Thursday, February 09, 2012

Sauna na Alemanha

Düsseldorf (uns tarados, esses alemaes)

Escrevi o textículo abaixo no dia 17/01/2012 na simpática Saarbrücken. Tomei - ou fiz - sauna hoje de novo e me lembrei dele.

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Saarbrücken (quando funciona é sempre bom)

Na Finlândia dizem que é um lugar sagrado. Onde ricos e pobres, judeus e cristaos, homens e mulheres se encontram democraticamente. Deixam as roupas do lado de fora e ali, naquele recinto de madeira seco e quente como pisar descalço em asfalto, discutem seus problemas, escondem outros, falam da Vida alheia - nao tanto quanto os brasileiros e muito menos os belorizontinos - resolvem pendências, planejam o futuro e lamentam ou rememoram o passado. Tem até um documentário recente sobre esse ritual.

Me lembrei agora duma cena protagonizada pelo Viggo Mortesen num filme do Cronnenberg, acho que se chama Extrem Affairs ou perto disso. Ele investiga a máfia russa em London e acaba cruzando o caminho da Naomi Watts. Na cena, Viggo está tranquilo e só de toalha na sauna quando chegam dois mamutes trajando jaquetas pretas. Comeca a discussao, um saca uma faca, o resto da turma sai pela esquerda e comeca a briga. Só essa cena já vale a película.

Escrevo sobre isso por que fui agora ao Wellness do hotel onde estou. Wellness é o carinhoso nome em alemao para a área de lazer dos hotéis. Ali encontramos chuveiros, sauna quente e a vapor, espreguicadeiras, salas de massagem, armarinhos pra guardar sua roupa e, neste caso, duas cestas de maçã. Uma verde e outra vermelha. Na esperança de esquentar e relaxar o corpo no inverno, desci até a recepção, pedi roupão e toalhas, acabei ganhando um desses chinelinhos de hotel de brinde, e segui meu caminho. O hotel é interessante, tem um lustre bacana e um lobby convidativo. Pensei em como seria morar nele por um mês, nas amizades que faria com os funcionários, as qualidades e os defeitos, as artimanhas da hotelaria, os hóspedes pitorescos. Daria outro filme. Talvez com o Mortesen como maitrê do restaurante e a Naomi de camareira viciada em anti-depressivos. E endividada até o pescoço.

Bem, a sauna no inverno é importante justamente pra relaxar o corpo que fica contraído, mesmo debaixo de tanta roupa. Alemão só toma sauna pelado e nao tem divisão entre sexos, na maioria das vezes. Acho isso engracado. Por um lado se escandalizam com as mulatas seminuas do Brasil, o bikini e a mini-saia mínimos das meninas. Dizem ser uma pouca vergonha. Por outro, trocam de roupa na sua frente sem o menor pudor, fazem topless nos parques durante o verao, quando nao ficam completamente peladoes, praticam swing e o escambau. Nao todos, é claro. Mas na sauna é aquele samba do crioulo doido. Uma avalanche de pelancas passando pra lá e pra cá. Raramente, mas de contar nos dedos de uma só mão, aparece algo que vale a pena movimentar o pescoço. Acho que alemães e finlandeses derivam do mesmo descendente saunístico e pudorístico.

Um incauto ali estava deitado, nú, na sauna nr. 1. A de numeral 2, me disse ele antes de eu pensar em escolher uma delas, estava fria demais, mas a UM “está esquentando”. Entrei de sunga, estiquei minha toalha, deitei e fiquei olhando pras ripas de madeira no teto. Pensei no meu Pai, na minha família a léguas de distância, nEla, no que fiz hoje e no que pretendo fazer amanhã. Será que o Guidão sabe que tomei sauna em Saarbrücken?! Imagino que sim, já que ele é onipresente. Pelo menos quero acreditar que sim.

O alemão se levantou e não voltou mais. Nao fiz nada demais, nem mesmo soltei um canário, vulgo peido, esvoaçante pra que ele escafedesse. Passados alguns segundos ele comeca a xingar no telefone do hotel e entra na sauna a vapor. Já desacreditado e esperando em vão a temperatura aumentar, decidi sair também. Ele olha pra mim através do vidro, abre a porta e me conta que ali é melhor do que nada. Como nao me contento com pouco mais que nada, me mandei.

Cheguei no quarto e liguei na recepção novamente. Contei o ocorrido e perguntei quanto tempo demoraria pra se ter uma temperatura razoável. A resposta: vou checar. E até agora nada de resposta. Fiquei sem sauna, mas o corpo relaxou assim mesmo com o vinho do jantar. O restaurante era bacana e tinha um casino ao lado.

1 comment:

Anonymous said...

Me lembrei do caso do Animal pelado em um clube na Alemanha.