Sunday, November 29, 2009

Diario de Viagem - Lisboa (2)

Düsseldorf (minha mulher me abandonou...)

Escrevi esse texto na sexta passada no aeroporto de Zürich. Vai do jeito que ficou. Era pra postar ontem, mas deu um pau geral no ßlog e no Mac que nunca aconteceu antes.

ps. Viajar é bom demais, mas o tal de chegar em casa é melhor ainda.

26 Nov - Zurich (Lindt = Garoto)

No post de ontem, esqueci de falar sobre a hospitalidade, atenção e cordialidade dos purtugueses. Tratam todos, não só os brasileiros, com muito respeito e amizade. Talvez por isso, Lisboa tenha sido eleita o destino turístico nr. 1 no Brasil. Aqui na Europa a imagem deles não fica longe. Percebi turistas de varias nacionalidades, suecos, italianos, franceses, perambulando pelas ruelas da cidade.

Ontem fomos almoçar no Moisés, típico restaurante português para almoços rápidos. Os homens se sentam no balcão e tomam seu vinho verde enquanto o prato não chega. Meu cozido à portuguesa com vinho verde, claro, veio rápido. Resovi seguir a sugestão do Rui. O terremoto de Lisboa em 1755 apareceu na conversa, assim como a data de origem da cidade, criada pelos romanos (segundo Rui e José), a influência purtuguesas na cultura européia e futuramente mundial e por aí vai. Aprendi, ou pelo menos ouvi, que o chá inglês fora inicialmente introduzido pelos lusitanos na ilha da Rainha. O café, do Brasil, foi disseminado, primeiramente na Europa, pelos pequeninos lisboetas e conterrâneos.

Tinha até um senhor no restaurante que deve ser tio do Luiz, o maior humorista de todos.



Depois do trabalho, passei no hotel pra deixar as coisas e sair em busca de bons vinhos, azeites e talvez queijos. Fiquei nos dois primeiros por questões de logística. A região do Douro foi eleita para os tintos, acompanhado de um vinho verde cujo nome não me lembro (favor ler com sotaque de Lixboa) e dois azeites excelentes. Juju com certeza iria gostar.

Mercadoria devidamente descarregada no quarto, vamos pra rua. Bater perna por uma cidade onde nunca estive é das coisas que mais gosto de fazer na Vida. Com o mapa no bolso e apenas a direção do Bairro Alto na cabeça, segui pelas ruas e avenidas da cidade-origem do Brasil. As semelhanças são impressionantes. Ficaram mais visíveis ainda no transito. Tudo parado, cruzamentos bloqueados, ninguém respeitando a área marcada e proibida... mais em casa impossível. Portugal é o Brasil sem a família e os amigos.

A primeira parada foi numa pastelaria ao lado dum hotel 5 estrelas com restaurante requintado acoplado. Entrei em busca do famoso pastel de Belém, mas me contentei com um pastel de bacalhau. Lembrei da Carol prima da Juju falando isso. Estavam fechando e o miúdo purtuga tava nervoso, se recusando a servir um descafeinado e um doce para um senhor. Não fosse a boa vontade da purtuga sua colega e o velho ficaria na vontade.

O Bairro Alto com seus bares e restaurantes espalhados pelas ruelas irregulares e inclinadas me fez lembrar Montmartre, mas com um charme diferente. Eram bares de musica ao vivo, outros com DJ, vários com o famoso fado ao vivo, musica que nunca ouvira na Vida até então, e uma variedade interessante de sons e pessoas.



Olhei no mapa e vi a Igreja de São Roque. Como sou um beato Salú louco por igrejas, mais pela arquitetura e imponência do que pela religião, achar a igreja virou missão a ser cumprida. Acho que metade de todo o ouro das Minas Gerais esta lá. Não conheço residência divina com tamanha quantidade de ouro. E com um órgão maravilhoso pra completar. Fiquei imaginando como seria a Catedral da Sé. A lisboeta, nao a paulistana, claro.



Saindo de lá, o próximo destino era o cais do Sodré. Um professor de cálculo que tive na Fumec era chamado assim. Me lembrei do nome, mas não da pessoa. Na descida para o rio Tejo, saí numa praça. Uma barraca pequena com mesas espalhadas se destacava no meio dela. Perguntei sobre o pastel de Belém pensando em algo salgado. A menina me mostra uma empadinha de massa folheada com um recheio amarelo no meio. Ao invés de ketchup ou maionese, me pergunta se quero canela. O pastel é doce, mas agrada. Nada que não tenhamos iguais ou melhores no Brasil (na Alemanha, jamais), mas não era nada de outro planeta. Tinha um outro doce comprido ao lado e perguntei o que era. Custavam 50 centavos, uma mixaria na Europa onde nada custa menos de 1 ou 2 euros. Provei os tais travesseiros de Sintra e me arrependi. A pasta amanteigada cola imediatamente no céu da boca. Pra tirar, so enfiando um guardanapo na boca raspando e limpando. Segui pro cais repetindo essa operação.

Na praça em frente ao cais, já no Sodré, tenho duas pastelarias/lanchonetes pra escolher. A cerva Sagres já estava escolhida, mas o que comer?! Fui de coxinha de galinha mesmo pensando se estava sonhando. Do cais rumo a Praça do Comércio era um pulo. Chegando lá, uma reforma enorme me impediu de fazer fotos. Os edifícios e espaços públicos da cidade estão sendo restaurados aos poucos. Acho que em 3 anos Lisboa terá um centro antigo revigorado e em ótimo estado.

Eram quase dez da noite quando fui subindo em direção a Sé. No caminho, me senti na esquina da Av. do Contorno com R. Espírito Santo em BH. Exatamente na Igreja do Santo Antonio, só que agora diante da original. Lembrei do Guidão. Talvez ele seja a explicação dessa minha paixão por igrejas.



A cidade já estava devidamente explorada. Agora era seguir até a Praça da Figueira, passar pela Praça D. Pedro IV (passaram dois números e eu nem vi?!) e chegar no metrô Restauradores, já na Av. Liberdade. Depois da Figueira, passei por um restaurante anunciando “bifanas”, entre outras iguarias. Entrei pra ver o que era. Um saduba de bife de carne de porco no pão com mostarda daquelas amarelinhas pra acompanhar. Mandei um e uma Sagres preta pra terminar o tour gastronômico.

Meu cunhado Leocádio coleciona copinhos do Hard Rock Café. Mesmo sem ter estado nas cidades. Caí na besteira de falar pra ele sobre o de Lisboa. Claro que me encomendou um. Tive que entrar e comprar. Pelo menos vi um clip bacana do Black Crowes e o lugar me pareceu agradável, mas seria minha última opção de restaurante/loja a visitar. Outro dia explico minha birra com os States.



Com o M-Restauradores fechado, subi a Liberdade ate o M-Avenida. De lá até o M-Parque foram duas estações. No dia seguinte, uma reunião sobre um assunto em que eu não tinha a menor idéia me aguardava. Gosto de novidades e o assunto agora ficou interessante.

Em momento algum nesses poucos dias em Lisboa aquela ignorância e burrice dos purtugas atribuída pelos brasileiros foi percebida, pelo contrário. Profissionalmente falando, são muito competentes e sérios. É uma cidade e um país que merecem ser visitados e compreendidos. Espero que esse trabalho iniciado agora renda frutos e que eu possa voltar outras tantas vezes.

Quando tiver saudades do Brasil, das comidas, bebidas e lugares, já sei pra onde ir.

Saturday, November 28, 2009

Escada de metrô vira piano

Dusseldorf (vi esse no blog da mary, que nao sei quem eh)

A ação, feita em conjunto pela agência de publicidade DDB e pela Volkswagen, foi implantada em um metrô de Estocolmo, na Suécia.

Imagine que você está descendo as escadas do metrô, como faz habitualmente todos os dias, e começa a ouvir sons de piano, tocados em ritmo que vai de acordo com os seu passos. Essa foi a proposta da agência de publicidade DDB em uma parceria com a Volkswagen.
As duas empresas se reuniram para criarem um experimento chamado, Fun Theory (algo como "teoria divertida", em inglês), uma tentativa bem ambiciosa de tentar mudar os hábitos sedentários dos moradores da capital da Suécia, Estocolmo.

Para isso, transformaram as escadas de uma estação de metrô em um piano, o que aumentou surpreendentemente o uso das escadas em 66%. O resultado você confere no vídeo ai embaixo.

Friday, November 27, 2009

Diario de Viagem - Lisboa

Lisboa (nao comam os travesseiros de Sintra)

Lisboa eh Sao Paulo com predios mais baixos, muito menos gente e um transito 300 vezes menor, mas que engarrafa. As semelhancas com o Brasil me impressionaram.

Cheguei ontem na hora do almoco e fomos direto para o Tempero de Minas. La chegando, vejo aquelas panelas de pedra magicas fumegando. Arroz carreteiro, tutu a mineira, frango ao molho pardo, costelinha, mandioca frita, frango com quiabo, farofa, banana frita, linguica. Tava todo mundo la. Muito melhor do que meu sonho mais otimista. A dona eh de Vicosa, conhecida por sua universidade de agronomia, entre outras qualidades. Me ofereceu ate uma cachacinha no final. Tive que recusar por que a viagem nao era turistica.


(Peguei no Gugou)

Jane mamae quando aqui esteve, me contou dos predios decadentes no centro antigo. Realmente muita coisa ta caindo aos pedacos, mas agora percebe-se varias faixas de APROVADO pela Camara Municipal autorizando a restauracao, nao se sabe quando, desses edificios. Eh o comeco da revitalizacao do centro antigo.

A noite seguimos para o Bairro Alto debaixo de uma chuvinha de "molhar bobo", que aqui se chama "de molhar tolo". Tivemos que usar o bondinho pra subir (esqueci o nome, amanha eu descubro... to com sono). Achamos um restaurante/adega de vinhos e por la ficamos. Degustacao com queijos portugueses. Esse bairro eh povoado por uma infinidade de barzinhos e restaurantes que se espalham por suas ruelas irregulares em comprimento e direcao. Era uma area meio abandonada da cidade que foi aos poucos sendo habitada por descolados.

Os purtugas falam chiado como os cariocas. Sao pequeninos, como dizem eles proprios, feios, mas trabalhadores e honestos. Foi o pouco que pude perceber ontem.

Hoje foi bem mais interessante. Depois de almocar no Moises, voltei pro trabalho. Bati perna por quatro horas parando varias vezes pra provar os petiscos locais e tomar a boa cerveja Sagres.

Inte... amanha tem mais. Com fotos tiradas por mim.

Radio Truta

Lisboa (bifana com Sagres preta eh bom demais)



Ninguem menos que Chris Cornell e Eddie Vedder antes de ficarem famosos no Soundgarden e Pearl Jam, respectivamente.

Monday, November 23, 2009

Chuva = Alemanha

Düsseldorf (Rep. Dominicana é um bom lugar pra se viver?!)

Gerd reclamou na semana passada da falta de uso, entao resolvi botar o carrinho pra rodar. Sábado fomos pra Essen jogar um amistoso num time de um colega de trabalho. Pra mim seria apenas uma pelada entre amigos, mas cheguei lá e havia uniformes, refletores, um campo de terra batida mas perfeitamente nivelado, mini-torcida do time adversário, um juiz comédia que dava dez passos pra um lado e outros dez pro outro e até uma convencao de laser freaks no salao do clube. Tem coisas que você só acha na Alemanha. Perdemos o jogo por 6x2, claro. Joguei só o 2°T e o 1° terminou 1x3... nao podem me culpar de nada.



Bem, hoje fui com Gerd de novo pra Essen trabalhar. Como somos exigentes, só ouvimos a rádio WDR3 que toca ópera, música clássica e jazz. E só. Uma notícia ou outra e mensagens de engarrafamentos, vulgo Stau em alemao. Eles amam essas notícias. Se o cara tá na Autobahn A3 indo de Köln (Colônia para os desavisados) pra Frankfurt e escuta que tem 5km Stau na A345 entre Leipzig e Dresden o cara tem um orgasmo. A gasolina do Gerd acabou no meio da Autobahn, mas foi só virar a chavinha pra posicao R que ele voltou ao famoso ritmo noventaporhora, palavra já homologada pelos germanísticos e entrará na próxima revisao do dicionário Langenscheidt. Acordei atrasado hoje. Queria ter ido de trem, mas Gerd me salvou. Uma vez mais.



Hoje às 11h da manha parecia o fim do mundo. Tudo escuro, árvores sem folhas, um vendaval lá fora, nuvens negras, carros passando na avenida molhada e as pessoas trabalhando no conforto do prédio como se a coisa mais normal do mundo acontecesse lá fora. Pra mim era o apocalypse em pessoa.

A volta pra casa foi complicada. Chuva e vento. Faróis passando, escuridao. Um caminhao colou na minha traseira e nao saiu mais. Cortei um bando de lerdos atrás de um trailer pra aliviar. Ella Fitzgerald cantava magistralmente. Gerd chacoalhava todo. Pensei "estou num carro de PLÁSTICO no meio desse vendaval". Deu tudo certo, como sempre. Amanha ele vai de novo. Tenho futebol e fica fora de mao voltar de trem. Dessa vez é uma peladinha despretenciosa mesmo. Sem desculpas pra derrotas.

Vou sentir saudades desse carrinho/pessoa.

Tuesday, November 10, 2009

Mauerfall 20 Jahre | Queda do Muro, 20 anos

Düsseldorf (Gerd está feliz)

Saí de casa hoje pensando nos documentários que assisti ontem na TV alema. Um bombardeio de informacoes, como sempre fazem. Tanto em quantidade como em qualidade.

Segui caminhando na manha fria e úmida do outono alemao em direcao ao canteiro de uma avenida. Lá existe um mini-estacionamento grátis. Fica a 10min a pé da minha casa. Talvez um pouco menos. De longe avisto Gerd. Parecia agitado. Me vê e se alegra prevendo o movimento.

Entro, me sento, passo o cinto, abro a torneirinha, puxo o afogador, bato a chave (ele sempre pega de primeira), diminuo o afogador, ligo o rádio, acendo os faróis, engato primeira, solto o freio de mao e arranco.



9 de Novembro de 2009 sao 20 anos depois da queda do muro da vergonha. O muro que dividia Berlin Ocidental, um enclave capitalista no meio da Alemanha Oriental, do lado Leste da cidade, socialista. Muro que separava as vítimas da Guerra Fria e do pós-guerra. Alemaes que pagaram com juros e correcao monetária o que seus antecessores fizeram para o Mundo entre 1939 e 1945. O joguinho político de poder e supremacia global teve em Berlin um dos seus principais símbolos.



Resolvi prestar a minha homenagem indo com um Trabant, de nome Gerd, para o trabalho em Essen. No caminho, alguns olhavam. A maioria ignorava. Acho que muitos nem se lembravam da data importante. Já na Autobahn 52, um carro passou e buzinou diminuindo a velocidade. Fiz um sinal de "jóia" e ele seguiu.

Gerd me contava que seus companheiros de estacionamento lhe perguntaram várias coisas. Carros capitalistas e modernos, nao estavam acostumados com um Trabi de 21 anos vindo das cercanias de Leipzig. Depois de esclarecida sua origem, Gerd relatou o curto período que viveu sob a cortina de ferro, de Set 1988 até 9 Nov 1989.

A família Lorenz se aventurou numa tentativa de fuga e asilo político na Hungria em Abril de 1989 quando as coisas pareciam mais amenas. Gerd foi contra desde o início, mas era voto vencido. Heiko, proprietário de um pequeno negócio de ventiladores, era o mais empolgado. Pia, a dona de Gerd, concordava com a tentativa com um pé atrás. Sua irma mais nova e o namorado foram levados pela influência do homem-ventilador.

Foram ver se os ventos húngaros sopravam mais fortes e frescos do que em Leipzig. No caminho foram controlados por uma patrulha do exército da DDR. Rapidamente percebeu-se a intencao dos quatro. Mandaram dar meia volta, mas nao sem antes aplicar uma multa. Gerd riu baixinho confirmando suas impressoes.



O dia de hoje foi marcado por várias homenagens. Além da ida até Essen, na hora do almoco levei uma alema colega de trabalho pra passear no Gerd. Ela cresceu no lado leste de Berlin e seu pai teve um Trabant igual ao nosso. Ficou feliz da Vida ao vê-lo e mais ainda ao ouvir o som característico do motor 2 tempos. Me contou que um Trabant era a única opcao naquela época. Retruquei dizendo que se poderia comprar um Wartburg, ora bolas. Ela respondeu que se para um Trabi esperava-se 10 anos, um Wartburg demoraria 18.

É estranha a sensacao de morar em um país tao desenvolvido e retrógrado como a Alemanha. Sao a potência da Engenharia, da Tecnologia e da indústria automobilística, entre tantas outras. Mestres da Filosofia, música clássica e Política. Mas ao mesmo tempo, vivem se estranhando uns aos outros. Grupos neo-nazis surgem aos montes na antiga DDR. Nao sabem nem o por que fazem parte desses grupos cujo único objetivo é a discriminacao racial pura e simples e a violência gratuita.

Os turcos sofrem bastante na Alemanha. Fazem um trabalho que nenhum alemao gostaria de fazer, mas necessário. Pagam impostos, geram renda e mais empregos. Os alemaes, de maneira geral, olham torto, no fundo, prefeririam vê-los em Istambul ou Ancara, bem longe daqui.



Apesar de nao dominar o idioma, conheco as diferencas culturais e o irritante modus operandi dos alemaes. Seguem regras à risca, sao inflexíveis na maioria das vezes, pouco criativos, mas muito metódicos, organizados e trabalham com alta produtividade. Nao trabalham muito, mas sao eficientes.

Gosto daqui, apesar de tudo. De ver as estacoes do ano mudando. Da localizacao. A Oktoberfest também é algo que me agrada muito. Os carros antigos e a proximidade de autódromos famosos como Nürburgring e Spa-Francorchamps. A já citada organizacao em um país onde tudo funciona. A infra-estrutura de transportes simplesmente fantástica com transporte fácil para todos. Todo mundo pode ir e vir sem maiores dramas.

Mas sinto que algo ainda me falta. Nao sei bem o que, mas vou descobrir em breve. Sou bom para prever o futuro. Tenho ótimas percepcoes e vislumbres. Nunca me enganei com as pessoas. Sei exatamente quem é quem e quais sao suas intencoes, índole, pensamentos. Nao, nao sou vidente e nem quero ser.

Talvez meu tempo nesse país já tenha acabado...