O despertador agora toca no mesmo horário, em intervalos de 8 minutos. Na terceira vez é desligado. Mais dois minutos na cama e se levanta rumo ao banheiro. Percebe os sinais da idade. Alguns raios brancos nas pestanas e as primeiras olheiras. Escova os dentes. Lava as maos e o rosto com água fresca, enxuga com a toalha de banho ainda úmida da mulher, sentindo seu cheiro. Rola o desodorante nas axilas, borifa perfume francês no peito e no pescoco e abre a porta.
Sua roupa o espera na poltrona vermelha. Cueca, meia, blusa, calca, pulover. Aperta o cinto. Ainda nao está gordo, mas a barriga vai ficando saliente. Foi-se o tempo em que emagrecia correndo apenas 3 vezes numa semana. Nao está cansado, apenas se acostumando com a nova rotina.
Volta ao quarto pra buscar a carteira, moedas e protetor labial. Isso é bom no frio. Sua mulher dorme calmamente. Já na sala, pega as frutas e a mochila. Confere o computador. Dobra sua toalha e a coloca no secador. Depois de vários beijos nela e um "depois te ligo", fecha a porta e encara o casaco. As chaves saem do gancho em direcao à fechadura. Fecha a porta, confere a correspondência automaticamente, mesmo sabendo nao encontrar nada. A pesada porta bate.
Uma chuva fina molha as ruas e calcadas frias. Isso é Alemanha! Às 7:43 é o metrô ideal, mas pegar o de 7:37 nao é má idéia. As pessoas seguem caladas, algumas lendo, outras ouvindo música digital. Cada um em seu próprio mundo, sem se importar com o resto, aparente mente. Cada um imerso em sua rotina diária.

Croissants, cafés, sanduíches, brezels, wursts, iogurtes, sucos, tudo isso é vendido. Antídotos contra o sono que teima em controlar sua mente. Ler um livro é uma boa opcao. Pode-se dormir após algumas linhas ou espantar o cansaco quando o texto é interessante. Este é o caso. Dormir de dia é pra vampiro.
O mesmo silêncio irritante continua no vagao. Excecao feita à América Latina que nao para de falar. Pelo menos hoje estava de posse de bons livros. E um laptop também, adiantando o trabalho acumulado.
Nao há nuvens e o sol brilha forte. Tampouco há frio, em pleno outono europeu. O clima está louco mesmo. E as acoes se seguem repetidamente. De estacao em estacao. Pessoas entrando e saindo. Sentando e se levantando. Comendo, lendo e ouvindo. Até chegar no destino. Caminha-se pouco. As máquinas ajudam muito a agilizar a Vida "moderna". Um sobe e desce sem fim. Abre-fecha portas em igual proporcao. Até que, finalmente, entra-se num elevador, gira-se uma chave e aperta-se um botao que faz ligar uma tela.

E pensar que todo esse movimento contrário se repetirá no fim da tarde deste dia. E amanha comecamos tudo novamente.
A isto, chamamos todos de Vida.
2 comments:
nao sabia que tinha um neruda em casa!
excelente texto.
beijos mil
A ROTINA SÓ EXISTE SE VOCÊ QUISER.
Post a Comment