Parei o Chicao na porta do Lohnsteuerberater, vulgo consultor para imposto de renda ou simplesmente contador, às 9 e pouco de uma quinta-feira fria e úmida. Vi de longe uma gordinha esperando para ser atendida por um dos três consultores: o alemao babaca, a italiana simpática ou o turco eficiente, Eli. De barriga vazia, saí em busca de um café quente e paes para alimentar o dia. A Bismarck tem um café grego que passou despercebido na ida. Bares com caça-euros e roletas funcionando logo cedo. Sex shops com filmes "educativos" para serem vistos sozinho ou acompanhado. Um antiquário ou espécie de loja de molduras destoando o ambiente.
Um leva e traz pouco intenso de estrangeiros deixava marcas nas calcadas molhadas. Quase nao ouvia o idioma alemao. No sinal vermelho de pedestres, entrei numa Tabakwaren - loja de conveniência - para ler as manchetes enquanto esperava pelo verde. Seriam alguns segundos, mas aprendo a cada dia na Alemanha que o sr. Tempo é nosso ativo mais precioso. E resolvi usá-lo da melhor forma. Uma mulher havia ingerido 150 cápsulas plásticas contendo cocaína, dizia o Bild sensacionalista. A atendente disse "Guten Tag" perguntando se eu desejava algo. "Nao, tô apenas olhando". Devem ter sido apenas 23.
Carregando os documentos do IR e o livro "Cartas a Theo" com as memórias de van Gogh, atravessei a Oststrasse, a segunda rua mais importante da comunidade japonesa na cidade. Perde apenas para Immermannstrasse. Ali encontram-se bons restaurantes, mercearias e confeitarias com produtos do Oriente cujos donos preservam seus costumes e culturas ao máximo. Pelo menos tentam, mas já comprei cerveja alema numa dessas vendinhas interesseiras. Na outra, esquina uma Backerei/Konditorei - padaria/confeitaria - me acolhera. Duas mulheres alemas, finalmente, discutiam calorosamente com a vendedora sobre os produtos reçém adquiridos. As perguntas deviam variar entre o teor de trigo na baguete passando pela consistência das passas no bolinho recheado e terminando na quantidade de produtos químicos prejudiciais à saúde usados na fabricacao dos itens.
Alemaes perguntam de tudo. Uma conversaçao normal nao flui naturalmente. Sao como detetives. Tentam extrair o máximo de informaçoes possíveis, mesmo sem importância alguma. Devem traçar um perfil sócio-ecônomico e psicológico com cada estrangeiro que entrevistam no primeiro encontro. E quando perguntados, pouco dizem. Respostas vagas e evasivas. Sao como os políticos brasileiros. Ou dirigentes da FIFA. Ou até mesmo jogadores de futebol ou pilotos de Fórmula 1. Falam alguma coisa, mas nao dizem nada. É olho no olho, pergunta e resposta. Pá, pum. Você se sente nú quando termina. Sai de maos abanando enquanto eles batem os pés ao saltar comemorando a conquista de preciosos dados inúteis da Vida alheia.
"Um capuccino e um croissant, por favor", pedi pra gordinha mal humorada. Bem que combinava com a vizinhança estrangeira e ausente de nativos. A roliça turca trouxe o pedido. Após pagar me posicionei numa dessas mesinhas de frente pra janela, olhando a rua. E ali fiquei, usando meu Tempo para observar as pessoas. Chegaria mais tarde, duas horas apenas, no trabalho. Mas pude ver de perto o cotidiano dessa esquina antiga da cidade cosmopolita. Um funcionário da Konditorei, que me pareceu ser alemao, carregava seu furgao com bandejas e mais bandejas das famosas tortas de morango debaixo de uma garoa fina. Felizes foram os destinatários da encomenda.
Um leva e traz pouco intenso de estrangeiros deixava marcas nas calcadas molhadas. Quase nao ouvia o idioma alemao. No sinal vermelho de pedestres, entrei numa Tabakwaren - loja de conveniência - para ler as manchetes enquanto esperava pelo verde. Seriam alguns segundos, mas aprendo a cada dia na Alemanha que o sr. Tempo é nosso ativo mais precioso. E resolvi usá-lo da melhor forma. Uma mulher havia ingerido 150 cápsulas plásticas contendo cocaína, dizia o Bild sensacionalista. A atendente disse "Guten Tag" perguntando se eu desejava algo. "Nao, tô apenas olhando". Devem ter sido apenas 23.
Carregando os documentos do IR e o livro "Cartas a Theo" com as memórias de van Gogh, atravessei a Oststrasse, a segunda rua mais importante da comunidade japonesa na cidade. Perde apenas para Immermannstrasse. Ali encontram-se bons restaurantes, mercearias e confeitarias com produtos do Oriente cujos donos preservam seus costumes e culturas ao máximo. Pelo menos tentam, mas já comprei cerveja alema numa dessas vendinhas interesseiras. Na outra, esquina uma Backerei/Konditorei - padaria/confeitaria - me acolhera. Duas mulheres alemas, finalmente, discutiam calorosamente com a vendedora sobre os produtos reçém adquiridos. As perguntas deviam variar entre o teor de trigo na baguete passando pela consistência das passas no bolinho recheado e terminando na quantidade de produtos químicos prejudiciais à saúde usados na fabricacao dos itens.
Alemaes perguntam de tudo. Uma conversaçao normal nao flui naturalmente. Sao como detetives. Tentam extrair o máximo de informaçoes possíveis, mesmo sem importância alguma. Devem traçar um perfil sócio-ecônomico e psicológico com cada estrangeiro que entrevistam no primeiro encontro. E quando perguntados, pouco dizem. Respostas vagas e evasivas. Sao como os políticos brasileiros. Ou dirigentes da FIFA. Ou até mesmo jogadores de futebol ou pilotos de Fórmula 1. Falam alguma coisa, mas nao dizem nada. É olho no olho, pergunta e resposta. Pá, pum. Você se sente nú quando termina. Sai de maos abanando enquanto eles batem os pés ao saltar comemorando a conquista de preciosos dados inúteis da Vida alheia.
"Um capuccino e um croissant, por favor", pedi pra gordinha mal humorada. Bem que combinava com a vizinhança estrangeira e ausente de nativos. A roliça turca trouxe o pedido. Após pagar me posicionei numa dessas mesinhas de frente pra janela, olhando a rua. E ali fiquei, usando meu Tempo para observar as pessoas. Chegaria mais tarde, duas horas apenas, no trabalho. Mas pude ver de perto o cotidiano dessa esquina antiga da cidade cosmopolita. Um funcionário da Konditorei, que me pareceu ser alemao, carregava seu furgao com bandejas e mais bandejas das famosas tortas de morango debaixo de uma garoa fina. Felizes foram os destinatários da encomenda.
As empresas deveriam dar meio dia livre por semana aos seus empregados para fazerem o que quiserem. Até mesmo trabalhar. Funcionaria como uma válvula de escape durante a atribulada e apertada jornada. Na Holanda muitos profissionais já adotaram a semana de quatro dias. Tem mais tempo pra curtir a mulher e os filhos. Podem fazer uma viagem tranquila num final de semana de três dias. Ou até mesmo voar para Lisboa numa terça a tarde pra assistir Benfica vs. Ajax nas oitavas da Copa da UEFA e voltar com calma no final do dia seguinte após um almoço maravilhoso em Alfama. Sem preocupaçoes ou peso na consciência. Leve.
Atravessei a Oststraße em direcao ao nr. 72 da Bismarck, mas agora andando do outro lado para poder ver a fachada oposta. Nada digno de nota, a nao ser o café grego ignorado no início. Entrei, e vi Eli livre que me chamou com um sinal. Me atendeu com um sorriso dizendo para me sentar perguntado "O que posso fazer por você?!", a tradicional frase inicial que qualquer atendente lança mecanicamente por aqui. Conversamos sobre os documentos, prazos, próximos passos, etc. Me despedi dizendo "Bis bald" já pensando no trabalho que estava por vir. Mas na verdade, entrei no carro com inveja dos holandeses.
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