Monday, June 08, 2020

16 anos na Europa

Neufeld an der Leitha (eu dizia que voltaria somente em 2017...)

O Tempo voa! Hoje completo 16 anos vivendo na Europa. Impossível fugir desse clichê ao olhar pra trás e ver o ano de 2004, mês de junho e no dia 7. Chegando no aeroporto de Viena, meu mestre e guru Haroldinho foi me buscar. Pegamos o S7, mas pro lado errado. De repente, ao invés de começar a ver a cidade aparecer, seus prédios e casaroes da época dos Habsburgo, outros mais recentes construídos no pós 2ª Guerra, o que comecei a ver foram pastagens e plantacoes. Logo perguntei “estamos indo mesmo pra cidade?!” e HarolDoido prontamente reconheceu o erro. Pulamos do trem na primeira estacao e ficamos ali, no meio do nada esperando outro em sentido contrário que nos levaria pra cidade.

Após esse tempo todo ainda continuo muito ligado no Brasil, nas famílias, claro, nos amigos, cada vez menos, e na política. Isso é o que preciso mudar. Me desligar de Pindorama. Já nao pertenco mais àquele país e nao me sinto no direito de ficar palpitando sobre tudo que ali acontece. Minha Vida é aqui, e já faz tempo, mas nao me ligo na política da Áustria, ou mesmo da Alemanha durante os 9 anos que morei em Düsseldorf. Confesso um fato vergonhoso: nunca li um livro em alemao! Isso é inadmissível para um leitor compulsivo como eu.

O mais importante ao longo desses anos todos foi ter me casado com a Juju e criado nossos filhos, Gabriel e Rafael. Seguimos na criação dessas duas bençãos de Deus. Só por isso me considero um cara de muita sorte. Ver e falar com minha mae firme e forte quase todos os dias também é um privilégio. Infelizmente o Guidao nos deixou em 2010, mas participou ativamente da minha jornada enquanto esteve fisicamente presente. Agora está em outro plano, mas continua presente como sempre.

Pra tentar fazer um balanco desses 16 anos resolvi listar 16 coisas que fiz aqui, nao necessariamente um por ano e tampouco em ordem cronológica. Se você achar que estou me gabando ou tirando onda, fazer o que?! Meu intuito é apenas usar os eventos para ter uma dimensao do tempo em que vivo fora. Prometo contar cada causo em detalhes em postagens separadas. Agora vamos aos fatos que vivi e um breve relato de quem estava comigo e como tudo aconteceu.

E que venham mais aventuras pelo mundao de meu Deus!!!

1. Dormi num galinheiro na Cracóvia e depois visitei Auschwitz

Essa maluquice foi contada no Truta com direito ao video de quando saí do “galinheiro”. Depois dessa tenho certeza de que Deus realmente protege os bêbados.

A história completa está aqui.

2. Fui a um casamento dentro do Vaticano e outro em Roma no dia seguinte

Era pra ter sido só o casório da Carol Bastos, muito amiga de Juju, em Roma. Mas passados uns dias do recebimento do convite chegou outro, dessa vez do irmao dela. A cerimônia seria dentro do Vaticano e nao acreditamos. Nem o taxista que nos levou. Parou num portao de entrada, mostrou o convite e o guardinha deixou passar. O sujeito, atônito, vira-se pra trás e diz “nunca entrei aqui, nem conheco quem tenha entrado.” E nós, rindo de nervoso e emocao, respondemos que nós também nao.

3. Almocei no noma, então melhor restaurante do mundo

Com direito a tour pela cozinha após o almoco onde cada prato, foram uns 20, foi harmonizado com um vinho. Experiência única, mas caríssima. Vale a pena uma vez na Vida e talvez outra na morte.

4. Assisti um show do B B King dentro de um barco no Festival de Montreaux

Nosso velho bluesman entrou no barco em silêncio, se acomodou junto com a banda no salao improvisado dentro do barco e tocou apenas 6 músicas. Falava 15 minutos e tocava uma música. Visivelmente debilitado, quando acabou o barco parou num porto próximo no Lac Leman e a lenda viva juntamente com Lucille desembarcou.

5. Apareci na TV sueca abraçando o entao presidente Lula após uma palestra num hotel em Estocolmo

O discurso dele foi entusiasmante fazendo piadinhas até para aquela platéia seleta. Ano de 2009, Brasil no auge da Era Lula, aquela capa da The Economist mostrando o Cristo decolando, e eu e Juju lá, assistindo a tudo. No final, quando o entao presidente saia do salao de gala do hotel mais requintado de Estocolmo, me aproximei pra tentar tirar uma foto. Fiz uma selfie mequetrefe, mas depois recebemos o video do evento e essa cena foi toda registrada pela TV sueca.


6. Assisti a um GP de Fórmula 1 em Mônaco

Ficamos ali, Delegado e eu, no setor Rocher, literalmente um rochedo. Mas era o melhor local da pista. Dava pra ver a movimentacao toda dos boxes, a subida do casino de longe, depois o S das piscinas, a Rascasse e a acelerada da reta de chegada. Vimos Kimi Raikkonen ganhar de McLaren numa exibicao impecável.


7. Fui 6 vezes na Oktoberfest em Munique

Meu recorde sao 7 canecas e da última vez, em 2013 acho eu, tive a pior ressaca da minha Vida. Fomos com meu irmao e a esposa, era sábado, o primeiro dia da festa, e chegamos cedo, umas 8h da matina, pra ver a cerimônia de abertura do primeiro barril. Tinha comido um mísero croissant de café da manha e mais nada. Só cerveja, talvez um Brezel ou sanduba com Schnitzel, fato é que lá pelas 3h da tarde resolvemos ir embora. Chegando no ap alugado simplesmente apaguei na cama sem comer nada. Acordei umas 4h depois com a cabeca explodindo. Parecia que uma prensa industrial esmagava meu crânio tamanha era a dor. Fomos a um restaurante ali perto comer algo. Nao conseguia beber coca cola, água, nada. A luz da vela na mesa me incomodava. Pedi uma sopa de legumes e fui comendo lentamente até voltar para o mundo dos vivos.

8. Vi o Brasil ganhar um jogo em Copa do Mundo

Brasil 3x0 Ghana em Dortmund. A epopéia da compra do ingresso na porta do estádio já vale uma crônica exclusiva. Ronaldo, entao Fenômeno, fez 3 e nos classificamos pras quartas, aquele jogo fatídico quando Zidane nos deu uma aula de futebol, mais uma.

9. Corri uma maratona... até o fim!

Achei que minhas pernas fossem derreter nos kilometros finais. Um urso subiu nas minhas costas no KM 30 e bolas de ferro foram amarradas nos pés no KM 35. Nao fosse o incentivo da galera nas ruas gritando “Pedro, weiter, weiter!!!” jamais teria conseguido. Fiz uma preparacao mal feita pra uma meia maratona. Claro que sofri, mas terminei, esse era o objetivo, com menos de 5 horas. Na verdade, completei o circuito pelas ruas de Düsseldorf com 4h e 48min. Tá longe de ser bom, mas cumpri meus dois objetivos: terminar a prova e, se possível, antes de 5 horas.

10. Dirigi uma Ferrari em Maranello

Antes disso vi em Modena ao lado da Officina Alfredo Ferrari, pai de Enzo, uma exposicao de carros de Formula 1 simplesmente inacreditável. Tinha as Ferrari do Giles e a que o Lauda foi campeao em 75, a Williams 94 do Senna, uma Ligier do Laffite maravilhosa, Renault do Prost de 85, Maserati do Fangio dos anos 50 e até uma Porsche do Dan Gurney de 1960 que correu 5 ou 6 GPs. Pilotar a Ferrari foi realizar um sonho, mas fiquei com gostinho de quero mais. Vou comprar uma pra mim, hahaha!

11. Fui a um treino do Real Madrid e peguei o autógrafo do Zidane numa camisa oficial

E mandei a camisa pelo correio pro Gordo safado que nao acredita até hoje no presente que ganhou. O Luxa era o técnico dos Galácticos na época e ficava gritando em portunhol “pega o balon, toca o balon, rouba o balon”. Biduzera estava ali comigo e nao me deixa mentir sozinho.

12. Quase morri num naufrágio quando tentava dar a volta na ilha de Capri num pequeno bote

Era pra ser um passeio romântico com Juliette. Aluguei um barquinho a motor, tipo aqueles infláveis mais um pouco mais robusto. Quando estávamos do lado do continente o mar tava tranquilo e tudo na santa paz. Mas quando fiz a curva na ilha e entrei em mar aberto, no Mediterrâneo, as ondas nos jogavam lá em cima e nos traziam pra baixo. Perto da ilha tava pior ainda entao tive que ir acelerando quando o barco descia e reduzindo quando subia na crista das ondas até contornar a ilha toda. Juliette se agarrou na única bóia do barquinho e ficou rindo de nervoso o tempo todo. Pânico total por longos 20 minutos.

13. Aprendi a beber single malt com um mestre escocês em Edinburgo

Sempre com uma pedra de gelo ou um pouquinho de água. Jamais sem um deles. Beber um whisky single malt sem gelo é um sacrilégio e uma burrice. A água libera os óleos da madeira do barril que vao se acumulando no líquido sagrado ao longo dos anos de envelhecimento. Se nao adicionamos ela à mistura esses óleos na se soltam. O sabor e o aroma da bebida sao outros. E a cidade é um espetáculo. Medieval, sinistra, soturna, mística e cheia de História.

14. Entrei dentro da bateria da Mocidade enquanto curtia o Carnaval no camarote do governador Cabral (Rio)

A sensacao é a mesma de entrar dentro do coracao de uma pessoa. Uma profusao de sons, vibracao, energia e calor humano inigualáveis. Vou achar o video que fiz pra ilustrar a postagem com os detalhes.

15. Dei uma volta em Interlagos num carro antigo (SP)

Gracas ao meu amigo Flávio Gomes que me concedeu a honra de dar uma volta no circuito de Formula 1 pilotando Waltinho, seu querido Warburg, um carrinho da antiga Alemanha Oriental. Don Gomes ainda foi me dando as dicas de como acelerar, frear antes das curvas e outros macetes para se fazer uma volta rápida na pista. Pena que o motorzinho de Walter nao é tao potente assim.

16. Virei motorista de tuk tuk em Bangkok

Antes do Gabriel nascer resolvemos dar a volta ao mundo em 1 ano. Meio que nos despedindo da Vida de “solteiros”, ou seja, sem filhos. Em 2013 rodamos bem e fomos parar até na Tailândia. Numa noite em Bangkok, uma das capitais mais sensacionais deste planeta, pegamos um tuk tuk, famoso meio de transporte local, pra dar umas bandas pela cidade. Lá pelas tantas pergunto ao menino motorista condutor se ele me deixaria dirigir. O tuk tuk nada mais é do que uma moto com charrete atrás. Estávamos num trânsito anda e para e ele, meio ressabiado, deixou. Me sentei no banco com o menino condutor ao lado e andei bem uns 500 metros pilotando a bagaca. A cidade fervendo e eu andando de tuk tuk com Juliete a tiracolo. E o Gabriel na barriga dela.