Wednesday, January 25, 2012

Neue Impressoes - Crônicas do cotidiano (1) - Parte 2

Hilden (o Amor é lindo e louco)

Quem nao sabia da contracao bombástica do nosso novo colunista, Marcelo Theo?! Agora tem uma boa chance de conferir a razao de tanto investimento literário. A primeira parte das Neue Impressoes - Crônicas do cotidiano (1)" está aqui. Leia antes de conferir o relato abaixo.

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Crônicas de um Casamento - Parte 2
Marcelo Theo

(Baseado nos Relatos do Casamento de um Primo... todas as identidades foram preservadas

Anunciei o fato a alguns amigos, e esses me ajudaram a tecer a teia. Talvez no dia 30 de junho teríamos uma festa, ou fôssemos padrinhos de casamento de um casal amigo. O certo é que ela deveria estar vestida de acordo com a celebração: e isso queria dizer salão, unhas, cabelo, maquiagem, roupa de noiva, etc.

Um dia, em casa, sou questionado “sem muita importância” sobre minha decisão de firmar o tal papel. Naquela altura do campeonato, deveria estar trabalhando a relação para ficarmos alguns meses separados. Isso queria dizer que não poderia deixá-la um mês inteiro chupando dedo, sem falar nada do nosso casamento. Havia recebido o convite da Madrinha para passar a lua-de-mel no Rio, gostaria de despedir dos amigos e familiares e... por que celebração de despedida é permitido e festa de casamento não? Além do mais, se todos recebem presentes, por que não eu? Portanto, interessante seria deixar a noiva a par de certas informações para que também participasse de parte das decisões de seu próprio casamento.

“Ok, vamos casar, talvez no fim de julho. Não vamos falar de data, por enquanto”. Com uma boa isca qualquer peixe morde o anzol. A mulher relaxada realmente fala, às vezes exageradamente. Naquela ocasião me revelou ela o sonho de fazer algumas fotos. Consenti, desde que não me envolvesse na busca nem nas decisões sobre as mesmas. Algumas horas depois, já sozinho em casa, percebi que tinha achado o remédio para a minha enfermidade. Liguei para meu grande amigo “O Fotógrafo” e lhe informei a respeito de uma certa sessão de fotos no dia 30 de junho. Mesmo estragando a surpresa que faria a mim de presente de casamento, ele achou a idéia excelente. Ficamos de acertar os detalhes em uma conversa de bar. O certo é que a dona da história ligaria sem saber de muita coisa. Certamente fiz questão de enfatizar a ela quem seria o fotógrafo. Não restava dúvidas.

A citada conversa de bar ocorreu num fim de semana, informalmente, em meados do mês de junho. Foi lá que o plano ganhou forma e corpo e os detalhes foram acertados. Com o passar dos dias e das semanas, me vi obrigado a compartilhar vontades, desejos e, claro, a data do meritíssimo. Era inevitável, a noiva já havia recebido uma ligação para oferecer-nos convites de casamento, além de inocentes congratulações pelo acontecido. A verdade é que as famílias já nos haviam casado, faltando só avisar-nos. Aproveitei a deixa de um amigo que havia dito que o casamento já tinha sido marcado e “só a noiva não sabia”. Naquela conversa, em tom de brincadeira, saiu a data do “Dia Fora do Tempo”. Pesquisei na Internet aquela data significativa para os Mayas: 25 de julho. Era perfeito, “casaríamos” no “Dia Fora do Tempo”. Restava só aguardar que o tempo parasse para a comunhão. Esperaríamos.

Certo dia, em uma data qualquer, que por ventura era o dia dos namorados, me encontrei com trinta minutos livres, antes de um encontro com a prometida. Liguei para a sogra para informar-lhe a data do casamento: no final de julho, dois dias antes de minha partida. Disse-me ela que algumas correspondências e telefonemas haviam chegado às mãos e aos ouvidos da filha com ofertas de lua-de-mel, igreja, entre outros “fruc-frucs” que rondam os casamentos de hoje. Algo como um circo, teatro ou atração com entrada paga e cobertura de imprensa. Estava desconfiada já, a garota, de que os documentos corriam no cartório. A reação foi imediata. Revelar-lhe-ia a data dos 25, confirmando a entrada dos papéis.

Imediatamente fui a uma livraria e gastei meu tempo encontrando um cartão adequado para a ocasião. Depois de muita procura, bingo. Duas curtas frases foram suficientes para fazê-la pensar que tudo aquilo estava planejado e que deveras nos casaríamos no mês sete.

Nos dias que antecederam a sessão de fotos, mostrei-me muito disposto e interessado até demais. Entretanto, a emoção obscura a visão e não levantei suspeita: vestiríamos como noivos. Ela já havia tido uma sessão de fotos ao ar livre. Naquela ocasião, as fotos seriam em estúdio fechado, com uma dita luz especial, especialmente para a ocasião. Saímos para comprar as roupas e conversar sobre a sessão. Colhi todas as informações que um bom agente secreto precisaria e fui costurando a colcha com os retalhos que iam surgindo.

Linha direta com o homem da câmera e acertamos o maquiador, as novas desculpas, entre outros assuntos. Com as “sogras-mães” os detalhes das roupas, o buquê. De volta com o homem-foto o acerto do local, a hora, quem e como. Assim foram os últimos dias antes da data, agitados.

Dois dias antes do casório, fomos eu e ela a um Shopping Center escolher uma camisa para mim. Em uma loja masculina, percebi uma mulher me olhando de maneira diferente, mais do que o normal. Não dou atenção, continuo na minha. Não se dando por satisfeita ela busca um novo cruze de olhares. Na primeira oportunidade ela proclama a independência em um brado “EU TE VI NO CARTÕRIO HOJE, MARCANDO CASAMENTO”. O primeiro pensamento é um “não acredito”, mas a calma e o controle não me escapam. “Deve ter sido meu irmão gêmeo ou sósia, tenho alguns por aí”, disse assertivamente. Ela titubeou e balbuciou mais algumas palavras de dúvida. Retirei-me ao provador. De lá, ouço murmúrios de que eu estava pela manhã em dito lugar. Enquanto eu ria, a deflagradora conversava com a noiva, revelando-lhe detalhes da minha presença matinal ao local do matrimônio: uma conversa no telefone à procura de dados dos documentos das testemunhas, meu cabelo, a confirmação da data, entre outros fatos. Não tive como omitir ou mentir naquele dia. Após a segunda cutucada da namorada não contive a risada. Foi realmente hilário e riríamos da situação até o dia seguinte. Disse-lhe que sim, que havia estado no cartório e que havia finalmente confirmado a data: 25 de julho. Quanto à história do cartão com “a data já confirmada” aleguei que gostaria que fosse aquele dia, e que naquele momento estava certo. O que parecia ruim, à primeira vista, ajudou a dar tempero à novela.

Obviamente o dia e noite anterior foram de ajuste de detalhes, como em qualquer projeto. Ficaram acertados detalhes e incumbências. Colhemos, eu e minha mãe, um buquê de Ipê roxo na noite anterior e, assim, ele estaria bonito na manhã seguinte. Ele serviria para as fotos, já que a noiva não desejava se casar com ele.

Na manhã seguinte ela foi à casa do maquiador, quem já estava devidamente instruído no tipo de maquiagem a ser usada. De lá, seguiria com o fotógrafo a um apart hotel de um amigo, suposto local das fotos. Por “coincidência” o apart se localiza no edifício acima do cartório. Da casa do maquiador ela me ligou, pedindo que levasse seus sapatos e penduricalhos ao local do encontro: o hotel. Minha mãe se dispôs, realizou a tarefa e chegou antes de mim ao lugar do acontecimento.

No telefone com o “homem-foto”, íamos acertando a navegação. Um erro de comunicação nos colocou em dois estacionamentos distintos. Liguei para meu pai e pedi a ele que me trouxesse os brincos e os sapatos da noiva. Na última manobra antes dos finalmente, a prometida viu o sogro e a sogra dentro do estacionamento e desconfiou de nova armação. Ela se encontrava já vestida para uma “sessão de fotos urbanas”, como lhe havia dito o fotógrafo, e só lhe faltavam o sapato e os penduricalhos. Desconfiada, ela pressionou meu amigo e, claro, ele negou veementemente. A noiva se recusou a sair dali daquele jeito, cheirava falcatrua. Foi em meio àquele momento que cheguei sorridente, como se nada estivesse ocorrendo. “SE TIVER OUTRA SURPRESA ME FALA AGORA VOCÊ SABE QUE EU NÃO GOSTO DISSO (BLÁ BLÁ BLÁ)” disse ela, enfezada e em alto e bom tom. “Anda rápido que o juiz já está esperando a gente pra casar”, respondi. Primeiro ela não entendeu e deixou escapar um “como assim?”. Quando a ficha caiu, a fúria possuiu seus sentidos e ela “soltou os cachorros”. Confesso que fiquei meio sem graça, também meu amigo, e fomos tentando domesticar a fera, para que, pelo menos, o tiro não saísse totalmente pela “nossa” culatra. Com algumas respirações ela conseguiu estar de volta ao controle das suas emoções e, uma vez controlada, escolheu estar brava. Mais um pouco de conversinha e conseguimos que ela se sentisse um pouco melhor. Já daria para fingir um sorriso. Caminhamos.

Na porta do cartório fomos recebidos com chuva de arroz, beijos e abraços. A moça foi amansando e já se mostrava mais relaxada. “Fiquei com medo de não estar bonita pra você”, me revelou. Pobre doce fragilidade feminina. “Nunca te vi tão bonita”. Após o fim da cerimônia, já com um sorriso do tamanho do mundo, ela agradeceria continuamente a surpresa.

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