sua como Janemamãe. Equilíbrio por estar sempre presente em casa, mesmo sendo um Engenheiro que normalmente viaja muito. Dia desses no hospital, Guidão, você me contava das propostas de trabalho que recebeu para sair de BH, mas recusou todas por que seria bom só pra você e não pra família inteira.
A maior obra que um Homem pode criar é sua família, seus descendentes. É a continuação da sua própria Vida, seus valores, suas crenças e fisicamente a extensão do seu corpo. Somos uma família unida e feliz. Estável, equilibrada, sensata e sábia. Como você, Guidão!
Sta. Rita Durão 1 e 2, Pampulha, Nunes Vieira, Pampulha de novo e rua da Bahia. E passando por Lagoa Santa, sempre. Estes foram nossos lares ao longo dos 36 anos e 10 meses em que tive o privilégio de conviver com você. Ser filho de um mestre é uma dádiva!
Decidi ser Engenheiro Mecânico pra continuar seus passos. Fiz o Doutorado que você tanto me incentivou por que sonhava em morar na Europa. Hoje, por coincidência ou não, vivo na Alemanha trabalhando para e com alemães. Falo o idioma que via e ouvia você falar pensando ser algo impossível de aprender. Te achava e continuo achando um cara genial. Sigo seus passos entre Dusseldorf e Essen a cada manhã quando vou trabalhar. Você, Guidão, que trabalhou para e com os alemães na maior parte da sua carreira. Culturas e idiomas diferentes, maneiras de pensar ou atacar um problema completamente opostas, mas a sabedoria e a diplomacia em lidar com as situações é que fizeram e continuam fazendo a diferença.
Tive o privilégio este ano de estar aqui com você em quatro oportunidades. Nos vimos em Abril durante três semanas. Você me repreendendo, mas ao mesmo tempo rindo por dentro, quando me via chegar do Mercado Central num sábado a tarde chumbado, como você dizia. Depois em Agosto passamos seu aniversário e do Lucas e o dia dos Pais juntos. Vim rapidamente em Setembro, só por uma noite e uma manhã, mas o suficiente pra matar a saudade. Guidão, quando eu ia viajar cedinho você acordava às 4 e meia da manhã só pra fazer café pra mim me acompanhando ali, naqueles momentos silenciosos no escuro da madrugada de uma manhã que ainda demoraria a nascer.
E quando cheguei no dia 30 de Outubro te vi diferente, magro como nunca, meio abalado. Fiquei preocupado, mas achei que você sairia dessa de novo, como sempre saiu. Já dava sinais de que a doença traiçoeira tinha te pegado de vez, mas recusei-me a acreditar. Fui ao Rio dia 04 de Novembro quando você foi internado. Na praia do Leme conversava com Daniel, o Rato, mais um de seus filhos queridos. Eu dizia que você não merecia mais sofrer, que tinha um orgulho imenso de ser seu filho e que sabia do orgulho que você sentia e sente por mim. Já estávamos antevendo o que aconteceria.
Dos dez dias no hospital, dormimos seis noites juntos. Depois de tanto cuidar de mim, o mínimo que eu poderia fazer era retribuir a altura. Vimos TV, jogos do Galo, conversamos, te dei água e outras bebidas, mingau, iogurte e vi você recebendo uma incontável quantidade de remédios: Plasil, Dramin, Nauseadron, Dipirona, Dimorf, nomes que ficarão na minha cabeça ainda um bom tempo. Te dei banho uma manhã. Foi um dos melhores momentos desses 10 dias. Temperei a água quentinha como você gostava, lavei sua cabeça e seu corpo já cansado e diferente. Esfreguei cada canto da sua pele, como você tantas vezes fez em mim. Depois fiz sua barba, com sabão mesmo. Você ficou lindo, Guidão!
Fiz também massagens nas suas costas com a pomada milagrosa do Vovô Pedro e também nos seus pés. Fiquei pensando na infinidade de lugares por onde você andou e pisou, em cada passo que deu pra chegar aonde chegou. Olhei para suas mãos, fortes, lúcidas, hábeis, inteligentes. Nos cálculos que fez como engenheiro, nas palavras que escreveu ou digitou, nos gestos, nas infinitas vezes em que lavou a louça da cozinha, nos consertos das casas, principalmente em Lagoa, nos quilos e malas que carregou, e até nas palmadas que me deu merecidamente.
Na quarta você me deu um susto com aquela dor lancinante na coluna que insistia em ficar. Nem as massagens com a pomada Vovô Pedro adiantaram, mas conseguimos superá-la. Você começou a tremer em seguida morrendo de frio. Estabilizou-se após ser medicado, mas foi assustador.
Na quinta passamos a noite mais tranquila de todas. Você dormiu feito um justo de 20h as 6h do dia seguinte e nem acordava pra receber os remédios na veia. Lembra dos conselhos sobre amizade e liberdade que você deu ao Marcão e a mim?! Jamais esqueceremos.
Na última sexta de sua Vida, o último dia útil da sua carreira, você comentou uma proposta técnica do trabalho orientando o pessoal, como sempre fez. Realmente, Guidão, você cumpriu o prometido: trabalhar até o último dia que conseguisse!
No sábado à noite escutamos juntos o jogo do Galo contra o Flamengo, nosso arqui-rival. Pedi aos deuses do futebol uma última vitória pra você. A cada gol você me perguntava quem tinha feito e vibrava em seguida. Obina, Renan Oliveira, Tardelli e Renan de novo. Goleamos o urubu por 4x1 e as marias perderam roubado no mesmo dia para o Corinthians. Na hora do penalty no Gordo, que me pareceu inexistente, você disse "melhor ainda!" com um sorriso no rosto. Missão cumprida Guidão, mais uma.
Janemamãe me pediu pra ficar naquela noite novamente com você ajudando o Rato. E quando ele chegou pra dormir trazendo um colchonete você perguntou ironicamente se faríamos ali um acampamento. O Rato chegou com a camisa do Galo e te mostrou os gols na internet. Você vibrou mais uma vez. Acho que se sentiu confortável ao ver dois de seus filhos ali com você.
As cenas seguintes durante a noite foram como num teatro. Tudo parecia estar muito bem ensaiado. A cada desconforto que você sentia Guidão, levantávamos prontamente pra te ajudar a sair da cama e se sentar na cadeira. Quinze minutos depois você queria voltar da cadeira pra cama e lá estávamos pra te auxiliar. A verdade Guidão, é que você não tinha mais lugar, não encontrava mais uma posição neste Mundo. Sua respiração ofegante, auxiliada pelo oxigênio, já mostrava que sua alma precisava respirar outros ares. Às duas da manhã você perguntou que horas eram. Respondi e você falou que tava muito cedo. Depois entendi que era cedo demais pra partir. Daria muito trabalho pra todos se fosse naquela hora. Me disse que tinha que ir ao Detran retificar uns documentos. Respondi que era domingo e no dia seguinte feriado. Só assim pra você parar de se preocupar.
Seu intestino já havia parado alguns dias atrás. Depois foi o rim dois dias antes. Quando sua glicemia baixou às 3h da matina e você ganhou uma dose cavalar de glicose comecei a pensar no fígado que estava se desligando. O Dr. Alexandre, na verdade um anjo que veio te buscar, explicava o quadro clínico com clareza e sinceridade, mas sempre escolhendo as palavras certas com uma sensibilidade impressionante. Parecia parte da família. Desconheço o quanto ele sabe de medicina e oncologia, mas de relações humanas, carinho e psicologia é um mestre. Menino novo que vai longe, tenho certeza absoluta.
Às 5h da manhã, finalmente, você encontrou uma posição e dormiu um pouco. Acordou e pediu pra se sentar na cadeira. Quis ir ao banheiro pela última vez e foi caminhando amparado pelo Rato. Se sentou, disse que queria trocar a fralda e o short do pijama. Levantou-se e voltou caminhando pra cama. Subiu com dificuldades, deitou-se ajeitando o calção do pijama e encontrou uma posição confortável rapidamente. Te perguntei se tava tudo bem, se sentia alguma dor. Você disse que não, não sentia nada. Então peguei um copinho da água espiritual que tia Lucy trouxe na sexta e te dei. Falei que te faria bem se bebesse. Foi a última coisa que você bebeu Guidão.
Depois disso seus olhos miraram pra cima. Ficaram arregalados, olhando alguma coisa no alto. Talvez minha avó Ermíla já te esperando. Talvez nos novos ares que você queria respirar. Ficou nessa espécie de transe por uns 15 minutos. Aos poucos sua luz foi diminuindo, a bateria acabando. Não reagia mais às nossas perguntas. Dr. Alexandre chegou e ainda tentou uma nova dose de glicose, mas foi em vão. Vi seu último suspiro e percebi que sua barriga já não subia nem descia mais. O médico conferiu os sinais vitais. Olhei para o relógio: 6 e 50 do dia 14 de Novembro de 2010, domingo. O dia seguinte era um feriado. Até com isso você se preocupou.
Guidão, te agradeço eternamente por ter dado ao Rato e a mim a honra de estar com você nos momentos finais.
No velório e enterro confirmei o que já sabia: que você era uma espécie de unanimidade, mas que dessa vez não tinha nada de burra, pelo contrário. Achava que você não tinha amigos, mas vários da turma da Barroca de 40 anos atrás apareceram pra te cumprimentar. Sabia do seu apelido de Professor, criado após seu retorno triunfante do seminário quando começou a ensinar Matemática, Latim e Português pra turma. Me disseram também que era chamado de Gambá por que comia tudo e muito. Como a tigela de arroz doce que vovó fez num sábado a noite como sobremesa para o almoço de domingo e você, chegando mais cedo em casa, comeu metade.
Pessoas de todas as partes de todos os lados da família, dos vários lugares onde você trabalhou, mas também onde Janemamãe, Helena, eu, Lucas, Marcos e Daniel trabalhamos. Amigos de todos nós. Vizinhos da rua da Bahia, do Amendoeiras, coroas de flores dos amigos ausentes que não puderam vir. Guidão, por um momento pensei que você fosse um político famoso ou artista de cinema. Até o veterinário do Led, nosso cachorro de Lagoa Santa, apareceu. E o Agnaldo, caseiro da casa?! Era como outro filho dizendo que ninguém nessa Vida o havia ajudado tanto quanto você!
A frase que mais me marcou foi a do Bernardinho que chegou me abraçando e dizendo "Pedrinho, parabéns pelo Pai que você teve!"
Me senti muito mais aliviado do que triste durante a cerimônia. Olhava para o alto e te via sorrindo pra mim, como se estivesse dizendo: "Pedrão, você fez tudo certo.". Estive leve e sereno o tempo todo por que sabia das dores que sumiram, do alívio que você sentia, da Paz em que seu coração se encontrava.
A salva de palmas na saída para o cemitério e depois quando a lápide foi fechando foram mais do que justas, merecidas, maravilhosas. E começou a cair uma garoa fina exatamente no instante seguinte à colocação da pedra. Agora você realizou seu desejo de ficar para sempre ao lado do Vovô Pedro.
Guidão, sempre te disse isso e não tenho a menor dúvida de que você é o MELHOR PAI DO MUNDO!
viagens, Vida cotidiana, automobilismo, arte, música, pessoas, cinema... TUDO!!! trips, real Life, motorsports, Art, muzik, people, movies... EVERYTHING!!!
Wednesday, November 17, 2010
Friday, November 12, 2010
Senna, o Filme
Beaga (Guidao dorme tranquilo e sereno, gracas a Deus!)
Ja havia falado sobre o documentario sobre Ayrton Senna aqui. Acontece que o filme estreia amanha numa pancada de salas escuras e o trailer oficial foi divulgado. Andei lendo por ai que varias cenas ineditas e uma edicao agil fazendo com que o documentario pareca um filme de acao conferem ao filme qualidades suficientes para valerem o ingresso.
O Senna heroi imortal lutando contra o resto do Mundo esta la o tempo todo. O super piloto, obstinado pela perfeicao e pela vitoria eh mostrado de maneira unica e inteligente. O filme eh triste ja que o mocinho morre no final, mas nao faltam elementos para construcao do mito: a ascensao meteorica em Monaco 84, o arqui-rival Prost, o inimigo publico nr. 1 Ballestre e o fim tragico.
Ayrton aparenta nao ter erros no documentario. Foi assim que a Globo e Galvao Bueno construiram sua imagem se aproveitando da situacao politica e economica do Brasil no fim dos anos 80 e inicio dos 90. Entretanto, quem gosta de carros de corridas nao vai perder o filme por nada desse Mundo. E sera bom matar a saudade desses tempos eletrizantes.
Surfando na onda do filme a escuderia malaia Lotus, dona dos direitos de uso da marca Lotus de Colin Chapman, anunciou que usara as tradicionais cores preto e dourada na temporada de 2011. E com Senna sobrinho extraoficialmente confirmado na equipe os fans de Ayrton, inclusive este que vos tecla, tem tudo pra voltar no tempo ano que vem.
Ja havia falado sobre o documentario sobre Ayrton Senna aqui. Acontece que o filme estreia amanha numa pancada de salas escuras e o trailer oficial foi divulgado. Andei lendo por ai que varias cenas ineditas e uma edicao agil fazendo com que o documentario pareca um filme de acao conferem ao filme qualidades suficientes para valerem o ingresso.
O Senna heroi imortal lutando contra o resto do Mundo esta la o tempo todo. O super piloto, obstinado pela perfeicao e pela vitoria eh mostrado de maneira unica e inteligente. O filme eh triste ja que o mocinho morre no final, mas nao faltam elementos para construcao do mito: a ascensao meteorica em Monaco 84, o arqui-rival Prost, o inimigo publico nr. 1 Ballestre e o fim tragico.
Ayrton aparenta nao ter erros no documentario. Foi assim que a Globo e Galvao Bueno construiram sua imagem se aproveitando da situacao politica e economica do Brasil no fim dos anos 80 e inicio dos 90. Entretanto, quem gosta de carros de corridas nao vai perder o filme por nada desse Mundo. E sera bom matar a saudade desses tempos eletrizantes.
Surfando na onda do filme a escuderia malaia Lotus, dona dos direitos de uso da marca Lotus de Colin Chapman, anunciou que usara as tradicionais cores preto e dourada na temporada de 2011. E com Senna sobrinho extraoficialmente confirmado na equipe os fans de Ayrton, inclusive este que vos tecla, tem tudo pra voltar no tempo ano que vem.
Tuesday, November 09, 2010
Doideras
Beaga (pra que dimorf?!)
As vezes me passa pela cabeca algumas ideias malucas. Anoto quase tudo no Black Berry, chamado tambem de Crack Berry por razoes obvias. Nao interessa muito se estou no trem, lendo um livro, indo dormir, na fila do almoco, indo para o banheiro, na frente do PC ou ate mesmo numa reuniao enfadonha. Saco a arma e anoto no bloco de notas. O resultado sao listas de assuntos os mais loucos possiveis como:
Melita werbung (propaganda em alemao)
Handwerk
Cinemas antigos (fotos + historia)
Soul cast UK
Medelski, martin & ...
Jamie cullum
Ailton viana, pai rodrigo jogo vasco 70
http://www.parisjazzclub.net/
Vic Muniz - expo em BH
E por ai vai. Sao musicas que escuto no radio, shows de artistas que tenho vontade de ir, propagandas interessantes na TV alema, sites que li ou vi em algum lugar, etc. Todos ficam ali no bloco de notas a espera de um dia terem o privilegio de se transformarem em postagem.
Pois bem, olha essa perola escrita logo no comecinho dessa mania que agora nao para mais:
"Quando Ela e eu ganharmos CINCO milhoes viveriamos DOIS meses em cada cidade do Mundo fazendo trabalhos voluntarios, ajudando as pessoas, escrevendo sobre o cotidiano e a Vida como ela eh. Fotos e videos variados tambem. Lutaria boxe e tocaria sax por ai. Pintaria quadros e escreveria poesias. Extrairia o maximo que esse planeta tem a nos oferecer."
Esse pequeno texto eh um resumo de tudo que eu gostaria de ser, mas que nao faco esforco algum pra me tornar. Pensei outro dia que um escritor so se torna bom de verdade, daqueles capazes de prender o leitor da primeira a ultima pagina, se ele viveu a maioria daqueles causos, ou algum amigo proximo contou. Entao me imaginei sendo um engraxate no centro do Rio de Janeiro, os clientes indo e vindo, a maioria recusando um servico cada vez mais raro e incomum. Onde compraria minha graxa?! E as escovas de sapateiro?! Preto eh mais caro que marrom?! Alguem ainda usa sapado bege?! Precisaria ter graxa incolor caso o Homem do Sapato Branco resolvesse dar umas bandas pelo Largo da Carioca?!
E assim seria, um mes ou mais exercendo cada profissao. Se gostasse continuaria, se nao, simplesmente largaria tudo e comecava outra. Cozinheiro de navio, por exemplo. Ou mendigo. Uma experiencia antropologica, socio-cultural. Observar as pessoas te vendo como uma barata, um insignificante, um paria da sociedade que deveria ser expurgado de alguma forma. Um ponto imundo sujando a cidade e incomodando todos. Mas como ele virou mendigo?! Veio do Nordeste em busca do emprego prometido, o dinheiro acabou e nem a passagem de volta deu pra comprar. O que fazer?! Homem integro, trabalhador e do bem. Virou um sem casa, sem terra, sem familia, sem amigos, sem rumo. Depois um amigo o descobre, rapaz abonado e de bom coracao. O leva pra um hotel, compra refeicoes, aluga um quarto com agua quente e empresta roupas. Dois dias depois ele sai e comeca a encarar as mesmas pessoas no lugar onde costumava ficar. Nao o reconhecem, evidentemente. Ele nao se importa e continua fuzilando os passantes com a retina. Uma jovem o reconhece, mas vira o rosto no instante seguinte. Ele pensa em segui-la, mas desiste. So quer desfrutar daquela sensacao, do respeito, do "status" de ser alguem, da aparencia limpa, nao importando o que se passa em sua cabeca. Seu carater, personalidade, passado, presente e futuro. Ja roubou?! Eh estelionatario?! Participou daquele esquema de desvio de recursos na prefeitura da cidadezinha no interior?! Tem quatro filhos e uma amante. Uma mulher submissa, amigos comprados, um carro bacana, carteira recheada e conhecedor de bons vinhos. Trata os garcons como insetos e os subordinados como escravos sem do nem piedade.
E quem merece o desprezo da sociedade?! O bacana ou o mendigo?!
As vezes me passa pela cabeca algumas ideias malucas. Anoto quase tudo no Black Berry, chamado tambem de Crack Berry por razoes obvias. Nao interessa muito se estou no trem, lendo um livro, indo dormir, na fila do almoco, indo para o banheiro, na frente do PC ou ate mesmo numa reuniao enfadonha. Saco a arma e anoto no bloco de notas. O resultado sao listas de assuntos os mais loucos possiveis como:
Melita werbung (propaganda em alemao)
Handwerk
Cinemas antigos (fotos + historia)
Soul cast UK
Medelski, martin & ...
Jamie cullum
Ailton viana, pai rodrigo jogo vasco 70
http://www.parisjazzclub.net/
Vic Muniz - expo em BH
E por ai vai. Sao musicas que escuto no radio, shows de artistas que tenho vontade de ir, propagandas interessantes na TV alema, sites que li ou vi em algum lugar, etc. Todos ficam ali no bloco de notas a espera de um dia terem o privilegio de se transformarem em postagem.
Pois bem, olha essa perola escrita logo no comecinho dessa mania que agora nao para mais:
"Quando Ela e eu ganharmos CINCO milhoes viveriamos DOIS meses em cada cidade do Mundo fazendo trabalhos voluntarios, ajudando as pessoas, escrevendo sobre o cotidiano e a Vida como ela eh. Fotos e videos variados tambem. Lutaria boxe e tocaria sax por ai. Pintaria quadros e escreveria poesias. Extrairia o maximo que esse planeta tem a nos oferecer."
Esse pequeno texto eh um resumo de tudo que eu gostaria de ser, mas que nao faco esforco algum pra me tornar. Pensei outro dia que um escritor so se torna bom de verdade, daqueles capazes de prender o leitor da primeira a ultima pagina, se ele viveu a maioria daqueles causos, ou algum amigo proximo contou. Entao me imaginei sendo um engraxate no centro do Rio de Janeiro, os clientes indo e vindo, a maioria recusando um servico cada vez mais raro e incomum. Onde compraria minha graxa?! E as escovas de sapateiro?! Preto eh mais caro que marrom?! Alguem ainda usa sapado bege?! Precisaria ter graxa incolor caso o Homem do Sapato Branco resolvesse dar umas bandas pelo Largo da Carioca?!
E assim seria, um mes ou mais exercendo cada profissao. Se gostasse continuaria, se nao, simplesmente largaria tudo e comecava outra. Cozinheiro de navio, por exemplo. Ou mendigo. Uma experiencia antropologica, socio-cultural. Observar as pessoas te vendo como uma barata, um insignificante, um paria da sociedade que deveria ser expurgado de alguma forma. Um ponto imundo sujando a cidade e incomodando todos. Mas como ele virou mendigo?! Veio do Nordeste em busca do emprego prometido, o dinheiro acabou e nem a passagem de volta deu pra comprar. O que fazer?! Homem integro, trabalhador e do bem. Virou um sem casa, sem terra, sem familia, sem amigos, sem rumo. Depois um amigo o descobre, rapaz abonado e de bom coracao. O leva pra um hotel, compra refeicoes, aluga um quarto com agua quente e empresta roupas. Dois dias depois ele sai e comeca a encarar as mesmas pessoas no lugar onde costumava ficar. Nao o reconhecem, evidentemente. Ele nao se importa e continua fuzilando os passantes com a retina. Uma jovem o reconhece, mas vira o rosto no instante seguinte. Ele pensa em segui-la, mas desiste. So quer desfrutar daquela sensacao, do respeito, do "status" de ser alguem, da aparencia limpa, nao importando o que se passa em sua cabeca. Seu carater, personalidade, passado, presente e futuro. Ja roubou?! Eh estelionatario?! Participou daquele esquema de desvio de recursos na prefeitura da cidadezinha no interior?! Tem quatro filhos e uma amante. Uma mulher submissa, amigos comprados, um carro bacana, carteira recheada e conhecedor de bons vinhos. Trata os garcons como insetos e os subordinados como escravos sem do nem piedade.
E quem merece o desprezo da sociedade?! O bacana ou o mendigo?!
Dia de Feira
Beaga (seria o irmao do Grigio Amarelo?!)
Continuando a saga dos videos no Voce Tubo o Truta orgulhosamente apresenta... nao, sou fan do Rappa e tambem acho o Falcao feio de dar do, mas um pegador de primeira, so que o assunto eh feira mesmo. E das boas, no Rio de Janeiro.
Como a propria descricao do curta diz "Eh um documentário de Hugo Moss sobre hilária manifestação carioca cultural-gastronômico-confraternal, com o saudoso sambista Moacyr Luz e participações especiais de Chico Caruso, Lan, Antônio Pedro, Regina Braga e outros."
O pequeno filme comeca despretencioso, como quem nao quer nada, mas aos poucos vai te envolvendo pela espontaneidade, autenticidade e Vida cotidiana tao proximas. A descontracao dos amigos se encontrando, muitos frequentes e figurinhas carimbadas presentes todos os sabados, outros raros, mas insubstituiveis. A coisa vai crescendo, mais gente chegando e vemos uma confraternizacao de pessoas que querem apenas estar juntas, comendo e bebendo do melhor, sem pensar nas roupas que vestem, o quanto ganham, com que carro chegaram, pra onde foram nas ultimas ferias. Sao o que sao, autenticos, amigos, humanos e companheiros. Consideram aquele momento na confraria como algo sagrado e inabalavel. Eh assim que deve ser mesmo!
Me deu vontade de comer uns cascudos fritos e uma cerva gelada na antiga feira hippie de BH que comecou na Praca da Liberdade e hoje acontece aos domingos na Afonso Pena em frente ao Parque Municipal. Encontra-se de tudo ali pra comprar. Desde artesanato de artistas amadores e semi-famosos passando por roupas, sapatos, artigos de casa e cozinha e as mais maravilhosas comidas de Minas. E de quando em vez se tromba com um amigo. Quando acontece, as mulheres saem batendo perna e os homens ficam quietos bebendo o liquido amarelo e sagrado, purificador da alma e eliminador de stress.
Me lembrei do Naschmarkt em Vienna e da Karlsplatz em Dusseldorf, mas nao chegam nem aos pes em autenticidade e divertimento. Dizem que o mercadao das pulgas El Rastro em Madrid eh imperdivel, sempre aos domingos. Estive la algumas vezes, mas nao o conheci. Ainda irei, mas o Slow jamais ira. Sobre o Slow, vulgo Bruno Garcia, um dia falaremos mais dessa figura unica e folclorica que tenho o privilegio de chamar de amigo.
ps. assisti ao curta pela primeira vez na casa do Thomas Schoenauer, artista e escultor alemao consagrado de quem falo mais qualquer dia desses. Ele cria esculturas com aco conferindo formas unicas, leveza, beleza e flexibilidade ao material em diversas formas, retagulares, esferas com pintura escorrendo de baixo pra cima, pinturas acrilicas que se parecem deltas de rios ou fotos de satelite, so mesmo vendo pra entender.
Sao tres partes, mas valem cada segundo.
Continuando a saga dos videos no Voce Tubo o Truta orgulhosamente apresenta... nao, sou fan do Rappa e tambem acho o Falcao feio de dar do, mas um pegador de primeira, so que o assunto eh feira mesmo. E das boas, no Rio de Janeiro.
Como a propria descricao do curta diz "Eh um documentário de Hugo Moss sobre hilária manifestação carioca cultural-gastronômico-confraternal, com o saudoso sambista Moacyr Luz e participações especiais de Chico Caruso, Lan, Antônio Pedro, Regina Braga e outros."
O pequeno filme comeca despretencioso, como quem nao quer nada, mas aos poucos vai te envolvendo pela espontaneidade, autenticidade e Vida cotidiana tao proximas. A descontracao dos amigos se encontrando, muitos frequentes e figurinhas carimbadas presentes todos os sabados, outros raros, mas insubstituiveis. A coisa vai crescendo, mais gente chegando e vemos uma confraternizacao de pessoas que querem apenas estar juntas, comendo e bebendo do melhor, sem pensar nas roupas que vestem, o quanto ganham, com que carro chegaram, pra onde foram nas ultimas ferias. Sao o que sao, autenticos, amigos, humanos e companheiros. Consideram aquele momento na confraria como algo sagrado e inabalavel. Eh assim que deve ser mesmo!
Me deu vontade de comer uns cascudos fritos e uma cerva gelada na antiga feira hippie de BH que comecou na Praca da Liberdade e hoje acontece aos domingos na Afonso Pena em frente ao Parque Municipal. Encontra-se de tudo ali pra comprar. Desde artesanato de artistas amadores e semi-famosos passando por roupas, sapatos, artigos de casa e cozinha e as mais maravilhosas comidas de Minas. E de quando em vez se tromba com um amigo. Quando acontece, as mulheres saem batendo perna e os homens ficam quietos bebendo o liquido amarelo e sagrado, purificador da alma e eliminador de stress.
Me lembrei do Naschmarkt em Vienna e da Karlsplatz em Dusseldorf, mas nao chegam nem aos pes em autenticidade e divertimento. Dizem que o mercadao das pulgas El Rastro em Madrid eh imperdivel, sempre aos domingos. Estive la algumas vezes, mas nao o conheci. Ainda irei, mas o Slow jamais ira. Sobre o Slow, vulgo Bruno Garcia, um dia falaremos mais dessa figura unica e folclorica que tenho o privilegio de chamar de amigo.
ps. assisti ao curta pela primeira vez na casa do Thomas Schoenauer, artista e escultor alemao consagrado de quem falo mais qualquer dia desses. Ele cria esculturas com aco conferindo formas unicas, leveza, beleza e flexibilidade ao material em diversas formas, retagulares, esferas com pintura escorrendo de baixo pra cima, pinturas acrilicas que se parecem deltas de rios ou fotos de satelite, so mesmo vendo pra entender.
Sao tres partes, mas valem cada segundo.
Ferrovias na Alemanha
Beaga (quem foi Felicio Roxo?!)
Dando sequencia aos videos educativos e elucidativos de ontem, veremos agora como eh a construcao de uma ferrovia na Alemanha. Sera que veremos tecnicas construtivas parecidas com a dos indianos?! Ou com a dos brasileiros da MRS e ALL?! Chance zero disso acontecer.
Acho que certas coisas nessa Vida so sao vistas na Alemanha e em nenhum outro lugar. Nem no Japao, na Korea ou nos States. Alemao eh um bicho foda na engenharia.
Quanta facilidade, observem o numero de funcionarios trabalhando na construcao, impressionante, tanto na retirada dos antigos dormentes de madeira como na colocacao nos novos feitos de concreto. As maquinas fazem tudo, ninguem carrega peso ou se esforca em momento algum.
Acho que a primeira lei na Alemanha foi: "Eh proibido carregar peso." Os caras criaram maquininhas e carrinhos com rodinhas pra tudo, todos os pesos, tamanhos e volumes.
A dica foi do Dudha Wedder, antigo vocalista de rock, menino da lingua azul e sharpei chines. Ja esteve em Manheim e viu com os proprios olhos essa aula de engenharia.
ps. moro na Alemanha e sou engenheiro mecanico, mas seria incapaz jogar lenha nas caldeiras duma maria fumaca...
Dando sequencia aos videos educativos e elucidativos de ontem, veremos agora como eh a construcao de uma ferrovia na Alemanha. Sera que veremos tecnicas construtivas parecidas com a dos indianos?! Ou com a dos brasileiros da MRS e ALL?! Chance zero disso acontecer.
Acho que certas coisas nessa Vida so sao vistas na Alemanha e em nenhum outro lugar. Nem no Japao, na Korea ou nos States. Alemao eh um bicho foda na engenharia.
Quanta facilidade, observem o numero de funcionarios trabalhando na construcao, impressionante, tanto na retirada dos antigos dormentes de madeira como na colocacao nos novos feitos de concreto. As maquinas fazem tudo, ninguem carrega peso ou se esforca em momento algum.
Acho que a primeira lei na Alemanha foi: "Eh proibido carregar peso." Os caras criaram maquininhas e carrinhos com rodinhas pra tudo, todos os pesos, tamanhos e volumes.
A dica foi do Dudha Wedder, antigo vocalista de rock, menino da lingua azul e sharpei chines. Ja esteve em Manheim e viu com os proprios olhos essa aula de engenharia.
ps. moro na Alemanha e sou engenheiro mecanico, mas seria incapaz jogar lenha nas caldeiras duma maria fumaca...
Monday, November 08, 2010
Noruegueses voadores
BH (o ultimo da noite e cama)
Acho que ja postei esse video, mas em homenagem aos malucos praticantes de esportes radicais vai de novo.
E parece ser na Noruega mesmo. Reconheci alguns fiordes que ficaram meus amigos na viagem de Julho deste ano com Ela. O pais eh um paraiso natural, espetacular simplesmente. Vale a visita e de preferencia a viagem de carro de Oslo a Bergen onde a paisagem muda pelo menos umas dez vezes. Aguardem fotos e causos desta viagem, so nao sei quando.
A dica do video foi do Cid Scala, sobrinho do Chico Recarey antigo dono da boate Scala no Rio que fazia sucesso nos carnavais dos anos 80 e 90. Tim Maia que o diga.
wingsuit base jumping from Ali on Vimeo.
Acho que ja postei esse video, mas em homenagem aos malucos praticantes de esportes radicais vai de novo.
E parece ser na Noruega mesmo. Reconheci alguns fiordes que ficaram meus amigos na viagem de Julho deste ano com Ela. O pais eh um paraiso natural, espetacular simplesmente. Vale a visita e de preferencia a viagem de carro de Oslo a Bergen onde a paisagem muda pelo menos umas dez vezes. Aguardem fotos e causos desta viagem, so nao sei quando.
A dica do video foi do Cid Scala, sobrinho do Chico Recarey antigo dono da boate Scala no Rio que fazia sucesso nos carnavais dos anos 80 e 90. Tim Maia que o diga.
wingsuit base jumping from Ali on Vimeo.
Andy Irons, 32
Beaga (engatei a quarta)
Alguem pode me explicar como um tricampeao mundial de surf morre de dengue aos 32 anos?!
Pois foi o que aconteceu com Mr. Irons dia 2 em pelo Finados. Kelly Slater ganhou seu decimo titulo outro dia e dedicou a Andy, obviamente.
Os caras nao sao herois?! Nao sao de aco entrando no mar pra enfrentar aquelas paredes de agua que quando quebram arrebentam a tudo e todos?! E os corais no Hawaii?! Surfista pra mim eh o cara mais foda que existe. Como consegue domar aquela massa toda e ainda fazer manobras arriscadas se equilibrando numa prancha molhada?! Vivem rodeados das mais belas mulheres nos lugares mais paradisiacos do Planeta. E ainda sao pagos pra isso. Quer mais?!
Pois eh, mas o aedis nao perdoou, se eh que a causa tenha sido essa mesma. Ao Andy meus sentimentos e que descanse em paz.
Alguem pode me explicar como um tricampeao mundial de surf morre de dengue aos 32 anos?!
Pois foi o que aconteceu com Mr. Irons dia 2 em pelo Finados. Kelly Slater ganhou seu decimo titulo outro dia e dedicou a Andy, obviamente.
Os caras nao sao herois?! Nao sao de aco entrando no mar pra enfrentar aquelas paredes de agua que quando quebram arrebentam a tudo e todos?! E os corais no Hawaii?! Surfista pra mim eh o cara mais foda que existe. Como consegue domar aquela massa toda e ainda fazer manobras arriscadas se equilibrando numa prancha molhada?! Vivem rodeados das mais belas mulheres nos lugares mais paradisiacos do Planeta. E ainda sao pagos pra isso. Quer mais?!
Pois eh, mas o aedis nao perdoou, se eh que a causa tenha sido essa mesma. Ao Andy meus sentimentos e que descanse em paz.
Mitos Politicos da "Era" FHC
Beaga (viva a VIVO)
Meu amigo berlinense Dimas mandou por email e me sinto obrigado a (re) publicar a carta ao FHC escrita por um antigo companheiro e sociologo, Teotonio dos Santos.
Eh o que penso, mas nao tenho o conhecimento de causa nem a capacidade de escrever tao bem quanto ele.
Meu amigo berlinense Dimas mandou por email e me sinto obrigado a (re) publicar a carta ao FHC escrita por um antigo companheiro e sociologo, Teotonio dos Santos.
Eh o que penso, mas nao tenho o conhecimento de causa nem a capacidade de escrever tao bem quanto ele.
Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso
O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999. Outro mito é que seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Um governo que elevou a dívida pública do Brasil de 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? O artigo é de Theotonio dos Santos.
Theotonio dos Santos, na Carta Maior, por sugestão do leitor King Childerico
Meu caro Fernando,
Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete contudo este debate teórico. Esta carta assinada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).
Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.
O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartilhar com você… Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.
No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização. O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?
Conclusões: O plano Real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.
Segundo mito – Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.
E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. Um governo que chegou a pagar 50% ao ano de juros por seus títulos para, em seguida, depositar os investimentos vindos do exterior em moeda forte a juros nominais de 3 a 4%, não pode fugir do fato de que criou uma dívida colossal só para atrair capitais do exterior para cobrir os déficits comerciais colossais gerados por uma moeda sobrevalorizada que impedia a exportação, agravada ainda mais pelos juros absurdos que pagava para cobrir o déficit que gerava.
Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou drasticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. Vergonha, Fernando. Muita vergonha. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identificar com o seu governo…te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.
Terceiro mito – Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição uns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.
Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em consequência deste fracasso colossal de sua política macroeconômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já ocupado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizavam e ainda inviabilizam a competitividade de qualquer empresa.
Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar… Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criaram para este país.
Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso fazê-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entrou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.
Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o verdadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.
Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a frequentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.
Com a melhor disposição possível, mas com amor à verdade, me despeço
(*) Theotonio dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor visitante nacional sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Quem disse que torcida nao ganha jogo?!
Beaga (longa eh a noite...)
Tive vontade de fazer publicidade, mas resolvi seguir a Vida de Engenheiro.
A dica foi do Biduzera, vulgo Zoi ou Mizifi dus Inferno.
Tive vontade de fazer publicidade, mas resolvi seguir a Vida de Engenheiro.
A dica foi do Biduzera, vulgo Zoi ou Mizifi dus Inferno.
Sunday, November 07, 2010
Hospital
Beaga (Galo respira)
Era pra escrever sobre don Diego Armando Maradona que apagou 50 velinhas dia 30 ultimo, mas contratempos me impediram.
Escrevo do quarto 555 de um hospital conceituado na capital mineira. Hospital eh ao mesmo tempo uma merda e bom demais. 555 em alemao eh funf hundert funfundfunfzig.
Eh uma merda por causa da sensacao de impotencia, pelo desconhecimento da medicina, pela cara de bunda de algumas enfermeiras, pelo clima de doenca e sofrimento no ar, por ver quem voce gosta sofrendo e nao poder fazer nada, pelo desconforto causado em todos e por ai vai. Nossas Vidas comecam e terminam num hospital e ja passamos pela primeira parte. Se voltamos eh por que algo de ruim esta pra acontecer. Infelizmente eh a ordem natural da Vida.
E um hospital eh bom demais exatamente pela medicina e seus avancos, pela simpatia e atencao de algumas enfermeiras, pelo cuidado e bom humor do jovem medico - que resolveu o problema - pelo quarto amplo e confortavel, por ser um medidor de carinho, se eh que existe um, para um ente querido, meu pai no caso. Eh bom tambem pela lanchonete que fica aberta ate as 7h de domingo e que tem um pao de queijo e uma coxinha com catupiry muito boas, pela TV onde pude ver ontem o treino da F1 e agora os jogos do campeonato brasileiro (apesar dos 50 reais de caucao e da diaria de 7 e alguma coisa), pelas comidas que as visitas trazem e pelo bom humor e a emocao do meu pai a cada historia lembrada ou piadas contadas.
Eu voltaria amanha pra Alemanha e para os bracos dEla, minha amada e adorada esposa, mas troquei pra sexta que vem. Chefe compreensivel eh outra coisa, ainda bem. Com telefone e internet resolvo 75% da minha Vida e consigo trabalhar tranquilamente.
Vou dormir aqui hoje. Ontem dormiu Janemamae, sozinha. Mas anteontem dormimos nos dois. Ela no sofa e eu no chao, sobre um edredon dobrado. Cochilava 20' e acordava. As 6h da matina me deitei no sofa e cochilei ate as 8, mas nao me cansei.
Ontem o acompanhei ate a tomografia. Corredores silenciosos, com um ou outro bistunto passando. Cores neutras, elevador de maca grande e silencioso, enfermeira com cara ruim fazendo por obrigacao. Apos a pequena espera ele entra e eu fico de fora. Pergunto se nao quer um cobertor, o ar condicionado tava frio. Diz que nao e que sera rapido. A porta se fecha e ruidos estranhos comecam. Uma voz diz ENCHA O PEITO DE AR E SEGURE. Imagino ele obedecendo e o que aconteceria se nao entendesse ou escutasse as ordens da maquina. Sairia uma mao mecanica pra lhe puxar a orelha ou dar um tapa?! Acho que nao, pelo menos nao neste pais. Talvez no Iran ou China. O exame foi mesmo rapido, a enfermeira-cara-de-nadegas eh que demorou. Nao me deixaram leva-lo para o quarto. Acharam que ia sequestrar meu proprio pai ou o que?!
Agora ele dorme tranquilo, gracas a Deus. Acho que na terca-feira tem alta, tomara! Ainda tem muitos anos pela frente, muita coisa pra ver e fazer nessa Vida.
Era pra escrever sobre don Diego Armando Maradona que apagou 50 velinhas dia 30 ultimo, mas contratempos me impediram.
Escrevo do quarto 555 de um hospital conceituado na capital mineira. Hospital eh ao mesmo tempo uma merda e bom demais. 555 em alemao eh funf hundert funfundfunfzig.
Eh uma merda por causa da sensacao de impotencia, pelo desconhecimento da medicina, pela cara de bunda de algumas enfermeiras, pelo clima de doenca e sofrimento no ar, por ver quem voce gosta sofrendo e nao poder fazer nada, pelo desconforto causado em todos e por ai vai. Nossas Vidas comecam e terminam num hospital e ja passamos pela primeira parte. Se voltamos eh por que algo de ruim esta pra acontecer. Infelizmente eh a ordem natural da Vida.
E um hospital eh bom demais exatamente pela medicina e seus avancos, pela simpatia e atencao de algumas enfermeiras, pelo cuidado e bom humor do jovem medico - que resolveu o problema - pelo quarto amplo e confortavel, por ser um medidor de carinho, se eh que existe um, para um ente querido, meu pai no caso. Eh bom tambem pela lanchonete que fica aberta ate as 7h de domingo e que tem um pao de queijo e uma coxinha com catupiry muito boas, pela TV onde pude ver ontem o treino da F1 e agora os jogos do campeonato brasileiro (apesar dos 50 reais de caucao e da diaria de 7 e alguma coisa), pelas comidas que as visitas trazem e pelo bom humor e a emocao do meu pai a cada historia lembrada ou piadas contadas.
Eu voltaria amanha pra Alemanha e para os bracos dEla, minha amada e adorada esposa, mas troquei pra sexta que vem. Chefe compreensivel eh outra coisa, ainda bem. Com telefone e internet resolvo 75% da minha Vida e consigo trabalhar tranquilamente.
Vou dormir aqui hoje. Ontem dormiu Janemamae, sozinha. Mas anteontem dormimos nos dois. Ela no sofa e eu no chao, sobre um edredon dobrado. Cochilava 20' e acordava. As 6h da matina me deitei no sofa e cochilei ate as 8, mas nao me cansei.
Ontem o acompanhei ate a tomografia. Corredores silenciosos, com um ou outro bistunto passando. Cores neutras, elevador de maca grande e silencioso, enfermeira com cara ruim fazendo por obrigacao. Apos a pequena espera ele entra e eu fico de fora. Pergunto se nao quer um cobertor, o ar condicionado tava frio. Diz que nao e que sera rapido. A porta se fecha e ruidos estranhos comecam. Uma voz diz ENCHA O PEITO DE AR E SEGURE. Imagino ele obedecendo e o que aconteceria se nao entendesse ou escutasse as ordens da maquina. Sairia uma mao mecanica pra lhe puxar a orelha ou dar um tapa?! Acho que nao, pelo menos nao neste pais. Talvez no Iran ou China. O exame foi mesmo rapido, a enfermeira-cara-de-nadegas eh que demorou. Nao me deixaram leva-lo para o quarto. Acharam que ia sequestrar meu proprio pai ou o que?!
Agora ele dorme tranquilo, gracas a Deus. Acho que na terca-feira tem alta, tomara! Ainda tem muitos anos pela frente, muita coisa pra ver e fazer nessa Vida.
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