Estou participando de um seminário sobre tecnologia em materias refratários na pacata e simpática cidadezinha citada acima. Ontem, depois do jantar, fomos procurar uma Brauerei no centro, a 10 minutos do hotel, caminhando.
Canecas vem e vao quando viro pra um dos nossos Richtmeister (supervisor de montagem) e sentenciei gastando meu prussiano arcaico “a Alemanha é o maior buteco do Mundo, tudo a céu aberto”. Ele arregalou os olhos me mirando e disse sorrindo “Essa eu nunca ouvi falar. Mas é um Kneipe bom nao é?!” Respondi que sim, senao nao estaria há mais de cinco anos dentro – ou fora – dele.
Todas as comidas sao feitas pra você encher a lata. Come-se muito bem antes e depois parte-se para o ataque. Salsichoes de centenas de tamanhos e sabores, saladas de batata, chucrute – o famoso Sauerkraut – joelho de porco assado ou cozido (assado é melhor por que vem com uma pururuca deliciosa), kasseler, frikadeles (espécie de bolinho de carne, tipo uma almondega maior), schnitzel (um bife à milanesa de porco, frango ou peru), gulasch, carne de pato, carneiro e sopas de tudo quanto é jeito. Comida pesada, pouco criativa, cheia de gordura, proteína e carboidrato. Perfeita pra... tomar todas.
Em Düsseldorf a tradicional Altbier, cerveja de cor marrom, manda nos copos. Já falei sobre ela aqui. Nas engarrafadas, minha preferida é a Veltins. Acho que é patrocinadora do estádio do Schalke 04. Já teve ou tem um carro no DTM, o campeonato de turismo alemao. Desce macia, os primeiros goles sao doces de tao saborosos.
Essa receita de comer antes e beber depois é mais do que manjada pelos bebuns do Mundo. Mas, ano passado na Oktoberfest, que contava com minha ilustre presenca pela quinta vez, cometi o erro básico. O combinado era encontrar às 10h da matina na porta da cervejaria Höf Bräu, a tenda mais famosa do parque montado no Theresienwiese, pertinho do centro de Münich. O desespero e a ansiedade eram tao grandes que comi apenas um reles croissant e saí arrastando Ela pelo parque em direcao ao Olympo dos pinguços. Meu irmao e sua mulher vinham a reboque.
O resto da turma nao só já estava na porta lateral como alguns já exibiam uma Mass, o famoso canecao de um litro contendo a melhor cerva do Mundo. A piracao aumento e só sosseguei quando consegui um pra mim. Conversa vai, conversa vem, decidimos que o jeito mais rápido seria subornar o seguranca. Passada a sacolinha com 10 EUR por cabeça, a porta se abre automaticamente e entramos no Templo da Perdiçao.
E assim foi. Lá pela quinta Mass (meu recorde sao sete), vi que Ela me puxava. Queria sair um pouco da tenda, tomar um ar, como se diz. Quando vi, uma Mass com um líquido preto até a metade estava na minha mao. Bebi e reconheci o sabor. Nao havia comido nada. Apenas enfiado goela abaixo cinco litros de cerveja. O efeito devastador era percebido. Lá fora parecia um campo de concentraçao. Corpos estatelados no chao e no talude de grama compunham a paisagem. Pareciam metralhados. Do jeito que cairam, permaneceram. Fui seguindo Ela pelas ruas, com a caneca vazia nas maos. Mais um troféu pra colecao. Nosso apê alugado era a uns 300 metros do parque. Me lembro de me jogar na cama e nada mais.
A sensacao antes de abrir os olhos era de uma prensa hidráulica esmagando meu cérebro. Ao abri-los, uma pancada de luminosidade quase arranca meus globos oculares. Nem água descia. Coca menos ainda. Tentei comer um biscoito e nada. Implorei para sairmos em busca de algum elixir mágico, anti-ressaca instantâneo. Entramos num restaurante italiano. O garçom tava com mau humor. O meu era dez vezes pior. Com a luz das velas me sentia dentro do Sol. As palavras no burburinho de fundo eram como flechadas nos tímpanos. Ela sugeriu uma sopa de legumes. Pedido feito, espera eterna. Nao chegava nunca. Os outros pratos da mesa foram servidos, menos o meu. Italiano cazzo de merda. Provei a sopa e o corpo aceitou. Após algumas colheradas, consegui abrir os olhos direito. A coca dEla desceu melhor, mas água seria o recomendável. Já parcialmente recuperado, fiz a promessa de sempre: “nunca mais beber de barriga vazia.”
Esse ano planejamos chegar a tarde na tenda, após o almoço...
1 comment:
amei a história bem contada rb. beijos e escreva mais histórias. é o que há de melhor do seu blog!
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