Tuesday, February 18, 2014

Janota

Meerbusch (momentos únicos)

Desde 1973 nao vivíamos momentos tao próximos e exclusivos. Duas semanas só pra mim! Sem a interferência de irma e irmaos. De netinhas sapecas. Da mana saudosa e dos sobrinhos queridos. Da ONG e dos problemas mundanos e cotidianos. Sem ter que dividir com ninguém.

Conversamos de tudo um pouco. Como dois bons amigos botando o papo em dia, passamos as famílias a limpo. Tanto a dela como a do Guidao. Fomos adentrando em detalhes, onde está fulando, por que sicrano se separou, quantos filhos mesmo tem beltrano?!

Entre um chocolate e outro biscoito os kilometros das Autobahnen testemunhavam os relatos. Pausa pra falar da Primeira e Segunda Guerra. E de Napoleao. Dos erros de Hitler e de como um cabo ferido, artista frustrado, biscateiro e reles pintor de paredes conseguiu convencer uma nacao arrasada e com o orgulho em frangalhos a se reerguer e quase dominar o Mundo!

Passamos três já programadas noites em Saarbrücken e sua simpática Altstadt. Até cerveja ela bebeu. Mais de uma vez e gostou. Ah daqui é muito melhor que a de lá. Acho que é por isso que vivo na Alemanha até hoje, sinceramente.

De lambuja cruzamos a Franca flertando com Strassburg. Nao foi dessa vez, uma pena. Rasgamos a Suíca do noroeste ao sudeste, até Lugano. Tomamos um espresso servido por uma simpática carioca que ali vive já fazem 20 anos e aprumamos vela de volta a Germania. Nao sem antes cruzar o Reno de novo, pela quarta ou quinta vez, passando pela Austria e chegando no Bodensee, vulgo lago Constanca. Lindau era nosso destino. Ilhota imperial cravada no leste do lago. Ensolarada e turística, construcoes do século XV e ruínas de termas romanas adornam seu porto. Inesperado, mas comigo é assim mesmo. Até dentro de usina siderúrgica na Bavária ela entrou. De capacete e tudo, dando palpite na producao. Hahaha, brincadeira. Ficou no carro lendo seu livrinho.

Veio curtir o netinho ainda na barriga da nora, Ela. Mas também veio para as celebracoes do meu aniversário de 40 anos. Quer presente maior do que esse?!

Falamos do Lucas e de Guidao. Da venda de Lagoa Santa, post prometido e nao escrito. Da idéia maluca de sair do caxixó, talvez pra ficar perto da mana mas travestido de "facilitar a minha Vida". As incertezas e certezas do momento foram destrinchadas e ponderadas. Viagens já sabidas, detalhadas. Situacoes mal explicadas ou até mesmo esquecidas vieram à tona.

Ainda passamos em Luxemburgo, terra do suposto predileto. Almocamos bem, cordon bleu. Um bife a parmeggiana metido a francês recheado com queijo e presunto e um talharim pra acompanhar. Perdi a chance de beber uma Bofferding por que iria dirigir logo em seguida.


Entre comprinhas aqui, restaurantes ali, uns 3.000 km rodados em duas semanas pudemos reapertar os lacos inquebrantáveis que sempre nos uniram.

Em Amsterdam, Rembrant e Veermer tiveram o privilégio de nos receber no Rijksmuseum recem aberto após 10 anos em reformas. Só na Europa mesmo pra se cruzar tantos países em tao pouco tempo.

Do lado de lá o resto da ninhada reclamava saudades, com razao. Nunca tiveram, e me arrisco a dizer que jamais terao, o privilégio que tive. Exclusividade total de minha amada mae.

Janota, eu te amo!

Sunday, February 02, 2014

QUARENTA

Meerbusch (dos ENTA nao saio mais, mas se sair darei uma festa com 100 horas de duracao)

Escrevi o post no dia 28/01 já deixando-o adrede preparado para postagem no dia seguinte e simplesmente me esqueci. Agora vai, com atraso de 4 dias.

Há seis meses comecei a pensar nisso. Ameacei uma crise. Refleti um pouco e desisti. Crise por que?! Só tenho a agradecer pela Vida privilegiada que tenho. Por ter nascido na maravilhosa família por onde cheguei ao Mundo. Por ter tido o pai que tive e ter a mae que tenho. Pelo exemplo do meu avô Pedro, xará e companheiro. Pela minha irma, irmaos, tios, tias (mas uma é especial), primos e primass. Pela fiel companheira, amiga e amante de todas as horas, Juju, mais conhecida aqui por Ela. Pelos amigos e companheiros de todos os golos, conversas, viagens e gandaias.

O que consegui fazer nessa viagem de 40 anos?! É hora de fechar por alguns dias pra balanco. Vamos aos fatos:

- nasci gordo e sacudido pesando 3.800 Kg na Maternidade Octaviano Neves em Belo Horizonte, como 99% das pessoas que conheco;
- infância de bagunca, sem limites, criativa e solta na casa da Pampulha, Joaíma e outros campos de experimentacao;
- adolescência em Lagoa Santa com os bons companheiros fazendo de tudo, jogando bola e andando de bike 24h por dia, curtindo cada segundo. Joaíma aparece de novo em destaque;
- nesse meio tempo recebia uma educacao jesuíta no Colégio Loyola cercando de santos e ensinamentos católicos, mas rodeado de colegas rebeldes e inteligentes;
- juventude calmamente vivida nas faculdades de Engenharia, viagens com amigos, Lagoa Santa, festas, meninas, rejeicao ao cigarro indo na contramao da maioria, comecando a beber e a tentar entender esse mundo maluco e seus habitantes insanos;
- viagens ao exterior, EUA e depois Nova Zelândia, a primeira e única namorada, sumico dos amigos, libertacao e solteiro de novo, muito trabalho durante o dia e faculdade a noite. Várias aulas gastas nos bares da Vida, incluindo o baixo meretrício, butecos do centro e a Vida como ela é;
- intercâmbio profissional em Berlim, o convite para o Doutorado em Viena, a atracao e o encantamento mágico por Ela, lua de mel em 19 dias, casamento relâmpago e mudanca pra Düsseldorf;
- conhecendo a esposa depois de casar, o namoro morando junto, atritos e delimitacoes de espaco, o caderninho terapia, sofrimento com os materiais e experimentos, Ela fazendo de tudo pra se socializar, a defesa da tese e nova libertacao;
- Vida profissional madura na Alemanha, casa nova, novos hábitos, viagens a rodo, a Europa na palma das maos mesmo que infinita;
- a perda do Pai e melhor amigo, engolindo seco o nó na garganta ao viver o momento mais intenso da minha existência e seguindo em frente, novos desafios no mundo da siderurgia, o sonho da casa própria;
- perpetuando a espécie e embarcando na viagem mais louca de nossas Vidas: Gabriel
- novos desafios e um retorno triunfante!

Mas nada disso teria sido possível sem o ambiente onde nasci e cresci. Um pai trabalhador que saia cedo e voltava tarde. Uma mae que nao deixava barato e funcionava no mesmo ritmo. Avós maternos morando junto, vovô com mais tempo de convivência, companheiro de quarto e viagens. Era um segundo pai, e muitas vezes o primeiro. Educava, dava exemplo, ensinava e nos mostrava os valores corretos da Vida, a sua maneira. Guidao e Janemamae seguiam na busca incansável de nos dar as melhores condicoes possíveis para termos uma educacao sólida e ensinando o que é honestidade, caráter, ética, respeito, amor ao próximo, gentileza e uma boa dose de bom senso para sobreviver numa sociedade em constante mutacao.

Cumpriram com louvor a arte e o desafio de cuidar e educar cinco filhos. Junto com minha irma Helena e meus irmaos Lucas, Marcos e Daniel (vulgo Elaino, Murgas, Negro e Rato) nos formamos ali. Naquele ambiente dinâmico, bem assistido, às vezes baguncado, mas cheio de amor, carinho e vontade de fazer uma família feliz. As ajudas inestimáveis de Silva, que até hoje dá expediente lá em casa duas vezes por semana, dona Norma, os tantos motoristas e Inês Balbina também foram vitais.

O resto é consequência:

Os amigos que fiz, onde estive e com quem, as experiências que vivi, mulheres que conheci, comidas e bebidas saboreadas, experiências, sensacoes, desorientacoes, emocoes, angústias, tristezas, alegrias, euforias, entusiasmos, desilusoes, sonhos, vontades, aspiracoes, determinacoes, ilusoes, pesadelos e contemplacoes. Ritmos lentos e frenéticos, perda de tempo e saltos pulando etapas, o famoso Pedro Estilingue.

Trabalhos e atividades diferentes em países e culturas distintas, o poder de se adaptar facilmente a uma situacao, a arte de conectar pessoas, de respeitar o outro exatamente como ele é, saber ouvir, perceber a beleza das árvores e seus troncos sem galho no inverno que mais se parecem com brônquios pulmonares e suas inúmeras ramificacoes até chegar nos alvéolos. Ajudar quem precisa.

As exposicoes de arte, os filmes que vi, quanta música boa ouvi, saber cozinhar, apreciar um bom vinho e uma conversa de amigo, guardar segredo, dar e receber conselhos, ponderar, saber esperar até que uma situacao se resolva, entender um problema e agir quando necessário, gostar de ler e de escrever, e de fotografia. Ser engracado.

A Vida é um imenso parque de diversoes. Saber dosar dever e prazer, responsabilidades e diversao, certo e errado, a medida certa de bom senso, ter bom humor e rir de si mesmo ajudam bastante a continuar essa viagem sem destino. Sem sobressaltos é impossível. Nao teria muita graca.

Acho que aprendi um pouquinho, mas quero mais. Minha curiosidade só aumenta. Ás vezes fico desesperado só de pensar nos milhores de lugares desse mundao que nao vou conhecer, mas no instante seguinte sou grato por ter visitado, descoberto e vivido tantos países, culturas e pessoas diferentes.

Como disse lá em cima, dos ENTA nao saio mais. Se sair farei uma festa com 100 horas de duracao.

A todos que de alguma forma participaram e fazem parte da minha Vida, muito obrigado!