St. Ingbert, Saarland (pacata cidadezinha na fronteira com a Franca)
Lá fora fazem -3° C. Vi três pinguins batendo queixo no ponto de ônibus. Mais adiante, uma morsa de cachecol e gorro.
Entrei no hotel e do quarto nao saí mais. Quase, pois precisava comer. Antes havia pegado as chaves na recepcao que ficava no restaurante grego. Akropolis, pra variar.
Ao ronco do estômago, saí encapotado até os dentes rumo ao Panthéon. O salao estava vazio. Duas mesas. Uma senhora com a filha, provavelmente. Dois caras estranhos planejando um atentado, talvez.
O maitre gorducho e fedido, parecendo o Seu Barriga com cabelos mais brancos, me indicou a mesa ao lado da lareira. Sim, um luxo. "O sr. vai precisar de luz", me disse ele ao perceber o livro. "Aqui tá bom".
Nas paredes, Mykonos, Santorini, Lesbos, Ios e Kreta. Palmeiras artificiais ornavam o salao. Mais brega, impossível. Os possíveis terroristas agora falavam de carro. Discutiam a potência de determinando modelo. Supostas mae e filha eram amigas de geracoes distintas.
Uma grande mesa com um reserviert na ponta era constantemente checada pelo Barriga. Mexia num garfo e ia buscar uma cerveja. Voltava e melhorava a posicao do guardanapo.
Pergunto se eu queria beber algo. "Entrada, prato principal?!". Estava com tempo e nao gosto que ditem meu ritmo. Fiz hora com ele, mas pedi um goulash enquanto decidia o que beber.
Ao lado do fogo crepitando, estátuas brancas. Na verdade, mini estátuas. Seriam Adonis e Arthemis?! "Tem vinho?!", questionei. "Claro, branco ou tinto. Seco, semi-seco ou suave." Quase pedi uma coca-cola.
Comecei a ler o livro ao som de cancoes athenienses. Me lembrei do bardo Chatotorix, personagem do Asterix. O autor das músicas teria tido o mesmo fim em outros tempos.
Chegou o vinho, depois do goulash. E um copinho com um líquido transparente. Perguntei se era água. A menina disse apenas "Ouzo". É a cachaca grega. Senti o cheiro de anis, mas resolvi experimentar assim mesmo. Detesto anis. Desceu quadrado. Encostei o copinho e provei o vinho. Um losango escorregou por meu esôfago, mas cortou o sabor do ouzo. Antes assim.
Com os goles, o vinho melhorou. Fiz questao de nao guardar o nome. Era grego. Nao sei de qual ilha. Pode ser do continente também.
Após dar a última colherada, mais pressao do Barriga. "Posso recolher o cardápio?!". "Nao, ainda vou pedir", disse calmamente. O restaurante estava vazio e eu nao entendia o por que da insistência.
Após algumas páginas e goles, pedi um Schnitzel. Nao tem erro. Mesmo se for mal feito ainda assim é bom. E até que estava gostoso, com fritas e uma saladinha. Veio rápido, assim como a coca que finalmente pedi.
Passados alguns minutos, entendi o motivo da tensao do Barriga. Uma matilha de velhinhos, em plena quarta-feira numa pacata cidadezinha do interior alemao, adentra o recinto. Se acomodam na mesa reserviert alegremente.
Barriga todo feliz corre a anotar os pedidos. "Gyros para o senhor?!". "Com ou sem tzaziki?!" "Pra mim pode ser com." "Ah, mas pra mim é sem viu", reclama a velhinha de 92 anos. É impressionante como a populacao idosa aproveita a Vida na Alemanha. Na Europa de modo geral. Quero me aposentar aqui.
Pensei que o encontro fosse os preparativos para o Baile da Saudade em St. Ingbert, mas me lembrei que a palavra saudade só existe em português.
O copinho com ouzo gratuito e abominável chegou nas doze maos. Os seis casais brindaram a noite gelada lá fora e agradável aqui dentro.
Detesto ouzo.
Lá fora fazem -3° C. Vi três pinguins batendo queixo no ponto de ônibus. Mais adiante, uma morsa de cachecol e gorro.
Entrei no hotel e do quarto nao saí mais. Quase, pois precisava comer. Antes havia pegado as chaves na recepcao que ficava no restaurante grego. Akropolis, pra variar.
Ao ronco do estômago, saí encapotado até os dentes rumo ao Panthéon. O salao estava vazio. Duas mesas. Uma senhora com a filha, provavelmente. Dois caras estranhos planejando um atentado, talvez.
O maitre gorducho e fedido, parecendo o Seu Barriga com cabelos mais brancos, me indicou a mesa ao lado da lareira. Sim, um luxo. "O sr. vai precisar de luz", me disse ele ao perceber o livro. "Aqui tá bom".
Nas paredes, Mykonos, Santorini, Lesbos, Ios e Kreta. Palmeiras artificiais ornavam o salao. Mais brega, impossível. Os possíveis terroristas agora falavam de carro. Discutiam a potência de determinando modelo. Supostas mae e filha eram amigas de geracoes distintas.
Uma grande mesa com um reserviert na ponta era constantemente checada pelo Barriga. Mexia num garfo e ia buscar uma cerveja. Voltava e melhorava a posicao do guardanapo.
Pergunto se eu queria beber algo. "Entrada, prato principal?!". Estava com tempo e nao gosto que ditem meu ritmo. Fiz hora com ele, mas pedi um goulash enquanto decidia o que beber.
Ao lado do fogo crepitando, estátuas brancas. Na verdade, mini estátuas. Seriam Adonis e Arthemis?! "Tem vinho?!", questionei. "Claro, branco ou tinto. Seco, semi-seco ou suave." Quase pedi uma coca-cola.
Comecei a ler o livro ao som de cancoes athenienses. Me lembrei do bardo Chatotorix, personagem do Asterix. O autor das músicas teria tido o mesmo fim em outros tempos.
Chegou o vinho, depois do goulash. E um copinho com um líquido transparente. Perguntei se era água. A menina disse apenas "Ouzo". É a cachaca grega. Senti o cheiro de anis, mas resolvi experimentar assim mesmo. Detesto anis. Desceu quadrado. Encostei o copinho e provei o vinho. Um losango escorregou por meu esôfago, mas cortou o sabor do ouzo. Antes assim.
Com os goles, o vinho melhorou. Fiz questao de nao guardar o nome. Era grego. Nao sei de qual ilha. Pode ser do continente também.
Após dar a última colherada, mais pressao do Barriga. "Posso recolher o cardápio?!". "Nao, ainda vou pedir", disse calmamente. O restaurante estava vazio e eu nao entendia o por que da insistência.
Após algumas páginas e goles, pedi um Schnitzel. Nao tem erro. Mesmo se for mal feito ainda assim é bom. E até que estava gostoso, com fritas e uma saladinha. Veio rápido, assim como a coca que finalmente pedi.
Passados alguns minutos, entendi o motivo da tensao do Barriga. Uma matilha de velhinhos, em plena quarta-feira numa pacata cidadezinha do interior alemao, adentra o recinto. Se acomodam na mesa reserviert alegremente.
Barriga todo feliz corre a anotar os pedidos. "Gyros para o senhor?!". "Com ou sem tzaziki?!" "Pra mim pode ser com." "Ah, mas pra mim é sem viu", reclama a velhinha de 92 anos. É impressionante como a populacao idosa aproveita a Vida na Alemanha. Na Europa de modo geral. Quero me aposentar aqui.
Pensei que o encontro fosse os preparativos para o Baile da Saudade em St. Ingbert, mas me lembrei que a palavra saudade só existe em português.
O copinho com ouzo gratuito e abominável chegou nas doze maos. Os seis casais brindaram a noite gelada lá fora e agradável aqui dentro.
Detesto ouzo.