Thursday, February 04, 2010

Hearts of Darkness, the Apocalypse of a Filmmaker

Düsseldorf (6° C dá pra correr)


Assisti ontem este imperdível documentário sobre o desafio em todos os sentidos enfrentado por Francis Ford Coppola, família, atores e equipe de produção durante as filmagens de Apocalypse Now.


A idéia desse filme surgiu antes de O Poderoso Chefão 1 e 2, mas por falta de recursos financeiros, Coppola adiou o projeto. Após o estrondoso sucesso mundial dos filmes mafiosos, ele ficou rico o suficiente para bancar a historia sobre a Guerra do Vietnam baseada no livro Hearts of Darkness escrito em 1902 por Joseph Conrad. Conta a historia de um inglês que fora nomeado capitão de um ferry boat de uma trading belga em um rio na África, provavelmente no antigo Congo belga. Alem de transportar mármore rio abaixo, sua principal missão e tentar trazer de volta Kurtz, outro negociante de mármore que queria ensinar a cultura ocidental aos nativos, mas acaba enlouquecendo e sucumbindo aos poderes da selva africana.

A mulher de Francis, Eleanor, gravou a maioria das imagens sem o conhecimento do diretor. Na medida em que as filmagens vão acontecendo, Coppola se da conta do imenso desafio que tem pela frente. A logística complicada no local escolhido, as Filipinas pela semelhança com as selvas do Vietnam então em guerra, os atrasos na produção devido as chuvas tropicais e ate um tufão que arrasou grande parte dos cenários, o enlouquecimento gradual de toda equipe e atores, a falta de dinheiro do meio para o fim, entre outras coisas, transformaram o filme numa missão quase impossível.

Drogas corriam soltas entre os atores e produção. LSD, maconha, cocaína, anfetaminas e muito álcool eram consumidos antes e durante as gravações. O ator principal, Harvey Keitel, fora substituído por um então desconhecido Martin Sheen que aceitou o contrato para filmar por 16 semanas mesmo sabendo não estar na forma física ideal para o papel de Willard. Sua missão era, como no livro de Conrad, ir em busca do Coronel enlouquecido Kurtz.

Os helicópteros usados em cena foram cedidos pelo Presidente filipino Ferdinand Marcos, mas eram freqüentemente retirados do set de filmagens para combater rebeldes locais que lutavam pela independência de algumas ilhas. Tudo isso atrasava ainda mais as filmagens. Quando a chuva forte veio, Coppola decidiu incorporá-la ao filme gravando cenas debaixo de temporais reais não se importando muito com a saúde física e mental da equipe e atores.

Do meio para o fim, Francis assume a co-autoria do roteiro e começa a reescrevê-lo de acordo com o andar das filmagens e das novas idéias que surgiam em sua cabeça. Muitas falas eram improvisadas com ele pedindo aos atores que agissem da maneira mais natural possível e falassem o que lhes viesse à mente. Lawrence Fishburne, então com 14 anos, foi um desses que representou a si mesmo com toda a inocência de um adolescente no meio de uma guerra sem entender o porquê de estar ali.

A United Artists pressionava-o para terminar o filme o mais rápido possível que já atingira a incrível barreira de 200 dias de filmagens. Ele bancava tudo do próprio bolso e jamais desistiria. Varias piadas surgiram nos jornais da época com manchetes como “Apocalypse When?!”.

Infarto de Martin Sheen
O ator principal era desconhecido, mas conseguiu convencer o diretor e ganhar importância durante as complicadas filmagens. Após a cena no hotel em Hanói, onde ele gravou completamente bêbado e diz ter sofrido ao fazê-la por ser extremamente tímido, Martin passa mal em seu quarto, anda ate as ruas, pega um ônibus e vai para o hospital. La constata-se que ele sofrera um ataque cardíaco e só não morre por ser jovem. Depois de ver a vó pela greta, o ator precisa de descanso, claro. Coppola considerou o pior cenário: trocar Sheen por alguém. Fizeram varias seqüências com dubles deixando os closes para quando ele voltasse, mas os outros atores sentiram muito sua ausência.

Pra piorar, Marlon Brando aceitara fazer o papel de Kurtz recebendo um milhão de dólares de adiantamento e mais um milhão por semana com no Maximo três de filmagens. Com o atraso freqüente, ele simplesmente se recusou a filmar e queria embolsar a grana adiantada. Coppola quase enlouquece de vez e pensa em chamar De Niro, Redford ou ate mesmo Nicholson para o papel, mas consegue contornar o problema.

O diretor havia pedido para que ele lesse o livro e se envolvesse com a história antes de voar para as Filipinas. Mas ao chegar ao set e começar a discutir as falas com Sheen e Francis, este percebe que Brando não lera o livro. Esta apenas fazendo cera e deixando os dias correrem para ganhar mais dinheiro. Coppola entra em desespero ao perceber isso. Além disso, Brando está tão gordo que não aceita aparecer de corpo inteiro nas cenas, apenas closes em seu rosto ou cenas com pouca iluminação. E acaba raspando a cabeça sem permissão do diretor, como uma criança rebelde fazendo pirraça. Coppola não tinha um final pronto na cabeça, achava o filme uma grande merda, o ator central das cenas finais não havia ensaiado e não cooperava para encontrar uma solução.


O diretor pensa em suicidar, em sofrer um acidente proposital como cair de alguma torre de filmagem. O pior de tudo e que ninguém entende seu desespero, todos estão meio enlouquecidos e agindo como se o filme fosse um sucesso imediato. Dennis Hopper entra em cena sem ter decorado as falas e deixando Coppola mais furioso ainda.

O que se vê no fim é um diretor brilhante que consegue arrancar uma atuação convincente de um astro desmotivado e imenso de gordo como Marlon Brando na base do improviso. As cenas finais foram filmadas mais de 20 vezes ate que ele se desse por satisfeito.

O resultado foi o faturamento de $ 150 milhões cobrindo todas as despesas e quase falência da família Coppola deixando-os ainda mais ricos, prêmios no Golden Globe, Oscar e Cannes.

Nas palavras do próprio diretor ''Meu filme não é sobre o Vietnã. Meu filme é o Vietnã''. O que mais impressiona e ver toda a equipe, elenco e diretor e familia sendo possuidos pela selva. Vao enlouquecendo aos poucos, fazendo coisas irracionais, nao sabem mais porque estao ali ou o sentido de estarem fazendo aquilo tudo. Exatamente o que acontecera com Kurtz, tanto no livro quanto no filme.

Os simbolismos estão presentes na trilha sonora durante os 202 minutos da fita como a musica dos Doors no início e a sinfonia de Wagner numa cena com helicópteros. Idéia originada numa noite de puro desespero do diretor que chegou no quarto e ligou a musica clássica em volume alto para tentar relaxar.

Vale a pena assistir. Quem quiser baixar via torrent, o link do Making Off é esse aqui. É um Fórum de cinema fechado, só entra com convite, onde tiro essas preciosidades e outras tantas. Quem quiser fazer parte, mande email para pedro.bresson@gmail.com que eu convido.

1 comment:

Anonymous said...

Nunca imaginei isso. Vou até ver o filme.