Tuesday, September 27, 2011

Joaíma na França

Saarbrücken (escrever é mais fácil do que vender tijolos)

Estou aqui estacionado num hotel, a 800 metros da fronteira com a França, onde levanto velas amanha rumo à Baden Württemberg, mais especificamente, Kehl.

Como a barriga cresce enquanto o corpo padece, sempre tento dar umas corridas por aí. Especialmente em lugares onde jamais pisei antes. Em Saarbrücken costumo ficar perto do centro, da Altstadt, mas dessa vez, por algum motivo, a cidade está lotada. Achei esse, afastado, mas aconchegante.

Tendo uma floresta como ponto de referência, saí trotando e brigando com meu Polar que nao funciona mais. Passei por alguns restaurantes chegando numa rotatória com uma placa onde se lia "France". Nao prestei a atencao antes, mas logo após cruzar a linha imaginária entre os dois países o idioma mudou automaticamente. Como um canal de TV. Os carros deixaram de ser Audis, BMWs, VWs e Opels para se transformarem em Renaults, Citröens e Peugeots. Incrível isso.

Peguei uma viela ao lado da cerca de um parque, que depois percebi ser um cemitério, e fui subindo a ruazinha do bairro. No lado francês a cidade muda de nome pra Stiring-Wendel, ainda sob forte influência germânica, apesar de veículos e linguajar.

Stiring-Wendel (Moselle), Häuserzeile im Ortsteil Verrerie Sophie (Quelle: © die argelola regiofactum)

Me senti numa cidezinha do interior do Brasil, talvez de um Brasil que nao exista mais. Algumas criancas brincavam na rua. Maes faziam caminhadas com seus caes. Três moleques, cada um com sua mobilete, confabulavam um plano secreto. Mais a frente um Renault branco para, engata ré e dois jovens conversam. Poderiam estar apenas chegando o movimento noturno, passando a mercadoria e recebendo o montante, mas nao. Nesse bairro-cidade nao. Comentavam apenas da vizinha, colega de trabalho. As janelinhas de madeira, todas abertas, deixavam um pedacinho daquele cotidiano francês transparecer. Senti cheiro de grama cortada, novinha. De alho também ao passar perto duma cozinha. Imaginei o coelho assado com ervas marinando, esperando o marido chegar.

A curiosidade foi aumentando, indiretamente proporcional ao fôlego, mas segui em frente. Tudo simples e bem cuidado. Carros sob garagens pequenas, para uma unidade apenas. Um pai chamou a filha travessa que se escondia atrás do cortador de grama. Um trator estacionado mostrava orgulhoso a terra fresca em suas pás e arados.

Me lembrei de Joaíma, a princesinha do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais. Minha tia Vânia e meus primos moraram boa parte de suas Vidas ali. Era uma graça de cidade, bem cuidada e arborizada. Tinha parquinho na praca principal, igreja na praca grande com duas bombas de gasolinha ao fundo. Era a descida pro Ipê, o clube campestre da cidade. Passava-se pela ponte de madeira do Anta Podre, curvava-se a esquerda e em frente a Cooperativa encarávamos a subida até o Olímpo. Na volta quase sempre rolava carona.


Ali a Vida era simples e rica ao mesmo tempo. Claro que alguns poucos fazendeiros eram pontos fora da curva, faziam política, mas zelavam pelo bem estar de todos. Os prefeitos nao roubavam e as famílias tradicionais alternavam no poder. Seu Nondas cuidava melhor do parquinho do que da própria casa. E a Momoça passava de quando em vez vendendo rosquinhas de leite condensado ou apenas pedindo uma banana pra matar o que a incomodava.

No Natal todos corríamos atrás das caminhonetes com papais noéis jogando balas e chocolates. Nas chuvas de verao, quantos foram mesmo?, a varanda molhada virava pista pra escorregar com a barriga. E as enchorradas lavavam nossas almas quando nelas nos deitávamos. As maiores preocupacoes eram evitar que o sorvete derretesse antes de acabar, chegar no parquinho tarde demais, perder carona pro Ipê na ida - na volta era catástrofe - e ir todo bonitao para o Domingo Alegre.

As viagens comecavam ao lado do meu avô e xará Pedro no ônibus da Gontijo. E acabavam do mesmo jeito após 30 a 40 dias de férias e toneladas de experiências vividas e estórias pra contar. Acho que vou parar por aqui já que os olhos estao marejados.

Mas voltando à França, vi aqui hoje uma ligaçao com esse passado da minha infância. Apesar das alegrias vividas e lembraças, fico triste em saber que no Brasil hoje em dia raros sao esses lugares tao comuns por aqui.

Monday, September 26, 2011

Radio Truta

Düsseldorf (Nelson Rodrigues me espera)

A banda do melhor guitarrista do Brasil, Leo Lachini, lancou clip novo faz um tempo atrás. Esqueci de postar.

André é o vocalista circense que estudou Eng. Civil comigo na FUMEC. Danilo o baixista e o batera é gente boa, mas me esqueci como se chama.

Som na caixa, em HD.

Facebook vs. Google

Düsseldorf (volta logo xuxuca...)

Nao, nao vou escrever sobre mais um round da luta pelo domínio da internet. Falarei brevemente da minha experiência no FB e as consequências que este espaco vem sofrendo.

Já há algum tempo venho postando uma foto por dia, às vezes falha, no FB neste perfil aqui. A sensacao de estar escrevendo algo lá, de interacao, etc. acaba me tomando preciosos minutos que antes eram dedicados ao Truta.

Fui mais uma vez na Oktoberfest sábado passado. E na volta passei pelo IAA, o Salao do Automóvel em Frankfurt. Dois textos prontos na minha cabeca, mas que nao saíram do papel... ainda. Mas nao será hoje.

Escrevo apenas pra nao acharem que isso aqui virou uma casa abandonada. Escovarei os dentes e lerei algumas páginas de "Night Train", biografia do Sonny Liston escrita pelo Nick Tosches. Liston foi a vítima que sofreu as pancadas impiedosas do entao Cassius Clay, jovem promessa do boxe americano. Viria a se tornar lenda do esporte e ficar conhecido como Mohammed Ali.

Recomendo passar pelo meu perfil no FB. As fotos estao fabulosas, modéstia à parte.

Inté.

Sunday, September 11, 2011

11.09.11

Düsseldorf (sopa de batata é bom pra enxaqueca)

Coloquei o capacete no cabide e me sentei pra ver os emails. Sr. Jeronymo havia saido para uma "volta na área". Aquele burburinho de escritório de obra cheio e movimentado me agradava. Naquela manha úmida e nublada, nada de especial havia ocorrido até entao.

Nogueira, vulgo Nonô do Pipa, fumava seu décimo cigarro e passava as maos no cabelo. Da testa até o fim como se penteasse com as maos. Estava nervoso com o andamento da medicao do mês.

Jaime, sentado com as pernas cruzadas, apenas observava o chororô de um empreiteiro na mesa ao lado. Diniz da Condil implorava ao outro Jeronymo, o paraguaio, para que ele o pagasse antecipadamente no final daquela semana. Diabolicamente, o paraguaio dizia ser impossível.

Johnny Rambone chega discutindo com Dolfinho. Os dois eram uma espécie de Batman e Robin. Uma relacao de Amor e Ódio hilária de se ver. Cada um dono da sua própria razao. Eram irredutíveis nas decisoes tomadas. A nao ser que viesse uma ordem de cima. Enfiavam o rabo entre as pernas e acatavam calados.

De cima quem falava era o Gilson, vulgo Pinga. Maluco de jogar pedra em aviao e sair correndo atrás pra ver se caiu mesmo, era o gerentao do escritório de gerenciamento de obras e fiscalizacao da MBR, Mineracoes Brasileiras Reunidas, em Vargem Grande (MG). Tirava sarro com tudo e todos. Fazia piada com a Maria do café, o Teteco do almox., o Ademir da manutencao e até do Juarez, o temido diretor.

A rádio cuspia notícias esparsas separadas por melodias despercebidas. Naquele zum zum da manha, pouca gente percebeu quando interromperam a transmissao para um plantao extraordinário. Falavam sobre um aviao que teria possivelmente se chocado com uma das torres gêmeas no World Trade Center em Nova Iorque.

O paraguaio, acho, que se sentava perto do rádio e dava notícia de tudo, deu o grito. Colou o ouvido no autofalante e chamou a turma pra ouvir. Alguns ignoraram. Outros levantaram uma orelha enquanto continuavam fazendo o que faziam. Dois ou três se aproximaram dele e se sentaram em frente pra acompanhar a transmissao.

A confirmacao do até entao acidente veio seguida de outra notícia ainda mais inverossímel: outro aviao havia explodido na segunda torre do WTC. Dessa vez, todas as cameras de TV do mundo registraram as imagens. Sem TV por perto pra acompanhar, agora todos no escritório ficaram ouvindo as notícias cada vez mais absurdas.

Um terceiro aviao havia caído no Pentagono. Onde?! Sim, lá mesmo. A sede da "inteligência" militar americana. O país estava vulnerável e em estado de choque. O mundo ficou incrédulo.

O aviao número 4 tinha como destino a Casa Branca ou o Capitólio, em Washington. Cacas americanos chegaram há tempo e o derrubaram num descampado na Pennsilvânia. Bush estava a salvo, pensaram alguns.

Deu meio dia. Pegamos um Gol bolinha e fomos ao Pico almocar. No caminho, silêncio e espanto. No refeitório, a peaozada mal conseguia comer. Alguns faziam gestos mecânicos com o garfo indo em direcao a boca enquanto acompanhavam as imagens na única TV do local. Todos meio estupefatos acabaram se esquecendo por alguns minutos sobre suas funcoes, atividades, profissoes e que raio faziam ali naquele momento.

Nao era possível haverem ocorrido quatro acidentes aéreos no mesmo dia. A palavra TERRORISMO percorreu os quatro cantos do Globo como rastilho de pólvora. Nas montanhas afegas de Tora Tora um certo saudita barbudo esfregava as maos com satisfacao nos olhos.

A política externa americana conhecia e sofria em casa um contra-ataque esmagador, invisível, imprevisível. Ficaram impotentes e só puderam reagir instintivamente. Com apoio militar e popular incondicional.

 ”If ‘justice’ for the victims of 9/11 entails killing a man called Osama Bin Laden, what would justice for one million dead Iraqis entail? — Jody McIntyre

Dez anos, duas guerras, centenas de milhares de mortos e trilhoes de dólares gastos depois, todos conhecemos os resultados. Aqui uma análise completa, mas nao muito imparcial, feita pelo grupo Folha.

As perguntas que faco, além da que foi feita na reportagem acima, sao:
1. O que mudou no Iraque passados 10 anos do 11 de Setembro?!
2. Como está a Vida das pessoas no Afeganistao 10 anos após os atentados?!
3. O quanto cresceu a conta bancária de empresas americanas como Halliburton, Kellog Brown Root e outras que participaram da reconstrucao dos dois países atacados?!

Muitos dizem que o atentado é uma farsa criada pelos próprios americanos para justificar uma invasao no Iraque e reativa a entao combalida indústria bélica. Entre eles, o principal desafeto da América no momento, o presidente do Ira Ahmadinejad.

Alguns documentários tentaram esclarecer e explicar a queda dos avioes elaborando teorias conspiratórias. Entre tantos e com a ajuda do Making Off, recomendo o "The Power of Nightmares: the Rise of the Politics of Fear" cuja sinopse diz o seguinte:

The Power of Nightmares (O Poder dos Pesadelos) é um documentário da BBC escrito por Adam Curtis e lançado em 2004. No documentário é mostrado a "Política do Pesadelo", a qual consiste em dividir o mundo em dois polos: Bem (EUA & aliados) e Mal (Ex: Ex-URSS ou Saddam Russein), supostamente praticada pelos EUA. O documentário é dividido em 3 partes.

A primeira parte consiste em explicar a origem do pensamento terrorista muçulmano. A qual remonta o ano de 1949, iniciada por um jovem estudante de pedagogia egípsio, Sayyid Qutb. Qutb irá aos EUA estudar o sistema educacional do país em um colégio público no inteior do estado do Ohio. O então jovem Sayyid Qutb se desilude com a sociedade e os valores estadunidenses; volta no ano seguinte, 1950, ao Egito e decide lutar contra a presença da influência estadunidense nos países islâmicos.


A segunda parte mostra como voluntários e jovens seguidores do pensamento de Sayyid Qutb, dentre eles Sheikh Ayman al-Zawahiri, foram lutar contra a presença soviética no Afeganistão. Nessa ocasião, em 1987, Sheikh Ayman al-Zawahiri encontra-se com o jovem e bilionário saudita Osama bin Laden. Após a debandada soviética o conflito no Afeganistão é encerrado, e Zawahiri junta-se a bin Laden, formando uma aliança contra toda e qualquer presença do ocidente nos governos dos países do Oriente Médio.


A terceira parte consiste em mostrar a mudança de foco dos extremistas. Antes, era a presença ocidental nos governos dos países do Oriente Médio e agora passa a ser o ocidente, em especial os EUA e seus aliados. O documentário também argumenta que o grupo terrorista Al-Qaeda é apenas um invenção do governo norte americano para justificar a luta contra o terrorismo.


É um documentário um tanto quanto esclarecedor já que demonstra o quanto o statu quo está nas mãos de poucos e o quanto eles manipulam e distorcem os fatos sempre em beneficio próprio.

Cada um que tire suas próprias conclusoes, mas pra mim o 9/11 foi um "inside job".



ps. Foto tirada no Café Concierto em Vienna numa noite altamente bizarra. Além do terrorista mais procurado da Terra estavam presentes o homem-bomba, máquina um e uma anãzinha. Outro dia conto essa.

Atualizando: achei o link para o documentário no youtube: http://youtu.be/Vt-FyuuWlWQ. Engracado esse link com .be separando a palavra "tube". Será que migraram os servidores pra Bélgica por motivos chocolatícos?!

Monday, September 05, 2011

Fred 6.5

Düsseldorf (quem inventou a palavra budget?!)


O vocalista do Queen, homenageado pelo Gugou, faria hoje 65 anos (clique na imagem para assistir). Como seria ver Mr. Mercury soltando a voz com uma barba grisalha, os dentes de vampiro já gastos e a capa de Majestade um tanto quanto puída?!

Nesse nosso Mundo perdido de hoje, onde rihanas, kattyperries, ladygagas e afins fazem tanto sucesso, ele nao teria muita chance. Seria esquecido num canto escuro de um buteco sórdido em Northhampton por ser um fora-de-série. Sua voz nao precisaria de retoques muito drásticos nos estúdios, portanto, muita gente na indústria fonográfica ficaria desempregado.As capas dos seus álbuns, coloridas, psicodélicas, pareceriam algo inteligente demais. Ou de difícil compreensao.

A plebe ignara quer hoje pensar pouco e consumir barulho e imagens. Nao importa a qualidade e sim o volume. Nao o do stereo, mas o dos pixels da TV e decibéis reverberando os mal tratados tímpanos.

Falei do Queen e, por tabela de Freddie, aqui. E já basta. Feliz é o Mr. Concert que viu tudo ao vivo.

God Save the King!

Continua lindo...

Düsseldorf (Franca 93x92 Sérvia no Europeu de Basquete)

Como o blog anda homenageando o Rio ultimamente, vamos continuar. As fotos fazem parte de uns slides em ppt enviados pelo Emi Pê, habitante de Trancoso e futuro cidadao europeu.

Direitos de imagem gentilmente cedidos pelo Nilo Lima (nilo-lima@uol.com.br) que está procurando patrocínio para o livro "O Rio visto do céu". Diz ele que 85% já tá pronto. As imagens sao maravilhosas.


Acho que os Arcos da Lapa foram inspirados no aqueduto de Segóvia. Será?!


Saturday, September 03, 2011

Seja inteligente, evite o bate boca

Düsseldorf (amanha em Munster)

Pérola enviada pelo José Guilherme, vulgo Ti Gui.