Tuesday, August 03, 2010

Choque Cultural ao Contrario

Belo Horizonte (pão de queijo é bão demais, sô!)

Chegando da Alemanha, as diferencas comecam ja no aeroporto. A escada rolante eh estreita e velha. O piso vagabundo e gasto, carrinhos de bagagem gratuitos, mas que travam as rodas dianteiras (prefiro pagar 1 EUR por um que funciona), a barulheira ensurdecedora das conversas, do alto-falante onde ate o portugues eh dificil de entender, a lotacao maxima das esteiras, carrinhos e areas de acesso ao free shop e depois alfandega travando tudo e todos. E por ai vai.

Eh esse mesmo o pais que quer organizar uma Copa do Mundo daqui pouco menos de quatro anos?! Bastaram dois voos de Frankfurt e um de Paris pra transformar o desembarque na Av. Afonso Pena as seis da tarde. A fila tinha tres pontas, fora os furoes. Tive que passar pela chegagem de bagagem na area de bens a declarar pra cortar a fila imensa que nao andava. Nao tivesse feito isso e teria perdido a conexao. Mas, acabei perdendo do mesmo jeito. Fiquei na fila de papo com o Luiz e a Pati, que vieram buscar os livros expatriados do Humorista-mor e aproveitar pra colocar o papo em dia. O carinha da TAM disse que anunciou Confins e outras cidadas, mas nao ouvi nada. Ou escutei e nao prestei atencao. Resultado: tive que esperar o voo do meio-dia.

O lado bom foi poder assistir a corrida de F1 num bar que insistia em liberar as mesas e ligar a TV apos as 9:00, ou seja, depois da largada. Com muita insistencia e quase implorando o garcom ligou a maldita e deixou a gente se sentar. Regado a algumas Itaipavas, conversamos sobre F1 e as regras desse ano, uma explicacao geral para os dois leigos, a Vida aqui e la, planos futuros, causos antigos e as horas passaram rapidinho.

Outro choque eh a luminosidade brasileira. Aqui eh tudo mais claro, cores mais vivas, o ceu mais azul e a temperatura muito mais agradavel. Escutei agora ha pouco um alemao, o Sr. Meyer, falar que nosso inverno eh muito melhor que o verao deles. A mais pura verdade.

Os abracos e beijos da mae, do pai e dos irmaos nao tem preco. O pastor alemao de nome Led (Zeppelin) pulando e comecando a chorar ao sentir o cheiro do dono tambem. Tinha ate um tucano no alto da arvore dando boas vindas fazendo sons estranhos, pra mim nao pra ele, anormais pra casa de Lagoa Santa. Achei o passaro e mostrei a todos. Saiu voando e lembrei da antiga propaganda da Guinness usando o bicho pra transportar a cerveja no proprio bico.

O almoco na varanda ao som da Natureza, tranquilo, saboroso, em familia. Nao tem coisa melhor. So faltaram Ela ter vindo junto, Helenzinha, Leocadio (o CUnha) e Marinoca, a sobrinha espoleta.

Na volta, os impactos de sempre: asfalto ondulado, motoristas lentos e desrespeitando o transito, favelas e casas caindo aos pedacos, onibus soltando arrotos negros no ar e as pessoas com olhares no infinito pensando que mal fizeram a Deus para estarem ali pagando seus pecados num belo domingo de sol.

Em casa, tudo igual mas diferente ao mesmo tempo. A bagunca de sempre, agora multiplicada pela residencia temporaria da irma, do CUnha e de Marinoca, uma TV gigante na sala onde ficava um quadro, jornais espalhados, revistas empilhadas, a mesa do cafe posta com rosca rainha, biscoito de queijo, requeijao e queijo canastra, sem falar naquele cafezinho recem coado e saboreado num copo lagoinha com uma fatia de Minas na mao.

Jogo do Galo x Marias as 6 e meia, que ultimamente nao pode ser mais chamado de classico ja que as bibas ganham todos, o colchao ao lado da cama do Murgas, a ausencia dos kimonos do Rato, a maquina de lavar-loucas estragada fazendo acumular na pia. Tudo como antes, mas novo de novo.

No dia seguinte, mais diferencas. Atravessar ruas e avenidas eh esporte radical. Faixa de pedestre eh mera decoracao e ai de quem tentar respeita-la, seja pedestre ou motorista. As calcadas tambem nao foram feitas pra quem gosta ou precisa de andar. Degraus, buracos, pedacos faltando, ondulacoes. Talvez sejam uteis pra barrar as enxurradas, mas nao para dar conforto aos pedestres e principalmente deficientes fisicos e visuais. Apesar de existirem marcadores ranhurados em varias esquinas, ainda estamos longe de tratar o cidadao com respeito.

Vi alguns carros antigos tambem. Uma Brasilia em pleno uso, um Opalao branco estacionado ao lado de um imovel a ser alugado, e so. O resto sao vultos preto e prata, pequenos, medios e grandes, baratos e caros, funcionais e inuteis, levando e buscando cada um no seu proprio Mundo egoista, resolvendo seus proprios problemas sem se preocupar com o resto, a sociedade. Filas duplas, caminhoes fazendo descarga, taxis atravessando faixas para pegar passageiros, sinais desrespeitados e uma lista interminavel de infracoes.

O fim de noite na casa da sogra querida, Marisa meu Amor, e da Maraia e seu filho deslumbrante Matheus fechou o dia com chave de ouro. E Leopoldo Magnifico apareceu de repente pra completar. Faltaram don Jonas e Debrildes. Mas ela eu ja tinha encontrado no 2010, proeminente restaurante da cidade. Foi forcado a comer um doce de nozes com calda de chocolate e creme de leite com um expresso. E soube que o Nespresso eh mais caro, apesar de pior, por que ta na moda. Sei. Mais Brasil, impossivel. Deve ter sido mais uma tendencia iniciada e enfiada goela abaixo da classe media alta pela Globo.

A Alemanha nao eh perfeita, longe disso. Existem outros tipos de problemas. Mas la o cidadao, seja ele passageiro, motorista, pedestre, contribuinte, consumidor e ser humano, eh respeitado na maioria das vezes. Esses choques que sempre tenho quando chego, que duram dois ou tres dias ate me acostumar, apenas mostram que o caminho do Brasil rumo ao chamado Primeiro Mundo ainda eh longo. E fica maior ainda se cada um tenta seguir por uma estrada. Mesmo que ela nao tenha sinalizacao ou o asfalto seja ondulado.

Apesar de tudo, continuamos com a melhor comida, calor humano, honestidade e etica, apesar de tudo que acontece. Familias e amigos, isso nao se encontra em lugar nenhum, apenas na origem.

1 comment:

Anonymous said...

bem vindo a realidade.