Tuesday, October 07, 2008

Rotina

Bochum (voltando aos poucos...)

O despertador agora toca no mesmo horário, em intervalos de 8 minutos. Na terceira vez é desligado. Mais dois minutos na cama e se levanta rumo ao banheiro. Percebe os sinais da idade. Alguns raios brancos nas pestanas e as primeiras olheiras. Escova os dentes. Lava as maos e o rosto com água fresca, enxuga com a toalha de banho ainda úmida da mulher, sentindo seu cheiro. Rola o desodorante nas axilas, borifa perfume francês no peito e no pescoco e abre a porta.

Sua roupa o espera na poltrona vermelha. Cueca, meia, blusa, calca, pulover. Aperta o cinto. Ainda nao está gordo, mas a barriga vai ficando saliente. Foi-se o tempo em que emagrecia correndo apenas 3 vezes numa semana. Nao está cansado, apenas se acostumando com a nova rotina.

Volta ao quarto pra buscar a carteira, moedas e protetor labial. Isso é bom no frio. Sua mulher dorme calmamente. Já na sala, pega as frutas e a mochila. Confere o computador. Dobra sua toalha e a coloca no secador. Depois de vários beijos nela e um "depois te ligo", fecha a porta e encara o casaco. As chaves saem do gancho em direcao à fechadura. Fecha a porta, confere a correspondência automaticamente, mesmo sabendo nao encontrar nada. A pesada porta bate.

Uma chuva fina molha as ruas e calcadas frias. Isso é Alemanha! Às 7:43 é o metrô ideal, mas pegar o de 7:37 nao é má idéia. As pessoas seguem caladas, algumas lendo, outras ouvindo música digital. Cada um em seu próprio mundo, sem se importar com o resto, aparente mente. Cada um imerso em sua rotina diária.

Na estacao, o vai-e-vem contínuo de pessoas que parecem autômatos sedentos por trens. Uns andam rápido, atrasados, outros devagar, pontuais. Uma enxurrada humana escorre pelas escadas. Algum trem regional acabara de chegar. Nao há espaco para subir. Espera-se, quando o Tempo está a favor. Luta-se contra a correnteza, quando é desfavorável.

Croissants, cafés, sanduíches, brezels, wursts, iogurtes, sucos, tudo isso é vendido. Antídotos contra o sono que teima em controlar sua mente. Ler um livro é uma boa opcao. Pode-se dormir após algumas linhas ou espantar o cansaco quando o texto é interessante. Este é o caso. Dormir de dia é pra vampiro.

O mesmo silêncio irritante continua no vagao. Excecao feita à América Latina que nao para de falar. Pelo menos hoje estava de posse de bons livros. E um laptop também, adiantando o trabalho acumulado.

Nao há nuvens e o sol brilha forte. Tampouco há frio, em pleno outono europeu. O clima está louco mesmo. E as acoes se seguem repetidamente. De estacao em estacao. Pessoas entrando e saindo. Sentando e se levantando. Comendo, lendo e ouvindo. Até chegar no destino. Caminha-se pouco. As máquinas ajudam muito a agilizar a Vida "moderna". Um sobe e desce sem fim. Abre-fecha portas em igual proporcao. Até que, finalmente, entra-se num elevador, gira-se uma chave e aperta-se um botao que faz ligar uma tela.

E a grande maioria dos autômatos do trem fazem o mesmo neste momento. Nao sem antes tomar um café, após apertar um botao pra ligar a máquina e abrir a porta da geladeira pegando um leite.

E pensar que todo esse movimento contrário se repetirá no fim da tarde deste dia. E amanha comecamos tudo novamente.

A isto, chamamos todos de Vida.

2 comments:

Grain de Beauté said...

nao sabia que tinha um neruda em casa!
excelente texto.

beijos mil

Anonymous said...

A ROTINA SÓ EXISTE SE VOCÊ QUISER.