Friday, December 25, 2009

Rumo a Terra Prometida

Charlotte (Daqui a pouco, New York)

No post anterior disse que deveria falar sobre a verdadeira odisseia que foi a viagem de ida. Se voce esta em casa agora, sem nada pra fazer, ja cansou de ler as noticias no UOL e no G1, ja esta careca de saber que o Schumacher vai voltar ano que vem, viu milhares de fotos mostrando a retrospectiva de 2009, respondeu todos os seus emails desejando "Feliz Natal e um otimo 2010" pra familia e amigos e quer ler uma epopeia, entao prepare-se.

A viagem comecou no domingo, dia 20 Dez em Dusseldorf. Preparativos pro voo da Aer Lingus das 10:25 rumo a Dublin e de la pra New York. Ao entrar no taxi (transporte #1) as 9h da matina com as ruas completamente brancas de neve pensei "acho que voar hoje vai ser complicado". E assim comecava a maratona.

O aeroporto estava fechado pra pousos e decolagens. Neve e vento fortes com temperaturas de -17 C. O aviao acabou descendo em Koln (Colonia) ja que la o clima estava melhor. Ficam apenas 35km distantes, mas do lado Kolsch do Reno as coisas estavam melhores que o lado Alt. Apos algumas horas de atraso, todos pegaram as bagagens despachadas, menos nos, uma menina e um casal de alemaes gigantes. Esperamos um tempinho e os quadrados pretos, cinzas e vermelhos surgiram deslizando pela esteira de borracha. Felicidade imediata, por que viajar sem mala eh um inferno. Elas vao e voce fica ou vice-versa. Nunca consegui entender como os aeroportos conseguem ser tao desorganizados. Momentos depois, todos foram distribuidos em dois onibus (transporte #2) e fomos enfrentar as Autobahnen cheias de neve. Um trajeto de 40' demorou hora e quarto. Nao havia neve na cidade do Dom, a catedral mais imponente e bela da Europa. La chegando, todos para o check-in nr.2 do dia. Alguns desesperados, como o casal de imensos alemaes prontamente apelidados de Jamantas, correram pra fila. Nao sei pra que, ja que o aviao nao sairia sem todos os passageiros. Eu e Juju ficamos sentados, lendo nossos livros esperando a fila diminuir. Ela terminava "Die Buchdieber" (A Menina que Roubava Livros, em alemao) e eu comecava "O Mundo eh Plano (The World is Flat), de um jornalista americano ganhador do Pulitzer. Interessantissimo.

Enquanto eu viajava pelos call centers de Bangalore e Utah e lia sobre as forcas que achataram o Mundo, os alemaes ansiosos faziam check-in, de novo.

TO BE CONTINUED IN NYC.

American Dream

Charlotte, North Carolina, USA (os Hornets foram vendidos e eu nem sabia)

Vamos passar o Natal desse ano com nossos amigos americanos, os Degulhos. Sao amigos de longa data, de BH, do Brasil, do Mundo. Ja moram nos States desde 1999 e rodam o Mundo desde entao. Moraram em Nex York e London, mas ja estiveram nos quarto cantos do Mundo. Tel Aviv, Singapore, Mumbai, Tokyo, Hong Kong, Trancoso, Buzios, Seattle, Phoenix, Edinburgh e Lagoa Santa. Os Degulhos sao milionarios. Tem uma Vida excelente, com todos os recursos que o capitalismo americano proporciona. Acho que nao voltarao tao cedo pra terrinha.

Bem, eu deveria falar da odisseia de 3 dias e meio entre Dusseldorf e a casa deles, do cancelamento e atraso dos voos, dos varios meios de transporte que pegamos ate chegar aqui, mas farei isso em outro post.
Me impressiona a quantidade imensa de camionetes pelas ruas americanas. De todos os tamanhos e marcas. Acho que metade dos carros sao desse tipo. As chamadas SUVs, sport utility vehicle. Inundam as ruas ocupando espaco e poluindo o ar. Tem GM, Ford, Buick, Toyota, Dodge, BMW, Mercedes, Lexus, Hyundai, Nissan e tantas outras marcas. Um exagero sem tamanho. Desnecessario. Consomem galoes e galoes de gasolina pra levar uma unica pessoa pelas cidades e estradas do pais. Acho que vi apenas um unico onibus na cidade. Transporte publico pra que, se carro eh barato e a gasoline ta de graca na bomba?! O planeta agradece.

Tudo aqui eh meio exagerado. O suco de manga vem num galao igual ao de gasoline com 3,78 litros. O Nescau eh monstro, o pacote de chips idem e o ketchup tambem. O engracado sao as garrafinhas de 185ml de Coca. Como se fossem uma dose matinal pra sobrevivencia. Por outro lado, a cerveja tem apenas 375ml. Por isso gusto da Alemanha. La a long neck tem meio litro.

Mas tem suas vantagens, claro. O consumismo eh impressionante. Existem lojas que revendem o que nao eh vendido nos outlets que ja vendem a preco de banana. Ou seja, compra-se um bom jeans de marcas como Calvin Klein ou Ralph Lauren por 15 ou 20 doletas. Meias, cuecas, camisas e camisetas, roupas de ginastica, tenis, sapatos, camisas sociais, gravitas, casacos e pullovers seguem a mesma escrita. Uma festa pra quem tava precisando dar um tapa no guarda-roupas, como eu. Mas assim mesmo um exagero.


As pessoas acabam comprando coisas que nao precisam simplesmente por ser muito barato. Sabem que nao irao usar aquilo, mas custa apenas 10 dolares. Por que nao comprar?! Essa cultura do exagero, do desnecessario, do consumer pelo simples fato de estar barato eh que mata a America. E quando compram, eh sempre no cartao de credito. A divida media de um Americano com o dinheiro de plastico eh de 15 mil dolares. Os europeus seguem no caminho inverso. Sempre poupam antes de gastar. Se pagam antes, depois questionam se realmente precisam daquilo. Se a resposta for positiva, compram. Se nao, esperam a necessidade aparecer. Fazem isso nao por falta de dinheiro, pelo contrario. Tem uma visao critica, questionam, sabem gerir melhor seus recursos. Preferem poupar pra viajar do que simplesmente comprar roupas que nao precisam.

Ja o Americano, viaja dentro do proprio pais, quando o faz. Nao querem sair da zona de conforto. A maioria nao tem interesse ou curiosidade em conhecer outros paises. Pra que?! La nao vai ter uma mega camionete pra ele dirigir (e como dirigem mal, PQP), as porcoes de comida sao pequenas e pouco caloricas e por ai vai.

Sem querer me alongar, vou tomar um banho agora e abrir a primeira cerva. Uma Corona Extra, nada que se compare a uma alema. Mas tambem, vamos passar Natal na suntuosa mansao dos Degulhos com seus amigos brasileiros. Ate amigo oculto tem.

Vou ali ajudar a desfiar um frango. Inte.

Friday, December 18, 2009

A Volta do Alemao

Düsseldorf (F1 eletrizante em 2010)

Quando a patroa diz sim, a gente pode comecar a acreditar de verdade nos rumores. E se além dela, o presidente da Ferrari don Luca Cordero de Montezemolo joga mais lenha ainda na fogueira, entao é só esperar o anúncio oficial pra ver Schumacher vestir o uniforme das flechas de prata.

Amigos, amigos, negócios à parte.


A esquadra da equipe junior da Mercedes em 1990 com Wendlinger, Frentzen e o alemao queixudo.

Fazia tempo que nao falava de Formula 1 por aqui. Aconteceu tanta coisa esse ano. Vale até uma retrospectiva a altura. Mas ano que vem será um dos campeonatos mais disputados da História, com absoluta certeza.

De cara temos Massa e Alonso pela Scuderia com reais chances de ganharem o caneco. Adicione-se a dupla também vitoriosa da McLaren com Hamilton e Button. Com Vettel na Red Bull e o alemao serao seis pilotos dividindo as vitórias e os 25 pontos que a partir do ano que vem premiarao os primeiros lugares.

Em segundo plano vem Rosberguinho de Mercedes e Kubica de Renault-Genii e, quem sabe, Rubinho ressucitando a Williams. O resto vai fazer número.

Teremos a estréia de Bruno Senna e Lucas di Grassi engrossando a esquadra brazuca. E também do japa-bala Kobayashi pela Sauber.

Vou abrir um vinho e fazer meu roteiro de viagem. Deixa a F1 pra depois.

2009 em imagens

Düsseldorf (NYC vem aí)

O site The Big Picture do Boston Globe é um espetáculo. Fizeram uma retrospectiva desse ano em três partes com as fotos mais marcantes. Eu que sou um apaixonado por fotografia, nado de bracada.

A dica foi do blogueiro e torcedor da Lusa, don Gomes.


Lago dos cisnes que tem outro nome em Brandenburgo, Alemanha.


Totok mora nos subúrbios de Jakarta, Indonésia e sofre de distúrbios mentais.


Leandro da Escola de Samba de Itaquera no carnaval paulista.

Thursday, December 17, 2009

Simpsons 20 anos - Hoje

Essen (a ralacao continua...)

Um dos poucos desenhos modernos de que gosto comemora hoje 20 anos. Alem dele, Futurama eh muito interessante. Fui influenciado por um amigo nos velhos tempos do instituto de pesquisas. Nem tao velhos assim, mas ele ja se mandou pro Sul do Brasil. E agora deve estar de volta a Pauliceia.



Tenho as 17 primeiras temporadas dos Simpsons. Fizeram o Simpsons, the Movie, Marge saiu na Playboy, a formula vencedora de humor escrachado nao se esgotou ate hoje e eles seguem firmes e fortes. Fizeram ate um episodio no Brasil com todos os estereotipos ja conhecidos e exagerados, mas nada muito fora da nossa realidade.

Ultimamente ando influenciado pelos States, pais que tenho tantas diferencas. Mas hoje Homer, Marge, Bart e Maggie merecem aplausos.



Thursday, December 10, 2009

Senna, o maior de todos os tempos

Düsseldorf (teclado faz barulho e afasta a mulher amada)

Nao fui eu quem falei e sim a renomada revista britânica Autosport, the authority on Formula 1. Só que lá eles disseram "Senna, the Best ever".


Ayrton Senna da Silva, meu primo, em 1982

Conta o UOL que o tricampeão mundial, Ayrton Senna foi eleito o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos. A votação ouviu 217 pilotos. A lista incluiu o mais antigo vencedor de GP ainda vivo, o argentino Jose Froilan Gonzalez, e o mais velho piloto de F-1 vivo, o alemão Paul Pietsch, de 98 anos. Cada um dos 217 pilotos escolheu os 10 maiores da história, em sua opinião.

O heptacampeão mundial Michael Schumacher, que inclusive foi um dos pilotos ouvidos pela revista, ficou em segundo lugar. O argentino Juan Manuel Fangio, pentacampeão entre 1951 e 1957, ficou em terceiro.

Em 162 Grandes Prêmios disputados durante suas 11 temporadas na Fórmula 1, Ayrton Senna conquistou 41 vitórias e 65 pole positions, o que lhe rendeu os títulos mundiais de 1988, 1990 e 1991.
Senna estreou na categoria pela equipe Toleman, na temporada de 1984. A primeira vitória veio no GP de Portugal de 1985, em Estoril, já correndo pela Lotus. Em 1988, foi contratado pela McLaren e conquistou seu primeiro título. Naquele ano, cravou 13 pole positions e teve 8 vitórias, em 16 corridas disputadas.

Após seis anos de sucesso com a equipe inglesa, se transferiu para a Williams em 1994. Largou da primeira posição nas três corridas que disputou com a equipe. Porém, na última delas, em San Marino, sofreu o acidente que lhe tirou a vida e chocou o planeta.

Wednesday, December 09, 2009

Rumo aos mares do Sul

Essen (fotos a noite)

O texto a seguir foi escrito no trem entre Hamburg e Essen segunda dia 7. Vai do jeito que ficou. Além das fotos, fiz uns videos tambem.

Hamburg, 6 dezembro 2009 (chove lá fora e aqui…)

O plano era sair de Düsseldorf cedo, umas 9h da matina dominical, no máximo. Fui capturado na cama por uma deslumbrante que dorme como criança e acorda como mulher. Carro é bom por isso. Liberdade total com horários. Comi um mixto com suco de laranja, carreguei Gerd com minhas tralhas e saímos.

Um domingo típico na Alemanha. Nublado, meio chove-mas-molha, frio de 8º C e a Autobahn vazia, sem os costumeiros caminhões. Meu GPS manual, um bloco de anotações com a seqüência de estradas, direções e rascunhos de mapas, indicava que deveria pegar a mesma A52 rumo a Essen. Seria a ultima vez que Gerd e eu faríamos esse já tão conhecido caminho.


A WDR3 tocava musica clássica, como sempre, mas resolvi escutar algo mais pop/rock. Fomos de ZZ Top, Jamie Cullum (pop/jazz), Lady Gaga (essa mulher invadiu as rádios do Mundo), Lilly Allen, Black Eyed Peas (com aquela musica que já encheu o saco) e outras tantas. A tal Globalização tem varias desvantagens. Uma delas é ouvir sempre as mesmas musicas, não importa o lugar. Com revistas e jornais é o mesmo. Livros também.

Perto de Oberhausen, vi corvos na beira da pista. São os únicos animais que se arriscam por um naco de comida num lugar desses. Eram três. Dois na pista e um no guard-rail esperando. Faísca & Fumaça era legal.

Me perdi ao procurar a A43 – Münster. Acabei dando uma volta desnecessária, mas logo voltei pra A2 – Bottrop/Bremem. Nunca visitei Bremen e essa seria uma chance única. Lembrei também que nunca havia chegado a Hamburg de carro e muito menos voltado de trem. Sempre de avião.



Parei pra abastecer e tomar um café. Os postos na Alemanha são padronizados. Todos iguais, impressionante. Vendem as mesmas coisas sem gosto, os banheiros têm o mesmo sistema dos 50 cents com a fichinha que pode ser usada pra comprar algo depois. São limpíssimos, sem duvida. Senti saudades daquelas almôndegas pretas por cima e vermelhas de molho por baixo dos postos brasileiros.

Numa segunda parada antes de Bremen, fui checar com a reguinha se Gerd precisava de energia. Dos 24 litros, ele havia bebido 13 e rodado 233 km. Consumo fantástico de quase 18 km/l.

[Tenho 1h53min de bateria, ou 54%. A ver]

Bremen e Hamburg são as duas únicas cidades-estado da Alemanha. Faziam parte da Liga Hanseática. As placas dos carros são HB e HH respectivamente. Juju pediu pra eu comprar chás na famosa loja de Bremen, mas era domingo e tava tudo fechado. A não ser pelos Weihnachtsmarkten, os mercados de Natal famosos por aqui. Fazem barraquinhas pra vender de tudo. Salsichões aos montes, Glühwein, um vinho tipo quentão das nossas festas juninas, doces, crepes, chocolates, um sem numero de artigos natalinos, sanduíches e algodão-doce. Vendiam em sacos, não no palito. Achei sem graça.



Entrei na St. Petri Dom por que sou um beato Salú. Entro nas igrejas mais pela arquitetura, obras de arte e riquezas ali contidas do que pela religião. Claro que sempre rezo e peço proteção, mas dessa vez esqueci. Na saída, vi uma escultura de um burro com um cachorro em cima, um gato sobre este e no alto um galo. Tem uma lenda sobre esses animais, mas não sei qual é. Depois procuro saber. Lembrei do Galo, meu vergonhoso time de futebol. Isso é assunto pra depois, ou não. Não sei se o Flamengo foi campeão. Melhor mesmo não saber.



Achei as pessoas em Bremen meio agressivas, mal educadas. Me olhavam torto. Dei uns esbarroes. Um cara atrás de mim ficou impaciente quando abri a porta duma loja e resolvi não entrar dando meia volta. Uma veia comendo um pão com salsicha o escondeu ao olhar pra mim. Eu tinha um litro de suco no bolso do casaco. Tirava fotos como qualquer turista. Não entendi o estranhamento. Sempre que visito uma cidade nova, compro um símbolo de pano pra um dia costurar numa jaqueta ou fazer um quadro. Dessa vez, nem me lembrei.

Tinha acabado de comer um sanduíche com o já falado suco quando vi um grill gigante cheio de bifes de carne de porco. Pedi um com molho e segui em direção ao estacionamento. Gerd me esperava impaciente.

Achar a saída pra A1 – Hamburg foi ate fácil. Parei num posto amarelo pra abastecer e mijar. Seria a última parada ate o destino final. Todo mundo olha pro Gerd. A maioria não fala nada, nem ao menos sorri. Mas sei que acham o carrinho simpático, engraçado. Duas pessoas falaram “Schönes Trabi!”. Agradeci e fui embora debaixo de chuva e da penumbra no meio da tarde. Inverno na Europa é foda. Cinco da tarde parece ser dez da noite. E assim fomos. Eu comendo biscoitos Leibniz de chocolate e Gerd meio ressabiado. Parecia saber que seu tempo no mundo europeu “civilizado” havia terminado. Ate soltou o botãozinho do farol, ainda em Düsseldorf. O mesmo que o Don Gomes pediu pra eu consertar e o fiz. Herr Drösser deu um tapa nele, mas não ficou 100%. Vou pedir outro e mandar pelo correio pra sede do Grande Premio junto com um pacote de biscoitos.



[1h34min de bateria, ou 44%. A ver]

A chegada na cidade foi fácil. Meu GPS manual foi perfeito, só que vacilei ao não seguir na rua do hotel, a Steindamm, e continuar na avenida. Voltar foi complicado. Achar vaga pro Gerd por perto mais ainda. Tive que esperar alguém sair pra conseguir. O hotel Residence era meio decadente por fora. A região também. Cheia de sex shops, lojas de apostas com negões mal encarados lá dentro, lojas fechadas, um teatro e outros hotéis baratos. Fiz o check-in, mas o recepcionista me mandou atravessar a rua e pedir um quarto no hotel da frente. Disse que eram da mesma rede. Sei. Já no novo e também decadente hotel (são da mesma rede mesmo), peguei a chave e subi. O elevador deve ter sido feito em Portugal. Não marca o andar inteiro, mas meio andares. Entrei no E-1 e subi ate o 3-4 por que meu quarto era o 31, no terceiro andar. A porta se abriu e desci meio andar. O quarto ficava meio escondido, mas era sossegado. O suficiente pra quem quer passar uma noite, talvez duas, e não quer gastar muito. Cama grande, travesseiros macios e melhores que o hotel chiliquento que fiquei semana passada durante um treinamento, uma mesinha com TV de 14” e um controle que não funcionava, dois abajures, o indispensável aquecedor, a janela pra ruidosa rua e o banheiro limpo e funcional.



Deixei as coisas e sai pra dar uma volta. Entrei nas sex shops pra ver o que tinha, como se já não soubesse. Nada de inédito, claro. Fui num bar cheio de TVs mostrando futebol. Ali estavam os negões mal encarados, mas que na verdade era apenas uma turma de amigos acompanhando a rodada futebolística. A loja de apostas era ao lado. Todos com os olhos grudados nas TVs, montes de papeis espalhados no chão, ninguém falando ou bebendo nada. Peguei um papelzinho pra tentar entender o esquema. Muito complicado. Resolvi não perguntar e procurar por uma cerva em outro lugar.

A Hbf, vulgo estação central, ficava logo ao lado. Aliás, essa tinha sido a condição nr. 1 ao reservar o hotel. A quantidade de opções de comida e bebida que se encontra nessas estações me assusta. Tem desde Pizza Hut, que gosto muito, McDonalds e Burger King, os de sempre, passando por lojas de comida chinesa, o kebab dos turcos, vegetarianos, italianos, hot dog, padarias e bier bars. Vi um da Löwenbrau, aquela marca famosa de cerveja bávara. Antes entrei numa livraria grande pra matar o tempo. Fiquei folheando um livro enorme do Hewmut Newton, depois li noticias em vários idiomas da imprensa internacional, peguei revistas de carros antigos, e por fim vi a entrevista do Dave Gröhl pra revista Mojo. Quem não o conhece, fique sabendo que começou numa banda pequena chamada Scream (vou checar depois), depois foi baterista do Nirvana, ajudou a fundar o Foo Fighters, gravou um álbum com o Queens of Stone Age e agora faz parte da mega banda Them Crooked Vultures. Vou ao show deles amanha em Köln (Colônia). Foi só por isso que escrevi sobre ele. Com a boca seca e pedindo uma gelada, me sentei na tenda bávara e pedi uma Löwenbrau. Assisti as lamurias dos técnicos de futebol alemão, vi alguns gols da rodada e me mandei.



Tem tanta gente nessas estações que fico sempre observando algumas pessoas e tentando adivinhar o que estão fazendo ali. A maioria espera o tempo passar pra pegar um trem, obviamente. Mas vários estão esperando por alguém. Muitos trabalham ali, ganham seu pão de cada dia. A grande maioria estrangeiros que migraram em busca de uma Vida melhor às custas de um trabalho braçal e quase escravo. Outros estão como eu, fazendo hora, tomando uma, comprando um livro ou revista, que não comprei, comendo algo por que moram por perto. Os que não têm pra onde ir ficam ali também. Pedindo esmola, procurando algo nas lixeiras. Não é tão raro de se ver cenas assim. Amanha estarei de novo nessa torre de Babel chamada Hbf pra pular num trem e voltar pra Essen.

Mas antes, tenho que despachar Gerd pra Montevideo.

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Hamburg, 7 dezembro 2009 (tem um velhinho do meu lado)

O porto abriria às 8h da matina. Desci pra tomar café às 7h e encontrei o necessário. Tinha ate mais do que isso. Pra mim basta um pãozinho com manteiga, queijo e café com leite. Nem precisa de presunto, mas tinha salame, ovos mexidos, suco de laranja, podia-se escolher entre cappuccino, expresso e milch caffe, tomate e pepino (alemães amam essa merda) e três tipos de pães. Me esbaldei. Pensei no hotel do curso em Essen e no exagero desnecessário. La havia o café da manha bem mais farto, é verdade. No meio da manha fazíamos uma pausa pro café com biscoitos ou frutas. Uma maquina de café dessas chiques ficava ali à vontade. Pra fazer um latte machiatto, cappuccino, expresso entre outros. Na sala de treinamento havia uma mesa com vários tipos de chá e mais café. O almoço tinha sempre uma sopa, depois salada, prato principal e sobremesa. Seguidos por um cafezinho no fim. No meio da tarde, nova pausa. E às oito da noite o jantar nos mesmos moldes do almoço. Não dava tempo de sentir fome. Um desperdício. Um exagero. Esse Mundo é muito injusto. Mais de um bilhão de pessoas passando fome e nos nesse abuso todo. Quanta comida era simplesmente jogada fora ali todos os dias.

Devia haver um meio de redistribuir tudo isso. Essa desigualdade toda existe por que uns poucos têm muito, mas muito mais do que precisam (e ainda reclamam), enquanto que a maioria não tem sequer o necessário pra sobreviver diariamente.



Bem, peguei Gerd e fui em direção ao porto, Hafen em alemão. Meu GPS manual dessa vez foi perfeito. O destino era a Dessauer Strasse 48 na Unikai. O tal Schuppen 48 abrigaria Gerd de hoje ate o dia 18 Dez. Nesse dia, o cargueiro Grande Francia dos Grimaldi o levaria para uma viagem só de ida aos mares do Sul. Ele me pareceu tranqüilo e sereno. Não se emocionou muito na despedida. Disse que seu tempo na Europa realmente já acabou. Agradeceu pelo carinho e cuidados, mas disse que agora fará parte de uma família nobre e conhecida no Brasil. Seu sobrenome será italiano. Magliari me disse ele. A tal empresa Orient ODS não tinha feito a reserva. Ao tentar fazer o check-in, Gerd não constava da lista de passageiros. Reservei uma cabine dupla, mesmo sabendo que ele embarcaria sozinho. Vai que ele conhece alguém na viagem. Dois telefonemas e tudo resolvido.

Entrei com dificuldades no pátio do porto, dirigi feito barata tonta ate achar o local exato onde deixá-lo. Vi vários carros interessantes, principalmente um jipe estilo militar da Suzuki. Não esses que a gente vê nas ruas, mas tipo Land Rover. Fiz algumas fotos e vídeos, mas um segurança me disse que era proibido. Mandou apagar tudo. Quando ele virou as costas, fiz tudo de novo e disse ao Gerd que sou brasileiro e não desisto nunca. Ele riu e gostou.

[56min de bateria, ou 27%. Essa conta ta errada.]



- Bem, agora você vai ficar aqui 11 dias e depois seu navio vai te levar pros Trópicos.

- Mas por que esperar todo esse tempo?!

- O navio é dos Grimaldi, são frescos. Querem tudo de primeira e leva esse tempo pra organizar tudo. Imagina a quantidade de champagne e caviar que estão levando.

- Não preciso disso. Quero apenas um lugar seco e confortável. E gasolina e óleo.

- Isso você terá, não se preocupe. Me garantiram na entrada.

- Explicou pra eles sobre as marchas na coluna de direção?!

- Claro, disseram que estão acostumados.

- E a chavinha da gasolina?!

- Também já sabem. Nenhum mistério ai.

- Tudo bem então. Essa traseira desse A6 me agrada.

- Foi coincidência. Você é um cara de sorte.

- E o protetor solar que o Flavio falou?!

- Chegando em Sampa você pede pra ele. Têm vários por que ta ficando carece e odeia tomar sol na moleira.

- Você vai ficar bem sem mim?!

- Claro, fazer o que. Vou sentir sua falta, mas segue a Vida.

- Pois é. Obrigado por mudarem minha Vida.

- De nada. Aproveite a viagem. Seu tio Walter te aguarda ansioso.

- Até mais. Nos vemos na Paulicéia.

- Inté Moema.

50 melhores álbuns de 2009

Düsseldorf (banho e cama)

Vi no twitter de alguém: http://www.nme.com/list/50-best-albums-of-2009/159978/page/1

Amanha comento sobre as bandas das quais conheco poucas. Acabo de chegar de Köln onde fui ver Them Crooked Vultures. Resenha só na quarta, mas o show foi demais. Dave Grohl arrebenta e vi o John Paul Jones ao vivo. Só falta o Page.

E também só amanha o relato completo da Gerd Delivery em Hamburg. Com fotos e videos, claro.

Inté.

Saturday, December 05, 2009

Mercedes-Benz SLR Stirling Moss

Düsseldorf (Davi vai se casar)

Minha ordem preferência nas marcas de carros alemaes comeca com Porsche, Audi, BMW e Mercedes por último, mas essa obra-prima é demais.

Moss foi quatro vezes vice-campeao de Formula 1, mas é muito mais lembrado (e famoso) do que muito campeao por aí.

O texto do UOL:
"A série especial de encerramento do Mercedes-Benz SLR leva o nome Stirling Moss, feita desde janeiro em homenagem ao famoso piloto inglês que fez história na década de 1950 a bordo do 300 SL Gullwing - o chamado 'Asa de Gaivota', que inspirou o recém-lançado cupê SLS. As últimas unidades do SLR terão o potente motor dianteiro-central 5.5 litros de oito cilindros em 'V', sobrealimentado por um compressor e capaz de entregar nada menos que 650 cv. Dados da montadora alemã indicam uma aceleração de zero a 100 km/h em rápidos 3,5 segundos e velocidade máxima de incríveis 350 km/h - a mais elevada em um carro fabricado de série."

Wednesday, December 02, 2009

Lombardi

Essen-Burgaltendorf (nao dá tempo de sentir fome...)

Grande parceiro de Silvio Santos, o locutor Luiz Lombardi Netto morreu aos 69 anos na manhã desta quarta-feira (2), em Santo André, região metropolitana de São Paulo.




Outro dia foi o Herbert Richers, da "versao brasileira".

Michael Jackson se foi também.

Só faltam Pelé, Maradona, Silvio Santos, Xuxa, Lula, Bozo e o Chaves. O Mick Jagger também entra nessa lista. Paul McCarthney também.

O Mundo só piora, impressionante. Esses caras sao insubstituíveis. Ninguém vai chegar aos pés deles em momento algum no futuro.

A Humanidade anda pra trás e pensa que evolui.

Sunday, November 29, 2009

Diario de Viagem - Lisboa (2)

Düsseldorf (minha mulher me abandonou...)

Escrevi esse texto na sexta passada no aeroporto de Zürich. Vai do jeito que ficou. Era pra postar ontem, mas deu um pau geral no ßlog e no Mac que nunca aconteceu antes.

ps. Viajar é bom demais, mas o tal de chegar em casa é melhor ainda.

26 Nov - Zurich (Lindt = Garoto)

No post de ontem, esqueci de falar sobre a hospitalidade, atenção e cordialidade dos purtugueses. Tratam todos, não só os brasileiros, com muito respeito e amizade. Talvez por isso, Lisboa tenha sido eleita o destino turístico nr. 1 no Brasil. Aqui na Europa a imagem deles não fica longe. Percebi turistas de varias nacionalidades, suecos, italianos, franceses, perambulando pelas ruelas da cidade.

Ontem fomos almoçar no Moisés, típico restaurante português para almoços rápidos. Os homens se sentam no balcão e tomam seu vinho verde enquanto o prato não chega. Meu cozido à portuguesa com vinho verde, claro, veio rápido. Resovi seguir a sugestão do Rui. O terremoto de Lisboa em 1755 apareceu na conversa, assim como a data de origem da cidade, criada pelos romanos (segundo Rui e José), a influência purtuguesas na cultura européia e futuramente mundial e por aí vai. Aprendi, ou pelo menos ouvi, que o chá inglês fora inicialmente introduzido pelos lusitanos na ilha da Rainha. O café, do Brasil, foi disseminado, primeiramente na Europa, pelos pequeninos lisboetas e conterrâneos.

Tinha até um senhor no restaurante que deve ser tio do Luiz, o maior humorista de todos.



Depois do trabalho, passei no hotel pra deixar as coisas e sair em busca de bons vinhos, azeites e talvez queijos. Fiquei nos dois primeiros por questões de logística. A região do Douro foi eleita para os tintos, acompanhado de um vinho verde cujo nome não me lembro (favor ler com sotaque de Lixboa) e dois azeites excelentes. Juju com certeza iria gostar.

Mercadoria devidamente descarregada no quarto, vamos pra rua. Bater perna por uma cidade onde nunca estive é das coisas que mais gosto de fazer na Vida. Com o mapa no bolso e apenas a direção do Bairro Alto na cabeça, segui pelas ruas e avenidas da cidade-origem do Brasil. As semelhanças são impressionantes. Ficaram mais visíveis ainda no transito. Tudo parado, cruzamentos bloqueados, ninguém respeitando a área marcada e proibida... mais em casa impossível. Portugal é o Brasil sem a família e os amigos.

A primeira parada foi numa pastelaria ao lado dum hotel 5 estrelas com restaurante requintado acoplado. Entrei em busca do famoso pastel de Belém, mas me contentei com um pastel de bacalhau. Lembrei da Carol prima da Juju falando isso. Estavam fechando e o miúdo purtuga tava nervoso, se recusando a servir um descafeinado e um doce para um senhor. Não fosse a boa vontade da purtuga sua colega e o velho ficaria na vontade.

O Bairro Alto com seus bares e restaurantes espalhados pelas ruelas irregulares e inclinadas me fez lembrar Montmartre, mas com um charme diferente. Eram bares de musica ao vivo, outros com DJ, vários com o famoso fado ao vivo, musica que nunca ouvira na Vida até então, e uma variedade interessante de sons e pessoas.



Olhei no mapa e vi a Igreja de São Roque. Como sou um beato Salú louco por igrejas, mais pela arquitetura e imponência do que pela religião, achar a igreja virou missão a ser cumprida. Acho que metade de todo o ouro das Minas Gerais esta lá. Não conheço residência divina com tamanha quantidade de ouro. E com um órgão maravilhoso pra completar. Fiquei imaginando como seria a Catedral da Sé. A lisboeta, nao a paulistana, claro.



Saindo de lá, o próximo destino era o cais do Sodré. Um professor de cálculo que tive na Fumec era chamado assim. Me lembrei do nome, mas não da pessoa. Na descida para o rio Tejo, saí numa praça. Uma barraca pequena com mesas espalhadas se destacava no meio dela. Perguntei sobre o pastel de Belém pensando em algo salgado. A menina me mostra uma empadinha de massa folheada com um recheio amarelo no meio. Ao invés de ketchup ou maionese, me pergunta se quero canela. O pastel é doce, mas agrada. Nada que não tenhamos iguais ou melhores no Brasil (na Alemanha, jamais), mas não era nada de outro planeta. Tinha um outro doce comprido ao lado e perguntei o que era. Custavam 50 centavos, uma mixaria na Europa onde nada custa menos de 1 ou 2 euros. Provei os tais travesseiros de Sintra e me arrependi. A pasta amanteigada cola imediatamente no céu da boca. Pra tirar, so enfiando um guardanapo na boca raspando e limpando. Segui pro cais repetindo essa operação.

Na praça em frente ao cais, já no Sodré, tenho duas pastelarias/lanchonetes pra escolher. A cerva Sagres já estava escolhida, mas o que comer?! Fui de coxinha de galinha mesmo pensando se estava sonhando. Do cais rumo a Praça do Comércio era um pulo. Chegando lá, uma reforma enorme me impediu de fazer fotos. Os edifícios e espaços públicos da cidade estão sendo restaurados aos poucos. Acho que em 3 anos Lisboa terá um centro antigo revigorado e em ótimo estado.

Eram quase dez da noite quando fui subindo em direção a Sé. No caminho, me senti na esquina da Av. do Contorno com R. Espírito Santo em BH. Exatamente na Igreja do Santo Antonio, só que agora diante da original. Lembrei do Guidão. Talvez ele seja a explicação dessa minha paixão por igrejas.



A cidade já estava devidamente explorada. Agora era seguir até a Praça da Figueira, passar pela Praça D. Pedro IV (passaram dois números e eu nem vi?!) e chegar no metrô Restauradores, já na Av. Liberdade. Depois da Figueira, passei por um restaurante anunciando “bifanas”, entre outras iguarias. Entrei pra ver o que era. Um saduba de bife de carne de porco no pão com mostarda daquelas amarelinhas pra acompanhar. Mandei um e uma Sagres preta pra terminar o tour gastronômico.

Meu cunhado Leocádio coleciona copinhos do Hard Rock Café. Mesmo sem ter estado nas cidades. Caí na besteira de falar pra ele sobre o de Lisboa. Claro que me encomendou um. Tive que entrar e comprar. Pelo menos vi um clip bacana do Black Crowes e o lugar me pareceu agradável, mas seria minha última opção de restaurante/loja a visitar. Outro dia explico minha birra com os States.



Com o M-Restauradores fechado, subi a Liberdade ate o M-Avenida. De lá até o M-Parque foram duas estações. No dia seguinte, uma reunião sobre um assunto em que eu não tinha a menor idéia me aguardava. Gosto de novidades e o assunto agora ficou interessante.

Em momento algum nesses poucos dias em Lisboa aquela ignorância e burrice dos purtugas atribuída pelos brasileiros foi percebida, pelo contrário. Profissionalmente falando, são muito competentes e sérios. É uma cidade e um país que merecem ser visitados e compreendidos. Espero que esse trabalho iniciado agora renda frutos e que eu possa voltar outras tantas vezes.

Quando tiver saudades do Brasil, das comidas, bebidas e lugares, já sei pra onde ir.

Saturday, November 28, 2009

Escada de metrô vira piano

Dusseldorf (vi esse no blog da mary, que nao sei quem eh)

A ação, feita em conjunto pela agência de publicidade DDB e pela Volkswagen, foi implantada em um metrô de Estocolmo, na Suécia.

Imagine que você está descendo as escadas do metrô, como faz habitualmente todos os dias, e começa a ouvir sons de piano, tocados em ritmo que vai de acordo com os seu passos. Essa foi a proposta da agência de publicidade DDB em uma parceria com a Volkswagen.
As duas empresas se reuniram para criarem um experimento chamado, Fun Theory (algo como "teoria divertida", em inglês), uma tentativa bem ambiciosa de tentar mudar os hábitos sedentários dos moradores da capital da Suécia, Estocolmo.

Para isso, transformaram as escadas de uma estação de metrô em um piano, o que aumentou surpreendentemente o uso das escadas em 66%. O resultado você confere no vídeo ai embaixo.

Friday, November 27, 2009

Diario de Viagem - Lisboa

Lisboa (nao comam os travesseiros de Sintra)

Lisboa eh Sao Paulo com predios mais baixos, muito menos gente e um transito 300 vezes menor, mas que engarrafa. As semelhancas com o Brasil me impressionaram.

Cheguei ontem na hora do almoco e fomos direto para o Tempero de Minas. La chegando, vejo aquelas panelas de pedra magicas fumegando. Arroz carreteiro, tutu a mineira, frango ao molho pardo, costelinha, mandioca frita, frango com quiabo, farofa, banana frita, linguica. Tava todo mundo la. Muito melhor do que meu sonho mais otimista. A dona eh de Vicosa, conhecida por sua universidade de agronomia, entre outras qualidades. Me ofereceu ate uma cachacinha no final. Tive que recusar por que a viagem nao era turistica.


(Peguei no Gugou)

Jane mamae quando aqui esteve, me contou dos predios decadentes no centro antigo. Realmente muita coisa ta caindo aos pedacos, mas agora percebe-se varias faixas de APROVADO pela Camara Municipal autorizando a restauracao, nao se sabe quando, desses edificios. Eh o comeco da revitalizacao do centro antigo.

A noite seguimos para o Bairro Alto debaixo de uma chuvinha de "molhar bobo", que aqui se chama "de molhar tolo". Tivemos que usar o bondinho pra subir (esqueci o nome, amanha eu descubro... to com sono). Achamos um restaurante/adega de vinhos e por la ficamos. Degustacao com queijos portugueses. Esse bairro eh povoado por uma infinidade de barzinhos e restaurantes que se espalham por suas ruelas irregulares em comprimento e direcao. Era uma area meio abandonada da cidade que foi aos poucos sendo habitada por descolados.

Os purtugas falam chiado como os cariocas. Sao pequeninos, como dizem eles proprios, feios, mas trabalhadores e honestos. Foi o pouco que pude perceber ontem.

Hoje foi bem mais interessante. Depois de almocar no Moises, voltei pro trabalho. Bati perna por quatro horas parando varias vezes pra provar os petiscos locais e tomar a boa cerveja Sagres.

Inte... amanha tem mais. Com fotos tiradas por mim.

Radio Truta

Lisboa (bifana com Sagres preta eh bom demais)



Ninguem menos que Chris Cornell e Eddie Vedder antes de ficarem famosos no Soundgarden e Pearl Jam, respectivamente.

Monday, November 23, 2009

Chuva = Alemanha

Düsseldorf (Rep. Dominicana é um bom lugar pra se viver?!)

Gerd reclamou na semana passada da falta de uso, entao resolvi botar o carrinho pra rodar. Sábado fomos pra Essen jogar um amistoso num time de um colega de trabalho. Pra mim seria apenas uma pelada entre amigos, mas cheguei lá e havia uniformes, refletores, um campo de terra batida mas perfeitamente nivelado, mini-torcida do time adversário, um juiz comédia que dava dez passos pra um lado e outros dez pro outro e até uma convencao de laser freaks no salao do clube. Tem coisas que você só acha na Alemanha. Perdemos o jogo por 6x2, claro. Joguei só o 2°T e o 1° terminou 1x3... nao podem me culpar de nada.



Bem, hoje fui com Gerd de novo pra Essen trabalhar. Como somos exigentes, só ouvimos a rádio WDR3 que toca ópera, música clássica e jazz. E só. Uma notícia ou outra e mensagens de engarrafamentos, vulgo Stau em alemao. Eles amam essas notícias. Se o cara tá na Autobahn A3 indo de Köln (Colônia para os desavisados) pra Frankfurt e escuta que tem 5km Stau na A345 entre Leipzig e Dresden o cara tem um orgasmo. A gasolina do Gerd acabou no meio da Autobahn, mas foi só virar a chavinha pra posicao R que ele voltou ao famoso ritmo noventaporhora, palavra já homologada pelos germanísticos e entrará na próxima revisao do dicionário Langenscheidt. Acordei atrasado hoje. Queria ter ido de trem, mas Gerd me salvou. Uma vez mais.



Hoje às 11h da manha parecia o fim do mundo. Tudo escuro, árvores sem folhas, um vendaval lá fora, nuvens negras, carros passando na avenida molhada e as pessoas trabalhando no conforto do prédio como se a coisa mais normal do mundo acontecesse lá fora. Pra mim era o apocalypse em pessoa.

A volta pra casa foi complicada. Chuva e vento. Faróis passando, escuridao. Um caminhao colou na minha traseira e nao saiu mais. Cortei um bando de lerdos atrás de um trailer pra aliviar. Ella Fitzgerald cantava magistralmente. Gerd chacoalhava todo. Pensei "estou num carro de PLÁSTICO no meio desse vendaval". Deu tudo certo, como sempre. Amanha ele vai de novo. Tenho futebol e fica fora de mao voltar de trem. Dessa vez é uma peladinha despretenciosa mesmo. Sem desculpas pra derrotas.

Vou sentir saudades desse carrinho/pessoa.

Tuesday, November 10, 2009

Mauerfall 20 Jahre | Queda do Muro, 20 anos

Düsseldorf (Gerd está feliz)

Saí de casa hoje pensando nos documentários que assisti ontem na TV alema. Um bombardeio de informacoes, como sempre fazem. Tanto em quantidade como em qualidade.

Segui caminhando na manha fria e úmida do outono alemao em direcao ao canteiro de uma avenida. Lá existe um mini-estacionamento grátis. Fica a 10min a pé da minha casa. Talvez um pouco menos. De longe avisto Gerd. Parecia agitado. Me vê e se alegra prevendo o movimento.

Entro, me sento, passo o cinto, abro a torneirinha, puxo o afogador, bato a chave (ele sempre pega de primeira), diminuo o afogador, ligo o rádio, acendo os faróis, engato primeira, solto o freio de mao e arranco.



9 de Novembro de 2009 sao 20 anos depois da queda do muro da vergonha. O muro que dividia Berlin Ocidental, um enclave capitalista no meio da Alemanha Oriental, do lado Leste da cidade, socialista. Muro que separava as vítimas da Guerra Fria e do pós-guerra. Alemaes que pagaram com juros e correcao monetária o que seus antecessores fizeram para o Mundo entre 1939 e 1945. O joguinho político de poder e supremacia global teve em Berlin um dos seus principais símbolos.



Resolvi prestar a minha homenagem indo com um Trabant, de nome Gerd, para o trabalho em Essen. No caminho, alguns olhavam. A maioria ignorava. Acho que muitos nem se lembravam da data importante. Já na Autobahn 52, um carro passou e buzinou diminuindo a velocidade. Fiz um sinal de "jóia" e ele seguiu.

Gerd me contava que seus companheiros de estacionamento lhe perguntaram várias coisas. Carros capitalistas e modernos, nao estavam acostumados com um Trabi de 21 anos vindo das cercanias de Leipzig. Depois de esclarecida sua origem, Gerd relatou o curto período que viveu sob a cortina de ferro, de Set 1988 até 9 Nov 1989.

A família Lorenz se aventurou numa tentativa de fuga e asilo político na Hungria em Abril de 1989 quando as coisas pareciam mais amenas. Gerd foi contra desde o início, mas era voto vencido. Heiko, proprietário de um pequeno negócio de ventiladores, era o mais empolgado. Pia, a dona de Gerd, concordava com a tentativa com um pé atrás. Sua irma mais nova e o namorado foram levados pela influência do homem-ventilador.

Foram ver se os ventos húngaros sopravam mais fortes e frescos do que em Leipzig. No caminho foram controlados por uma patrulha do exército da DDR. Rapidamente percebeu-se a intencao dos quatro. Mandaram dar meia volta, mas nao sem antes aplicar uma multa. Gerd riu baixinho confirmando suas impressoes.



O dia de hoje foi marcado por várias homenagens. Além da ida até Essen, na hora do almoco levei uma alema colega de trabalho pra passear no Gerd. Ela cresceu no lado leste de Berlin e seu pai teve um Trabant igual ao nosso. Ficou feliz da Vida ao vê-lo e mais ainda ao ouvir o som característico do motor 2 tempos. Me contou que um Trabant era a única opcao naquela época. Retruquei dizendo que se poderia comprar um Wartburg, ora bolas. Ela respondeu que se para um Trabi esperava-se 10 anos, um Wartburg demoraria 18.

É estranha a sensacao de morar em um país tao desenvolvido e retrógrado como a Alemanha. Sao a potência da Engenharia, da Tecnologia e da indústria automobilística, entre tantas outras. Mestres da Filosofia, música clássica e Política. Mas ao mesmo tempo, vivem se estranhando uns aos outros. Grupos neo-nazis surgem aos montes na antiga DDR. Nao sabem nem o por que fazem parte desses grupos cujo único objetivo é a discriminacao racial pura e simples e a violência gratuita.

Os turcos sofrem bastante na Alemanha. Fazem um trabalho que nenhum alemao gostaria de fazer, mas necessário. Pagam impostos, geram renda e mais empregos. Os alemaes, de maneira geral, olham torto, no fundo, prefeririam vê-los em Istambul ou Ancara, bem longe daqui.



Apesar de nao dominar o idioma, conheco as diferencas culturais e o irritante modus operandi dos alemaes. Seguem regras à risca, sao inflexíveis na maioria das vezes, pouco criativos, mas muito metódicos, organizados e trabalham com alta produtividade. Nao trabalham muito, mas sao eficientes.

Gosto daqui, apesar de tudo. De ver as estacoes do ano mudando. Da localizacao. A Oktoberfest também é algo que me agrada muito. Os carros antigos e a proximidade de autódromos famosos como Nürburgring e Spa-Francorchamps. A já citada organizacao em um país onde tudo funciona. A infra-estrutura de transportes simplesmente fantástica com transporte fácil para todos. Todo mundo pode ir e vir sem maiores dramas.

Mas sinto que algo ainda me falta. Nao sei bem o que, mas vou descobrir em breve. Sou bom para prever o futuro. Tenho ótimas percepcoes e vislumbres. Nunca me enganei com as pessoas. Sei exatamente quem é quem e quais sao suas intencoes, índole, pensamentos. Nao, nao sou vidente e nem quero ser.

Talvez meu tempo nesse país já tenha acabado...

Tuesday, October 27, 2009

Mary & Max

Essen (far away from cosmic home...)

Fantástica essa animacao. Acabei de ver o trailer no MKO e compartilho com vocês. É do diretor australiano Adam Elliot e fala sobre amizade, autismo, taxidermia, psiquiatria, alcoolismo, obesidade, cleptomania, diferenças sexuais e religiosas, agorafobia, e otras cositas más.

Aproveitem.

Tuesday, October 20, 2009

Quem não acredita em cegonhas?!

Düsseldorf (ficou grande demais...)


















Tirei livre a tarde de segunda para executar a Missão München. Com o chefe sabendo e achando graça, a mulher dando apoio e Amor e o dono assinando embaixo, só não iria se fosse belga. Os belgas sofrem com as piadas dos holandeses e alemães assim como os portugueses com a nossa ironia.

Mochila nas costas, saio do trabalho, atravesso o parque, pulo no U-bahn, chego na estação central, vejo o ICE me esperando, caminho ate o vagão 21, entro e acho o assento 65 janela, mas com uma coluna imensa tampando a visão, troco de lugar, me acomodo e aguardo os vagões saírem da inércia.

Planejei trabalhar no trem lendo sobre um futuro projeto, procedimentos de gerenciamento e outros assuntos igualmente interessantes e fantásticos. Trem vazio, sem maiores emoções, saindo de Essen e passando por Duisburg, Düsseldorf onde moro, Köln (Colônia para os incautos), Frankfurt, Aschafenburg (não sei por que o ICE para nessa vila), Würzburg, Nürnberg e finalmente München ou Munique pra quem nunca teve o privilegio de visitar a capital da Bavária. Ligo pra Juju algumas vezes.

Na chegada logo me veio na lembrança a Oktoberfest. A Hbf (estação central) sempre lotada de turistas, bêbados, fantasiados, perdidos, ressaqueados, tristes, felizes, jurando nunca mais voltar, contando as semanas pra próxima edição. No caminho para o metro, olhei pra direita e vi o estacionamento de onde duas semanas atrás havíamos partido de volta pra casa depois de comparecer pela quinta vez nessa festa medieval e brutal para o fígado que os bávaros fazem todo ano em Outubro.

Comprei o ticket do U5 e esperei na plataforma. Entrei no vagão, sentei, tirei meu livro Conversa na Catedral, do Vargas Llosa, e fui lendo como se morasse em Munich desde sempre. Após cinco anos de Europa, as novidades não são tantas. É tudo muito parecido, em todos os países. Mais do mesmo, sempre. É confortável, mas ao mesmo tempo um saco. Era hora do rush, mas sem movimento algum que o caracterizasse. Os europeus gostam de ler, em particular os alemães. São donos do maior mercado e da maior feira editorial do mundo. Todo mundo lê em todos os lugares. Um silêncio absoluto entrecortado apenas pelo condutor anunciando, em bayerisch impossível de entender, as paradas e avisando que as portas se fecham após o sinal.

Desço na Quiddestraße pra pegar o ônibus 192 ate a Feldbergstraße 2 onde Gerd repousava desde a partida do dom Gomes dia 9 de Outubro. Desci do balaio filmando o momento. Escurecia e fazia um frio de rachar. Vi a placa da rua e uma casa com uma van branca na porta. Pensei: deve ser aqui perto o numero 2...

- Don Peter, é você?!

- Fala Gerd, claro que sou eu.

- Você vai me tirar daqui?! Não agüento mais olhar pra essas bicicletas velhas.

- E por isso que vim aqui. Vou entrar na casa, tomar um banho e caímos no cerrado, beleza?!

- Graças a Deus. Esse povo aqui é muito mercenário.

- E no mais, sofreu com a partida do Flavio?!

- Claro. Ele é demais. Meio doido também, você sabe. E volúvel. Vira e mexe se apaixona, mas sei como mantê-lo por perto.

- Acho que você saberá sim, mas a concorrência é grande.

- Não me preocupo com isso, só quero sair desse freezer ao ar livre.

- Isso é fácil.

Toquei a campainha da casa da Fátima, que me alugou os apartamentos pra Oktoberfest e quebrou o galho do dom Gomes e do Gerd durante esses 10 dias. Havia combinado de tomar um banho. O marido holandês abriu a porta. Falei “Wie geht es Ihnen”, sem resposta. Perguntou se viria buscar o carro, respondi que sim e ele “Gott sei Dank!” (Graças a Deus). Otário, pensei. Vou cagar no seu banheiro inteiro. Como sou educado, limitei-me ao meu combinado banho. Saindo do banheiro, Jan, o holandês babaca, me perguntou quando eu queria ir embora. Respondi, agora. Ele tirou sua van da frente da garagem enquanto eu entrava no Gerd. Conferi tudo, virei a chavinha de gasolina pra posição A (auf), puxei o afogador, dei a partida e... pegou de primeira, claro. Enquanto o holandês se afogava na nuvem azul, ajeitei os espelhos, arredei pra trás o banco colado no volante pra acomodar o pequeno polegar Gomes, puxei o cinto, engatei a ré e vamo simbora Gerd. Dei tchau pro holandês travestido de alemão e rua.

O mapinha indicava para seguir a avenida em frente ate o fim em direção a München Ostbahnhof. No caminho os bávaros olhavam curiosos pelo carrinho. Senti Gerd muito mais macio do que em Leipzig quando o busquei, sem folgas e trancos na direção. A oficina do Herr Drösser fez muito bem a sua saúde. Chegamos sem errar no terminal da DBahn chamado Autozug (auto-trem). No check-in o cara da DBahn disse nunca ter visto um Trabi por aquelas bandas. Dois trens partiriam naquela noite, um para Düsseldorf, outro para Hamburg. Eram vários vagões-cegonha gigantescos com dois andares. Capacidade para uns 80 carros acho eu. Ameacei entrar e Gerd morreu...

- O que foi?!

- Nunca andei de trem.

- E daí, tem sempre a primeira vez.

- É perigoso?!

- Claro que não. Deixa de ser fresco e entra logo. Você vai gostar.

- Capitalismo tem lá suas vantagens, né.

- Ah, tá começando a gostar. Vai ser frio, mas você agüenta fácil.

- Então vamos. Gira logo essa chave.

Entramos pela traseira da grande ave no segundo andar, de camarote segundo Gerd me contaria já em Düsseldorf (como aprendem rápido). O frio continuava trincando os ossos e me restavam quase duas horas até a partida. Tiro fotos de Gerd. Boa viagem. Pra você também. Procuro algo pra comer e nada. Só as infinitas variedades de pães alemães. Queria um salsichão. Saio da estação pelas ruas procurando um bar ou café e nada. Que lugar mais fracassado. Uma menina pega sua bike, tira o cadeado e se manda no frio escuro da noite bávara. Só me resta o Burger King.

Peço um Big King Menu com coca e mayo (alemão chama maionese de mayo, que meigos), sento numa mesa e começo a comer. Observo uma mãe com seus dois filhos e um casal de idosos. O velho é a cara do Doc de “De Volta para o Futuro”. O cabelo branco e esvoaçante e a cara de louco estão ali. A velha come com a mente em seu mundo. O marido da mãe dos meninos chega e começa a comer. Pego alguns papéis e vou anotando fatos do dia, seguindo recomendação de famoso escritor. Doc tem sono. Levanta a cabeça olhando pro teto, apoiando-se no próprio pescoço para trás, e cai no sonho. Penso: poderia ter comprado um sanduba maior. Os meninos terminam o lanche. Vou ficar com fome a noite, que merda. Vejo um clip do Muse. Duas velhinhas amigas, irmãs ou gêmeas se sentam ao meu lado. O pai dos meninos também acompanha o clip do Muse. Vai dar tempo de passar na livraria?! O olho é maior que a barriga, sempre. E no supermercado?! Satisfeito, levanto, deixo minha bandeja no local apropriado, não sei antes deixar cair, junto o lixo do chão, pego minhas coisas e me mando pra livraria da estação. Folheio algumas revistas, compro uma edição comemorativa de 100 anos da Audi com direito a poster e DVD, em alemão é claro, reparo na repercussão negativa da guerra civil carioca na imprensa mundial, passo no supermercado pra comprar o biscoito igual ao do adesivo no vidro traseiro do Gerd só que com cobertura de chocolate meio amargo, e caminho para a plataforma.

Vagão 265, Platz 103. Almofada, protetor auricular e água são a garantia de uma noite tranqüila. Entro na cabine e dou de cara com uma família. Pai alemão que trabalha na indústria química fabricando produtos para airbags, mas também para plataformas petrolíferas. Falo do Brasil, ele da Petrobrás. A mãe irlandesa conversa em inglês com suas duas filhinhas lindas e loiras. Devem ter sete e cinco anos, imagino eu. Não sou bom de contas para essas idades. Conto onde moro, eles também são de lá. Os quatro olhinhos azuis me olham curiosos, envergonhados, felizes, sinceros. São cinco camas e digo logo para escolherem os lugares que quiserem. Decidem que a do terceiro andar seria a minha. Ótimo, penso. E a escada pra subir ate lá? Perguntam o que fui fazer em Munich. Eu e o alemão procuramos pela escada, e nada. Conto do Gerd, eles caem na risada me achando simpático ou sendo apenas educados. Subo, arrumo minha cama, me acomodo, pego o livro. Tem lençol, coberta e travesseiro. Amo a Alemanha. A mais velha olha pra mim e diz ter encontrado uma cabine vazia lá na frente. Dou um sorriso e ela repete a frase indicando querer ficar a sós com sua família. Penso em mudar, mas, e se um gordo escroto e fedido tiver a mesma idéia?! E começar a roncar e peidar durante a noite?! Ela acha a escada debaixo da cama. O medo do desconhecido me ajudou. Coloca-a na posição ajudada pela mais nova e depois se deitam. Decido ficar. Mando um SMS de boa noite pra Juju. Quieto tentando não incomodar, apenas lendo meu livro e escutando a interação familiar em alemão e inglês. Quando será minha vez?!

O som dos trilhos me faz lembrar o filme Stalker do Tarkovsky. Vai só aumentando e martelando a sua mente, mesmo com o protetor. Uma sensação de descarrilamento me invade o pensamento. E se os vagões-cegonha, mais pesados, saírem de traseira numa curva levando toda a composição?! Durmo tranqüilo em seguida. O café da manhã seria as cinco da matina. O pai alemão recusou, ainda bem. Ele diz que já estamos em Köln. Passou muito rápido. Como estará Gerd?! Nunca andou por essas bandas.

Acordamos. Olho pra baixo e quatro olhinhos azuis devolvem na direção contrária. Pergunta em alemão onde moro. Respondo e quero saber onde ela vive. Diz, sorri e sai da cabine. Junto minhas coisas e saio no frio. Sou o último do trem. Alemão é um bicho meio impaciente. Quer ser produtivo o tempo todo. Encontro eles esperando no relento pela liberação dos carros. Idiotas. Ou então gostam de frio. São seis e meia, ainda escuro. Fico impaciente, contagiado pelos germânicos. Percebo que viajamos acompanhados de dois ilustres passageiros, um italiano e outro teutônico. Vieram de segunda classe ou andar térreo, me explicou Gerd. Abrem os portões e a turma avança por entre os carros nos dois andares. As mulheres e restante das famílias ficam aguardando pelos ansiosos companheiros. Caminhando entre o corrimão de aço e desviando dos retrovisores, chego no Gerd.



- Porra, me tira daqui.

- Hahaha, por quê?! Não gostou?!

- Quem vai rir sou eu quando tentar me ligar. Tá tudo congelado, brrrrr.

- Nada que um afogador não resolva.

- Veremos. Anda logo.

Guardo a mochila no porta-malas, entro, puxo o cinto, ligo o rádio e espero. Os carros da frente vão sendo liberados aos poucos. A cegonha chacoalha como se tivesse parindo. Abro a torneirinha. Acendo os faróis. Um funcionário tira as travas das rodas e me manda seguir. Puxo o afogador e dou a partida. Nada. Porra Gerd, não queria ir embora?! De novo e ele liga. Engasga pra sair, mas vai. Na saída ganha um tchauzinho da mãe e das duas princesinhas. Viramos a curva ainda no pátio de descarregamento e uma senhora olha e sorri.

Gerd vira celebridade instantânea por onde passa.

No ainda escuro caminho de casa, nada de especial. Acho uma vaga na porta. Uma menina em seu Toyota me olha curiosa. Tiro minhas coisas, fecho a porta e caminho pra porta de casa.

- Quero conhecer seu castelo.

- O que?! Como assim?!

- Me leva pra Essen com você hoje.

- Como sabe que vou pra lá?

- Sei tudo sobre você.

- Não duvido. Tudo bem. Espere meia hora.

- Bis bald.


Entro em casa. Largo tudo na sala, tiro a roupa e pulo na cama pra me esquentar na Juju. Pobre Gerd...

Tomo um banho, troco de roupa, pego minhas coisas e volto pro carrinho. Já é dia claro. Pego a Autobahn 42 no já conhecido ritmo noventaporhora. Os apressados alemães não perdem tempo olhando para Gerd. Só querem chegar logo no trabalho, ser produtivos, não perder um segundo sequer. Quase chegando em Essen, Gerd engasga e morre. Viro a chavinha para posição R de reserva, jogo terceira pra pegar no tranco, mudo pra quarta e seguimos em velocidade de cruzeiro. Um belo sol nasce iluminando o vale do Ruhr. Acho uma rua com estacionamento livre e paro. Pergunto a outro motorista se ali é de graça mesmo. Diz que sim e tiro minhas coisas. Vou saindo quando escuto:

- E o castelo?!

- Mais tarde. Na hora do almoço te levo lá.

- Tudo bem. Quero conhecer BeNeLux também. Soube que os castelos por lá são igualmente magníficos.

- Te levo na Villa Hügel primeiro, aqui ao lado. Era da família Krüpp. Essen foi a capital do aço alemão.

- Quero conhecer a Ligne Maginot.

- Meu irmão mora em Luxemburgo, fica perto. Onde aprendeu essas coisas?!

- Livros contrabandeados, clandestinidade. Você não sabe o que é isso.

- Estou atrasado.

- Levarei chocolates belgas pro Flavio.

- Sim, claro. São os melhores.

- E a tal erva?!

- Que erva?!

- Já falamos de Be e Lux. Falta Ne.

- Ah! Pirou?! Ou quer pirar?!

- Os dois.

- Lembre-se do protetor solar.

- Tá no porta-malas.

- Ótimo. Depois a gente combina BeNeLux.

- Faço questão de ir. Senão hoje você volta a pé pra casa.

- Isso é uma ameaça?!

- Não, uma negociação.

- Combinado então.

- Bom trabalho.

- Obrigado.

Saturday, October 17, 2009

Misto Quente (Ham on rye)

Düsseldorf (11° C, durante a semana o frio comeu solto)


Charles Bukowski escreveu esse livro em 1982 sobre um adolescente de origem alema vivendo nos Estados Unidos da recessao pós-1929. O que pode ser pior para Henry Chinaski, ou simplesmente Hank, do que crescer pobre, ter espinhas colossais, um pai autoritário e covarde, uma mae passiva e ignorante, nenhuma namorada e nem sequer uma pequena chance de ter uma, e um futuro com perspectivas de servir de mao-de-obra barata num mundo cada vez menos propício às pessoas sensíveis e problemáticas?!

Bukowski sempre escreve com pitadas autobiográficas e a origem de suas bebedeiras e alcoolismo sao mostradas crua e friamente neste relato. Hank é único, nao aceita as tendências e muito menos a Vida burguesa e fútil de seus colegas ricos. Necessita saber sempre a verdade e permanece numa busca incessante. Também nao tem muita paciência com outros problemáticos e nerds que o circundam sempre. Vai se tornando um ser cruel, bruto, ignorante, mas que no fundo só queria amar e ser amado.

Se sentia muito bem deitado em sua cama, a luz apagada, ninguém enchendo o saco ou ditando ordens. Nada pra fazer, uma sensacao de paz enorme. Ele dizia que se pudesse dormiria por 3 anos seguidos pulando a adolescência sofrida e solitária.

Ultimamente tenho a mania de dobrar a ponta das páginas dos livros e marcar com a unha alguma frase ou parágrafo que me interessam. Hank tem várias tiradas excepcionais. Vamos a elas:

Sobre escritores e o que os leitores esperavam deles: "Entao era isso que eles queriam: mentiras. Mentiras maravilhosas. Era disso que precisavam. As pessoas eram idiotas."

Sobre a verdade: "Encontrar uma verdade pela primeira vez pode ser uma experiência muito divertida. Quando a verdade de outra pessoa fecha com a sua, e parece que aquilo foi escrito só para você, é maravilhoso."

Ficando bêbado pela primeira vez: "Sentei no sofá. Ficar bêbado era bacana. Decidi que sempre me embebedaria. A bebida levava o que era vulgar para longe, e talvez, se você conseguisse ficar afastado do que era vulgar por tempo suficiente, pudesse escapar desse destino."

Sobre os filhinhos-de-papai e as meninas interesseiras ao redor: "Riqueza significava vitória, e vitória era a única realidade. Que tipo de mulher escolheria viver com um lavador de pratos?"

Beleza x hipocrisia x riqueza x dificuldades (ao assistir seu baile de formatura pela janela): "Havia um preco a ser pago por tudo aquilo, uma falsidade generalizada na qual facilmente se poderia acreditar e que poderia ser o primeiro passo para um beco sem saída. Enquanto eu observava os garotos e garotas dancando, dizia para mim mesmo que um dia minha danca iria comecar. Quando este dia chegasse teria alguma coisa que eles nao tem, algum dia serei tao feliz quanto voces, esperem para ver."

Injusticas: "Acho que o único momento em que as pessoas pensam em injustica é quando acontece com elas."

Lembrando da adolescência: "Que tempos penosos foram aqueles anos - ter o desejo e a necessidade de viver, mas nao a habilidade."

A bebida, única e fiel companheira: "A bebida era a única coisa que impedia um homem de se sentir para sempre atordoado e inútil."

A guerra: "Morrer na guerra nunca havia evitado que novas guerras acontecessem."

Outras pérolas:
"Jamais confie num homem de bigode perfeitamente aparado."
"Dê uma máquina de escrever a um homem e ele se tornará um escritor."

Esse foi meu primeiro Bukowski. Sua obra é vasta e vários romances viraram filmes como Factotum, Barfly e Tales of Ordinary Madness para citar alguns.

Mixto Quente é altamente recomendado e daria um bom filme. Será que alguém já fez um roteiro adaptado?!

Saturday, October 10, 2009

Gerd, der Trabi

Düsseldorf (os elefantes estao chegando)

Berlin, 12. Setembro 2009 - Sábado, GP Monza

Antes de falar sobre Gerd, vi essa miragem parado ao lado da East Side Gallery, os grafites naquele pedação do muro ainda de pé em Berlin. Um Melkus, motor de Wartburg e mecânica misturada desde com o Trabant. Waltinho + Gerd = Melkus. Apenas 101 unidades foram feitas segundo a Wiki. Coincidência ou destino?!













Na volta desse passeio, faltavam 15min pra terminar a classificação em Monza. Fingia tranquilidade ao lado da Juju e do Pedrão. Disse que estava com fome. Desculpa esfarrapada pra entrar num bar com TV. Achei um turco vendendo frango assado. Uma Samsung brilhava em cima da porta num suporte. Antes de pedir qualquer coisa, perguntei se poderia ligar a TV e sintonizar na RTL. Pedido atendido, peguei uma cerva e subi pro segundo piso. A visão era melhor. 

Leipzig, 13. Setembro 2009 - Domingo, GP Monza (Hamilton pole)

Saímos muito cedo de Berlin, às 7h da matina. Eu e Juju, companheira e amante inseparável, seguimos da Ostbahnhof em direção à mega Hauptbahnhof, vulgo Hbf. De lá, pulamos num regional até Leipzig onde Heiko - marido de Pia - dona do Trabi, nos pegaria às 10h. Às 9:30h chegamos na belíssima estação central esperando por Heiko, o ainda proprietário do Trabant ano 1988 comprado há quase 6 meses pelo jornalista e doido varrido Flavio Gomes, don Gomes para os íntimos.

O McDonalds era o ponto de encontro. Sugestão do Heiko. A antiga DDR realmente não é mais a mesma. Entrei no furgão com minha bagagem com destino a uma cidadezinha nas redondezas. Juju preferiu ficar com a amiga Cris para um passeio pela cidade. Um obscuro galpão guardava o carrinho desde o começo de Setembro por módicos 30 EUR. No caminho contei ao Heiko e seu filho sobre Waltinho, irmão mais velho e sofisticado do Trabi, da exportação para o Brasil, a coleção de +/- 26 carros e 3 motos do don Gomes, a volta em Interlagos, o blog, entre outras coisas. Paramos num posto pra encher um pequeno galão com gasolina e óleo 2T na proporção de 300ml de óleo a cada 10 lt de benzin, vulgo gasosa. Pedi para pagar, mas Heiko recusou. Disse que essa era dele.

A família Lorenz nos aguardava ansiosa. Pia, a dona e mãe, sua irma mais nova com a filhinha nos braços e o marido mecânico, a filha da Pia com Heiko que desenhava calmamente num livrinho, e Michael, o mecânico. Apresentamo-nos uns aos outros, olhei o carrinho rapidamente e logo me interessei por um Volga russo. Estava a venda por 9 mil EUR. Só o viadinho saltitante no capo custou 900 lascas. A primeira vista o Trabi parecia em boa forma. Olhando melhor, descobri dois riscos na carroceria de Duraplast, que não enferruja nunca evidentemente, mas resseca de vez em quando.

Heiko me explicou o funcionamento dos austeros equipamentos de série, inclusive a chavinha de gasolina igual a usada por mobiletes com reserva e tudo. O vidro do motorista não fechava direito e os três, Heiko, o cunhado e o mecânico, atacaram o problema e só saíram de cima após resolvido. O tanque de apenas 24 litros fica dentro do compartimento do motor, vulgo cofre. Não tem medidor no painel, apenas uma régua com escala mostrando de 0 a 24 lt presa no forro do capo. A agora famosa reguinha explicada pelo doido Gomes. A autonomia seria de 300 km com “pé embaixo” e de 400 km com uma tocada mais tranqüila. Heiko estava muito otimista. A reserva tem pouco mais de 4 lt.

Logo no começo percebi a carinha triste da dona Pia. Me contou que o Trabi se chama Gerd, e que assim gostaria que permanecesse. Antes de ir embora perguntei o motivo da venda. Ela havia comprado um Renault, que não durou muito, e logo em seguida um pequeno Toyota. Disse a ela pra não chorar, que Gerd estaria em boas mãos e em breve ganharia uma fantástica e numerosa família em terras tropicais. Que seu irmão mais velho, Waltinho, o aguardava saudoso e feliz por poder voltar a buzinar em alemão.

O cambio no volante em posição vertical na coluna de direção foi novidade pra mim. Como nunca havia dirigido um DKW, achei engraçado e fácil levar Gerd pelo asfalto agora novo do Leste alemão. O radio ocidental funciona perfeitamente, mas preferi o som do motor 2T acompanhado da fumacinha característica.

Após a sessão de fotos e agradecimentos mútuos, prometi enviar fotos e o endereço do Blig do Gomes para que a família Lorenz acompanhe as peripécias de Gerd pelo Leste Europeu e depois America do Sul.


Sai com Gerd pelo portão com Heiko ao meu lado observando meu desempenho. Seguimos numa tocada tranquila até o mesmo posto do galão. O alemão me elogiou na língua nativa com sotaque do Leste. Disse que eu era um ótimo motorista de Trabi. Ficou aliviado. Já no posto ele se despediu, entrou no carro do cunhado e se mandou sem olhar pra trás. Quem olha pra trás vira estátua de sal, diz a Condessa Julyanna von und zu Pampuglia com certa frequência.

Comprei óleo, coloquei 600ml seguidos de 20 litros e voltei pra pagar. Agia naturalmente, como se o Trabi fosse meu. Alguns olhavam, mas sem muita surpresa. Estavam acostumados.

Ao pagar, vi a dona passar um patê num pão de sal e colocar presunto. Não tinha comido nada. Perguntei quanto era e pedi um. A Coca veio junto.

Tinha que contar a novidade pro novo dono. Escrevi um SMS “Gerd (o Trabi) e eu estamos abastecidos indo pra Leipzig. Juju e Cris nos esperam pro almoço. Abração e obrigado.”, mas acho que ele nunca recebeu.

Logo após sair do posto, o primeiro de tantos outros, com o sanduba no banco, a coca no meio das pernas, a câmera numa mão e a outra pra guiando e mudando as marchas, fiz o video abaixo. Fiz uma edição tosca no iMovie, que aprendi a mexer ontem, e já pro vocêtubo:




Seguindo pela estrada da cidadezinha que levava até Leipzig Zentrum, peguei uma avenida. E não é que logo ali na frente seguia outro Trabi?! Cor gelo, um cara sozinho dentro que quanto viu o parente ligou os piscas, deu tchauzinho, buzinou. Fui seguindo ele até o Zentrum. Parei na estação e aguardei pela Ju e Cris. Olhava pro Gerd já imaginando a longa jornada até Düsseldorf. O carro ficou parado desde 2006 na casa da Pia. Aí vem um maluco a pedido de outro, pega ele e já enfia quase 500km no carrinho. Seria a maior viagem que ele faria na Vida. Viagem tão sonhada pelos alemães orientais até pouco menos de 20 anos atrás. Sair do Leste socialista em direção ao Oeste capitalista. O mesmo país que produzia Porsches, Mercedes e BMWs de um lado, fazia Trabants, NSUs, IFAs e Barkas do outro. Mesmo povo, idioma, cultura, costumes, músicas, mas separados por ideologias, por consequências de uma guerra onde eles tanto sofreram.

Consegui assistir a corrida após convencer as meninas a almoçar. Baixou um telão, desligou-se a música, veio cerveja e tome corrida. Não foi das melhores, mas matou a vontade. Na estrada, Gerd não decepcionou em momento algum. Saímos às 4 e meia com céu carregado e o frio de outono chegando tranquilo e sereno. Terceira pista da direita seria o habitat natural. Alguns caminhões iam ficando pelo caminho. Passar de 100km/h era forçar demais o carrinho. Estabeleci essa velocidade por que não tinha sentido forçar.

Gerd enfrentou intempéries bravamente. A chuva era constante. Os limpadores de pára-brisa foram desgastando durante o trajeto. Chegando em Düsseldorf o da esquerda ficou no ferro, quase arranhando o vidro. Paramos umas três ou quatro vezes para abastecer, descansar, comer, respirar. O ar quente esquentava, mas trazia junto o aroma da gasolina. Juju rezava pra que nada de errado acontecesse pelo caminho. Estava cansada, mas achava tudo ótimo. A folga na direção preocupava para o exame do TÜV, a inspeção obrigatória a que cada veículo alemão se submete. Sem TÜV não se muda o dono.

Chegamos às 23:30 fazendo o percurso em honrosas 7 horas. Em CNTP num carro normal, sem graça, charme e história sao entre 5 e 5:30. Na entrada triunfal na capital da Renânia do Norte e Westfália, a mesma por onde Napoleão invadiu a Prússia em 1700 e Kafunga, Gerd sentia que a missão tão sonhada por seu povo chegava ao fim.

Achei uma vaga na porta. Da janela dava pra ver ele. Depois do banho, abri a cortina pra espiar a rua. Um poste o iluminava. Parecia sorrir. Seus dias de marasmo e rotina casa-feira-escola-salao-casadasogra-casa chegaram ao fim.

E pensar que tudo começou assim.