Esse post foi originalmente escrito no dia 11 de Julho de 2013 no aeroporto de Manchester enquanto eu bebia ales e comia fish & chips. Vai na íntegra do jeito que ficou.
Um famoso comentarista local participava ontem do evento, sempre transmitido em ondas longas, as long waves. Nao temos esse tipo de frequência no Brasil, ou pelo menos nao é muito popular. O jogo é apenas pano de fundo para os comentaristas tegiversarem sobre o clima, comentarem as últimas da politicagem inglesa, os resultados de outros esportes, problemas familiares entre os speakers e outros assuntos banais. Quando algum lance relevante acontece param tudo e se concentram no jogo. Depois voltam pra resenha original. Vira e mexe alguma matrona inglesa manda uma torta vinda lá de Dundee, por exemplo. Recebem-na com água na boca e comem a bendita no ar. Comentam depois sobre a textura da bendita, os sabores e cores divagando no final de onde virá a próxima e qual seria o sabor.
Manchester Airport (degustando uma Jaipur IPA
da Salopian Brewery, Shrewsbury, Shropshire, UK)
Os ingleses
sao realmente um povo peculiar. Antes de entrar no carro do Alan Gillard,
inglês da gema apesar do sobrenome francês, fui em direcao ao lado direito, o do
passageiro. Ele riu e disse “estamos na Inglaterra”. Ao entrar na Motorway M1 se
gabava dizendo que o resto da Europa é que dirigia do lado errado e eles, súditos
da Rainha, sempre estiveram mais do que certos.
Desci em
Meadowlands vindo do aeroporto de Manchester numa quarta-feira de sol. No
caminho o tempo foi piorando, a neblina aparecendo e ao chegar em Sheffield
encontrei o típico clima britânico. Nuvens cinzentas e sérias. O objetivo da
viagem era aprender com os ingleses o bem sucedido modus operandi em funcionamento num conhecido cliente. Mas nao foi
só isso que aprendi.
Criquet
O jogo de
criquet, por exemplo, é uma instituicao local. Jogam agora o torneio “The
Ashes”, série de cinco jogos clássicos entre Inglaterra e Australia. Metrópole
vs. Colônia. Em disputa uma mini urna contendo as cinzas dos pauzinhos da
casinha usada no primeiro jogo entre os dois paises ocorrido uns 200 anos
atrás.
Criquet é
uma mistura de bente altas com basebol. Ou o contrário. A tal casinha é feita
de pauzinhos de madeira. Essas cinzas da urninha vieram da parte superior, equivalente
ao travessao num gol de futebol. Acontece que cada jogo tem a bagatela de CINCO
dias de duracao. Isso mesmo, cinco dias. Comecou ontem o primeiro da série com
previsao para terminar no final de Agosto. É que entre um jogo e outro
temos um intervalo de até uma semana. Os atletas precisam se recuperar de
tamanho esforco, claro. Os jogos geralmente comecam às 11h da manha e terminam
às 18h. Pausa para almoco,
dois lanches e às 16h o tradicional chá que nao é das cinco e sim das quatro.
Durante a transmissao os narradores vao se revezando, sempre em dois, ao longo
dos cinco dias e das semanas.
Um famoso comentarista local participava ontem do evento, sempre transmitido em ondas longas, as long waves. Nao temos esse tipo de frequência no Brasil, ou pelo menos nao é muito popular. O jogo é apenas pano de fundo para os comentaristas tegiversarem sobre o clima, comentarem as últimas da politicagem inglesa, os resultados de outros esportes, problemas familiares entre os speakers e outros assuntos banais. Quando algum lance relevante acontece param tudo e se concentram no jogo. Depois voltam pra resenha original. Vira e mexe alguma matrona inglesa manda uma torta vinda lá de Dundee, por exemplo. Recebem-na com água na boca e comem a bendita no ar. Comentam depois sobre a textura da bendita, os sabores e cores divagando no final de onde virá a próxima e qual seria o sabor.
Music & Pints
A excelente
música pop rock inglesa também é um capítulo à parte. Entrei no supermercado
ontem ao som de “With or Without You” do U2. Nos pubs é desnecessário comentar
o setlist. Sempre excelente. Na porta do carro do Alan tinha alguns CDs dos
Beatles. O Paul que me levou hoje a outro cliente, tem Bruce Springsteen como
toque de seu telefone. Na lojinha de sanduiches no almoco uma simpatico
gorduchinha vestida de chapéu e trajando bigodes posticos me atendeu
alegremente ao som de Jamiroquai. Ainda gargalhou perguntando se eu ia espalhar
a foto pra mostrar o mico que ela pagava
de quando em vez. Tudo pra atrair mais clientes.
Após
cumprir a missao Alan me perguntou se queria tomar um pint. “Why not”,
respondi. Contava pra ele sobre o festival de Real Ales que fomos esse ano em
Burton on Trent, capital cervejeira inglesa. O festival era da CAMRA, Campaign
for Real Ale, entidade que resgatou a tradicao e as receitas antigas das cask ales inglesas servidas nas antigas
bombas manuais sem gás carbônico. Detalhes sobre o festival merecem um post
a parte. A espuma do copo é uma fina nata que vai colando no copo a medida
que o felizardo bebe. Se grudar é porque o pint é bom, ensinou Alan. Num pub
que ele nao frequentava havia 5 anos bebemos duas ales.
Galo x NOB
Com uma terceira
sorvida num pub perto do hotel acompanhado de um honesto “chicken masala” da
culinária Indiana, voltei ao hotel. A noite prometia em emocoes. Galo x Newells
Old Boys pela semi-final da Libertadores. Jogo comecando às 1:50h horário de
London. Tentei dormir em vao. Poderia ter assistido ao jogo na internet via
Rojadirecta, mas preferi a velha, boa e dramática Rádio Itatiaia mineira e a
voz inconfundível do Mário Henrique, o Caixa, e Roberto Abbras como reporter de
campo. Escolha certeira. Aos 3 minutos 1x0 gol de Bernard. Pressao durante todo
o 1° tempo em vao. Um penalty nao marcado em Jô colocou a primeira pulga atrás
da orelha. Perdemos o primeiro jogo em Rosário por 2x0 e precisávamos do mesmo
placar pra levar a decisao aos penalties.
O
derradeiro tempo comecou com o inimigo melhor posicionado em campo. Bloqueando
as investidas alvinegras e ganhando preciosos minutos. Ronaldinho aparecia o
suficiente, mas nao muito e era ofuscado pelo talento e alegria nos pés do
menino Bernard que finalmente voltou a jogar bem. Um providencial apagao no
meio do 2° tempo, segundo alguns proposital, esfriou os ânimos argentines e
colocou o Galo de volta ao jogo. Foram 13’ de interrupcao. Treze é Galo no jogo
do bicho. A pulga se foi.
Guilherme,
jogador que nao gosto por achar ser lento e pouco produtivo, entrou e marcou o
segundo e salvador gol a 6’ do final. Estávamos no mínimo nos penalties. O
Newells tentou de tudo pra nao tomar mais gols e levar a disputa para os
penais. Ambos converteram as duas primeiras cobrancas, mas o fantasma de 1977 apareceu.
(Pra quem
nao sabe o Atlético foi vice-campeao brasileiro invicto em 77 perdendo a
decisao nos penalties para o Sao Paulo em pleno Mineirao. A cada defesa do
goleiro de Deus Joao Leite um jogador alvinegro mandava a bola longe. Até que
Joao parou de fazer milagres, mas os incompetents atletas continuaram errando.
Resultado: bambis campeoes).
Jô errou, mas o argentino também desperdicou a
terceira cobranca. Richarlysson mandou na lua e gelei na cama do hotel. Mas os
hermanos foram camaradas e nao souberam aproveitar a vantagem. Pensei “agora
R10 marca e depois Sao Vitor vao pegar”. Nao deu outra. Ronaldinho partiu pra
quinta e derradeira cobranca e fez Galo 3x2 deixando nosso destino nas maos de
Sao Viktor. Ele nao decepcionou e pegou a patada portenha classificando o Galo
e a Massa para a inédita e tao sonhada final da Libertadores.
The Day After
No dia
seguinte novas informacoes técnicas e culturais inundaram minha mente. Paul me
contava que aos 15 anos teve o privilégio de assistir Sheffield Wednesday x
Santos com Pelé e cia. O Santos ganhou de 2x0 e o jogo entrou pra história
da cidade. Fiz cópia de uma
revista relatando a partida que foi cuidadosamente guardada por Paul, torcedor
ferrenho do Wednesday que hoje joga a Segundona inglesa.
A cidade de
Sheffield e arredores sempre foi o coracao da indústria siderúrgica inglesa.
Hoje em dia sao poucas as usinas ainda em atividade, mas o suficiente pra
manter muitos fornecedores e trabalhadores ocupados.
Aqui no
aeroporto continuo aproveitando das Real Ales enquanto rascunho essas linhas.
Espero aumentar o volume de vendas na Holanda pra voltar aqui mais vezes.
No comments:
Post a Comment