Thursday, February 27, 2020

Cairo: cultura, história, sujeira, bagunca e mesquitas

Cairo (a exposicao tá meio mambembe)

A cidade mais 24 horas do mundo realmente nao dorme. Os egípcios dormem em média 5 horas. Hoje um engenheiro mecânico formado na melhor universidade da cidade me disse que saiu de lá louco e que gosta de ser considerado maluco. Disse dormir lá pelas 2 ou 3 horas da matina durante a semana, que comeca domingo e termina na quinta. Hoje aqui é Quintoooou!!! Compensa no final de semana quando dorme bastante. "É a vida", me confidenciou meio desesperancoso.

Cheguei ao Cairo ontem e logo recebi a notícia da morte do ex-presidente e ditador Hosni Mubarak. Governou o Egito de 1981 a 2011 quanto foi deposto durante a Primavera Árabe que varreu essas bandas de cá. Condenado a prisao perpétua pela morte de manifestantes, deu o bom e velho jeitinho egípcio e passou o fim de seus dias em casa ou num hospital militar. Assumiu o posto após o assassinato da Anwar Sadat durante uma parada militar. Mubarak era seu vice e estava ao seu lado quando Sadat fora atingido por tiros de terroristas. Assumiu logo em seguida, cumpriu o acordo de paz com Israel e os EUA e, segundo os próprios egípcios, era um homem bom e fez coisas boas pelo país.

Quando caiu em 2011 foi substituido por Morsi da Irmandade Mulcumana. Nao durou muito essa aventura e os fundamentalistas foram sacados do poder assumindo o general Sissi, ainda hoje o principal mandatário do antigo reino dos farós. Percebi muitas mudancas pra melhor. O aeroporto estava bem mais movimentado do que na minha última visita em 2017. Ali estava em peticao de miséria, às moscas, implorando pra ser utilizado. As estradas em construcao esta todas prontas e melhoraram bastante a Vida dos motoristas loucos.

Aliás, imaginem o Pateta naquele desenho onde ele é um motorista louco, insano. No Cairo TODOS OS MOTORISTAS SAO O PATETA!!! E a buzinacao?! É como se avisassem "estou passando à esquerda", e buzinam. "Estou passando à direita", e tome buzina. Pra tudo os safados fazem barulho. E nao brigam entre si, por mais agressiva que tenha sido a manobra. Já vi coisas aqui do arco da velha, melhor nem contar senao ninguém acredita.



Foto: pedro_bresson

A sujeira impera por todos os lados. Egípcios tem o péssimo hábito de largar tudo pra trás e nao limpar nada, pois já sabem que um moleque da limpeza vai passar e deixar tudo em ordem. Assim saem largando lixo por onde passam. Fumam feito condenados em espacos fechados, restaurantes, feiras, dentro de escritórios no trabalho, onde estiverem, em resumo. Acho que isso nunca vai mudar por aqui.

Por outro lado, eles tem uma certa obssessao por limpeza. Fica sempre um pobre coitado no banheiro pra te ajudar. Abrem a torneira pra vc lavar as maos, às vezes espirram o sabao pra você esfregar as mesmas, tiram duas ou três toalhas de papel e te entregam como se fosse um troféu aguardando ansiosamente pela secagem de seus membros superiores. Os WCs, ou toilets, sao perfumados em sua maioria. Mas nao queira se aliviar de forma mais intensa, especialmente em postos de gasolina na beira da estrada. Vais encontrar um buraco no chao e uma mangueirinha com a torneira fechada pra lavar o fióis depois de liberar o defunto. Uma tristeza...



Foto: pedro_bresson

Estao construindo uma nova cidade do zero, no meio do deserto. Vai se chamar New El Alamin, dá um Gugou. E no fim deste ano será inaugurado o novo Museu Egípcio abrigando toda a colecao do atual localizado num prédio antigo na Praca Tahir, aquela da Primavera em 2011. Ali apenas 10% de todo acervo pode ser visitado, inclusive a famosa máscara mortuária do faraó menino Tutankamon.

Egito é uma terra de contrastes intensos, mas no fundo sao felizes e autênticos. A religiao, no fundo, faz bem pois mantem a turma na rédea curta. Nao há violência urbana apesar da pobreza, da miséria, dos mais de 20 milhoes vivendo em Cairo, do trânsito caótico e do esfrega esfrega nas ruas e bazares a céu aberto. Falem o que quiser, mas o Islamismo tem lá suas vantagens.

Resenha: Um Jogador

Cairo (Mubarak bateu o pacau...)

O segundo Dostoiévski lido na sequência do primeiro. Comecei "Crime e Castigo", como tantas pessoas, mas empaquei ali pouco antes do meio. Já está na estande aguardando nova chance. Mas antes preciso ler "Guerra e Paz". Sim, o catatau de quase 1.500 páginas de Tolstói considerado o maior romance já escrito e favorito de um bando.

Bem, vamos aos vícios libertinos de Fiódor na roleta e carteado. Dizem que este livro é bem autobiográfico devido as manias nao tao secretas do escritor que costumava se acabar nos casinos. Depois de quase falir, era só escrever outra obra-prima e sair torrando o rico dinheirinho.

Resenha postada no Instagram em 07APR2018 => https://www.instagram.com/p/BhSPTJenGIy/



"Desta vez Dostoiévski nos leva até Roletenburgo, cidade fictícia na Alemanha, revelando as artimanhas e vícios de cada jogador em busca do objetivo comum: ganhar dinheiro. Os personagens parecem saídos de uma piada de salao: o general russo atormentado, o misterioso lorde inglês, o ardiloso galanteador francês, a velha matriarca russa doente, rica e inconsequente e o próprio narrador, um misto de ficção e autobiografia já que o autor era chegado numa roleta.

Uma crítica contundente ao capitalismo e seus ganhos fáceis nos jogos, vide bolsa de valores, e perdas catastróficas.

O livro foi escrito em pouco mais de 20 dias quando Dostoiévski escrevia "Crime e Castigo". No inicio de Outubro de 1866 ele estava numa sinuca de bico: se não entregasse um novo romance até 1° de Novembro ao editor e vigarista F. T. Stielóvski este teria o direito de publicar durante 9 anos tudo que Fiodor produzisse sem lhe pagar um vintém.

Num ritmo de trabalho alucinante Dostoiévski rascunhava o material pela manhã, ditava tudo a taquígrafa Ana Grigórievna Snítkina, que viria a ser sua segunda esposa, entre meio dia e 4h da tarde e ela levava tudo pra casa fazendo a transcrição. Em 26 dias um dos romances mais vertiginosos e autobiográficos do autor estava pronto."