Wednesday, March 06, 2013

Brasil vs. Alemanha - Seguranca

Meerbusch (quem é o prisioneiro?!)

O Rheinpark se esparrama entre a Tonhalle, casa dedicada a concertos de música clássica, e a Theodor-Heuss-Brücke, uma ponte ligando Düsseldorf ao seu bairro mais nobre, Oberkassel. Fica a 10 min caminhando da Altstadt, a cidade velha e centro.

Nao sei exatamente quantos metros quadrados de área verde este pulmao da cidade possui. Nao é o único, talvez apenas o mais usado por seus cidadaos. Tem também o Hofgarten, Jardim da Esperanca, literalmente no coracao de Düsseldorf. E também o Volkspark, Parque do Povo, o Südpark, o Nordpark e até o Wildpark ao leste. Mas esse tá mais para floresta do que parque.

Sentados nos banquinhos casais namoram, velhinhos proseam, jovens dao suas primeiras tragadas e beijos, descolados fazem pic nic com paes, queijo e vinho branco. Amigos tomam algumas cervas combinando a próxima viagem ou relatando a última. O Reno logo em frente com suas barcacas movimentando a economia é testemunha de tudo. Ao ar livre

Nos finais de semana, jogos de futebol em campos improvisados dos mais diversos tamanhos celebram a paixao dos alemaes pela bola. Churrascos se iniciam nas horas mais variadas. Numa vez, durante as comemoracoes do doutorado do Pedro Brito e do Federico, comecamos um às 6 da tarde e varamos a madrugada até 4 da matina. Quem passava oferecia as sobras de suas parrillas, basicamente carne e cerveja. Aceitávamos tudo e a municao da festa nunca acabava.

No verao, centenas aproveitam o sol como podem. Seja lendo, jogando vôlei, brincando com cachorros, passeando com filhos, pais, maes, sogros, primos e amantes. O Biergarten fechado entre novembro e marco dá o ar da graca oferencendo litros e mais litros de pao líquido.

Ciclistas e corredores amadores e profissionais queimam a adiposidade acumulada no inverno. Pais de bike rebocando os filhos nas carretinhas, inline skates seguindo a ciclovia que continua após o parque, lentas caminhadas dos avós aconselhando os netos. O gramado e as árvores assistem a tudo isso, entra ano, sai ano. No verao montam uma tela imensa de cinema ao ar livre. Durante um mês tem-se uma experiência única de ver um filme com as luzes da cidade e o Reno ao fundo. Assistimos Shine a Light em 2012, Thomas, Juju e eu. Invariavelmente chove, fazer o que. Estamos na regiao de menor incidência solar da Alemanha.

A imensa maioria dos prédios nao tem garagem. Isso é luxo por aqui! Mas faz uma puta diferenca quando se mora em bairros movimentados onde achar uma vaga é mais difícil do que um assalto a mao armada. No inverno entao, pior ainda. Todo dia de manha o mesmo ritual. Limpar os vidros com a vassourinha e raspar o gelo das janelas. Tudo isso a 0° C ou menos. Mas é divertido por aqui nao neva muito.

A praca principal da cidade é utilizada o ano inteiro. Seja para feiras de vinho, encontro de carros antigos. celebracoes do 14 de Julho homenageando os franceses com barraquinhas de comidas típicas, um festival de outono com teatro e palco para shows, o Japanische Tag, dia dos japoneses - a segunda maior colônia dos nisseis fica em Düsseldorf - e até uma etapa do campeonato de ski já passou pela praca. Neste inverno uma roda gigante foi montada ali. Logo ao lado dela, chega-se na prefeitura com uma praca menor, mas também usada com frequência. Festival de jazz, mercados de arte, Karnival e tantos outros eventos. Alguns mendigos moram ali perto.

Seja rico ou pobre, sao eventos democráticos. Vai quem quer e tem vontade. Ao ar livre.

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No Parque Municipal de Belo Horizonte a mulher vinha calmamente caminhando com sua filha. Parou pra comprar algodao doce. Nesse curto intervalo, uma senhora chegou perto da menina e a segurou pelo braco. Ela reagiu tentando se desvencilhar. A mulher tentou agarrá-la de novo. A mae percebendo o perigo chegou perto. A possível sequestradora viu seus planos acabando e se mandou.

A reacao imediata é de nunca mais voltar no Parque mesmo sendo ele bem cuidado e policiado.

Desconheco casa ou edifício em BH sem garagem. E nenhum louco que deixa o carro dormir na rua. Os prédios tem áreas de lazer com churrasqueira e piscina. Ficam todos ali seguros aproveitando a folga do final de semana. Na ponta de cima, espacos e varandas gourmet garantem o alto nível da festa. Vistas estonteantes da cidade "dominada" embelezam mais ainda o visual. Cerva importada, carne idem, mostarda também, ketchup e molho barbecue obviamente que vem de fora também. Uma linguicinha marota aparece por ali balancando a bandeira verde amarela tentando participar da farra. Vinhos argentinos e chilenos sao presenca constante. Nada contra eles, pelo contrário. Acho ótimos!

Na outra ponta da corda, Gilberto assa alguns espetinhos numa lata de óleo em cima da laje. A turma faz a festa no pagode e samba de roda. Tem arroz e carne de segunda a rodo. Cachaca também. Aproveitam da mesma forma a folga do final de semana. A cerveja tem mais milho do que cevada, mas o que importa se tiver gelada?!

Carros andam com os vidros fumê, fechados no preto, sempre cerrados. Ar ligado, tá calor lá fora! Se puder blindar, melhor ainda. Mas é pra poucos. As lojinhas de bairro vao minguando lentamente cedendo lugar aos shoppings. Lá tem estacionamento coberto vigiado 24 horas, embora o estabelecimento nao se responsabilize por qualquer dano ao seu veículo.

E os cinemas?! Na Franca é uma festa ver tanto cineminha, cine clube e cinemao nas ruas. Um barato! Dá vontade de aprender francês só pra ir ao cinema. Os luminosos com os dizeres e horários dos filmes, posters e nomes dos artistas. Em BH o último que resiste é o Belas Artes. Até quando?!


A falta de seguranca gera tudo isso. Cada um cria a fortaleza que pode pra proteger-se da sociedade. Acham-se livres, mas sao prisioneiros de si mesmos. Nao podem andar por aí livremente com uma câmera registrando a arquitetura e as pessoas da cidade. Até podem, mas sempre com o pé atrás.

As empresas de seguranca eletrônica ganham rios de dinheiro por causa disso. Trancas, alarmes, seguradoras, segurancas particulares, guarda-costas. Um rio de dinheiro canalizado para combater algo que nao deveria existir. O medo da violência.

Aquele andar descompromissado, apreciando o por do sol de bracos dados com a pessoa amada é cena do interior. Mas bem interior mesmo, nos grotoes do país. As cidades médias brasileiras já estao perdendo esse charme. 

Solucao: sentencas padrao para crimes semelhantes.
Roubou um carro = 1 ano de cadeia;
Matou alguém = 20 anos de cadeia;
Crime hediondo = pena de morte;
Assalto a mao armada com vítima = 25 anos de xilindró. Uma tabela de crimes e punicoes a ser aplicada exemplarmente.

Desburocratizar a justica também ajudaria muito. Processos teriam direito a no máximo um recurso. Depois de julgado e a sentenca promulgada no Twitter do juiz o réu seria imediatamente preso e a pena iniciada na penitenciária mais próxima.

Presídios divididos em várias categorias iriam separar o joio do trigo. Assaltante de banco nao pode ficar preso com estuprador e muito menos com quem cometeu crime passional. Escolas e trabalho para os meliantes que pudessem ser recuperados garantiriam um retorno digno a sociedade.

Como o Brasil é o país de cotas, cria-se logo uma para as empresas empregarem 5% de ex-presidiários em seus quadros. Já seria um comeco.

A pergunta é: quem é o prisioneiro?!

Tuesday, March 05, 2013

Brasil vs. Alemanha - Mobilidade urbana

Meerbusch (explode tudo e comeca de novo)

Antes de entrar no carro hoje na ensolarada e fria manha alema já senti a brutal diferenca. O ar é mais puro e cristalino. O som do motor, imperceptível. Inseri o SD card e selecionei a música.

As rodas comecaram a girar num asfalto liso e impecável. Feito pra durar pelo menos 20 ou até 30 anos com as devidas e regulares manutencoes. Ruas limpas. Espaco para ciclistas, caminhantes e corredores ao lado da estradinha de acesso a Autobahn.

Os freios fizeram um barulho estranho. Talvez tenham ficado travados no frio do inverno de duas semanas atrás e as pastilhas grudaram nos discos. Isso pode ter causado alguma saliência. Amanha vejo isso.

No trânsito, nenhum sobressalto. Tudo perfeito e organizado. Peguei o primeiro túnel em direcao ao aeroporto. Logo alcancei a ponte sobre o Reno. Barcacas trafegavam subindo o rio com matéria prima essencial como combustível, areia, sucata, carvao. Outras desciam o Velho Chico alemao com produtos manufaturados como tratores, carros ou containers contendo os mais diversos bens de consumo durável e nao durável. Destino: Rotterdam ou Antuérpia.

Alguns metros depois, o aeroporto. Fica a quinze minutos do centro de Düsseldorf. Chega-se de carro e taxi, mas também de S-Bahn, o trem rápido, ônibus, trem regional, trem intercity ou mesmo os rápidos ICEs (Inter City Express) que chegam a 300 km/h. Dá pra ir de bicicleta também, mas carregar mala assim nao é muito inteligente.

Segui pela A44 passando pelo túnel que liga a estrada às vias de acesso ao aeroporto. Todas muito bem sinalizadas e fluindo. Passei antes por um radar limitador de velocidade a 100 km/h. Quase em ritmo de tartaruga quando se pensa na ausência de limites nas perfeitas autoestradas de todo o país. E que nao cobram pedágio. Sim, tudo de graca! Sao mantidas e renovadas com o dinheiro dos impostos.

Passei pela entrada da A52 a direita onde os Pendler, pessoas que moram numa cidade e trabalham noutra, seguem em direcao a Essen, Oberhausen e outras cidades. Na Renânia do Norte e Vestfália, ou Nordrhein Westfalen (NRW) tem-se a maior quantidade de Pendler da Alemanha. Isso se deve ao fato da maior conurbacao urbana do país cervejeiro ser aqui mesmo. O direito de ir e vir é garantido a todos.

Entre o túnel do aeroporto e o próximo nao há limite de velocidade. Passo pelo terceiro túnel e reduzo a 110 km/h, um pouquinho acima dos 100 permitidos. Vejo um cavalo num mini haras a minha direita. Me lembro que metade dos nossos engenheiros de campo possuem cavalos para diversao familiar nos finais de semana. Todos tem as carretinhas pra puxar o animal e o guardam e alimentam em fazendinhas apropriadas e acessíveis a seus bolsos. Sao trabalhadores da classe média.

Na entrada da A3 o trânsito se intensifica todos os dias. Basta que os carros se acomodem e o ritmo vai aumentando gradativamente. No trevo da A46 entro a direita em direcao a Hilden. Carros e caminhoes dividiram suas manhas comigo em perfeita harmonia. Nenhuma buzina ou piscadela sexy de farol.

Ao som de Otis Redding chego em Hilden. Trânsito inexistente também. Gastei 25 minutos para percorrer pouco mais de 40 km. Estaciono o carro na vaga do chefe que está de férias e fico pensando como seria essa mesma manha no país onde ele está.

O Brasil.

Para os sortudos que tem carro gasta-se facilmente uma hora pra sair da zona sul até o centro da cidade. Os engarrafamentos comecam já na saída dos bairros. Buzinas, filas duplas de colégios, as batidas ocasionais de sempre, obras com caminhoes saindo com terra e chegando com material, ônibus aos montes nas faixas exclusivas e fora delas. Motoboys, os que fazem a Vida dos brasileiros ser mais "prática" e "rápida" entopem as avenidas e ruas. Pedestres atravessam onde dá, até na faixa. Sinal vermelho é só decoracao. Mas confesso que também furei alguns nesses 15 dias.

Aleluia! Vi uma faixa exclusiva para ciclistas em plena Lourdes e Savassi!

E quem nao tem carro?! Se vira, mermao! A senhora que trabalha na casa da minha mae fazem 30 e tantos anos, fruto ainda da mentalidade escravagista do país, sai de casa normalmente às 5 da matina pra chegar às 8 no trabalho. Na volta é um pouco mais rápido por que ela sai mais cedo, lá pelas 4 da tarde. Me disse que fura a fila sim, que cansou de ser trouxa. Sempre respeitou, mas nao aguentava mais perder tantos ônibus e chegar mais tarde ainda em casa no bairro Sevilha por causa dos engracadinhos furoes. Me disse também que os jovens se sentam nos lugares dos mais velhos. E estes ficam ali, admirando a juventude ordinária.

O metrô de Belo Horizonte atente o leste e norte da cidade. Já tira muito carro e ônibus da cidade e fico imaginando como seria sem ele. Outro dia vi uma protecao na rua tampando o que seriam furos de sondagem para uma futura expansao. Em plena zona sul! Será?!

A qualidade do asfalto também é digna de nota. Entende-se facilmente o aumento nas vendas de SUVs, jipes e afins no Brasil após algumas horas transitando pelos bairros da cidade. Deveriam incluir BH no roteiro do Dakar 2014. Seria uma das etapas mais difíceis. Quando se asfalta uma via os bueiros sao esquecidos e ficam num nível mais baixo. Como se já nao bastassem os buracos existentes, criam-se outros novinhos em folha.

A Linha Verde que liga a cidade ao aeroporto de Confins, distante 45 km do centro, é nova e funciona bem. As duas principais vias de acesso a ela, Av. Cristiano Machado e Antônio Carlos + Pedro 1° seguem em obras de alargamento com viadutos variados. Estao quase prontas e já melhoraram bastante o tráfego. Finalmente desligaram aquele sinal estúpido que ficava quase no final da Cristiano, após a trincheira do Vilarinho. Travava tudo e todos criando centopéias gigantes diariamente.

Outro dia gastamos, Tavinho e eu, uma hora e meia pra ir da Av. Amazonas até Lagoa Santa pelo o Anel Rodoviário. Este já virou uma avenida da cidade. Todo mês um caminhao despenca lá de cima dos Olhos D'Água e sai catando quem tiver pela frente. De nada adiantam os redutores de velocidade. Tavinho disse que fomos rápido até.

Depois precisei de duas horas pra sair do mesmo ponto na Av. Amazonas pra chegar em Betim. Fomos ao Kartódromo Internacional com os gringos, era sexta-feira após seis da tarde, hora do rush. Mas a explicacao era outra: um caminhao tombou na entrada de Betim fechando a estrada e consequentemente a Amazonas. A maioria desviou pra Via Expressa e a bloqueou também.

O BRT (bus rapid transportation), nos moldes de Curitiba, é um ônibus elétrico que vai percorrer essas duas avenidas, Cristiano e Antônio + Pedro. As faixas centrais se destinam a isso.

Pergunta: por que nao fizeram um canteiro central mais largo na Linha Verde para instalacao futura de um BRT?! Ou mesmo de um trem regional ligando aeroporto à combalida e degradada rodoviária?!

Será que as sondagens para o metrô sao eleitoreiras ou verdadeiras?!

De nada adiantam essas solucoes paliativas. Jamais vao acompanhar o ritmo da producao automobilistica que inunda as cidades todos os dias com novas placas. E as antigas e ilegais continuam rodando. Carros sem condicoes mínimas de tráfego nao fazem a inspecao veicular e seguem por aí como barreiras impedindo o fluxo normal.



O grande problema, nesse caso e em tantos outros, é a falta de planejamento. Quando o temos dura no máximo 4 anos. O período entre uma eleicao e outra. Nao existe um Plano Nacional, Estadual ou Municipal dos Transportes. Nao se prevê o aumento de carros e pessoas e o impacto futuro nas cidades. Se fazem essa conta e nao a usam dá no mesmo.

As obras de hoje darao problema daqui no máximo 1 ano. Manutencao cara para o municipio e donos de veículos. Obras feitas para enriquecer as empreiteiras e suas poderosas famílias controladoras e os políticos que as aprovaram nas "licitacoes". O bem comum é sempre preterido em prol dos interesses pessoais. É e sempre foi assim no Brasil, com as raras excecoes de sempre, desde que Cabral por aqui aportou.

Solucao: como já cantaram os Titas, é alugar o Brasil! Para os alemaes, de preferência. Pelo menos no quesito transportes e infraestrutura urbana. Faríamos apenas os aportes mensais e participaríamos como ouvintes das reunioes de planejament, geralmente uma fase mais longa do que a execucao. E também no controle dos pagamentos. Os funcionários brasileiros viriam das melhores empresas do país com competência e principalmente caráter comprovados. Receberiam bons salários e benefícios, nos mesmos níveis das grandes multinacionais, e trabalhariam no mesmo ritmo e afinco.

Aos alemaes restaria o planejamento, execucao e treinamento dos brasileiros para manutencoes futuras.

Acho que 10 anos renováveis por mais 10 daria pra fazer muita coisa.

Frohes neues Jahr

Meerbusch (meu pós barba é óleo de peroba)

Ser cara de pau: desejar feliz ano novo em pleno mês de marco. Nao ficarei aqui remoendo os motivos do abandono bloguístico. Nem mesmo chorando as pitangas pela falta de Tempo.

Vamos direto ao assunto: Brasil vs. Alemanha e as improváveis comparacoes altamente pessoais.

Passei duas semanas em terra brasilis, mas parece ter sido um mês. O velho macete de acordar bem cedo pra ficar mais tempo à toa funcionou de novo. Dormir tarde, lá pelas uma da matina no mínimo, também ajuda na sensacao de expansao temporal. Einstein sabe tudo!

O treinamento foi interessante, mas cansativo. Conhecer os especialistas foi mais importante do que os assuntos. Visitar a caótica usina alema em solo carioca valeu pela experiência.

Pra dar volume ao blog falarei de Minas vs. Nordrhein Westfalen no próximo post.