Thursday, October 08, 2020

Resenha "Vastas emocoes e pensamentos imperfeitos"

Viena (exatos 4 meses da última postagem...)

Rubem Fonseca infelizmente nao está mais entre nós, mas deixou um legado invejável. Literatura rasgada, seca e cortante como uma navalha na garganta. É pegar e nao largar mais o livro.

Resenha publicada originalmente no meu instagram @pedro_livros: https://www.instagram.com/p/BjNprfSnPZ1/

 

A resenha:

"A contracapa cumpre o que promete: "... a realidade e a ficção, o sonho e a vigília se confundem numa intrigante história, cuja trama acelerada prenderá o leitor da primeira a última pagina".
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Um cineasta fracassado no Rio, pedras preciosas, assassinatos, Berlim antes da queda do muro, o escritor judeu soviético Isaak Bábel, muito prazer, fuzilado durante os espurgos stalinistas no final da decada de 1930, sonhos, delírios, passado vindo a tona, sexo sem compromisso e uma agilidade e suspense crescendo na medida certa.
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A mesma Berlim onde vivi seis semanas em 2003 aparece viva na Ku'damm, na famosa delikatessen KaDeWe, na ilha dos museus com o Pergamon em destaque, Alexander Platz, Rotes Rathaus (a prefeitura vermelha do lado Oriental), a Friedrichstraße e o Check Point Charlie.
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Me lembro desse livro na lista do vestibular em 1992, mas não o li. Arrependimento... Agora preciso ler "A Grande Arte" e "Bufo & Spallanzani" do Rubem Fonseca.
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E qualquer coisa do Isaak Bábel, por favor!".

Logo em seguida comprei e já li os "Contos de Odessa" do Babel. Tem resenha lá no Insta também e em breve aqui. "A Grande Arte" está numa caixa perdida após a mudanca pra casinha, mas logo será resgatada.

Uma frase marcante de "Vastas emocoes" é:

"O homem necessita purgar os horrores que comete e uma das maneiras de fazer isto é nao esquecê-los."

Monday, June 08, 2020

16 anos na Europa

Neufeld an der Leitha (eu dizia que voltaria somente em 2017...)

O Tempo voa! Hoje completo 16 anos vivendo na Europa. Impossível fugir desse clichê ao olhar pra trás e ver o ano de 2004, mês de junho e no dia 7. Chegando no aeroporto de Viena, meu mestre e guru Haroldinho foi me buscar. Pegamos o S7, mas pro lado errado. De repente, ao invés de começar a ver a cidade aparecer, seus prédios e casaroes da época dos Habsburgo, outros mais recentes construídos no pós 2ª Guerra, o que comecei a ver foram pastagens e plantacoes. Logo perguntei “estamos indo mesmo pra cidade?!” e HarolDoido prontamente reconheceu o erro. Pulamos do trem na primeira estacao e ficamos ali, no meio do nada esperando outro em sentido contrário que nos levaria pra cidade.

Após esse tempo todo ainda continuo muito ligado no Brasil, nas famílias, claro, nos amigos, cada vez menos, e na política. Isso é o que preciso mudar. Me desligar de Pindorama. Já nao pertenco mais àquele país e nao me sinto no direito de ficar palpitando sobre tudo que ali acontece. Minha Vida é aqui, e já faz tempo, mas nao me ligo na política da Áustria, ou mesmo da Alemanha durante os 9 anos que morei em Düsseldorf. Confesso um fato vergonhoso: nunca li um livro em alemao! Isso é inadmissível para um leitor compulsivo como eu.

O mais importante ao longo desses anos todos foi ter me casado com a Juju e criado nossos filhos, Gabriel e Rafael. Seguimos na criação dessas duas bençãos de Deus. Só por isso me considero um cara de muita sorte. Ver e falar com minha mae firme e forte quase todos os dias também é um privilégio. Infelizmente o Guidao nos deixou em 2010, mas participou ativamente da minha jornada enquanto esteve fisicamente presente. Agora está em outro plano, mas continua presente como sempre.

Pra tentar fazer um balanco desses 16 anos resolvi listar 16 coisas que fiz aqui, nao necessariamente um por ano e tampouco em ordem cronológica. Se você achar que estou me gabando ou tirando onda, fazer o que?! Meu intuito é apenas usar os eventos para ter uma dimensao do tempo em que vivo fora. Prometo contar cada causo em detalhes em postagens separadas. Agora vamos aos fatos que vivi e um breve relato de quem estava comigo e como tudo aconteceu.

E que venham mais aventuras pelo mundao de meu Deus!!!

1. Dormi num galinheiro na Cracóvia e depois visitei Auschwitz

Essa maluquice foi contada no Truta com direito ao video de quando saí do “galinheiro”. Depois dessa tenho certeza de que Deus realmente protege os bêbados.

A história completa está aqui.

2. Fui a um casamento dentro do Vaticano e outro em Roma no dia seguinte

Era pra ter sido só o casório da Carol Bastos, muito amiga de Juju, em Roma. Mas passados uns dias do recebimento do convite chegou outro, dessa vez do irmao dela. A cerimônia seria dentro do Vaticano e nao acreditamos. Nem o taxista que nos levou. Parou num portao de entrada, mostrou o convite e o guardinha deixou passar. O sujeito, atônito, vira-se pra trás e diz “nunca entrei aqui, nem conheco quem tenha entrado.” E nós, rindo de nervoso e emocao, respondemos que nós também nao.

3. Almocei no noma, então melhor restaurante do mundo

Com direito a tour pela cozinha após o almoco onde cada prato, foram uns 20, foi harmonizado com um vinho. Experiência única, mas caríssima. Vale a pena uma vez na Vida e talvez outra na morte.

4. Assisti um show do B B King dentro de um barco no Festival de Montreaux

Nosso velho bluesman entrou no barco em silêncio, se acomodou junto com a banda no salao improvisado dentro do barco e tocou apenas 6 músicas. Falava 15 minutos e tocava uma música. Visivelmente debilitado, quando acabou o barco parou num porto próximo no Lac Leman e a lenda viva juntamente com Lucille desembarcou.

5. Apareci na TV sueca abraçando o entao presidente Lula após uma palestra num hotel em Estocolmo

O discurso dele foi entusiasmante fazendo piadinhas até para aquela platéia seleta. Ano de 2009, Brasil no auge da Era Lula, aquela capa da The Economist mostrando o Cristo decolando, e eu e Juju lá, assistindo a tudo. No final, quando o entao presidente saia do salao de gala do hotel mais requintado de Estocolmo, me aproximei pra tentar tirar uma foto. Fiz uma selfie mequetrefe, mas depois recebemos o video do evento e essa cena foi toda registrada pela TV sueca.


6. Assisti a um GP de Fórmula 1 em Mônaco

Ficamos ali, Delegado e eu, no setor Rocher, literalmente um rochedo. Mas era o melhor local da pista. Dava pra ver a movimentacao toda dos boxes, a subida do casino de longe, depois o S das piscinas, a Rascasse e a acelerada da reta de chegada. Vimos Kimi Raikkonen ganhar de McLaren numa exibicao impecável.


7. Fui 6 vezes na Oktoberfest em Munique

Meu recorde sao 7 canecas e da última vez, em 2013 acho eu, tive a pior ressaca da minha Vida. Fomos com meu irmao e a esposa, era sábado, o primeiro dia da festa, e chegamos cedo, umas 8h da matina, pra ver a cerimônia de abertura do primeiro barril. Tinha comido um mísero croissant de café da manha e mais nada. Só cerveja, talvez um Brezel ou sanduba com Schnitzel, fato é que lá pelas 3h da tarde resolvemos ir embora. Chegando no ap alugado simplesmente apaguei na cama sem comer nada. Acordei umas 4h depois com a cabeca explodindo. Parecia que uma prensa industrial esmagava meu crânio tamanha era a dor. Fomos a um restaurante ali perto comer algo. Nao conseguia beber coca cola, água, nada. A luz da vela na mesa me incomodava. Pedi uma sopa de legumes e fui comendo lentamente até voltar para o mundo dos vivos.

8. Vi o Brasil ganhar um jogo em Copa do Mundo

Brasil 3x0 Ghana em Dortmund. A epopéia da compra do ingresso na porta do estádio já vale uma crônica exclusiva. Ronaldo, entao Fenômeno, fez 3 e nos classificamos pras quartas, aquele jogo fatídico quando Zidane nos deu uma aula de futebol, mais uma.

9. Corri uma maratona... até o fim!

Achei que minhas pernas fossem derreter nos kilometros finais. Um urso subiu nas minhas costas no KM 30 e bolas de ferro foram amarradas nos pés no KM 35. Nao fosse o incentivo da galera nas ruas gritando “Pedro, weiter, weiter!!!” jamais teria conseguido. Fiz uma preparacao mal feita pra uma meia maratona. Claro que sofri, mas terminei, esse era o objetivo, com menos de 5 horas. Na verdade, completei o circuito pelas ruas de Düsseldorf com 4h e 48min. Tá longe de ser bom, mas cumpri meus dois objetivos: terminar a prova e, se possível, antes de 5 horas.

10. Dirigi uma Ferrari em Maranello

Antes disso vi em Modena ao lado da Officina Alfredo Ferrari, pai de Enzo, uma exposicao de carros de Formula 1 simplesmente inacreditável. Tinha as Ferrari do Giles e a que o Lauda foi campeao em 75, a Williams 94 do Senna, uma Ligier do Laffite maravilhosa, Renault do Prost de 85, Maserati do Fangio dos anos 50 e até uma Porsche do Dan Gurney de 1960 que correu 5 ou 6 GPs. Pilotar a Ferrari foi realizar um sonho, mas fiquei com gostinho de quero mais. Vou comprar uma pra mim, hahaha!

11. Fui a um treino do Real Madrid e peguei o autógrafo do Zidane numa camisa oficial

E mandei a camisa pelo correio pro Gordo safado que nao acredita até hoje no presente que ganhou. O Luxa era o técnico dos Galácticos na época e ficava gritando em portunhol “pega o balon, toca o balon, rouba o balon”. Biduzera estava ali comigo e nao me deixa mentir sozinho.

12. Quase morri num naufrágio quando tentava dar a volta na ilha de Capri num pequeno bote

Era pra ser um passeio romântico com Juliette. Aluguei um barquinho a motor, tipo aqueles infláveis mais um pouco mais robusto. Quando estávamos do lado do continente o mar tava tranquilo e tudo na santa paz. Mas quando fiz a curva na ilha e entrei em mar aberto, no Mediterrâneo, as ondas nos jogavam lá em cima e nos traziam pra baixo. Perto da ilha tava pior ainda entao tive que ir acelerando quando o barco descia e reduzindo quando subia na crista das ondas até contornar a ilha toda. Juliette se agarrou na única bóia do barquinho e ficou rindo de nervoso o tempo todo. Pânico total por longos 20 minutos.

13. Aprendi a beber single malt com um mestre escocês em Edinburgo

Sempre com uma pedra de gelo ou um pouquinho de água. Jamais sem um deles. Beber um whisky single malt sem gelo é um sacrilégio e uma burrice. A água libera os óleos da madeira do barril que vao se acumulando no líquido sagrado ao longo dos anos de envelhecimento. Se nao adicionamos ela à mistura esses óleos na se soltam. O sabor e o aroma da bebida sao outros. E a cidade é um espetáculo. Medieval, sinistra, soturna, mística e cheia de História.

14. Entrei dentro da bateria da Mocidade enquanto curtia o Carnaval no camarote do governador Cabral (Rio)

A sensacao é a mesma de entrar dentro do coracao de uma pessoa. Uma profusao de sons, vibracao, energia e calor humano inigualáveis. Vou achar o video que fiz pra ilustrar a postagem com os detalhes.

15. Dei uma volta em Interlagos num carro antigo (SP)

Gracas ao meu amigo Flávio Gomes que me concedeu a honra de dar uma volta no circuito de Formula 1 pilotando Waltinho, seu querido Warburg, um carrinho da antiga Alemanha Oriental. Don Gomes ainda foi me dando as dicas de como acelerar, frear antes das curvas e outros macetes para se fazer uma volta rápida na pista. Pena que o motorzinho de Walter nao é tao potente assim.

16. Virei motorista de tuk tuk em Bangkok

Antes do Gabriel nascer resolvemos dar a volta ao mundo em 1 ano. Meio que nos despedindo da Vida de “solteiros”, ou seja, sem filhos. Em 2013 rodamos bem e fomos parar até na Tailândia. Numa noite em Bangkok, uma das capitais mais sensacionais deste planeta, pegamos um tuk tuk, famoso meio de transporte local, pra dar umas bandas pela cidade. Lá pelas tantas pergunto ao menino motorista condutor se ele me deixaria dirigir. O tuk tuk nada mais é do que uma moto com charrete atrás. Estávamos num trânsito anda e para e ele, meio ressabiado, deixou. Me sentei no banco com o menino condutor ao lado e andei bem uns 500 metros pilotando a bagaca. A cidade fervendo e eu andando de tuk tuk com Juliete a tiracolo. E o Gabriel na barriga dela.



Monday, May 11, 2020

Escolhendo um livro pra ler

Viena (hoje é preto na folhinha)

Quando pego um livro pra ler ou avaliar se ele merece meu tempo gosto de manuseá-lo demoradamente observando cada detalhe da obra. Agora, por exemplo, tenho em maos "A Farewell to Arms" do Hemingway impresso pela novaiorquina Scribner, muito prazer.

Uma belíssima capa com a figura de uma enfermeira e no fundo um rapaz. Ele é o motorista de ambulância americano que se apaixona pela inglesa, a figura em primeiro plano. Na contra capa uma sinopse do livro seguida por breve biografia do autor que ganhou o Pulitzer em 1953 e o Nobel de
Literatura no ano seguinte. Apenas isso!





Ernest tinha 30 anos quando escreveu este clássico que é um dos romances mais marcantes passados na Primeira Guerra Mundial. Ele mesmo foi motorista de ambulância nessa guerra e era jornalista, entao é de se esperar vários trechos autobiográficos. Para comparar, aos 30 anos eu chegava em Viena pra comecar meu Doutorado. Nunca escrevi nem irei escrever nada perto de "A Farewell to Arms".

O Copywright é de 1929, portanto, Hemingway escreveu o livro enquanto vivia na comunidade de expatriados em Paris nos anos 1920. Frequentava o Le Deux Maggots em Saint Germain por onde flanava com outros escritores, artistas e intelectuais. Talvez vivesse em Montmartre com outros bambas, entre eles Picasso.

Seguindo o exame do livro, vejo o número total de páginas, leio o primeiro parágrafo e dou uma olhada no final pra ver como escritores famosos como Ernest terminam um livro. Geralmente isso é suficiente pra me convencer a ler o bendito. Às vezes procuro uma critica, mas nesse caso é desnecessário.

E vamos a leitura de mais um clássico.

Wednesday, April 22, 2020

Günne

Vienna (câncer é a pior doenca da Humanidade)

Há algum tempo, coisa de uns dois anos, venho jogando futebol aqui em Viena num time cuja maioria é composta de advogados. Nao por acaso, o nome do time e FC Insolvenz cuja traducao é  Faléncia FC. Nada mais apropriado já que grande parte dos distintos jogadores sao magistrados, promotores, funcionários públicos e até mesmo juizes.

Günne era um dos jogadores. Nao sei se era advogado. Nos encontramos algumas vezes, umas cinco ou seis, talvez. Jogamos juntos apenas nas peladas de quarta a noite no Prater, sempre entre 20:30 e 22h com direito a resenha, ducha e cerveja no restaurante do clube esportivo.

Um cara sorridente, feliz e de bem com a Vida. Enérgico em campo sempre cobrando o time a cobrir os espacos, marcar, voltar e partir pra cima quando de posse da bola. Um belo dia soube que ele nao viria mais jogar. Descobriu um câncer no estômago e comecou o tratamento com quimioterapia. Ficou fraco, magro e nao pode mais jogar bola com a gente.

Sempre aparecia nos torneios pra rever a turma e incentivar o time. Dava orientacoes da beirada do gramado como um verdadeiro técnico. Xingava quem fazia corpo mole e elogiava as jogadas vigorosas e os lances de raca e vontade. Teve até um quiprocó com um juiz num jogo do torneio IT & Law em setembro passado, a última vez que o vi. Bateu boca com o juizao parrudo movido a salsichao e chucrute e nao baixou a guarda até a distinta autoridade pedir para ele se calar ou sair do recinto, no caso um conjunto de campos de futebol com grama sintética atrás da ONU em Vienna. Günne resolveu ficar quieto, a contragosto.

Faleceu ontem vítima de câncer, essa famigerada doenca que age silenciosamente. Quando assustamos, já dominou o organismo do sujeito disparando a contagem regressiva do relógio da Vida. Günne deixa esposa e duas filhas. Seu relógio zerou ontem.

Friday, April 10, 2020

Resenha "A morte de Ivan Ilitch"

Vienna (semana que vem comecamos a voltar ao "normal")

Ainda nao li "Guerra e Paz" do maior gigante da literatura russa e mundial, Lev Tolstói. Dele apenas este curto e potente livro. Dizem que os escritores russos e latino americanos sao os melhores, mas como descartar os europeus e norte americanos a um segundo plano? E os asiáticos e africanos? Nao dá pra classificar essa turma assim de maneira tao rasa. Afinal, tudo nao passa de gostos e impressoes pessoais.

Resenha originalmente publicada no meu Instagram @pedro_livros: https://www.instagram.com/p/Bh-GX2Ln-ax/



"Em singelas 79 páginas desta luxuosa edição de capa dura Lev Tostói mostra por que é um dos grandes.

O autor russo, talvez o maior deles, é mais conhecido por seus romances monumentais como "Guerra e Paz" e "Anna Kariênina". Nessa novela curta ele narra as divagações, o sofrimento e a angústia de Ivan Ilitch a ela, a famigerada, temível, implacável e inevitável, Morte.

O bem sucedido jurista Ivan padece de uma doença incurável. Se pergunta o tempo todo por que ele, o que fez pra merecer tanto sofrimento e começa a questionar se realmente viveu como quis.

Sua descrição da sensação de proximidade do fim é real e cruel demais: "Teve a impressão de estar sendo empurrado para dentro de um saco preto, estreito e profundo que enfiavam com cada vez mais força, sem conseguir chegar até o fim. E essa coisa terrível acontecia com sofrimento. Tinha medo e queria se afundar, resistia e ajudava. E eis que, de repente, despencou, caiu e acordou."


"Guerra e Paz" tá na estante me esperando. Esse ano vou comecar a ler. Sao três livros num total de quase 1.600 páginas!

Wednesday, April 08, 2020

Big Brother is watching you

Vienna (Noah Yuval Harari previu tudo isso em Homo Deus)

Duas notícias me chamaram a atencao no dia de hoje, 08 de abril de 2020:

1) Na Alemanha, a agência nacional de saúde apresentou um aplicativo capaz de rastrear casos do coronavírus no país. Com o consentimento dos usuários, o app se conecta a monitores como pulseiras eletrônicas, faixas toráxicas e relógios inteligentes, e alerta para sinais de infecção. O aplicativo coleta sinais que costumam se alterar com doenças que afetam a capacidade respiratória.Segundo o instituto alemão, se for usado por uma amostra grande de pessoas, o aplicativo permitirá fazer previsões sobre contágios e dimensionar efeitos de medidas de distanciamento, o que pode tornar mais segura uma retomada das atividades. A chanceler alemã, Angela Merkel, também afirmou que qualquer retomada será feita de forma gradual e que é "muito cedo para falar em relaxamento da quarentena".

2) As big techs estão disponibilizando dados de rastreamento para autoridades. Semana passada, o Google lançou documentos sobre o perfil de movimentação dos usuários em 131 países, incluindo o Brasil. Os dados, por exemplo, apontaram que o movimento de parques, comércio e locais de trabalho teve queda de até 70%. O Facebook foi além e anunciou um conjunto de mapas globais que rastreia a disseminação da doença, além de uma ferramenta de pesquisa para identificar pontos de acesso de coronavírus. Essa ferramenta ainda conta com um índice de conexão social, que mostra a probabilidade de duas pessoas se tornarem amigos no Facebook. Para especialista, comunidades com laços sociais mais fortes se recuperam mais rápido. A ideia das empresas é que, com esses dados, seja possível saber onde está ou não funcionando as políticas de quarentenas.



Isso significa que o rastreamento e acompanhamento permanente da vida de cada individuo no planeta já é uma realidade. A China já faz isso faz algum tempo incluindo reconhecimento facial via câmeras nas ruas e locais públicos. Singapura conseguiu conter o avanco do Coronavirus gracas a aplicativos em dispositivos móveis identificando os movimentos de cada pessoa infectada.

Agora, com a desculpa de controlar a pandemia, tanto governos quanto as big techs estao com a faca e o queijo nas maos para controlar nossas Vidas de forma oficial. Nao temos nem o direito de aceitar essa situacao em prol da saúde global.

O mundo como era antes acabou.

Festivais

Viena ("a cidade e os cachorros" diria Vargas Llosa)

Comecei esse rascunho em de Abril de 2011. Listei alguns festivais de música famosos na Europa. Alguns que eu gostaria de ir. Nao inclui Glastonburry na Inglaterra, um lapso imperdoável. Coachella nessa época só nos EUA.

Agora que nao podemos ir a lugar algum, vamos aos festivais que existiram até um passado nao muito distante.


1) Ben Harper, Colmar, Franca
Foi na Foire aux Vins d'Alsace em 2011 que vimos Ben Harper pela segunda vez. A primeira tinha sido em Düsseldorf em 2008, acho eu. Um virtuoso que toca muita guitarra e canta blues e rock como poucos. Fez um solo a capella que valeu o ingresso e a viagem.



2) Zwarte Cross Festival, NL www.zwartecross.nl/
Fomos pra fer Black Crowes, banda de rock americana mainstream mas que finge ser cult e tentar ficar fora do circuito. Uma decepcao. Show burocrático, sem energia e pior, sem bis!!!

O festival em si foi bem legal. Parecia uma fazenda com várias tendas espalhadas num gramado enorme. Alguma psicodelia aqui e ali e o jeito descolado dos holandeses por toda parte.

Achei um relato meu num rascunho aqui do blog sobre nossa experiência nesse festival. Vamos a ele, ipsis litteris como escrito no dia:

"Fazia tempo que nao curtia um festival quando resolvi conferir o Zwarte Cross de 2011 numa cidadezinha holandesa aqui perto de Düsseldorf. Juju tava meio com medo, achando que a gente tá velho demais, essas coisas, mas animou. Chegando lá, pra ver o Black Crowes no palco principal, nao peguei trânsito. Os estacionamentos iam do P1 ao P20 e tantos. eram descampados com grama, alguns com trailers e barracas, mas nao demorei mais do que 15 min entre estacionar e chegar no portao de entrada. Passamos pela revista e bateu a fome. O sistema deles é com tokens. Você enfia $$ numa máquina e ela te devolve fichas que valiam pouco mais de 2 EUR. Pegamos um prato pra dividir, uma cerva e uma coca em menos de 5 min. Nos sentamos numa mesa, suja é verdade, mas sossegada. Após um passeio pelas tendas vimos que os holandeses estavam loucos, mas civilizados. O ir e vir nao era impedido em momento algum. Na hora do show chegamos a colar na grade, sem muito esforco. Festival sim!"

3) Zappanale: www.zappanale.de/zappanale/de/home.htmlNunca fui, mas o Oskar meu amigo maluco pelo Frank Zappa já foi algumas vezes levando até a família. Acontece todo ano em agosto numa cidade no norte da Alemanha. Verao comendo solto, galera acampada, clima família e sossego. Quem sabe um dia.

4) Download www.downloadfestival.co.uk/2011/index.aspx

O festival acontece desde 2003 em Donnington, Inglaterra. Entre 1980 e 1993 era chamado de Monsters of Rock.

Em 2012 o Black Sabbath fez um show icônico marcando a reuniao da banda e um retorno triunfal com a formacao original. Infelimente nunca estive por lá.

5) BRBF - Belgium Rhythm 'n' Blues Festival, Peer, Belgium www.brbf.be/
Nem ideia por que este nome aparece por aqui. Deve ser devido as excelentes cervejas belgas. Talvez eu quisesse juntar o útil, a cerveja, ao agradável, a música. Ou vice versa.

6) Hurricane/ South Side, Germany
Se nao me engano esse festival era pra turma mais jovem com muita bandinha pop rock, DJs e o escambau. Já deixou de ser minha praia faz tempo.

7) Rock im Park / Rock am Ring, 2011, Germany
Rock im Park em Nürnberg comemora 25 anos em 2020 e o Rock am Ring em Nürburgring, sim é onde fica o famoso circuito de mesmo nome, completa 35. Ambos na Alemanha, talvez sejam os festivais mais famosos do país. Nao sei por que estao ligados entre si apesar de acontecerem em locais diferentes. E estou com preguica de procurar o motivo.

8) Wartburg-Festival, música barroca e clássica www.wartburgfestival.de/festival
Este festival de música clássica acontece todo ano em Eisenach onde fica o famoso castelo Warburg. Foi ali que Martin Lutero iniciou a Reforma Protestante chacoalhando com a Igreja Católica do mundo todo.

Um carro chamado Wartburg tem esse nome por causa do castelo. Era fabricado ali perto pela VEB Automobilwerk Eisenach.

Conheco bem esse carrinho, hehe. Merece vários posts.

Friday, April 03, 2020

Como era minha rotina



Neufeld an der Leitha (já são mais de 1 milhão infectados)

Costumava acordar entre 6:30 e 7h da manhã, dependendo do horário que fora dormir. Na noite anterior teria lido um livro ou assistido um ou dois capítulos de série no Netflix. Poderia ter me sentado no computador para escrever textos como esse. Se dormira mais cedo era por que, após as estorinhas contadas ao Gabi e Keke, eu dormira junto.

Gostava de preparar o café da manha. Isso ainda nao mudou. Ainda. Misto quente pra mim, outro pela metade apenas com presunto e sem manteiga pro Gabi. Keke começou a gostar recentemente de queijo quente. Ele gosta de manteiga. Juliette sempre come seu Brei, uma espécie de mingau onde se adiciona água fervendo sobre um amontoado de cereais. Por cima ela colocava frutas vermelhas tais como framboesa, mirtillo e morango, além de linhaça, chia, semente de girassol e mel. Uma bomba de saúde logo pela manha. Ainda faz isso na casinha.

Ovos mexidos, apenas um, para dividir com o Keke. Iogurtes de bolinha, sendo as bolinhas coloridas de chocolate tipo M&M, de morango para o Gabi e natural para o levado Keke. Comecei a devorar geléia de mirtillo antes dessa confusao toda comecar. Felizmente continuo mantendo o hábito. Suco de laranja natural espremido numa máquina no supermercado e acondicionado em garrafinhas de meio litro. Se nao beber em 3 dias azeda. E meu iogurte natural com toda a parafernárlia adicionada ao Brei da Juliette além de aveia. Os meninos bebem também uma vitamina boa para imunizar o organismo. Essencial nos dias de hoje. Nós adultos variamos entre Omega 3 e 6. Nunca sei a diferenca entre eles. O #6 é mais caro e tem mais vitaminas, mas, sinceramente, nunca percebi nada na prática, além do preco. Vou comprar apenas o #3 a partir de agora.

Antes desse banquete dos deuses começar o Gabi sempre se sentava ao piano e tocava alguma coisa. Às vezes um pedaco de música clássica que está aprendendo rapidamente nas aulas. Tira as músicas de ouvido, escuta um trecho, cantarola, se senta no piano e simplesmente acha as notas. Impressionante! Já sabe os nomes de todos os compositores famosos e de muitos que eu nunca havia ouvido falar. Conhece Pachebel, Luigi Bocherinni e Leo Delibès?! E Edward Krieg, Aran Khachaturian e Prokofiev?! Esse último é o russo que compôs o ballet baseado no romance Romeo e Juliete de Shakespeare. Se você nunca ouviu falar desse famosíssimo poeta inglês, gentileza parar de ler e sair do meu blog. Obrigado.

O Keke, que se chama Rafael na certidao de nascimento, pedia pra ver galinha pintadinha no tablet. Os dois tem tablets, um vermelho e outro preto. Sao práticos e quebram um galho enorme quando a tensão entre os dois aumenta muito. É um sossega leão moderno. Mas não pode deixar assistir por muito tempo senão ficam agitados demais. O cérebro fica estimulado mais do que o desejável.

Bom, todos com a pança cheia era hora de trocar de roupa e partir rumo à escolinha. No inverno a troca de roupas é como uma dessas provas de programas de TV. Parece uma gincana. Um sai correndo pelado dando gargalhada enquanto o outro, já está pronto e com os dentes escovados, querer sair. Gabi já sabe se vestir sozinho, até os sapatos, gorro, cachecol e luvas. Um espertalhão. Mas às vezes gosta de fingir que não sabe só pra sentir o gostinho de alguém cuidando dele novamente. Faz parte. Colocar ceroulas no Keke é uma luta inglória. É como colocar meias numa girafa ou tentar enfiar as patas de um cachorro numa camisinha. Ele se mexe o tempo todo, vira de lado e quer se levantar da cômoda ainda em uso desde quando ele era um bebê. Essa fase está pra acabar.

Já nas ruas temos três opçoes de transporte que variam com o clima ou horário. Se estamos atrasados demais vamos de carro, mas os meninos detestam. Se sentem presos nas cadeirinhas e não interagem com a cidade. Coloco um CD do Tim Maia só com sucessos e vamos cantarolando:

Não está errado
Ser solteiro
Ou ser casado
O negócio
É saber viver em paz



Quer ser elegante
Quer ser forte, ser galante
Quer ser tigre
Quer ser cobra, ser leão



Se temos tempo vamos de bicicleta. Sim, os dois costumavam ir numa carretinha acoplados ao eixo traseiro da bike. É prático e mais rápido que o carro. Em 10 minutos chegávamos na escolinha. Perdia um tempinho até tirar a bike e carretinha do porão, subir a tralha toda, montar e acomodar os meninos, mas depois era bem rápido, o processo todo. E aproveitava pra fazer um exercício físico, nem que fossem apenas 20 min. De lá seguia para o trabalho que não é longe de casa. E continua não sendo, gracas a deus.

Poderíamos ir de ônibus também. O 4A para na outra ponta do Modena Park e nos deixava na Rasumofskygasse. Desse ponto andávamos uns 4 quarteiroes passando pela Hundertwasser Haus, a casa onde o famoso artista vienense de mesmo nome transformou em obra de arte. Ele é o chamado Gaudi austríaco. Logo a frente tinha, e ainda tem, uma parede baixa cheia de desenhos pintados com os 12 signos do zodíaco. Toda vez que ali passávamos íamos falando os nomes de cada um e quem da família havia nascido naquele signo. Acho que da segunda vez que falei o nome de todos, incluindo tios, tias, primos, sobrinhos, etc. o Gabi já sabia tudo de cor. Tem uma memória inacreditável.

O dia corria sem maiores sobressaltos. Às 15h Juliette buscava os meninos, invariavelmente. De lá
seguia para outras atividades como taekwondo, natação ou aula de piano. Ou simplemente ia pra casa mesmo caso eles estivessem cansados ou chovesse. Eu chegava lá pelas 18h ou um pouquinho depois. Não sem antes passar no supermercado da esquina pra comprar o que ficou faltando na listinha da Juliette ou algo esquecido.

O jantar era sempre a mesma coisa: macarrão com salsichinha ou com presuntinho, nuggets de
frango ou peixinho. Raramente aparecia algo diferente como arroz com feijão com alguma carne sobra do almoço. Eles precisam melhorar a alimentação deles. Na verdade, NÓS pais precisamos comer melhor e dar o exemplo para que eles nos vejam comendo de forma saudável e come
cem a se alimentar melhor por si próprios. Casa não é restaurante. A comida que vai pra mesa é a única opção. Se não quer comer aquilo pode comer uma fruta. Assim nos ensinou o Doutor Velhinho, o pediatra dos meninos que é um senhorzinho fora de série. Carinhoso e atencioso ao extremo.

Após o jantar dávamos um tempinho de brincadeira a eles para podermos arrumar a cozinha. Depois era banho, estorinhas e cama. Esse processo poderia ser muito rápido ou demorar 3 horas. Sim, 3 horas dependendo do nível de paciência dos pais e excitação dos filhos. Normalmente era rápido. Keke tomava banho de banheira e o Gabi no chuveirão brincando com seus super-heróis: homem aranha, batman, capitão gancho, bob esponja e um outro maluco qualquer sem nome. Quando lavavam os cabelos tínhamos que secar, pois no inverno não é bom dormir com as madeixas molhadas. Com os dentes escovados e pijamas nos corpinhos, íamos pra cama. Isso não mudou muito.

Muitas vezes eu fazia umas palhaçadas antes de me deitar pra contar estorinhas. Era o chubirubiru! Isso vem de um desenho animado em alemão chamado Kazimir Krähe, um corvinho atrapalhado que vivia se machucando por onde passava. Os meninos rolavam de rir. Além das falas imitando o corvinho cada um tinha que se fantasiar e cantar uma musiquinha de carnaval na frente aos outros que assistiam deitados na cama. Só quando os três faziam a sequência completa é que o ritual estava completo e podíamos nos deitar. Teve dia que fomos dormir as 22h!!!


Quando consiguia me levantar e não dormir direto poderia ler um livro ou assistir algo na TV. Ou perdia meu precioso tempo no celular. No dia seguinte começaria tudo de novo. Mas isso agora é tão distante e ninguém sabe quando voltará a acontecer. A nova rotina tem muitas semelhanças e acho que mudamos pra melhor.

Amanha eu conto. Agora vou assistir "Freud" com a Juliette.