Viena (após um longo e tenebroso inverno, voltamos!)
Trutao no ar! Primeiro post de 2022, feliz ano novo a todos.
Escrevi essas linhas no dia 18.10.2022 no Donauzentrum enquanto esperava os meninos sairem do niver da Estela, filha do Thiago e Jaque. Me aboletei num café e ali digitei o que vem a seguir.
“O
escritor de prefácios”
Ele tinha o
melhor emprego do mundo. Com três a quatro parágrafos resolvia o problema e
partia pra outro. Generalista de formacao, nunca se aprofundava em nada. Falava
e escrevia bem sobre praticamente todos os assuntos. De astronomia a caca às
trufas no Piemonte, da Fórmula 1 na Era Turbo à degradacao ambiental da Grande
Barreira de Corais, da concepcao de uma família de cisnes a algoritmos de
recomendacao musical.
Escrever
prefácios, qualquer um, casava como uma luva em sua personalidade generalista e
rasa. Nem ele e nem ninguém jamais contestava a superficialidade daquelas páginas
iniciais. O livro está logo depois, justamente pra ir a fundo, ou nao, no tema
principal. A contracapa é até mais complexa pois tem um flair de conclusao e ao
mesmo tempo ferramenta de marketing para fisgar o incauto leitor indeciso numa
megastore.
O prefácio
nao. Ninguém o lê antes de se decidir pela compra do exemplar. Analisamos a
capa, suas cores, diagramacao, tamanho e tipo das letras, nome e sobrenome do
autor. Depois vem a citada contracapa, sempre com algumas referências e elogios
falsos. Ninguém jamais irá publicar um testemunho negativo no próprio livro.
Seria um antimarketing, mas o mundo anda tao surtado que poderia até funcionar.
A orelha
inicial nos conta um pouco mais do que está por vir. A orelha final tem sempre
um mini curriculum do autor e suas principais obras. E basta decidir se compramos
ou nao, investimos ou nao nosso suado dinheiro e depois nosso escasso tempo
naquelas páginas, parágrafos e linhas quase infinitas.
O prefácio fica
escondido, é solenemente ignorado e, mesmo assim, consegue se mantém soberano
em lugar de destaque logo no comeco. É uma espécie de direito adquirido. Nao o
prefácio em si que só poderia estar no início, mas por sua irrelevância
história com as raras excecoes confirmando a regra. Entretanto, raros sao os
livros sem prefácio. Em nao ficcao todos tem.
Nao me
lembro de nenhum, mas nenhum prefácio assim, de bate e pronto, que tenha me
chamado a atencao. Puxei aqui pela memória, espremi os neurônios até a última
gota e nada.
Ao terminar
o livro, geralmente relemos a contracapa e as orelhas, mas jamais voltamos ao famigerado
prefácio.
Era
realmente o emprego perfeito. Além do home office ainda pagava bem.