Wednesday, January 29, 2020

46 invernos

Cherepovets (cidadezinha simpática, essa)

E lá se vao 46 invernos muito bem vividos no odômetro.

O dia comecou às 02:45 da matina com o despertador. O táxi que nos levaria de Lipetski ao aeroporto em Voronezh partiria às 03:15. Com pouco mais de 1 hora e 15 minutos chegamos. O plano de vôo comecaria as 06:05 até Sheremetyevo, vulgo Moscou, para troca de aeronave e desjejum, sendo a seguinte da Severstal Air, mesmo nome da siderurgica, que nos levaria até Cherepovets de onde escrevo.

Sala VIP, coronavirus na TV, dois espressos, uma maca, biscoitinhos russos e céu. Nem tava tao frio assim. Mas aqui no oblast Vologda sim, -10°C quando descemos do pássaro soviético Suchoi Superjet 100.

Fomos de táxi até a sede burocrática da siderúrgica pegar meu crachá, passamos no simpático hotel para troca de vestuário e depois, usina. Caminhamos eu e Aleksei, meu fiel escudeiro com quem me comunico em russo fluente com sotaque de Wladvostock gracas ao google translator, uns bons 25 minutos pela usina até chegarmos na aciaria. A sensacao de estar num filme do Tarkovski foi imediata.
Investigamos o problema, observamos panelas monstruosas de 400 toneladas dancando no ar como trapezistas num picadeiro russo, vi nossa estacao de trabalho, bebi um café honesto feito por Sergei, assistente do chefe da usina, e retornarmos pela mesma trilha gelada de onde viemos até a saída. No caminho fomos interrompidos por duas locomotivas mansas aguardando ordens para se mexer.

Agora, já no hotel de banho tomado, apenas espero o sinal pra descer e andar 20 metros até a trattoria na esquina, onde imagino que algumas delícias da velha bota me aguardam. Planejo comemorar a data com o general inverno, aquele, degustando famosa iguaria local.

Após esse parabéns do video orquestrado pelos melhores filhos que um pai poderia desejar ter e  conduzido pela melhor mulher do planeta o último verbo que me dou o direito de conjugar é "reclamar". E o primeiro, sempre na ponta da língua, é "agradecer". Mas hoje vem junto de "comemorar" e também de "beber" e "comer".

Nessa idade "Valentino Rossi" a única opcao que a Vida me dá é "acelerar"!!!

Thursday, January 23, 2020

Resenha: Memórias do Subsolo

Viena (passarei meu aniversário na Rússia...)

O primeiro Dostoiévski a gente nunca esquece. Tenho o clássico e famoso "Crime e Castigo" faz tempo. Comecei a ler, mas talvez nao tivesse preparado para a complexidade do autor e suas histórias mundanas, porém repletas de ensinamentos e filosofia. Parei antes da metade e prometo retomar algum dia.

Essas "Memórias" sao bem mais simples e fáceis de se ler. Um livro curto, porém poderoso e autobiográfico além da conta.

Resenha postada no Instagram @pedro_livros em 24/03/2018: https://www.instagram.com/p/BgsjT28lQyM/



"Através das memórias de um velho aposentado mergulhamos na alma atormentada de um jovem vagando por São Petersburgo em busca de aceitação, amizades verdadeiras, afeto fraterno e principalmente do amor que a família nunca lhe deu. Neste livro bastante autobiográfico, Dostoiévski relata seus encontros e desencontros com muita acidez e ironia, sinceridade e ingenuidade, lucidez e loucura.

Nietzsche, Gide e Steiner consideraram este livro uma das obras primas do escritor russo que iria influenciar a literatura dos séculos 19 e 20 e autores famosos como Kafka e Beckett."


O que esse livro fez por mim?! Animar a ler outros livros do Dostoiévski e acabei emendando "Um Jogador" na sequência. E obviamente reconhecer e comprovar que o escritor russo é mesmo um dos grandes. Como se ele tivesse esperando eu ler algum livro dele pra receber essa honraria, né.

Tuesday, January 21, 2020

Resenha: O Coracao das Trevas

Vienna (resenhando no zap zap)

Um livro perturbador que serviu como base para um dos maiores clássicos filmes de guerra jamais feitos. E também deu nome ao documentário sobre o filme do Coppola mostrando todas as dificuldades enfrentadas pelo diretor e equipe durante as filmagens nas Filipinas.

A resenha foi publicada dia 19/03/2018 no Instagram @pedro_livros: https://www.instagram.com/p/BghW6xtDB4R/


"Se você é fã do filme Apocalypse Now do Coppola saiba que ele foi baseado na história do Joseph Conrad chamada Heart of Darkness, nome original em inglês. Até o nome do personagem do Marlon Brando é o mesmo, um certo Kurtz. Troquem o Vietnam no finao dos anos 1960 e início dos 70 pelo Congo Belga no final do século 19 e temos um blockbuster. Joseph Conrad (1857-1924) foi oficial da Marinha Mercante e se embrenhou pelo Congo Belga em 1899, ano de nascimento do meu avô Pedro.

O colonialismo belga foi brutal mesmo quando comparado a outras colônias. Muitos protestaram, mas Conrad resolveu contar uma história sem focar nas atrocidades. O capitão Maslow penetra no interior da África navegando rios tortuosos, desviando de tocos flutuantes traiçoeiros a bordo de um decrépito vapor e gerenciando uma tripulação heterogênea com a presenca até de alguns canibais em busca de um certo Kurtz. Sujeito notável e brilhante, elogiado por todos, carismático e bom pra falar em público, era encarregado da exploração de marfim nos confins da Mãe Terra, mas parou de dar notícias. Sumiu, escafedeu.

Cultos satânicos, tribos bárbaras, os dilemas morais e mentais de Maslow durante a viagem, a luta pela sobrevivência e o cumprimento da missão de resgatar Kurtz fazem desse livro um clássico que sempre quis ler.

Existe um documentário também chamado Heart of Darkness mostrando o making off do filme
Apocalypse Now e todas as agruras vividas por Coppola, que literalmente quase se suicidou durante as filmagens, e sua equipe. Orçamento estourado, 11 meses de gravação, chuvas tropicais nas Filipinas onde foi filmado, pressão do estúdio entre tantas outras dificuldades pra filmar essa obra prima."

O que esteve livro fez por mim: reverenciar os clássicos cada vez mais e ter sempre um na fila pra ser degustado. Na grande maioria valem a pena por cada página. E me fez admirar mais ainda Coppola e seu grande clássico.

Wednesday, January 15, 2020

Resenha: Rebeldes tem Asas

Saarbrücken (no meu restaurante preferido)

Continuo sem ter comprado nada da Reserva. Sigo admirando Rony Meisler, seu principal fundador, pelas atitudes, exemplos e ensinamentos. Acho que na próxima visita ao Brasil comprarei uma bermuda.

Crítica postada no Instagram @pedro_livros em 26.02.2018: https://www.instagram.com/p/BfrSV_4lIRy/




"Eu nunca tinha ouvido falar da Reserva, marca de roupas masculinas, até ler uma resenha sobre o livro do Rony Meisler contando a história da marca.

Comprei o meu no final do ano passado e já virei fã da marca sem jamais ter comprado uma peça sequer e nunca ter pisado numa loja Reserva

Rony e sua trupe conseguiram subverter o fracasso iminente do capitalismo que já faliu faz tempo e está levando o planeta junto. Criaram uma fórmula mágica de amor e devoção das pessoas que trabalham na Reserva e de seus consumidores/seguidores indo na contramão do mercado, sempre seguindo seus generosos corações e a intuição. 


Eu trabalharia de graça na Reserva pelo simples prazer e privilégio de fazer parte de algo tão nobre como a campanha de doação de 5 pratos de comida a cada peça de roupa vendida, por exemplo.

Como alguém bem disse no livro ele deve ser estudado e não simplesmente lido. Até mandei um email pro @ronymeisler sugerindo que ele seja embaixador mundial do movimento Capitalismo Consciente. O futuro do planeta tá aí e quanto mais exemplos como a Reserva, melhor."


Rony nao me respondeu. Depois soube que ele já é o Presidente do movimento Capitalismo Consciente no Brasil e grande amigo do indiano  Raj Sisodia, autor do livro "Conscious Capitalism".

O que este livro fez por mim?! Alimentar uma mínima esperanca de que ainda existem algumas poucas empresas no mundo onde a cultura, a paixao pela marca e a vontade de mudar a sociedade sao tao fortes e genuínas. Apesar de muita gente falar que toda essa atitude nao passa de uma genial campanha de marketing permanente da marca.

Thursday, January 09, 2020

Garcons pelo mundo - Lotte, a senhora austríaca mestre em receber bem

Viena (happy new year!)

Achei que Lotte fosse a senhora dona dos restaurantes Huth no 1o distrito em Viena. Se movimenta com graca e leveza pelas mesas do salao atendendo a todos com simpatia e bom humor. Passa a mao nas costas de alguns clientes conhecidos, meu caso, deixando-os à vontade como se fosse em sua casa.

Antes de pedir a carta de vinhos ela já me sugere um Grüner Veltliner, a uva branca austríaca mais famosa, com bom preco e qualidade. De fato, conferi no cardápio e nao era dos mais caros. Aceitei a sugestao e nao me arrependi.

Quando perguntei se ela era a dona do lugar comecou a rir e disse ser apenas uma fiel funcionária de longos anos. Me trouxe logo um guia local contando a história do lugar revelando os nomes dos donos, um casal de sobrenome Huth, proprietários também de uma grill house e um italiano em frente à Gastwirtschaft, vulgo restaurante em alemao da Áustria.

Quando pedi o menu das comidas ela chegou falando as sugestoes do dia me recomendando um bolinho de carne com purê de batatas e molho típicos. Fui nele sem pestanejar e me dei muito bem. Já era hora de escolher outro vinho. Lotte veio rápida e rasteira sugerindo uma segunda garrafa do mesmo vinho, mas preferi escolher outro.

Todos nós comemos sendo bem tratados do início ao fim. Na hora da sobremesa, mais sugestoes. Um café cairia bem, mas eu tinha pressa em voltar ao trabalho. Lotte se decepcionou de verdade quanto pedimos a conta. "Nem uma sobremesa?! Uma Apfelstrudel?! Um Melange?!" Fomos inclementes e, por que nao, injustos. Lotte merecia.

Todo garcom iniciante deveria passar um tempo ali com a senhora Lotte aprendendo as sutilezas de se servir bem. Muito mais do que explicar os pratos, doces e bebidas, o olho no olho, aquele carinho nos ombros, uma piadinha e a sensacao de ser a única mesa sendo atendida no lugar fazem dela uma pessoa especial e única.

Voltarei sempre ao Huth Gastwirtschaft por causa da Lotte. Mas sempre na hora do almoco por que à noite ela já está em casa. Provavelmente cuidando de algum netinho sortudo.