Tuesday, March 05, 2013

Brasil vs. Alemanha - Mobilidade urbana

Meerbusch (explode tudo e comeca de novo)

Antes de entrar no carro hoje na ensolarada e fria manha alema já senti a brutal diferenca. O ar é mais puro e cristalino. O som do motor, imperceptível. Inseri o SD card e selecionei a música.

As rodas comecaram a girar num asfalto liso e impecável. Feito pra durar pelo menos 20 ou até 30 anos com as devidas e regulares manutencoes. Ruas limpas. Espaco para ciclistas, caminhantes e corredores ao lado da estradinha de acesso a Autobahn.

Os freios fizeram um barulho estranho. Talvez tenham ficado travados no frio do inverno de duas semanas atrás e as pastilhas grudaram nos discos. Isso pode ter causado alguma saliência. Amanha vejo isso.

No trânsito, nenhum sobressalto. Tudo perfeito e organizado. Peguei o primeiro túnel em direcao ao aeroporto. Logo alcancei a ponte sobre o Reno. Barcacas trafegavam subindo o rio com matéria prima essencial como combustível, areia, sucata, carvao. Outras desciam o Velho Chico alemao com produtos manufaturados como tratores, carros ou containers contendo os mais diversos bens de consumo durável e nao durável. Destino: Rotterdam ou Antuérpia.

Alguns metros depois, o aeroporto. Fica a quinze minutos do centro de Düsseldorf. Chega-se de carro e taxi, mas também de S-Bahn, o trem rápido, ônibus, trem regional, trem intercity ou mesmo os rápidos ICEs (Inter City Express) que chegam a 300 km/h. Dá pra ir de bicicleta também, mas carregar mala assim nao é muito inteligente.

Segui pela A44 passando pelo túnel que liga a estrada às vias de acesso ao aeroporto. Todas muito bem sinalizadas e fluindo. Passei antes por um radar limitador de velocidade a 100 km/h. Quase em ritmo de tartaruga quando se pensa na ausência de limites nas perfeitas autoestradas de todo o país. E que nao cobram pedágio. Sim, tudo de graca! Sao mantidas e renovadas com o dinheiro dos impostos.

Passei pela entrada da A52 a direita onde os Pendler, pessoas que moram numa cidade e trabalham noutra, seguem em direcao a Essen, Oberhausen e outras cidades. Na Renânia do Norte e Vestfália, ou Nordrhein Westfalen (NRW) tem-se a maior quantidade de Pendler da Alemanha. Isso se deve ao fato da maior conurbacao urbana do país cervejeiro ser aqui mesmo. O direito de ir e vir é garantido a todos.

Entre o túnel do aeroporto e o próximo nao há limite de velocidade. Passo pelo terceiro túnel e reduzo a 110 km/h, um pouquinho acima dos 100 permitidos. Vejo um cavalo num mini haras a minha direita. Me lembro que metade dos nossos engenheiros de campo possuem cavalos para diversao familiar nos finais de semana. Todos tem as carretinhas pra puxar o animal e o guardam e alimentam em fazendinhas apropriadas e acessíveis a seus bolsos. Sao trabalhadores da classe média.

Na entrada da A3 o trânsito se intensifica todos os dias. Basta que os carros se acomodem e o ritmo vai aumentando gradativamente. No trevo da A46 entro a direita em direcao a Hilden. Carros e caminhoes dividiram suas manhas comigo em perfeita harmonia. Nenhuma buzina ou piscadela sexy de farol.

Ao som de Otis Redding chego em Hilden. Trânsito inexistente também. Gastei 25 minutos para percorrer pouco mais de 40 km. Estaciono o carro na vaga do chefe que está de férias e fico pensando como seria essa mesma manha no país onde ele está.

O Brasil.

Para os sortudos que tem carro gasta-se facilmente uma hora pra sair da zona sul até o centro da cidade. Os engarrafamentos comecam já na saída dos bairros. Buzinas, filas duplas de colégios, as batidas ocasionais de sempre, obras com caminhoes saindo com terra e chegando com material, ônibus aos montes nas faixas exclusivas e fora delas. Motoboys, os que fazem a Vida dos brasileiros ser mais "prática" e "rápida" entopem as avenidas e ruas. Pedestres atravessam onde dá, até na faixa. Sinal vermelho é só decoracao. Mas confesso que também furei alguns nesses 15 dias.

Aleluia! Vi uma faixa exclusiva para ciclistas em plena Lourdes e Savassi!

E quem nao tem carro?! Se vira, mermao! A senhora que trabalha na casa da minha mae fazem 30 e tantos anos, fruto ainda da mentalidade escravagista do país, sai de casa normalmente às 5 da matina pra chegar às 8 no trabalho. Na volta é um pouco mais rápido por que ela sai mais cedo, lá pelas 4 da tarde. Me disse que fura a fila sim, que cansou de ser trouxa. Sempre respeitou, mas nao aguentava mais perder tantos ônibus e chegar mais tarde ainda em casa no bairro Sevilha por causa dos engracadinhos furoes. Me disse também que os jovens se sentam nos lugares dos mais velhos. E estes ficam ali, admirando a juventude ordinária.

O metrô de Belo Horizonte atente o leste e norte da cidade. Já tira muito carro e ônibus da cidade e fico imaginando como seria sem ele. Outro dia vi uma protecao na rua tampando o que seriam furos de sondagem para uma futura expansao. Em plena zona sul! Será?!

A qualidade do asfalto também é digna de nota. Entende-se facilmente o aumento nas vendas de SUVs, jipes e afins no Brasil após algumas horas transitando pelos bairros da cidade. Deveriam incluir BH no roteiro do Dakar 2014. Seria uma das etapas mais difíceis. Quando se asfalta uma via os bueiros sao esquecidos e ficam num nível mais baixo. Como se já nao bastassem os buracos existentes, criam-se outros novinhos em folha.

A Linha Verde que liga a cidade ao aeroporto de Confins, distante 45 km do centro, é nova e funciona bem. As duas principais vias de acesso a ela, Av. Cristiano Machado e Antônio Carlos + Pedro 1° seguem em obras de alargamento com viadutos variados. Estao quase prontas e já melhoraram bastante o tráfego. Finalmente desligaram aquele sinal estúpido que ficava quase no final da Cristiano, após a trincheira do Vilarinho. Travava tudo e todos criando centopéias gigantes diariamente.

Outro dia gastamos, Tavinho e eu, uma hora e meia pra ir da Av. Amazonas até Lagoa Santa pelo o Anel Rodoviário. Este já virou uma avenida da cidade. Todo mês um caminhao despenca lá de cima dos Olhos D'Água e sai catando quem tiver pela frente. De nada adiantam os redutores de velocidade. Tavinho disse que fomos rápido até.

Depois precisei de duas horas pra sair do mesmo ponto na Av. Amazonas pra chegar em Betim. Fomos ao Kartódromo Internacional com os gringos, era sexta-feira após seis da tarde, hora do rush. Mas a explicacao era outra: um caminhao tombou na entrada de Betim fechando a estrada e consequentemente a Amazonas. A maioria desviou pra Via Expressa e a bloqueou também.

O BRT (bus rapid transportation), nos moldes de Curitiba, é um ônibus elétrico que vai percorrer essas duas avenidas, Cristiano e Antônio + Pedro. As faixas centrais se destinam a isso.

Pergunta: por que nao fizeram um canteiro central mais largo na Linha Verde para instalacao futura de um BRT?! Ou mesmo de um trem regional ligando aeroporto à combalida e degradada rodoviária?!

Será que as sondagens para o metrô sao eleitoreiras ou verdadeiras?!

De nada adiantam essas solucoes paliativas. Jamais vao acompanhar o ritmo da producao automobilistica que inunda as cidades todos os dias com novas placas. E as antigas e ilegais continuam rodando. Carros sem condicoes mínimas de tráfego nao fazem a inspecao veicular e seguem por aí como barreiras impedindo o fluxo normal.



O grande problema, nesse caso e em tantos outros, é a falta de planejamento. Quando o temos dura no máximo 4 anos. O período entre uma eleicao e outra. Nao existe um Plano Nacional, Estadual ou Municipal dos Transportes. Nao se prevê o aumento de carros e pessoas e o impacto futuro nas cidades. Se fazem essa conta e nao a usam dá no mesmo.

As obras de hoje darao problema daqui no máximo 1 ano. Manutencao cara para o municipio e donos de veículos. Obras feitas para enriquecer as empreiteiras e suas poderosas famílias controladoras e os políticos que as aprovaram nas "licitacoes". O bem comum é sempre preterido em prol dos interesses pessoais. É e sempre foi assim no Brasil, com as raras excecoes de sempre, desde que Cabral por aqui aportou.

Solucao: como já cantaram os Titas, é alugar o Brasil! Para os alemaes, de preferência. Pelo menos no quesito transportes e infraestrutura urbana. Faríamos apenas os aportes mensais e participaríamos como ouvintes das reunioes de planejament, geralmente uma fase mais longa do que a execucao. E também no controle dos pagamentos. Os funcionários brasileiros viriam das melhores empresas do país com competência e principalmente caráter comprovados. Receberiam bons salários e benefícios, nos mesmos níveis das grandes multinacionais, e trabalhariam no mesmo ritmo e afinco.

Aos alemaes restaria o planejamento, execucao e treinamento dos brasileiros para manutencoes futuras.

Acho que 10 anos renováveis por mais 10 daria pra fazer muita coisa.

19 comments:

Thales de Miletto said...

Mas tem a Barra !!!
Lá o Rio também é lisinho !!
Kkkkk

Walfrido Jr. said...

Dá até raiva ler esse seu texto... Pior que é isso mesmo, visualizo cada um dos trajetos citados... Quem diria... Que saudade de Essen! Rsrsrsrs

Humberto Coelho said...

Muito bom Herr Silva!

Tony Carvalho said...

Nem tudo é perfeito.... mas comparar a urbanizaçao alema com a zona do Br... Também nao é possivel.... Mas um dia o BR deve chegar bem perto de boas cidades... Afinal miami, NY e outras cidades estao quase como o BR... Uma zona e bem abandonadas...

nico lau said...

não concordo com seu ar puro e cristalino!! o frio da essa impressão.

carol costa hurtado said...

pedro primo, suas palavras expressaram muito bem o que eu sinto, quando saio de washington, dc e desembarco em belo horizonte, sao paulo ou rio... da organizacao e planejamento ao CAOS total! realmente, so alugando o brasil!

conejo said...

No frio aqui a poluição vira um inferno. O famoso efeito estufa. A poluição acumula sobre a cidade lembra.

Leonardo BXX said...

Falar do Brasil morando nos EUA, Alemanha, Dinamarca, Suíça, ou Monte Carlo é tão fácil...

Pedro Silva said...

a intencao aqui nao é comparar simplesmente alemanha e brasil. as origens dos dois paises sao completamente diferentes. tento entender por que em um as coisas funcionam e sao feitas para durar e no outro é tudo nas coxas e mal feito.

Pedro Silva said...

nico, o ar puro daqui é diferente do da itália, hehe!

Tony Carvalho said...

é simples compreender a diferença Pedro.... Basta olhar q quantidade de ladroes no poder... Qualquér pessoa que conseguir ver essa pequena diferença nao precisa perder tempo tentando avaliar o resto...

Pedro Silva said...

isso é muito simplista. um povo conivente e mal instruido ajuda muito a manter a roubalheira. na alemanha tem ladrao e corrupto no poder tb, mas a impunidade é mínima.

Tony Carvalho said...

Aqui nada é feito para durar, e o tal PROBLEMA URBANO é uma coisa que nunca tera cura no Brasil... Afinal todo político adora fazer óbra de reparo ou melhorias, e esse tipo de coisa parece nao ter fim no Brasil.

Tony Carvalho said...

Concordo, mas a realidade é unica, no BR toda pessoa com alto nivel cultural deseja fazer concurso público e ficar na mamata o resto da vida.. E vendo dessa forma nao da pra criticar apenas o favelado ou excluido social... Hoje estive num posto da Receita em Ipanema, aguardei alguns minutos na fila achando que os agentes ou sei lá qual o cargo deles, estivessem atarefados, me deparei com um monte de gente bem arrumada trabalhando no ar condicionado reclamando da chuva de ontém... Dessa forma pode se ver que o problema cultural no BR é generalizado... Os pobres provem aos ratos o direito de roubarem de carteira assinada, e muitos dos educados vao buscar a moleza do serviço público para fingirem que trabalham... Dessa forma as melhorias do Brasil vao levar décadas....

gordo safado said...

vai se fud Pedrinho não dá pra comparar essa maravilha que é o Brasil com essa busdanga de Alemanha, papinho mais furado da porra. q se foda essa maravilha de Alemanha. Esse papinho de neguim q mora fora e que aqui no Brasil tudo é uma merda é chato demais, se liga.

Pedro Silva said...

gordo safado, revoltado e resignado, a merda em que o brasil está metido é tao gigantesca que vc nao se dá mais conta. nao disse que o brasil é uma merda e a alemanha o melhor lugar do mundo. apenas tento entender por que um país funciona e respeita seus cidadaos e o outro nao. vc, que nunca saiu do brasil e nem tem vontade, deveria dar umas bandas no chile ou uruguai aí perto pra ver a diferenca com seus próprios olhos. o problema do brasileiro é esse mesmo: somos os melhores, temos futebol, carnaval, praias e cerva gelada, nossas mulheres sao as mais lindas e o resto a gente se vira. ninguém contesta mais nada e aceita tudo que cagam em cima dos cidadaos. isso explica bastante a situacao atual, nao acha?! e aqui tem grama, hahaha. veja a foto do Rheinpark.

quinho said...

Pedrinho, vc ainda é petista e fã incondicional do Lula?

Pedro Silva said...

pra algumas coisas sim, outras nao. colocar a culpa de todos os problemas do brasil no PT é fácil demais. vc esquece que no brasil nao existem mais partidos ou ideologias políticas. temos interesses pessoais travestidos de interesse políticos. sao todos farinha do mesmo saco.

Unknown said...

Como eu já morei na Alemanha, concordo em número, gênero e grau com o Pedrin. Não é comparação, é análise de diferenças sociais e culturais. Em primeiro lugar o povo alemão se respeita e cobra de quem precisa ser cobrado. Nós, brasileiros felizes, orgulhosos e bonachões, aceitamos qualquer coisa que nos empurram goela abaixo sem reclamar. Essa é a diferença principal. Hoje, voltei a morar em São Paulo, o berço do caos. Amo isso aqui de paixão, mas consigo identificar muitos de seus problemas [e são muitos mesmo]. Não são somente os políticos os culpados, são também os cidadãos, aqueles que jogam bitucas de cigarro na rua pensando que por serem pequenas, é permitido. São aqueles que ensinam seus filhos a jogar o papel da bala pela janela do ônibus. São daqueles que não respeitam os assentos dos idosos nos coletivos. Somos nós que achamos que podemos levar vantagem em tudo. Somos nós, os passivos que diante de mais um escândalo de roubalheira em nível estratosférico de bilhões, permanecemos sentados assistindo ao jornal nacional e ao boa noite do Bonner. Gritar aos quatro ventos que o Brasil é maravilhoso, não é a solução para as nossas mazelas. Assumir o que está errado, e fazer algo com isso, é que é.

109 asednsm