Vienna (inverno eterno...)
Azul. Comprei pra vender mesmo, mas pode ser que mude de ideia. O carrinho foi inspecionado durante o final de semana pelo detalhista Herr Schmid. Na sexta passada foi buscar o bendito numa prancha moderna e segura na garagem onde estava em Haschendorf, Burgenland, no interior da Áustria onde o sol bate forte e os ventos também.
Foto: Douglas Nascimento (São Paulo Antiga)
Schmid me ligou ontem pela manhã preocupado. “Você avaliou esse carro antes de comprar? Conhece o dono?” Sim, meu caro. Quem me vendeu foi o amigo de um amigo que agora virou um grande parceiro. Era carro de uso diário dele, motor novo e regulado, chassis recém refeito, apenas as lonas de freio gastas e a ferrugem dos anos de batalha. Afinal, estamos falando de um senhor nascido no ano que não terminou, 1968. Mais um motivo pra não me desfazer dele, apesar da cor. Mas isso é o menor dos problemas. Basta algumas latas de Suvinil e pronto. Uma cera, selagem da pintura e tá novo.
Herr Schmid, um cara de meia idade, gorduchinho, fumante, dono de uma Werkstatt (oficina) bem montada e moderna ao lado de um supermercado na intrépida Hornstein, cidade modelo onde moramos e nossos filhos estudam numa escola bilíngue, alemao-croata. Sim, croata! Essa região da Áustria, Burgenland, há uns 400 anos foi povoada pelos povos da antiga Iugoslávia a convite dos Habsburgo que precisavam de fazendeiros produzindo grãos para alimentar a população. Fugindo do cerco otomano na região, várias famílias croatas migraram pra cá e aqui se estabeleceram. Ainda hoje a cultura e o folclore local se fazem presentes em pequenas festas, no idioma ensinado nas escolas públicas, no nome bilíngue das cidades, nas comidas típicas, cada vez mais raras e nos sobrenomes de algumas famílias.
Bem, Herr Schmid me dizia que o Fusca estava em petição de miséria. Que eu gastaria uma fortuna pra restaurar. Que era uma sucata sulamericana inútil. Que eu tinha feito uma loucura e gasto dinheiro para salgar carne podre. Bem, ele não disse exatamente isso, mas quis dizer. Assim interpretei seu tom de voz tenso ao celular, a respiração ofegante e um senso de urgência em me fazer ver o que ele via. Ele precisava confirmar suas impressões o quanto antes.
Hoje pela manhã deixei os meninos na citada escola que fica no alto de uma colina de onde vemos toda a planície se derramando até a Hungria em direção ao maior lago da Áustria, o Neusiedlsee. Ao fundo, Schneeberg. Literalmente, a montanha nevada. See em alemão é lago, não é igual a sea significando mar em inglês. Aprenda, por favor. O Fusquinha ainda sem nome, talvez se chame Oswaldo em homenagem ao senhor de mesmo nome, amigo de meu avô Pedro, meu xará, casado com dona Wanda e dono de uma chacará enorme cheia de jabuticabeiras em Contagem das Abóboras nas cercanias de BH. Seu Oswaldo tinha um Fusquinha que ficava na garagem logo ao lado da casa. Se era azul marinho, tenho lá minhas dúvidas. Pode ser que era verde oliva.
Fui lá conferir o vaticínio terrível e definitivo de Herr Schmid. De fato a corrosão, vulgo ferrugem, está maltratando o carrinho na parte inferior. Algumas fixações de paralama e caixa de motor estão realmente danificadas exigindo reparos. Uma folga no eixo dianteiro em ambas as rodas se faz presente, mas carro antigo sem folga na direção é que nem nota de 3 reais. Mas ele exagerou. Fez um escândalo desnecessário. Teria sido Herr Schmid uma crianca carente ainda querendo chamar a atenção?
Pra deixá-lo no jeito e ser aprovado pelo famigerado MA-46, o órgão governamental que emite os laudos de inspeção e autoriza os carros a circularem nas ruas, Herr Schmid calcula gastar alguns milhares de euros, talvez mais do que o valor do próprio carro. Achei um disparate, mais um. Talvez uma tentativa de capitalizar pra cima de mim, um ingênuo importador de primeira viagem tentando regularizar seu veículo motorizado para que possa flanar pelas pradarias no ex-reino do finado Kaiser Franz Joseph, o famoso imperador Francisco José, marido de Sissi, a imperatriz.
Pretendo conseguir uma segunda e talvez até uma terceira opinião. Meu fiel escudeiro Friedrich ainda não viu o carro. Ele é especialista em VW, aliás um fanático pela marca. Acumula, eu disse acumula e não coleciona, diversos modelos da marca entre Fuscas, Kombis e outros. Acontece que por causa da pandemia ele está encastelado na Alta Áustria, ou Oberösterreich (OÖ) cuidando dos pais e de seus carrinhos e vem apenas uma vez na semana a Viena. Talvez com ele os reparos serão com certeza mais baratos e eu consiga registrar Oswaldo emplacando-o em definitivo com as letras, cores e números da Áustria e de Burgenland.
Ainda tenho a chance de apresentar o Fusquinha aos senhores do VW Club de St. Pölten, contatos estes que me foram passados por outro brazuca amante de VW e dono de uma Brasília. A última alternativa, a primeira na cruel opinião de Herr Schmid, é anunciar e tentar vender Oswaldo assim, do jeito que está. Mas isso eu não farei.
Jamais!!!
2 comments:
Enfim um post, quase que 1 por ano. Bem abaixo do esperado para um blog que não mais é blog. Após a aposentadoria de Luiz Eleno, esperávamos mais empenho, a lenda de que na Europa se tem mais tempo é pura lenda mesmo.
Post médio, quase ruim, esperava fotos do fusca nas terras de Sissi. Herr é um pilantra e gomeiro. Curti a parte da dupla estudar em croata.
Para quem tem um trabi, fusca é lixo. Trabi é feito de polímero tóxico, pega fogo facilmente e tem origem de uma Alemanha histórica, além de uma mapa antigo na tampa traseira.
Fusca lembramos do Itamar.
Prefiro kombi, de 23 janelas, raridade. Na próxima espero um post delas.
Belo post.
Meu amigo Pedro Vovô
registrou o Oswaldo? ja circula nas ruas da Austria?
Dê noticias, desiste desse espetaculo ai não!
Isso é uma raridade e um tremendo carrão
abraços meu amigo
Keep writing
abs Terrorista
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