Essen (quando irei visitar SE Asia?!)
Quarta agora tivemos a honra de comemorar o aniversário de um amigo alemao numa tradicional cervejaria, a Schumacher. Nenhuma relacao com o piloto, mas o nome é mais que sugestivo. Imaginem um patrocínio desse tipo num carro de F1 ou no boné do Schummy.
Bem, na pequena mesa estava o seleto grupo de amigos. Ficamos lisonjeados por fazer parte, sinceramente. Na minha frente, sentou-se Peter. Meu xará inglê, mas morador da Alemanha há tempos que nem sei quantos. A conversa descambou para música, bandas, rock, jazz, novos estilos, etc. Peter nasceu e cresceu nos arredores de London e por ali circulou nos anos 60 e 70.
Comecei a perguntar quem ele tinha visto ao vivo. E foi soltando: Eric Clapton com e sem o Cream, Jeff Beck, Led Zeppelin, Pink Floyd várias vezes, Jethro Tull em início de carreira com um espalhafatoso Anderson, Black Sabbath, The Who, Stones, Beatles (sim, ele viu os caras), Queen, Dire Straits, Police e tantos outros. Sempre em small clubs com centenas ou raros milhares de pessoas, no máximo. Disse que sempre detestou shows em grandes estádios pois você nao consegue ouvir o som direito, nao sente a vibracao da banda, nao percebe as performances em detalhes e normalmente está completamente bêbado e/ou drogado.
Mas Peter "cometeu" uma falha imperdoável em sua juventude londrina: nao viu Jimi Hendrix uma única vez. Se eu tivesse vivido nessa época em London, onde Jimi apareceu e explodiu para o Mundo deixando até astros consagrados como Mick Jagger, John Lennon, Pete Townshend e Eric Clapton assombrados, Hendrix seria meu amigo do peito. Frequentaríamos os mesmos bares, tomaríamos todas, seu camarin seria a extensao da minha casa e seus quartos de hotel meus tambem. Ele teria me convidado para ver suas apresentacoes inesperadas no Café Wha! em NYC. Sonhar nao custa nada!
E os Pistols?! Nao, punk nunca foi minha onda. Eram muito arruaceiros e sempre fui "do bem".
Esqueci de perguntar ao Peter sobre os Doors e Janis. Tambem esqueci de Joe Cocker, Genesis, Peter Gabriel, David Bowie e Stooges pra ficar nos mais antigos. Das novas ele considera Radiohead um destaque, mas nao falamos de Red Hot, Pearl Jam, Oasis, Nirvana, etc. ficando apenas nas mais famosas e estabelecidas.
Peter, qual foi o melhor show da sua Vida?! Pensou só um pouquinho e mandou: Queen, em um galpao pequeno para duas, três mil pessoas no máximo. Fiquei na cara do gol, na frente da banda. Foram duas horas que me deixaram atordoados. Saí do show meio zonzo com o que acabara de ver. Nunca fiquei tao impressionado assim com banda alguma em tempo algum.
Ja viu o filme "Metal: A Headbanger's journey"?! Nunca ouvi falar, respondeu Pete. Pois entao veja. É um documentario feito por um antropólogo fanático por heavy metal. Ele analisa as tribos, os estilos, os códigos, rituais, influências religiosas (e satânicas) presentes no estilo de Vida desses milhares de loucos que lotam estádios e gastam fortunas acompanhando suas bandas favoritas. Sem falar na compra de CDs, DVDs, camisetas, alegorias e aderecos tao presentes nesse Mundo. O doc mostra as controvérsias entre as proprias bandas sobre quem foi o precursor do gênero. Qual banda originou o metal ou assentou a base para o movimento?! No filme o consenso é o Black Sabbath, mas com alguns pontos para o Deep Purple. Pete discorda. Disse que o Queen é o mais perto da origem do metal que ele viu na época da criacao do do movimento. Ele depois pergunta: em quem você pensa quando ouve "heavy metal"?! Penso no Sepultura, de BH minha cidade. Tens razao, mas e no início?! Hendrix, disse. Ele criou muita coisa que é copiada ate hoje. Helter Skelter dos Beatles pra mim foi a primeira musica metal, rock metal. Ele concorda, em parte. Continua insistindo no Queen, na formacao da banda, nos sons, etc.
Genealogia do Metal, extraida do documentário. Clique para ampliar a imagem e seus conhecimentos musicais.
Falando das bandas, tendências e shows atuais, contei pra ele sobre o Download Festival. Contei que vamos (Ela, eu e seis loucos de BH) conferir AC/DC, Aerosmith, Rage Against the Machine, Motorhead, Stone Temple Pilots (STP), Them Crooked Vultures (TCV) entre outras. Pete, que é produtor musical, cozinheiro, pescador e colecionador de vinhos nas horas vagas, disse com toda autoridade do Mundo que essas bandas sao uma merda. Principalmente o TCV que tem astros consagrados, mas que a melodia nao funciona. Só fazem barulho e nada mais. Dessa lista ele só nao fez cara feia para o Rage e STP.
Perguntei qual sua banda preferida: U2. Falei que já fui um grande fan dele, mas sao muito comerciais hoje em dia, pop e midiáticos. Ele concordou, mas disse que vê-los ao vivo é uma experiencia única. Melhor que isso só se for em seu stereo e TV de plasma com som espacial de Saturno acompanhado de várias garrafas dos ótimos vinhos que habitam sua adega, vulgo Weinkeller.
E Dave Mathews Band?! pergunta Pete. Fui no show deles domingo agora, respondi. Ele tem um som particular, virtuoso, inventa combinacoes improváveis, tocam contra si mesmos, mas quando a melodia casa é perfeito. Depois contou de uma determinada música do DMB que ele gosta muito. Disse que em seu novo stereo espacial saturniano conseguiu ouvir instrumentos que nao havia percebido antes. E que com maconha é a combinacao perfeita. Comecou a gostar deles gracas a um americano da Flórida, companheiro de tantas pescarias, que vivia sob o efeito da erva.
Pete parou de trabalhar dez anos atrás quando tinha uns 45, acho eu. Hoje aproveita a Vida com seus hobbies: flying fishing (aquele das linhas enormes, iscas artificiais desenvolvidas e construídas por ele mesmo), cozinhar, producao musical e sua colecao de vinhos. Bebe duas garrafas diariamente, mesmo contra indicacao medica. Tentou parar de beber durante a semana, mas desistiu de parar.
Pete é um cara com um humor peculiar e muito exigente, mas também depois de tudo que viu e viveu, quem nao seria?!
3 comments:
adorei seu post pedro augusto!
agora vou procurar um brechó de móveis antigos e vou passear pela cidade, no meu primeiro final de semana livre do ano!!! uhuhuhuhu
respeito é bom e mantén no lugar os
dentess
cara , a melhor fonte para a história é aquela que vem de quem vivenciou os fatos. E nada melhor do que alguem que assisitiu a tudo isso, e tem uma bela de uma opinião formada.
Imagino que deva ter sido uma bela conversa entre uma cerveja e outra, uma volta no tempo da historia do rock n roll .... animal !
Também sonhava muito em ter vivido na Europa nos anos 60 só pra poder ter visto Hendrix ao vivo, pessoalmente (viagem total, só vim a saber da sua existência em 1975). E também pra poder ver uns GPs da época, especialmente da temporada de 67.
Uma vez li a Rita Lee dizer que viu o show dele no Albert Hall (início ou final de 1969,acho); ele estivera ausente do UK por um tempo (um motivo para fazer seu amigo ter perdido a chance) , acho que mais de um ano, e há quem diga que não foi um bom show, o trio não tocava junto há tempos e Hendrix começava a se encher do mundo pop.
Na biografia dos Mutantes não há referência a esse show, mas conta-se uma história que me deu pena , da Rita Lee amargando, toda triste, um ano-novo (69/70) sozinha em Picadilly Circus ou Trafalgar Square, e pensei no ato, putz, e a Band of Gypsies tocando 'Aquele' concerto no Fillmore East em NYC, na noite da mesma data. Ela errou de lado do oceano.
Hendrix é a fonte primordial de todo e qualquer solo de guitarra realmente amplificada, e tenho um palpite que seus solos devem muito a John Coltrane, que, provavelmente, deve ter visto em sua vivência em NYC, antes de ficar famoso. Suas linhas de solo têm muitas semelhanças com as longas linhas de Coltrane, e há uma pequena frase, bastante exótica - na falta de adjetivo melhor - numa gravação do grande saxofonista, de uma turnê européia de 62 ou 63, incrivelmente parecida com outra igualmente curta do genial guitar man, em 'Driving South', gravada na BBC Radio One em 1967.
Não creio que Hendrix tenha escutado a tal gravação de anos antes, saiu em disco depois que ambos já tinham partido (embora circulasse, entre músicos, gravações particulares de grandes músicos), mas a sintonia, em vários monentos dos dois gigantes, é perceptível.
Fernando Amaral
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